Destaques da entrevista
"A grande diferença entre Brasil e Nova Zelândia em termos de cadeia produtiva é resumida em uma palavra só: foco. Aqui o pessoal levou 40 anos para focar no que hoje é a ovinocultura do país e eles vivem disso. A NZ é um país que possui 4 milhões de habitantes e 50% da terra é composta por montanhas de mais de 2 mil metros, eles precisam ser eficientes naquilo que fazem se não eles ficarão para trás. Tudo aqui tem foco, se eu quero chegar na meta A, eu tenho 1,2,3,4 e 5 pontos. Se eu sair desses 5 pontos, não consigo chegar na meta A".
"No Brasil, as pessoas fazem estágio em associações, fazem estágio em fazenda, em cooperativa ou consultoria e não existe um padrão, não existe um foco, nem mesmo nas universidades. No Brasil, há universidades focadas em uma raça só, há universidade focada em produção leiteira, tem universidade que é focada em utilização de amendoim para a alimentação de cordeiros. Não há foco e a gente não consegue trabalhar junto".
"O individualismo na cadeia produtiva do Brasil é o que na minha opinião impaca todo o resto, por mais que a gente tenha potencial, por mais que a gente tenha vontade, essa desunião não nos deixa caminhar. Aqui o foco é muito forte, tudo faz sentido, tudo tem uma pergunta e uma resposta caminhando para o objetivo deles que é a produção de carne".
"Quando eu cheguei na Nova Zelândia eu perguntei qual era o segredo, já que o país é um dos maiores produtores de ovinos do mundo. E a pessoa me respondeu da forma mais tranquila e direta dizendo que lá eles não criam ovelhas, mas criam pastos e a ovelha é consequência do sistema. Eu achei essa filosofia incrível pois no Brasil a gente trabalha o inverso. Temos formulações de rações para ovinos fantásticas com porcentagem e acurácia incrivelmente medidas, mas tudo que vem antes disso, não acompanha essa formulação. Aqui nós começamos com o básico, que é o alimento - pasto, a forma mais barata de alimentar os animais. Se a mãe dos cordeiros não se alimenta bem, ela não vai produzir leite e consequentemente não vai criar os cordeiros bem. E não adianta eu dar uma ração com uma formulação fantástica para este cordeiro daqui 2 meses, pois se ele não teve crescimento satisfatório no período inicial da vida dele, ele não vai trazer bons resultados no confinamento, pelo contrário, eu vou estar gastando mais com esse animal".
"Aqui eu posso dizer que se produz ovinos, e no Brasil se cria. A produção na NZ é voltada para carcaça. Quando eu olho o animal pendurado no frigorífico o significado dele é carne, eu não olho a raça, mesmo porque são várias raças que eles usam aqui, não tem uma raça pura na maioria das vezes e sim raças compostas que dão n tipos de animais em termos de aparência. Por exemplo: aqui na fazenda eu tenho 10 diferentes raças e compostos e a partir do momento que eles viram carcaça, todos eles são iguais. Você não fala o que que era da raça a, b ou c porque geneticamente eles tem a mesma máquina".
"No Brasil o produtor se preocupa se a ovelha pariu, quando o cordeiro vai entrar no confinamento e com quantos quilos ele vai sair de lá. Para isso, o reprodutor precisa ter 10 premiações e há pouca importância sobre os resultados no frigorífico, o que importa é que eu finalizei e mandei para lá. A parte como criador está feita e não há mais nenhum vínculo. Pouco importa se meus animais possuem carcaças tipo A ou tipo B. Não há um link e uma preocupação com o consumidor. Aqui pouco importa se a orelha é grande ou pequena, se o animal tem manchas nas costas ou não, ele é carcaça e precisa atingir uma qualidade x para alcançar aquele mercado".
"Como a NZ depende muito da agricultura, inclusive grande parte do PIB deles é oriundo da agricultura e 90% do que se produz aqui é exportado, a demanda por qualidade e eficiência é muito grande, pois se eles deixam de produzir x números de cordeiros, eles vão deixar de exportar x números de cordeiros. Então é menos dinheiro entrando e a economia cai um pouco. E para estar melhorando, eles tem a consciência que precisam trabalhar coisas elementares que muitas vezes a gente deixa passar despercebido".
"A partir do momento que a lã começou a decair aqui, os produtores não tiveram outra opção além de abater matrizes até que um certo grupo de criadores resolveu procurar outras opções para os ovinos que não fosse a lã. Então, foram introduzidas algumas raças europeias no país para dupla aptidão e novos caminhos foram pesquisados. Como tudo aqui é pequeno, as informações chegam muito rápido e para isso eles tem órgãos especiais para a difusão do conhecimento e da pesquisa. Eles também recebem bastante influência da Austália".
"Quando a produção de carne virou prioridade, eles tiveram praticamente que mudar todo o sistema e para isso precisaram rever e aplicar bases da zootecnia para ganhar dinheiro e manter a posição no mercado mundial. Aqui a união entre universidade, produtor e consumidor é muito grande, eles se comunicam bastante, porque um depende do outro".
"Mesmo no RS, onde a ovinocultura é considerada top, os produtores não entendem muito sobre melhoramento genético, mesmo tendo cultura e universidades por lá".
"Precisamos achar o nosso foco. Nós ainda estamos presos num monópolio genético. Se eu trago genética de fora, ela é de ponta, então o valor é milionário. O produtor busca genética para alavancar a sua produção mas os preços de reprodutores no Brasil são muito caros. Numa feira no RS havia um reprodutor custando US$ 9.000,00. Na fazenda aqui onde eu trabalho, que cria reprodutores, o carneiro mais caro custa US$ 1.000,00 e está entre top dos 10%".
"A NZ não tem preocupação nenhuma em esconder a informação. Tudo aqui em termos de pesquisa é aberto para a população, é aberto para os produtores e é aberto para os sites internacionais. Eles não tem medo de desvendar segredos e gerar possíveis competidores".
"Atualmente é produzido 1 milhão de toneladas de carne ovina no mundo, quantidade que não sustenta a demanda atual. A NZ sabe que não vai conseguir sustentar toda essa demanda, mas o que eles querem é promover a carne ovina e ter países para ajudá-los a produzir e sustentar este mercado".
"Nós aqui recebemos clientes do mundo inteiro. Nós fazemos primeiro a pré venda. Nós apresentamos as raças ao cliente e vamos na fazenda dele para ver o sistema de produção, o manejo, o objetivo, a taxa de prenhez, a resistência aos vermes e à fotossensibilização, etc. Então, elaboramos um relatório e escolhemos a raça ou composto que vai melhor se adaptar a realidade do cliente. A partir do momento que defino a raça ou composto eu escolho o animal que mais se aproxima".
"Aqui os animais passam por seleção genética e nada é feito a olho. Desde que o animal nasce, ele tem um acompanhamento da taxa de crescimento, resistência a vermes, prolificidade, sobrevivência ao nascimento, sobrevivência ao desmame, etc. Acompanhamos esses animais com uma ficha de campo desde o parto e captamos todas as informações possíveis. E como aqui nós produzimos reprodutores, precisamos realizar uma seleção maior, para atingirmos uma maior gama de produtores. Todos os animais possuem uma ficha que os classificam e que dá uma resposta final que é: quanto em termos de dólares esse animal adiciona na progênie?".
Deivison Novaes Rodrigues
Pontes e Lacerda - Mato Grosso - Zootecnista
postado em 17/08/2011
Olá Dayanne, se não for lhe pedir muito, gostaria que você esclarece como funciona, em termos de procedimento e custos, todo o processo de importação de reprodutores da NZ para o Brasil. Penso eu que esta seja a dúvida de muitos produtores.
Abraço