O investimento em conhecimento, pesquisa, irrigação, desburocratização dos processos e a revisão da legislação brasileira são questões consideradas fundamentais para o desenvolvimento do setor.
Mineiro de Bambuí, região Centro-Oeste do Estado, Paulinelli tornou-se agrônomo em 1959 pela Esal (Escola Superior de Agronomia de Lavras), atual Ufla (Universidade Federal de Lavras). Em 1971, assumiu a Seapa (Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e criou incentivos e inovações tecnológicas que tornaram Minas Gerais o maior produtor de café do Brasil. Em 1974, assumiu o Ministério da Agricultura. Durante a sua gestão, modernizou a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e promoveu a ocupação econômica do cerrado brasileiro.
Após deixar o Mapa, ainda exerceu cargos de destaque na vida pública brasileira, como presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil). Em 2006, foi agraciado com o World Food Prize, prêmio que equivale ao Nobel da Alimentação.
O Brasil é considerado o principal país capaz de alavancar a produção do agronegócio para atender à crescente demanda mundial por alimentos. Temos investido nesta oportunidade de crescimento?
O Brasil tem total condições de crescer no agronegócio, mas não está fazendo o necessário devido à falta de planejamento estratégico e de políticas públicas. Temos condições de produzir cada vez mais. Porém, o volume que hoje é gerado já enfrenta problemas graves, como a falta de espaço para armazenamento da safra e uma logística comprometida, tanto no que se refere ao transporte como ao embarque dos produtos nos portos. Isso não poderia acontecer, mas é resultado de uma imprevisibilidade caótica. O problema não é só de falta de planejamento estratégico, mas, especialmente, de política pública, que nossos concorrentes usam e o Brasil também já utilizou há anos. Infelizmente, após sete planos econômicos, os governantes do país acabaram com essas políticas.
Falta investimento por parte do governo?
Com certeza. Para se ter uma ideia, o governo alardeia que está disponibilizando R$ 176 bilhões para a agricultura brasileira, no Plano Safra 2013/14, para produzir quase 200 bilhões de toneladas. Na década de 1970, o Brasil produzia 30 milhões de toneladas e tinha disponível este mesmo valor, se corrigido. Não está havendo correspondência, e este é o perigo. O Brasil gera US$ 100 bilhões ao ano em exportações agrícolas. Se descontado o valor das importações, que vão desde combustível, fertilizantes e outros produtos químicos, ainda teremos um saldo de US$ 85 bilhões. Se o país tivesse um grupo que enxergasse à frente, o planejamento estratégico reverteria parte desde recursos para investir no setor. Se isso estivesse acontecendo, estaríamos exportando quase o dobro do que atualmente.
O crédito disponibilizado via Plano Safra atende à demanda dos produtores?
O problema do crédito não é só o volume de recursos, ele deve ser aplicado no que realmente precisa, o que não ocorre. O governo está entregando o comando do crédito para as entidades financeiras, mas a produção agrícola tem um objetivo e o banco tem outro, que é ganhar dinheiro sem ter risco, e a agricultura é a atividade de maior risco. Por isso, os produtores estão se tornando reféns dos bancos que, por sua vez, se utilizam de todos os recursos para comprometer o produtor.
Qual a avaliação do senhor em relação ao Código Florestal?
Nada do código salva. Antes da elaboração, era preciso que conhecêssemos os diferentes biomas. Ao contrário disso, fizeram um código sem estudar o bioma da Amazônia, do Nordeste, do Pantanal. Conhecemos um pouco do cerrado e da Mata Atlântica, que estamos tentando recompor. Conhecemos e não utilizamos corretamente os pampas do Rio Grande do Sul. E, acredite, os seis biomas que citei foram legislados como se fossem um só. O que polui mais: a cidade ou o campo? Questionei se será feito um código urbano, e se for feito, quero ver se as regras para São Paulo serão as mesmas para o interior do Piauí. Não levaram as diferenças em conta. Isso é um absurdo. Proibiram a Embrapa de se manifestar, já que iriam colocar os dedos na ferida. Foram anos jogados fora e, hoje, o Brasil está com limitações de áreas, por não ter condições legais de usar tudo que pode.
Estamos limitados por uma legislação esdrúxula, completamente errada. Os demais países produtores do mundo não fizeram um código como o nosso, e não vão fazer nunca.
Quais as principais e mais urgentes medidas que devem ser tomadas para que o agronegócio brasileiro se torne mais competitivo no mercado mundial?
É preciso continuar investindo em ciência e tecnologia, na geração de conhecimento, o que não acontece. Temos empresas especializadas como a Embrapa, que passa por dificuldades financeiras, e as estaduais, que estão praticamente falidas. As universidades também não têm recursos para pesquisas. Também é preciso planejamento para reduzir custos, principalmente em relação ao escoamento da safra. O Brasil tem rede de rios navegáveis excepcionais e essa seria uma das soluções.
A transferência de tecnologia é eficaz no país e em Minas Gerais?
A transferência de tecnologia ainda é precária. Estão criando a Asbraer (Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural) e espero que seja bem dirigida e orientada, pois temos pessoas qualificadas para fazer isso. No Estado, temos a Emater-MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Geais), que cumpre bem este papel e é referência no Brasil.
Uma avaliação em relação ao cerrado. Ainda há espaço para crescer?
O cerrado é um exemplo da competência brasileira. Toda a agricultura no mundo foi feita sobre as melhores terras. No cerrado, aconteceu o inverso. O agricultor aprendeu a manejar uma das terras mais degradadas do mundo e vem produzindo cada vez mais. Ainda temos muitas fronteiras para serem exploradas, só ocupamos 20% do cerrado brasileiro. O uso do restante não aconteceu ainda por falta de investimento, de conhecimento e da legislação que não permite, mas acho que a região é tão promissora que esses gargalos serão solucionados ao longo do tempo.
A produtividade das culturas brasileiras é satisfatória?
O Brasil caminha bem em relação à produtividade, está bem colocado no ranking mundial, mas, mesmo assim, ainda existe muito espaço para crescer. Um dos problemas é que ela ainda não chega à agriculturade subsistência e todos os produtos têm condições de ter produtividade maior. Temos vantagens competitivas das quais não podemos abrir mão. É interessante como nosso sistema de manejo de solo favorece a melhoria da qualidade através do sistema de integração pecuária, lavoura e florestas. Quanto mais se produz, melhor a terra fica e essa tecnologia precisa chegar a todos os produtores.
O uso da água vai ser um problema?
O uso da água é fundamental para o desenvolvimento da agricultura. O Brasil é um dos países mais ricos em relação à oferta de água doce, mas a mentalidade do brasileiro é completamente equivocada. A água precisa estar na terra, na biologia, fazendo a semente se desenvolver e produzir. Precisa retirar da história de Minas Gerais quando fomos contra a transposição do rio São Francisco, que retiraria 42 metros cúbicos de água por segundo, mas, quando fizeram o Jaíba, foram retirados 80 metros cúbicos. O uso da água no país tem um conceito errado e vai ter que mudar. A tendência é partir para a irrigação, investir na terceira safra. O mundo está caminhando, quando chegar a 2050 não vai ter recursos em vários países produtores e o mundo vai pressionar, se não tem competência, vai perder. É preciso ampliar as pesquisas e o conhecimento para usar a água. Acho que vamos ter que fazer mudanças de conceito no país.
Como o senhor avalia as parcerias público-privadas?
As parcerias são muito positivas. O país mais desenvolvido é aquele em que o governo é menos sentido. Eu acho que nossa tendência é investir cada vez mais neste sistema de PPPs. À medida emque as empresasde tecnologia, conhecimento e desenvolvimento vão crescendo, o governo temque se utilizar delas. Eu já passei pelo governo várias vezes, tive todo o apoio de que precisei mas percebi que não é fácil. Você tem burocracia horrorosa, que te atrasa. Então a presença da iniciativa privada para atender a planejamentos estratégicos é fundamental e o governo precisa estreitar os laços.
Os investimentos feitos em parceira entre governo e iniciativa privada para a produção de fertilizantes no país irão alavancar a agricultura?
Este trabalho em conjunto é fundamental para o Brasil se tornar autossuficiente. Infelizmente, em 1970, planejou-se e quase alcançamos a autossuficiência, porém, a demanda cresceu e, como não fizemos planejamento, ficamos dependentes das importações, o que é uma vergonha. Mas, para acontecer, muita coisa precisa mudar. As empresas privadas estão reclamando que gastam, no mínimo, de 3 anos a 5 anos para obter uma autorização na área de ecologia. Que empresa vai investir com esta burocracia?
Temos no solo brasileiro o suficiente para atender à demanda nacional. Falta apoio do governo para reduzir a burocracia, pois já contamos com empresas competentes para resolver este problema.
As informações são do Diário do Comércio
Cássio Nascimento Batista
Cuiabá - Mato Grosso - Funcionário do INCRA
postado em 19/02/2014
Segundo o ex presidente americano Bill Clinton o Brasil tem, de longe, a lei ambiental mais rígida do mundo. Conforme o estado de São Paulo de 11 de fevereiro de 2014 o "Brasil é o 2º país emergente mais vulnerável, diz Fed" . Nos últimos 20 anos (de 1992 a 2012) o agronegócio obteve um saldo de exportação de aproximadamente 640 bilhões, o total brasileiro no mesmo período foi de 340 bi de dólares(dados do MDIC), atenção o primeiro está incluído no segundo! Quem é que paga a conta do país? O agronegócio!
Nos poderíamos ter sim a melhor lei ambiental do mundo, só não precisava ser DE LONGE!