O país tem 84 milhões de habitantes, mais da metade tem menos de 30 anos e não viveu os horrores da guerra. Historicamente, o Vietnã conseguiu a proeza de vencer três dos seis membros do atual Conselho de Segurança da ONU. Foram mil anos de dominação da China no primeiro milênio. Em 1847, a Marinha francesa atacou o Porto de Danang, iniciando quase um século de ocupação na chamada "União da Indochina" - Vietnã, Laos e Camboja. Em 1940, os alemães ocuparam a França, mudando a correlação de forças da 2ª Guerra. Em conseqüência, em meados de 1941 os japoneses invadiram o Vietnã.
Terminada a guerra, em agosto de 1945, o comunista Ho Chi Minh liderou um levante contra os colonizadores e fundou a República Democrática do Vietnã, mas os franceses insistiram em manter o seu poder colonial na região. A Guerra da Indochina contra a França durou quase uma década, terminando em 1954 com a divisão do Vietnã em dois países: o Norte, comunista, dirigido por Ho Chi Minh e apoiado pela China, e o Sul, anticomunista, que recebeu enorme apoio dos EUA, empenhados em evitar o "efeito dominó" gerado por suposto risco de expansão do comunismo sino-vietnamita no Sudeste Asiático. Em 1965, os primeiros "marines" desembarcaram em Danang. Nos anos seguintes, os EUA despejaram no país o dobro da quantidade de bombas jogada na 2ª Guerra Mundial.
Mais de 3 milhões de americanos serviram na Guerra do Vietnã. No final da guerra, em 1973, as estatísticas apontaram a morte de 58 mil americanos, 224 mil sul-vietnamitas e mais de 1 milhão de norte-vietnamitas e vietcongues. Mais de 4 milhões de civis foram hospitalizados ou mortos na guerra, atingidos principalmente pelos bombardeios.
Em julho de 1976 nasceu a República Socialista do Vietnã, mas as dificuldades não terminaram por aí. Nos dez anos seguintes, o país viveu o chamado período da "economia subsidiada" (Bao Cap), marcado pela coletivização da agricultura, pelos campos de reeducação forçada e pela carestia generalizada e pela corrupção endêmica. Nesse período, mais de 800 mil vietnamitas deixaram o país - a maioria em pequenas embarcações, o que gerou a expressão "boat people" -, abandonando a ineficiência e a penúria do "sistema de cupons", necessários para adquirir de arroz e carnes a roupas e bicicletas.
Em meados dos anos 80, iniciou-se o período chamado de "renovação" (Doi Moi) - substituição da coletivização das terras e controle estatal generalizado pela paulatina abertura econômica do país, com reformas liberalizantes, privatizações e atração de investimentos externos. Em 1995, o Vietnã entrou na Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). Em novembro último, sediou a cúpula dos presidentes da Associação para a Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec) e se tornou o 150º membro da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Primeiro exportador mundial de pimenta, segundo lugar em café (atrás do Brasil), arroz e castanhas, o país avança com vontade nas exportações de têxteis e calçados, já que os salários ainda são mais baixos que os da China costeira. Em 2005 as exportações de têxteis atingiram US$ 4,8 bilhões e as de calçados, US$ 3 bilhões, ambas já 50% superiores aos valores obtidos pelo Brasil. Os investimentos estrangeiros já superam US$ 7 bilhões ao ano.
Mas nem tudo vai bem no Vietnã. O país precisa progredir nas reformas e reduzir os altíssimos níveis de corrupção, burocracia excessiva, políticas discricionárias e problemas de infra-estrutura e financeiros. Um dos mais importantes institutos vietnamitas de pesquisa propõe em seu relatório a seguinte agenda: 1) Melhoria do ambiente regulatório, ampliando o mercado livre e a integração econômica; 2) implementação de mudanças na legislação; 3) estabilização macroeconômica; 4) aceleração das reformas estruturais e administrativas, incluindo a privatização de empresas estatais e a melhoria do investimento público; 5) melhoria do ambiente competitivo; 6) luta contra a corrupção. A mesma agenda em todos os lugares! Mas não me espantaria se o Vietnã conseguisse completá-la muito antes do Brasil.
O Vietnã é formado por um povo gentil, alegre, respeitoso com os mais velhos e extremamente amável com as crianças, com uma incrível aptidão para o trabalho árduo, a competição e o empreendedorismo, que soube deixar suas desgraças para trás e tocar a vida. O que mais desperta a atenção de quem lê a História recente e visita esse belo país é a incrível capacidade de mudança e adaptação da sua gente. Em 60 anos saiu do colonialismo francês, enfrentou duas guerras extremamente sangrentas, passou uma década penando sob um regime comunista ferrenho e, agora, completa uma década de rápida e inequívoca integração ao comércio e ao capitalismo global.
O ingresso bem-sucedido do Vietnã no mundo globalizado prova que as guerras são o símbolo mais notável da infinita estupidez humana. Imperialistas e comunistas massacraram esse povo com suas teses equivocadas e políticas inconseqüentes. Tantas mortes desnecessárias em duas guerras estúpidas, tantas fugas e privações absurdas no pós-guerra. E hoje o Vietnã está aí, crescendo movido pela paz, pelo turismo, pelo comércio, pelos investimentos e pela doçura e competência da sua gente. Um país que comemora, alegre, o seu ingresso tardio no mundo globalizado, correndo na mesma velocidade da China, com muita ação e pouca falação.
Alexey Heronville Gonçalves da Silva
Jataí - Goiás - Indústria de insumos para a produção
postado em 17/01/2007
Achei extremamente positiva e interessante a análise do sr. Marcos Jank. Mas algumas considerações não poderia deixar de fazer.
O problema de analisar países, se referindo ao passado, e fazendo analogias com realidades no presente é a de que corremos o risco de equívocos nas conjecturas históricas.
Nenhuma dúvida ou objeção nos fatos concernentes ao Vietnã relatados, mas apenas com relação às alusões ao Brasil e ao contexto histórico dos fatos.
Por que se esquecer que somos uma das mais jovens democracias do mundo? Pois ao meu entender, durante mais de meio século, após a proclamação da República, fomos regidos por regimes ditatoriais ou por simples acordo entre Estados pelo poder, e o mais marcante, em quase todas as épocas, desde o nosso "descobrimento", à margem da população.
Acredito muito no nosso potencial (técnico, financeiro e econômico), no nosso empreendedorismo e em nossas instituições, sólidas, enquanto vemos tantos países em que tais instituições são frágeis como castelos de areia.
Não acho que o Brasil chegou onde chegou, em tão pouco tempo, apenas com falação, mas com investimentos governamentais, privados, pesquisa de empresas como a Embrapa (e tantas outras como ela), universidades, extensionistas, técnicos e, principalmente, aos produtores que acreditaram no país e nessa gente toda.