Destaques da entrevista
"Hoje no Brasil, para a produção de leite ovino, temos a raça Lacaune que já está no país a quase 15 anos . Esse ano oficialmente foi introduzida a raça East Friesian. Essa raça é como se fosse a raça Holandesa das ovelhas, pois é um raça extremamente especializada em produção de leite, só que o rebanho hoje é muito pequeno, deve ter algumas dezenas de cabeças, já a raça Lacaune está mais disseminada"
"Eu acompanho a ovinocultura leiteira já fazem 6 anos. É uma atividade que está crescendo, não é popular ainda porque produção de leite é mais complicada e a ovinocultura de corte está em alta"
"Dos produtores e laticínios que existem, a gente vê que a procura é constante e não conseguimos atender essa demanda. O abastecimento é feito com importações e também há poucas iniciativas, tem algumas bem individuais"
"Hoje nós temos dois laticínios no Rio Grande do Sul, um em Santa Catarina e um no Rio de Janeiro, o mercado é o queijo e iogurte. O produto importado é extremamente caro. A qualidade do nosso produto é a mesma, não tem a denominação de origem, mas, é tão bom quanto"
"A ovinocultura de leite não tem a cadeia produtiva estabelecida. Quando eu estava envolvido com a Unesp, tinha muita gente interessada em produzir leite mas não queijo, porque nem sempre p produtor de leite tem habilidade para produzir queijo. O que a gente fala é que quem produz leite, vai ter que fazer o queijo e vender"
"As estruturas da cadeia são muito complexas e não é todo mundo que tem um potencial empreendedor e empresarial. Muitos querem produzir leite em poucos locais para processar o leite. Não adianta o produtor produzir leite e não ter para quem entregar e se ele produzir queijo, ele tem que ter uma estrutura de venda"
"Acredito que será uma ascensão lenta até que a cadeia comece segmentar e não precise que todo produtor de leite faça o seu queijo. A hora que existir uma iniciativa do empresário montar um laticínio e fomentar a atividade leiteira, eu acho que o crescimento vai ser bem melhor"
"O que a gente tem observado de raças leiteiras especializadas em produção de leite é uma produção de 1,5 à 4 litros de leite/dia"
"A gente apresentou em 2007 na Feileite uma palestra sobre produção de leite ovino e fizemos uma simulação para uma pequena propriedade. Na simulação, nós trabalhamos com 100 cabeças de raças leiteiras. Na raça leiteira você pode conseguir tranquilamente 6 meses de lactação. Consideramos que essas 100 ovelhas ao longo do ano produziram 2 litros de leite/dia durante os 6 meses do ano. Então, em 180 dias conseguimos 36.000 litros. Durante o projeto consultamos alguns laticínios e alguns compravam dos produtores a um preço médio de R$ 2,00/litro. Então, se tivermos a cadeia estabelecida e o produtor tiver aonde vender o leite, esses 36.000 renderiam por ano para ele R$ 72.000,00 de faturamento bruto, ou seja, daria por mês algo em torno de R$ 6.000,00"
"Se formos pensar em relação ao rendimento queijeiro, a gente consegue de 16 a 22% de rendimento, pois para fazer 1 quilo de queijo, é necessário 4,5 a 6 litros de leite. Se considerarmos 5 litros para 1 quilo de queijo, o produtor vai produzir 7,5 toneladas de queijo. Se ele vender por R$ 50,00 o quilo, que é um preço baixo hoje, isso vai representar R$ 360.000,00/ano. É claro que para produzir o queijo, o produtor vai precisar de uma estrutura para isso, funcionários, equipamentos, etc"
"A intenção nunca é vender uma ideia como uma fonte de dinheiro fácil, mas é uma atividade que merece uma atenção especial, pois tem um produto de alta valor agregado e que precisa ser de excelentíssima qualidade, porque o público é muito exigente, está disposto a pagar"
"Podemos pensar também em outros mercados. Em Botucatu fizemos outros trabalhos com o leite: doce de leite, sorvete, queijo roquefort, iogurte e queijo prato. Fizemos teste de aceitabilidade com o público local e teve uma boa aceitação. O doce de leite ficou muito cremoso e consistente, o pessoal gostou bastante. A gente não precisa pensar em produzir só queijos tradicionais e mundialmente conhecidos, mas, também trabalhar a questão local"
william delaqua
São Miguel Arcanjo - São Paulo - Consultoria/extensão rural
postado em 12/07/2010
Gostaria de parabenizar o Rodrigo pela entrevista! Achei muito interessante essa questão da necessidade que o ovinocultor leiteiro apresenta em agregar valor ao produto. "Quem produz o leite vai ter que fazer queijo e vender" No caso da caprinocultura leiteira, seria interessante financeiramente manter este raciocínio uma vez que o leite de cabra in natura possui um bom mercado? Abraço