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José Caetano Junior, diretor da Nova Alimentos fala sobre carne ovina, dificuldades e perspectivas para a atividade

postado em 31/07/2006

11 comentários
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Com 10 anos de experiência no mercado de carnes, formado em administração de empresas pela PUC, com pós graduação em Finanças pela FGV/SP, hoje José Caetano Junior, ou simplesmente Junior, como prefere ser chamado, é diretor executivo da Nova Alimentos, empresa responsável pela comercialização de toda a produção do Projeto Amazon de Ovinocultura, que tem hoje cerca de vinte mil matrizes, em 3 fazendas no município de Nova Mutum - MT, com objetivo de alcançar trezentas mil matrizes em produção em 10 anos, em fazendas próprias e de parceiros.

FarmPoint: Quais são os produtos ovinos que a Nova Alimentos comercializa?

Junior:
Comercializamos todos os cortes ovinos, como french rack (carré francês), picanha, lombo, filé mignon, stinco, pernil, paleta, além de algumas novidades como cortes extraídos do pernil (coxão mole, patinho, gîte).

FarmPoint: Quais os diferenciais de seus produtos ao mercado consumidor?

Junior:
Nosso principal diferencial é o conceito de Segurança Alimentar, que traduzimos por DOC (Denominação de Origem Conhecida), o que garante a origem, os processos e a rastreabilidade total dos nossos produtos. Os cortes da linha SELEZIONE-DOC são garantia de uma carne tenra, macia e saborosa, além de possuírem um excelente aspecto visual.

Temos também a linha REALE, que é a nossa linha "comercial". A principal diferença entre as duas é que a Reale não tem a certificação de origem (DOC), portanto não são animais rastreados, da mesma raça, idade, etc. A linha REALE é nossa linha que enfrenta, em preço, os importados. Em termos de qualidade ela é superior, pois é mais limpa, ou seja, o cliente tem de limpar menos, as peças vem embaladas a vácuo, enquanto que os importados, na sua grande maioria, vem apenas enroladas em um plástico; e vem em caixas menores (média de 10 kg), enquanto as importadas vem em caixas de aproximadamente 25 kg.

Além disso oferecemos, ao canal food service, que é hoje, nosso principal canal de comercialização, consultoria para utilização dos nossos produtos, entregas no dia seguinte ao pedido, caixas menores que possibilitam compras com maior freqüência, evitando a necessidade de estoques elevados.

FarmPoint: Como funciona o seu processo de abastecimento? Onde acontece cada etapa do processamento?

Junior:
Nossos animais da linha Selezione Doc são criados em Nova Mutum - MT, abatidos em Várzea Grande - MT, cortados, embalados, congelados, armazenados e distribuídos a partir de São Paulo - SP. Os animais da linha Reale, são criados no sul do RS, abatidos em Don Pedrito - RS, cortados, embalados, congelados, armazenados e distribuídos a partir de São Paulo - SP.

FarmPoint: Qual o volume de carne de cordeiro comercializado atualmente pela Nova Alimentos? Qual é o objetivo a ser alcançado e em quanto tempo?

Junior:
Hoje a Nova comercializa, entre as 2 linhas (Selezione e Reale), cerca de 20 ton/mês. Nosso objetivo é comercializar 100 ton/mês até o final de 2007.

FarmPoint: Como está distribuído seu mercado consumidor? Quais as características desse mercado, busca o menor preço ou qualidade e constância no fornecimento?

Junior:
Hoje nosso principal mercado consumidor é o food service. Infelizmente muitas empresas ainda buscam preços baixos, em detrimento da qualidade do produto, abastecendo-se, inclusive, de produtos de origem duvidosa. Temos notado que esse quadro vem mudado, mas, muito lentamente. Geograficamente, 90% do nosso consumidor está na grande SP, 5% no interior de SP e 5% em outros Estados.

FarmPoint: Já que empresas ainda preferem preço à qualidade do produto, você não pensa em fazer um trabalho de promoção da carne, visando a conscientização do seu consumidor para a qualidade e sabor do produto? Talvez até mesmo junto com o setor de food service, fazer um trabalho em cima do consumidor final?

Junior:
Esse é exatamente o papel do nosso gerente de contas. Nosso gerente de contas, que é como chamamos nossos representantes, uma vez que cada um atende sempre a mesma região, tem a função principal de informar e fazer com que o cliente prove o produto, para poder comparar.

FarmPoint: A competitividade com a carne importada é um obstáculo aos seus produtos? O que acha dessa competitividade?

Junior:
Nosso principal concorrente são as carnes importadas, sobretudo do Uruguai. Carnes de qualidade inferior, de animais velhos, sem padrão, sem embalagem a vácuo, em caixas grandes, chegam ao Brasil por um preço menor que nosso custo de produção. Isso aliado ao Real valorizado, prejudica muito o desenvolvimento da ovinocultura no Brasil.

FarmPoint: A carne uruguaia é um problema enfrentado por muitas regiões do Brasil. Qual seria a solução para esse problema? Baixar o custo de produção, aumentando escala? Fazer um trabalho de conscientização no consumidor?

Junior:
Você tem razão em tudo. Para sermos mais competitivos precisamos ganhar escala, baixar custos e organizar a cadeia produtiva.

FarmPoint: Como você analisa o desenvolvimento da ovinocultura no Brasil? Aonde chegaremos se continuarmos nessa direção?

Junior:
Avalio, pelo menos a curto/médio prazo, como "muito difícil" a situação da ovinocultura no país. Os projetos precisam tomar proporções maiores, empresariais, enfim, precisamos estruturar a cadeia produtiva, com produtores, frigoríficos, distribuidores, se quisermos competir com a carne importada.

FarmPoint: Qual seria o primeiro passo para essa estruturação? De quem tem que partir a iniciativa?

Junior:
Quando temos uma cadeia organizada, onde empresas podem ganhar dinheiro tendo um frigorífico, por exemplo, tudo fica fácil. Hoje precisamos que empresas e pessoas que invistam em produção de animais, genética, abatedouros, distribuição, exportadores, buscando um retorno financeiro a médio/longo prazo, isso, no meu entendimento, é o que mais dificulta a estruturação da cadeia. A grosso modo, o que as pessoas pensam é o seguinte: só vale a pena montar um frigorífico quando tiver uma produção de animais garantida. De outro lado o produtor pensa: só vou implantar ou aumentar a produção quando tiver um frigorífico que garanta a compra da produção.

FarmPoint: Qual sua visão sobre o Brasil se tornar importante no mercado mundial de carne ovina? Temos potencial? O que é necessário?

Junior:
Acho que temos toda condição para nos tornarmos, além de grande consumidor, um grande produtor de carne ovina. Temos todos os recursos naturais para isso. Realmente acho que falta organizarmos a cadeia produtiva e estimularmos o consumo interno, além de criarmos condições sanitárias e comerciais para exportarmos.

FarmPoint: Qual o recado que você gostaria e deixar para os que estão iniciando a atividade?

Junior:
Como toda a atividade, a ovinocultura demanda estudos de viabilidade bem feitos. Entendo que projetos "pequenos" tem mais chance de darem errado, devido a pouca escala e baixa diluição dos custos fixos. Além disso é bom que se tenha em mente, que, via de regra, trata-se de projetos de taxa de retorno baixa e prazos longos, porém acredito que sejam projetos de futuro. A ovinocultura no Brasil veio para ficar.

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Comentários

Paulo José Theophilo Gertner

Lauro de Freitas - Bahia - Médico Veterinário
postado em 31/07/2006

Tocar nesse assunto, e de vital importância, não da para ficarmos "viajando", em carneiros de R$1.000.000,00.

Muito se fala e não vejo sinergismo entre os elos da cadeia. O Farm Point, Capritec e grupos de discussão são o caminho, mas governo, entidades de classe tem que participar de forma coordenada, pois como ocorre hoje as energias ficam dispersas e perde-se muito com isso.

Reflitam no exemplo da NZ.
Parabéns pela matéria e que venham outras nessa mesma linha.

Waldomiro Martini Neto

Mogi Guaçu - São Paulo - Produção de ovinos
postado em 02/08/2006

Gostei muito da parte em que é enfocado o problema do tamanho da criação, uma vez que estou passando por essa dificuldade: ou aumento drasticamente o meu número de matrizes ou então a rentabilidade da criação não vai ser aquela que eu esperava.

Enei Roberto Veiga da Silva

Pelotas - Rio Grande do Sul - Produção de gado de corte
postado em 08/08/2006

Aqui fica bem evidenciada a falta de políticas públicas compatíveis com as necessidades dos produtores: financiamentos a prazos e taxas proporcionais a cada atividade; impedir que produtos importados de qualidade inferior venham concorrer com os nossos produtos top; valorização artificial da nossa moeda, acabando com a nossa competitividade junto ao mercado externo, enfim, toda a espécie de obstáculos que os produtores brasileiros vêm enfrentando ao longo do tempo.

É lamentável que os legisladores e/ou administradores públicos não tenham respeito por quem produz, por quem investe e, acima de tudo, quem gera riquezas para mantê-los.

Rodrigo Silva machado

Tupaciguara - Minas Gerais - Produção de ovinos
postado em 08/08/2006

Parabéns pela reportagem e acho que a grande solução para o problema de "só crio se tiver frigorifico" e "só monto frigorifico se tiver produção", é ter mais entidades com este projeto de ter sua propria produção e fazer parcerias com produtores, principalmente, na regiao do centro-oeste. Tenho certeza que a partir desta entidade o MT será uma potência em ovinocultura.

claudio villardi

Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Produção de ovinos
postado em 08/08/2006

Amigos criadores, como qualquer coisa que façamos nesse país encontraremos diversas dificuldades, não podemos desanimar nunca, pois nossa união e perseverança que faz à força no campo, vamos continuar acreditando que chegaremos lá, abraços.

Tales Cardoso Machado

São Miguel do Araguaia - Goiás - Produção de leite
postado em 09/08/2006

Estamos querendo investir na ovinocultura mas estamos enfrentando o mesmo problema que outros criadores, não temos um mercado certo para nosso produto. Temos vários produtores pequenos querendo investir. Precisamos de parceiros para comercializar. Parabéns pela matéria.

Jorge Alan Schmietke

Joaçaba - Santa Catarina - Abate e comercialização de carne de ovinos
postado em 19/08/2006

No caso do Estado de Santa Catarina, onde predominam as pequenas propriedades, é dificil trabalhar com grande escala, mas comparada com outras atividades a ovinocultura é uma ótima opção em rendimento por área, e, juntando-se vários pequenos forma-se um grande, que também pode ser viável e competitivo no mercado.

Nós da Apoena Alimentos estamos trabalhando nesse sentido, e acreditamos estar-mos ajudando a ovinocultura brasileira tornar-se um grande negócio. Concordo com as respostas do sr. José Caetano Júnior, adaptando somente essa para nossa realidade do Estado.

Prof.Méd.Vet.Benedito Marques da Silva Junior

Itapetininga - São Paulo - Consultoria/extensão rural
postado em 20/08/2006

Muito apropriada a opinião do Sr. José Caetano Junior, Diretor da Nova Alimentos, acerca da dimensão da ovinocultura, e que a propósito, acredita nos "pequenos projetos".

Méd.Vet.Benedito Marques da Silva Junior-ME
Diretor Social da ACCORI
Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos da Região de Itapetininga - SP
Gestão 2.006/2.007.

Saul Jorge Zeuckner

ouro verde do oeste - Paraná - Indústria de insumos para a produção
postado em 20/08/2006

Parabenizamos a todos pelo empenho no sentido de transformar a cadeia produtiva de ovinos e caprinos uma realidade brasileira , no entanto , necessitamos mais trabalho na ponta final da cadeia.

Percebemos ainda muitos mitos sobre essas carnes , principalmente de ovinos, temos que trabalhar mais o marketing da carne pois muita gente não a conhece.

Se tivermos condições de aumentar esse consumo , e organizarmos toda a cadeia de produção, sem duvida é uma excelente opção para o campo, industrias, comercio, etc.

Parabéns pela reportagem e principalmente pelo site

Saul

Jose Caetano Jr

São Paulo - São Paulo - Frigoríficos
postado em 21/08/2006

Realmente acho que todos nós temos consciência de que precisamos nos organizar, para que a ovinocultura prospere no Brasil. Sem essa organização e o estímulo ao consumo interno, entendo que será muito difícil estruturarmos a cadeia produtiva, para que um dia, cheguemos ao nível de organização da suinocultura ou da avicultura, colocando o Brasil como um dos maiores produtores e exportadores de carne ovina do mundo.
Estou sempre a disposição de todos para falarmos sobre o assunto.

José Caetano Jr.
Nova Alimentos

RICARDO MEDEIROS

Natal - Rio Grande do Norte - Produção de ovinos de corte
postado em 02/07/2007

Muito apropriada a entrevista, opiniões bastante coerentes, é necessario desenvolvermos mecanismos de combate a entrada da carne uruguaia no sentido de que possamos alavancar as vendas externas que fatalmente levarão ao aumento da produção.
sds ricardo

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