Com 10 anos de experiência no mercado de carnes, formado em administração de empresas pela PUC, com pós graduação em Finanças pela FGV/SP, hoje José Caetano Junior, ou simplesmente Junior, como prefere ser chamado, é diretor executivo da Nova Alimentos, empresa responsável pela comercialização de toda a produção do Projeto Amazon de Ovinocultura, que tem hoje cerca de vinte mil matrizes, em 3 fazendas no município de Nova Mutum - MT, com objetivo de alcançar trezentas mil matrizes em produção em 10 anos, em fazendas próprias e de parceiros.
FarmPoint: Quais são os produtos ovinos que a Nova Alimentos comercializa?
Junior: Comercializamos todos os cortes ovinos, como french rack (carré francês), picanha, lombo, filé mignon, stinco, pernil, paleta, além de algumas novidades como cortes extraídos do pernil (coxão mole, patinho, gîte).
FarmPoint: Quais os diferenciais de seus produtos ao mercado consumidor?
Junior: Nosso principal diferencial é o conceito de Segurança Alimentar, que traduzimos por DOC (Denominação de Origem Conhecida), o que garante a origem, os processos e a rastreabilidade total dos nossos produtos. Os cortes da linha SELEZIONE-DOC são garantia de uma carne tenra, macia e saborosa, além de possuírem um excelente aspecto visual.
Temos também a linha REALE, que é a nossa linha "comercial". A principal diferença entre as duas é que a Reale não tem a certificação de origem (DOC), portanto não são animais rastreados, da mesma raça, idade, etc. A linha REALE é nossa linha que enfrenta, em preço, os importados. Em termos de qualidade ela é superior, pois é mais limpa, ou seja, o cliente tem de limpar menos, as peças vem embaladas a vácuo, enquanto que os importados, na sua grande maioria, vem apenas enroladas em um plástico; e vem em caixas menores (média de 10 kg), enquanto as importadas vem em caixas de aproximadamente 25 kg.
Além disso oferecemos, ao canal food service, que é hoje, nosso principal canal de comercialização, consultoria para utilização dos nossos produtos, entregas no dia seguinte ao pedido, caixas menores que possibilitam compras com maior freqüência, evitando a necessidade de estoques elevados.
FarmPoint: Como funciona o seu processo de abastecimento? Onde acontece cada etapa do processamento?
Junior: Nossos animais da linha Selezione Doc são criados em Nova Mutum - MT, abatidos em Várzea Grande - MT, cortados, embalados, congelados, armazenados e distribuídos a partir de São Paulo - SP. Os animais da linha Reale, são criados no sul do RS, abatidos em Don Pedrito - RS, cortados, embalados, congelados, armazenados e distribuídos a partir de São Paulo - SP.
FarmPoint: Qual o volume de carne de cordeiro comercializado atualmente pela Nova Alimentos? Qual é o objetivo a ser alcançado e em quanto tempo?
Junior: Hoje a Nova comercializa, entre as 2 linhas (Selezione e Reale), cerca de 20 ton/mês. Nosso objetivo é comercializar 100 ton/mês até o final de 2007.
FarmPoint: Como está distribuído seu mercado consumidor? Quais as características desse mercado, busca o menor preço ou qualidade e constância no fornecimento?
Junior: Hoje nosso principal mercado consumidor é o food service. Infelizmente muitas empresas ainda buscam preços baixos, em detrimento da qualidade do produto, abastecendo-se, inclusive, de produtos de origem duvidosa. Temos notado que esse quadro vem mudado, mas, muito lentamente. Geograficamente, 90% do nosso consumidor está na grande SP, 5% no interior de SP e 5% em outros Estados.
FarmPoint: Já que empresas ainda preferem preço à qualidade do produto, você não pensa em fazer um trabalho de promoção da carne, visando a conscientização do seu consumidor para a qualidade e sabor do produto? Talvez até mesmo junto com o setor de food service, fazer um trabalho em cima do consumidor final?
Junior: Esse é exatamente o papel do nosso gerente de contas. Nosso gerente de contas, que é como chamamos nossos representantes, uma vez que cada um atende sempre a mesma região, tem a função principal de informar e fazer com que o cliente prove o produto, para poder comparar.
FarmPoint: A competitividade com a carne importada é um obstáculo aos seus produtos? O que acha dessa competitividade?
Junior: Nosso principal concorrente são as carnes importadas, sobretudo do Uruguai. Carnes de qualidade inferior, de animais velhos, sem padrão, sem embalagem a vácuo, em caixas grandes, chegam ao Brasil por um preço menor que nosso custo de produção. Isso aliado ao Real valorizado, prejudica muito o desenvolvimento da ovinocultura no Brasil.
FarmPoint: A carne uruguaia é um problema enfrentado por muitas regiões do Brasil. Qual seria a solução para esse problema? Baixar o custo de produção, aumentando escala? Fazer um trabalho de conscientização no consumidor?
Junior: Você tem razão em tudo. Para sermos mais competitivos precisamos ganhar escala, baixar custos e organizar a cadeia produtiva.
FarmPoint: Como você analisa o desenvolvimento da ovinocultura no Brasil? Aonde chegaremos se continuarmos nessa direção?
Junior: Avalio, pelo menos a curto/médio prazo, como "muito difícil" a situação da ovinocultura no país. Os projetos precisam tomar proporções maiores, empresariais, enfim, precisamos estruturar a cadeia produtiva, com produtores, frigoríficos, distribuidores, se quisermos competir com a carne importada.
FarmPoint: Qual seria o primeiro passo para essa estruturação? De quem tem que partir a iniciativa?
Junior: Quando temos uma cadeia organizada, onde empresas podem ganhar dinheiro tendo um frigorífico, por exemplo, tudo fica fácil. Hoje precisamos que empresas e pessoas que invistam em produção de animais, genética, abatedouros, distribuição, exportadores, buscando um retorno financeiro a médio/longo prazo, isso, no meu entendimento, é o que mais dificulta a estruturação da cadeia. A grosso modo, o que as pessoas pensam é o seguinte: só vale a pena montar um frigorífico quando tiver uma produção de animais garantida. De outro lado o produtor pensa: só vou implantar ou aumentar a produção quando tiver um frigorífico que garanta a compra da produção.
FarmPoint: Qual sua visão sobre o Brasil se tornar importante no mercado mundial de carne ovina? Temos potencial? O que é necessário?
Junior: Acho que temos toda condição para nos tornarmos, além de grande consumidor, um grande produtor de carne ovina. Temos todos os recursos naturais para isso. Realmente acho que falta organizarmos a cadeia produtiva e estimularmos o consumo interno, além de criarmos condições sanitárias e comerciais para exportarmos.
FarmPoint: Qual o recado que você gostaria e deixar para os que estão iniciando a atividade?
Junior: Como toda a atividade, a ovinocultura demanda estudos de viabilidade bem feitos. Entendo que projetos "pequenos" tem mais chance de darem errado, devido a pouca escala e baixa diluição dos custos fixos. Além disso é bom que se tenha em mente, que, via de regra, trata-se de projetos de taxa de retorno baixa e prazos longos, porém acredito que sejam projetos de futuro. A ovinocultura no Brasil veio para ficar.
Paulo José Theophilo Gertner
Lauro de Freitas - Bahia - Médico Veterinário
postado em 31/07/2006
Tocar nesse assunto, e de vital importância, não da para ficarmos "viajando", em carneiros de R$1.000.000,00.
Muito se fala e não vejo sinergismo entre os elos da cadeia. O Farm Point, Capritec e grupos de discussão são o caminho, mas governo, entidades de classe tem que participar de forma coordenada, pois como ocorre hoje as energias ficam dispersas e perde-se muito com isso.
Reflitam no exemplo da NZ.
Parabéns pela matéria e que venham outras nessa mesma linha.