"Mostramos aos interessados o que representa esse produto e quais são as suas vantagens; depois desse primeiro momento, os compradores conversam entre si e conhecem as ofertas; feito isso, discutem internamente e só então definem um parceiro para a próxima temporada", conta Aguinaga. Confira a entrevista logo abaixo:
Figura 1 - Angelo Aguinaga.
FarmPoint - Fale sobre os objetivos do Programa do Cordeiro de Qualidade da ARCO, promovido em parceria entre Sebrae/RS e ARCO.
Angelo - "O objetivo é organizar a produção e a comercialização de carne ovina no Estado do Rio Grande do Sul, numa cadeia jovem e que precisa se estruturar. Digo jovem em função do histórico, onde a cadeia estava organizada através de cooperativas e lanifícios, ou seja, o foco era a produção de lã. A partir da década de 80, a cadeia começou a se organizar em torno da carne. Por essa razão digo que não existe a cadeia, ela esta em construção. Um exemplo é a cadeia da bovinocultura de corte, que está se organizado há mais de 150 anos. Fiz questão desse comentário para posicioná-los sobre nossos objetivos com o Programa. Por isso falo de organizar a produção com ações dentro da porteira e organizar a comercialização, com ações voltadas à comercialização".
FarmPoint - O que é o Selo Nacional de Qualidade e qual é o objetivo dessa certificação?
Angelo - "Selo Nacional é uma ideia da ARCO, já que tratamos a iniciativa no RS como sendo piloto. O objetivo é ampliar para os demais estados, mas particularmente acredito que seja prematuro. Quanto ao objetivo da certificação, trata-se de definir um protocolo de produção, baseado em requisitos como: peso de carcaça, idade do animal, grau de engorduramento, respeito aos períodos de carência dos produtos veterinários, tempo de tosa pré-abate. Com isso, a ARCO padroniza o produto, vence os paradigmas da carne ovina (histórico ruim em função do abate de animais adultos voltados à produção de lã) e garante qualidade ao consumidor final. Podem surgir dúvidas sobre a questão da certificação propriamente dita, mas nesse caso trata-se de um protocolo voluntário, ou seja, não precisa de terceira parte. Por isso a ARCO pode fazer. Cabe ao consumidor reconhecer as qualidades e valorizar o produto. Acredito que estamos conseguindo isso".
FarmPoint - Como funciona a Rodada de Negócios de Ovinos do Sebrae/RS e como funciona a entrega para a indústria?
Angelo - "A Rodada é a forma com que conseguimos minimizar as preocupações do produtor, com a comercialização do produto. Ou seja, uma vez por ano, antes da safra, realizamos um encontro dos lideres dos grupos organizados e representantes de indústrias e varejos interessados em adquirir os animais. Nesse caso, temos um significativo ganho em escala, pois é diferente um produtor negociar com a indústria do que 70 produtores juntos barganharem preço e condição. Após essa aproximação, com tempo definido para cada comprador, os representantes do grupos voltam aos seus municípios e apresentam as propostas recebidas. Acontece a definição de cada grupo, de forma independente e só após essa definição, os lideres se reúnem para definir um único canal de comercialização. É importante que seja construído o consenso, pois existe a necessidade de monitoramento da comercialização junto ao varejo. Com vários parceiros isso seria inviável. Em 2007 foram 5 mil animais comercializados dentro do programa. Em 2008, foram 8 mil, em 2009 foram 12 mil e 2010 foram 20 mil animais. A entrega para a indústria acontece a cada 15 dias e de forma organizada, ou seja, os carregamentos são organizados por município, facilitando a logística. Todos os cordeiros do programa são brincados (identificados) e planilhados, de acordo sua previsão de abate. Isso facilita a organização de entrega".
FarmPoint - Você acredita que o mercado e os preços da carne ovina continuarão aquecidos após a entressafra?
Angelo - "É difícil de prever, mas temos vários indicativos que nos permitem projetar um ambiente futuro favorável. Um deles é a abertura de novos mercados para a carne ovina uruguaia, mercados que remuneram e que possuem consumo elevado. A Austrália vem sofrendo com as secas e consequentemente produzindo menos carne. A NZ estagnou e até reduziu. Por tudo isso, acredito que o mercado continuará favorável e o Brasil tem que se preocupar, primeiro, em ocupar o espaço da carne uruguaia no mercado interno. Depois aumentar o consumo interno e depois pensar em exportar. Ou seja, tem muita coisa para fazer. Saliento, que acredito que a carne ovina uruguaia tem feito mais benefícios do que prejuízos, pois estimula o consumo e não permite a substituição. Temos muito para avançar e carne uruguaia não é a vilã, pois segundo mencionado anteriormente, em pouco tempo não virá para o Brasil e temos que ter a cadeia organizada para ocupar o espaço".
FarmPoint - Na sua opinião, os produtores estão buscando produzir com mais qualidade e estão mais motivados com a alta dos preços?
Angelo - "Sim. O preço estimula a produção e os programas de carne de qualidade estimulam a profissionalização. Trata-se da organização que menciono! Mas não podemos esquecer de que a indústria tem papel fundamental e deve sim estimular tudo isso. O ganha/ganha deve existir No atual cenário, isso faz com que no RS o rebanho não continue caindo, o que já é uma grande conquista. Mas para crescer faltam outros aspectos como a motivação e a "rentabilidade na atividade". Aqui no RS, sempre associada a bovino".
FarmPoint - Como o Sebrae/RS está atuando em prol do desenvolvimento da ovinocultura?
Angelo - "No RS através de projetos coletivos, nas principais regiões produtoras do estado. Temos orçamento para investir tanto na capacitação técnica-gerencial, como no incentivo ao acesso a mercado. Para isso, formamos grupos de produtores e remuneramos técnicos para planejar o desenvolvimento de cada grupo (acompanhamento). Através da coordenação, nesse caso eu, fazemos programas que permeiam os grupos, ou seja, o Programa Cordeiro de Qualidade ARCO é um deles. Assim temos sinergia e promovemos a mudança".
Equipe FarmPoint
Nei Antonio Kukla
União da Vitória - Paraná - Consultoria/extensão rural
postado em 08/11/2010
Toda vez que me deparo com artigos, entrevistas e outras leituras que envolvem o Sebrae percebo que todas elas são de conteúdos técnicos, concedidas por profissionais com know wow suficiente para auxiliar a estruturar uma empresa, um ramo de atividade... Não foi diferente este sentimento em relação a entrevista concedida pelo sr. Angelo Aguinaga. Parabéns! Meu ponto de questionamento, não sei se é o termo correto, pois não se trata de nenhuma reclamação, mas sim de um anseio, é que infelizmente não encontramos ainda os serviços do Sebrae em todos os "cantos" do país. A algum tempo concentro esforços juntamente com outras atividades que tenho compromisso e razão do que não posso dar todo o gás na ovinocultura, mas dispenso algum tempo para tentar alavancar a ovinocultura em minha região, porém percebo que basta a figura do técnico sair um pouco de cena que tudo para. Neste sentido, gostaria muito de contar com a coloboração do Sebrae. A quem devo recorrer?