O estudo proposto faz parte de projeto inédito no Brasil, que tem como objetivo avaliar em experimentação o desempenho de dispositivos eletrônicos intra-reticulares de diferentes dimensões em ovinos e caprinos, no intuito de eleger um dispositivo apto a identificar permanentemente as duas espécies. Adicionalmente, a avaliação de dispositivos visuais destina-se a elencar um identificador efetivo para compor um duplo sistema de identificação.
Figura 1 - Aplicador de bolus e leitura estática em balança convencional.

O projeto em desenvolvimento envolve além da validação técnica dos dispositivos intra-ruminais (bolus) para uso em rebanhos ovinos e caprinos, a utilização/avaliação de softwares de gerenciamento junto a unidade de pesquisa do LAPOC-UFPR e em propriedades comerciais do Estado do Paraná. O aparato tecnológico empregado (leitores, antena e dispositivos) é de fabricação nacional.
A fase de validação técnica dos dispositivos está sendo realizada por meio de experimentação científica e compreende a avaliação dos dispositivos quanto à facilidade de aplicação, taxa de retenção e capacidade de leitura segundo as normas do ICAR (International Comittee for Animal Recording). Também avaliações quanto à biocompatibilidade dos bolus e seu efeito sobre o desempenho dos animais foram realizadas e os resultados foram positivos.
Quatro tipos de bolus avaliados em ovinos jovens e adultos em médio e longo prazo até o momento apresentaram retenção efetiva (100%). Este trabalho encontra-se em fase de conclusão, sendo que dois bolus testados apresentam-se promissores para a identificação efetiva de ovinos.
Figura 2 - Brinco auricular e bolus intra-ruminais avaliados em cordeiras da raça Ile de France.

Figura 3 - Bolus intra-ruminais empregados para a identificação de
ovelhas da raça Ile de France.

Os tempos de aplicação observados nos experimentos foram semelhantes aos reportados nos estudos europeus sugerindo uma capacidade diária de identificação de 300 animais nos procedimentos, nos quais 4 pessoas estiveram envolvidas nas atividades de captura, contenção, administração, leitura e organização dos dados.
Nas avaliações pôde-se constatar que não existe dificuldade associada à aplicação dos dispositivos. Contudo, cabe reforçar a importância da correta contenção dos animais, uso de aplicadores apropriados e a necessidade de respeitar o mecanismo de deglutição voluntária do bolus pelo animal. A aplicação dos dispositivos foi realizada por pessoas previamente treinadas. A realização desta prática por funcionários de fazendas deve ser realizada após treinamento prévio. Um operador inexperiente, bem como erros no posicionamento da cabeça do animal no momento da aplicação, pode levar ao insucesso da aplicação.
O manejo dos animais em ambas as fazendas avaliadas é característico de sistema semi-intensivo, com pastagens cultivadas e suplementação em determinadas épocas do ano. Apesar da variabilidade de forragens utilizadas e da suplementação concentrada, não foram registradas perdas de dispositivos associadas ao manejo alimentar.
Outra constatação importante diz respeito à não ocorrência de perdas de dispositivos em animais após terem sido submetidos à inseminação artificial por via transcervical e laparoscopia. Neste caso, a inversão dos animais sobre a maca e o jejum normalmente realizado poderia representar uma possibilidade real de perda de dispositivos especialmente por regurgitação. Esta informação é de grande relevância uma vez que estas técnicas vêm sendo utilizadas com maior freqüência em sistemas mais tecnificados.
Como dissemos em artigo anterior publicado no FarmPoint, a tecnologia de identificação eletrônica de animais permite o manejo efetivo e o controle individual dos animais e também do rebanho como um todo, de forma rápida e confiável. Erros comuns no dia-a-dia das fazendas, decorrentes da dificuldade de leitura de brincos visuais, por exemplo, bem como fraudes e perdas dos brincos, podem ser totalmente superados com o uso da identificação eletrônica.
O sistema de identificação funciona através da aplicação do identificador/chip no animal, a sua leitura através de antena e leitora específica e o software de gestão, para o qual convergem todos os dados. No momento, o trabalho no LAPOC está sendo direcionado à integração das ferramentas de manejo com estes softwares de gestão. Uma primeira etapa é destinada ao aprimoramento do software para a operacionalização plena das principais atividades de manejo dos rebanhos.
Nos próximos artigos será abordada como pode ser feita a gestão do manejo da rotina dos rebanhos ovino e caprino, de forma eletrônica. Na medida do possível, as situações de manejo serão comparadas, sem e com o uso da identificação eletrônica, facilitando o entendimento do sistema. Pretende-se assim demonstrar, através de exemplos práticos, como a tecnologia de identificação eletrônica pode contribuir de maneira decisiva para a gestão efetiva, rápida e sem erros para os rebanhos de pequenos ruminantes.