Assumindo que o Brasil continuará ganhando participação de mercado como fornecedor, nosso crescimento será de 49% na carne bovina, 48% na carne suína, 77% na carne de frango, 65% no açúcar, 16% no arroz, 83% no milho e 98% na soja, comparando a produção de hoje com a projetada para 2030.
As exportações brasileiras, portanto, continuarão crescendo. Até 2030 o Brasil deverá exportar mais 81% de carne bovina, 56% de carne suína, 122% de carne de frango, 66% de açúcar, 15% de arroz, 108% de milho e 140% de soja, em relação ao que exporta hoje. Com exceção do arroz, em todos os produtos o crescimento das exportações será maior do que a produção, ou seja, a inserção do agro brasileiro no mundo vai-se intensificar.
As exportações desses produtos somaram US$ 38,5 bilhões em 2009, cerca de 50% da pauta exportadora do agro. A preços constantes de 2009, a receita de exportação com esses produtos chegará, em 2030, à casa dos US$ 65 bilhões (mais do que o dobro de hoje). Em 2030, portanto, o Brasil deverá ser do tamanho dos EUA no mercado internacional de produtos do agro. Todo esse crescimento de exportações, é preciso que se diga, ocorrerá sem canibalizar o mercado doméstico brasileiro.
Esses números comprovam duas coisas: que o aumento da inserção internacional do agro brasileiro é um caminho sem volta e que o agro continuará sendo um dos setores mais dinâmicos da economia brasileira.
Isso é bom ou ruim para o Brasil? Depende do ponto de vista. No meu e, como deveria ser no da maioria dos brasileiros, é bom.
É bom porque a expansão do agro traz desenvolvimento regional para o Brasil. Não existe forma mais rápida de promover a economia local de cidades distantes dos grandes centros consumidores do que por meio da produção agropecuária e florestal. Sem ignorar os problemas, salta aos olhos o desenvolvimento de diversas cidades que deslancharam com suas economias baseadas no agro e seus empreendedores.
É bom para o Brasil porque o agro produtivo utiliza tecnologia e, assim, demanda insumos e máquinas estimulando o crescimento, ou até mesmo o aparecimento, de novos setores, e muito deles são intensivos em capital e têm alto conteúdo tecnológico. O agro produtivo, como qualquer setor da economia brasileira, é cada vez mais intensivo em serviços, gerando empregos indiretos a atraindo mão de obra.
O produto do agro precisa ser comercializado (no Brasil ou no mercado internacional) e industrializado no Brasil. É bom para o País, então, porque atrai investimentos de brasileiros e estrangeiros que veem oportunidades de remunerar seu capital e, assim, investem em frigoríficos, fábricas de ração, estruturas de armazenagem, indústrias de processamento, infraestrutura de transporte, etc.
É bom porque gera empregos diretos de qualidade. O agro certamente não é o setor mais dinâmico em geração de empregos diretos, mas é um dos que, na margem, gera cada vez mais empregos de qualidade. E, para o bem do País, o nível de formalidade no agro vem crescendo, comprovando que os novos postos de trabalho criados são muito melhores do que os do passado.
É bom porque o agro transfere renda ao consumidor urbano. Com ganhos de produtividade acima da média de muitos setores industriais, os custos do agro caem em termos reais, liberando renda para as pessoas gastarem com outros produtos. É bom também porque, produzindo sempre mais do que a demanda doméstica, o agro garante ao consumidor brasileiro que ele vai comprar um produto com preço mais barato do que os consumidores dos países importadores.
É bom porque o agro do futuro já é melhor do que o do presente. O agro extrativista está em decadência, o agro produtivo está em crescimento. Não só porque os compromissos do agro com as questões ambientais e sociais serão cada vez maiores, mas porque produzir bem e eficientemente deixou de ser uma questão individual de cada produtor que quer ganhar dinheiro, e passou a ser solução para aumentar a produção num mundo ainda faminto e com escassez de recursos naturais.
É bom para o Brasil porque é bom para o mundo. Vamos imaginar que o crescimento da exportação brasileira de 2009 a 2030 seja metade do mencionado no início do artigo. Assumindo que a demanda mundial se mantém, o aumento nos preços mundiais seria de 27% na carne bovina, 30% na carne de frango, 57% no açúcar, 8% no milho e 31% na soja. Será que a economia mundial aguentaria tamanho aumento de preços nos produtos do agro? O consumidor brasileiro, obviamente, não passaria incólume por esse aumento. A participação do Brasil no mercado internacional já é suficientemente grande para causar enormes impactos nos preços, caso o País não consiga expandir a produção de acordo com a demanda mundial.
A única forma possível de frear o crescimento do agro é frear a demanda mundial por produtos agroindustriais. Pelo menos até 2030, a menos que a FAO esteja errada, essa não parece ser uma opção aceitável.
Precisamos pensar em como nos conduziremos neste longo caminho até 2030, maximizando os benefícios da expansão para a sociedade, e não só para quem produz, e minimizando os impactos no meio ambiente. Explorar as vantagens comparativas do agro brasileiro é uma condição para o desenvolvimento sustentável do Brasil, e não uma condenação, como dizem alguns. Legislação inteligente e novas tecnologias certamente fazem parte da solução.
Ivan Saul
São José dos Pinhais - Paraná - Produção de ovinos
postado em 18/03/2011
Caro Dr. Nassar e demais colegas de FarmPoint.
Concordo com o senhor, este é um caminho sem volta, mesmo por que a viabilidade econômica e financeira do agronegócio brasileiro é, e sempre foi, resultado da pauta de exportações. De sermos o pátio dos europeus e americanos do norte e, mais recentemente, dos tigres asiáticos, produzimos qualquer coisa que a clientela demande.
Duvido muito que o mercado interno não seja "canibalizado" neste processo, é que os canibais brasileiros desenvolveram um método para fazê-lo de forma indolor, de modo que consumamos faceiros o refugo daquilo que os ricos desperdiçam. Estamos tão acostumados que nem percebemos.
Ainda temos servido, produtores e consumidores, como ferramentas e substrato para os experimentos econômicos - seus sucessos e desastres - no gerenciamento do capital financeiro (que nos dias que correm é "internacional" e, sendo de todos, não é de ninguém). Nossos bens conferem poder de barganha à insensibilidade dos gestores - se o preço está bom, vendemos, senão, tem um bocado de gente com fome por aqui mesmo, alguns até com poder de compra.
É como bebida láctea: bota água e empurra na prateleira que o povo compra!
Tecnologias hão de se desenvolver, com certeza, pois são fruto da necessidade e sempre respondemos - os produtores ajudados pela ciência - com muita eficiência às solicitações de aumento da produção e da produtividade.
Todavia, meu caro Dr. Nassar, "legislação inteligente" num país em que todos trabalhamos à margem da lei, onde não se pode derrubar um eucalipto ou matar um javali, para consertar uma cerca ou defender os cordeiros. Em que ideologicamente, e ao atropelo do interesse coletivo, desapropriam-se terras e demarcam-se reservas florestais, indígenas, quilombolas e de sem terras.
Isto que o senhor nos sugere é muito mais do que um exercício de "futurologia" - plenamente realizável e bom para o Brasil, creio eu - é sim, um exercício de "otimismo", para não dizer que beira a "revolução".
Congratulações pela visão do nosso futuro.
Saudações ovelheiras!
Ivan Saul D.V.M. M.Sc.Vet. - Granja Po´A Porã, 18/mar/2011.
http://ivansaul.blospot.com