Figura 1 - Paulo Afonso Schwab, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos (A.R.C.O).
FarmPoint - Você acredita que a falta de cordeiros para abate e a pouca disposição do Uruguai em exportar carne para o Brasil promovem uma situação diferente e uma carência de carne ovina apenas no Rio Grande do Sul ou também em outros estados brasileiros?
Paulo Schwab - Realmente pela primeira vez vamos ter menor oferta de carne na maior parte dos mercados estaduais brasileiros pois o Uruguai era um fornecedor bem ativo ao longo do ano e eles conseguiram abrir mercados importantes no exterior, conseguindo com isto melhores preços. Já abasteciam a União Europeia e hoje abastecem o Canadá, os Estados Unidos e um pouco da Arábia. Isto porque a Austrália e a Nova Zelândia tiveram que diminuir sua oferta ao mercado externo, devido as repetidas secas que aconteceram por lá. Mas creio também que a partir deste ano é uma situação que vai ser recorrente e vai afetar vários estados brasileiros, não só o Rio Grande do Sul.
FarmPoint - Você acha que a baixa oferta de carne ovina é uma oportunidade para os ovinocultores brasileiros?
Paulo Schwab - Sem dúvida é uma excelente oportunidade. Só lamento que nós criadores não estejamos prontos para atender de imediato esta nova demanda que vai se apresentar. Até porque ainda agora, não temos como suprir o mercado local, quanto mais com a saída do Uruguai. E não creio que tenha alguém capaz de substituí-lo tão cedo. Mas é justamente neste momento que precisamos chamar a atenção de todos os criadores e operadores deste setor. Se não houver uma ação conjunta, buscando agir de forma prática, outro fornecedor vai tomar o lugar do Uruguai e, mais uma vez, vamos perder uma ótima oportunidade de virarmos a mesa e mudarmos o rumo desta prosa que vem sendo a mesma há muito tempo.
FarmPoint - Recentemente o FarmPoint entrou em contato com frigoríficos de ovinos e caprinos de vários estados (SP, PR, RS, PE, BA, MS e TO) para saber o preço que estão pagando pelo kg/vivo dos cordeiros e a média foi de R$ 3,25. Você acha que esse preço tende a subir?
Paulo Schwab - É difícil de fazer uma previsão exata. No Rio Grande do Sul, por exemplo, até há pouco tempo o preço estava abaixo de R$ 3,00. Hoje já chega inclusive a R$ 3,50 ou mais. Mas eu creio que realmente, neste período que podemos considerar, ao menos na parte mais sul do Brasil, de entressafra, por conta da falta de cordeiros para abate, que os preços tendem a subir. Em outras regiões, onde a produção não depende de sazonalidade, creio que vão ter melhoras. E é importante ressaltar ainda que as carnes com certificação de qualidade vão ser mais valorizadas em relação às outras.
FarmPoint - Você acha que a carne ovina brasileira, no quesito qualidade, consegue ocupar o lugar da carne ovina uruguaia?
Paulo Schwab - A qualidade da carne está diretamente ligada a idade de abate e a raça. Todos os cordeiros até cinco meses de idade, apresentam uma carne com excelente qualidade. A partir desta idade, nas raças que têm especialização para a produção de lã, começa a deposição de gordura, o que muda o sabor da carne. O rebanho brasileiro é hoje composto por mais de 80% com raças especializadas em carne; já o Uruguai é o oposto. Portanto sim, podemos substituir a carne uruguaia sem qualquer temor na questão de qualidade.
Equipe FarmPoint
Délvio Luiz Rodrigues Berriel
Alegrete - Rio Grande do Sul - Ovinocultor
postado em 30/07/2010
A interpretação do presidente da ARCO é exata e vai ao ponto nevrálgico da ovinocultura brasileira. "A Falta de organização". Com isto, podemos mais uma vez perder a oportunidade de voltarmos aos tempos de glória da ovinocultura do RS (período laneiro). Senhores ovinocultores a hora é agora vamos provar que esta atividade milenar além de abençoada por DEUS é segura, sustentável e rentável. O mercado existe, basta que encontremos os meio para explorá-lo. Délvio Luiz Berriel.