FarmPoint - Fale sobre a raça Bergamácia
A raça Bergamácia formou-se no norte da Itália, nas regiões de Lombardia e Piemonte, originária dos ovinos do Sudão; é também conhecida em seu país de origem como Gigante de Bergamo, sendo utilizada para as produções de carne, leite e lã.
Introduzida no Brasil na década de 30, primeiramente no estado da Bahia, onde foi utilizada em cruzamentos com raças locais, foi aos poucos substituída por ovinos deslanados (MACEDO et AL., 1996).
São ovinos de grande porte, com peso adulto ao redor de 100- 120 kg para machos e 70- 80 kg para fêmeas; lanados, mochos, com perfil ultra convexo e com orelhas largas e pendentes, que atingem no mínimo a ponta do focinho.
Sua lã é branca, cobre parcialmente os membros até os jarretes, porém não é de boa qualidade. Embora seja utilizada em nosso país para a produção de carne, apresenta um alto potencial para a produção de leite; porém, estudos são necessários para determinar qual é seu potencial produtivo, e quais são as características do seu leite.
No Brasil, muito pouco se conhece sobre a produção de leite ovino. A maioria das raças brasileiras apresenta aptidão para a produção de carne ou lã, mas é possível encontrar animais com aptidão leiteira.
Figura 1 - Ovelha e cordeiro da raça Bergamácia no setor de ovinocultura da Unesp de Botucatu.
FarmPoint - Em quais regiões do Brasil essa raça encontra-se inserida?
A raça Bergamácia encontra-se inserida na região Nordeste e um pouco na região Centro-Oeste do país.
FarmPoint - Quais as vantagens da raça
Raças com maior aptidão leiteira têm sido utilizadas em programas de cruzamentos com raças nativas ou raças com aptidão para a produção de carne, com a finalidade de formar fêmeas mestiças, com uma produção de leite superior e, consequentemente, capazes de desmamar cordeiros mais pesados. A raça Bergamácia também pode ser utilizada como uma opção para esses programas de cruzamento, uma vez que apresenta boa produção de leite, que permite desmamar seus cordeiros com pesos elevados.
Apesar de, atualmente, a carne ser o principal enfoque da ovinocultura brasileira, tem-se observado um grande interesse pela produção de leite, área carente de pesquisa e de desenvolvimento de processos produtivos, principalmente pelo valor agregado que seus derivados possuem no mercado.
Devido às características peculiares do leite de ovelha, com cerca de 7,5% de gordura, o rendimento para a produção de queijos é muito superior aos leites de vaca e cabra, o que reflete positivamente para a indústria e também para o produtor, que poderá exigir um preço diferenciado por este leite.
A composição média do leite de ovelha, descrita por KREMER et al. (1996), em um período de 2 anos, foi de 7,16% de gordura; 6,32% de proteína; 5,27% de lactose e 12,58% de sólidos não gordurosos. Na revisão de literatura feita por esses autores, o teor de gordura variou de 6,35 a 9,40%, o de proteína de 4,30 a 5,00% e o de lactose de 3,70 a 5,16%.
Quando a opção para a produção de leite ovino for a raça Bergamácia, deve-se ter consciência que apesar dela apresentar um bom potencial de produção, este não é conhecido; há que se trabalhar com melhoramento genético. Em experimentos realizados com a raça Bergamácia, na FMVZ- UNESP/ Botucatu, observou-se médias para a composição química do leite de: 5,67% de proteína, 6,1% de gordura, 16,8% de sólidos totais e 4,8% de lactose.
FarmPoint - Projetos desenvolvidos na UNESP
Sabendo que a capacidade de produzir leite dos ovinos, pelas características peculiares do próprio leite e da espécie, é menor que em outras espécies como vacas, búfalas e algumas cabras, temos, enquanto pesquisadores, que adquirir conhecimento e desenvolver técnicas que otimizem ao máximo a produção de leite nesta espécie. (SIQUEIRA & MAESTÁ, 2002).
Considerando-se que o país importa queijos de leite ovino, ao gerar conhecimento e difundí-lo ao meio criatório brasileiro, poderemos agregar valores ao sistema de criação de ovinos e viabilizar a ovinocultura em pequenas e médias propriedades rurais espalhadas pelo Brasil (SIQUEIRA & MAESTÁ, 2002).
O rebanho de ovinos da raça Bergamácia da FMVZ- UNESP/ Botucatu está envolvido em projetos de pesquisa sobre sistemas de produção de leite ovino. Podemos citar alguns dos principais projetos:
1 - Produção e composição do leite, incidência de mastite, crescimento de cordeiros e perfil econômico em três sistemas de manejo de ovelhas da raça Bergamácia
Sabe-se que nos sistemas extensivos de produção de leite existe um período de amamentação, e somente após a desmama as ovelhas são ordenhadas; ao passo que nos sistemas mais intensivos, utilizando-se ovelhas de elevada produção e boa aptidão para a ordenha, os cordeiros são separados de suas mães e criados artificialmente, com ordenha até o fim da lactação. Há ainda, em alguns países, o uso do sistema misto, em que os cordeiros permanecem apenas um período com suas mães, e estas são ordenhadas durante o tempo de aleitamento. Neste contexto, cento e cinco ovelhas da raça Bergamácia foram divididas em três manejos diferentes no que diz respeito à desmama dos cordeiros (2, 30 e 45 dias de idade), com os objetivos de verificar a produção e a composição do leite, a contagem de células somáticas, o crescimento dos cordeiros e o comportamento em sala de ordenha.
Figura 2 - Cordeiro da raça Bergamácia - setor de ovinocultura Unesp/Botucatu.
2 - Sistemas de produção de leite ovino em pastagem e confinamento
Este trabalho teve por objetivo avaliar dois sistemas de produção de leite: em pastagem e em confinamento, uma vez que entre os fatores que podem afetar a produção e a qualidade do leite está o sistema de produção ao qual os animais são submetidos.
3 - Produção, composição do leite e comportamento de ovelhas da raça Bergamácia sob dietas com quatro distintos níveis de FDN"
Entre os pontos decisivos que podem influenciar a produção leiteira, está a alimentação. Sendo a lactação uma fase de alto requerimento nutritivo por parte do animal, é necessário o fornecimento de alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, tendo em vista que uma alimentação escassa pode acarretar diminuição na produtividade, com variações nos componentes e queda na quantidade do leite produzido.
A fibra, além de manter a fermentação no rúmen e o percentual de gordura do leite, regula o consumo de matéria seca e energia, e ajuda na prevenção de desordens metabólicas do pós-parto, sendo um componente essencial da dieta de animais em lactação. A utilização de níveis adequados de FDN na dieta visa obter elevada produção, entretanto, ainda existem poucas informações na literatura a respeito dos níveis adequados de FDN para ovinos, visando a obtenção dos melhores resultados produtivos. Em vista do exposto, o objetivo desse trabalho foi avaliar o consumo de nutrientes, o desempenho e as respostas produtivas e comportamentais de ovelhas Bergamácia alimentadas com distintos níveis de FDN.
4 - Efeito da gordura protegida sobre parâmetros produtivos de ovelhas da raça Bergamácia nos processos de fabricação e aspectos sensoriais dos derivados do leite
Diversos trabalhos comprovaram que o leite de ovelha possui maior concentração de proteínas (sobretudo caseína) e lipídios do que outras espécies leiteiras tradicionais; estes, sabidamente benéficos para a saúde humana, pela atividade anticarcinogênica, propriedades antioxidantes, estimulação da resposta imune e proteção contra arteriosclerose. Porém, o Brasil ainda é muito carente de informações técnicas sobre a produção e qualidade do leite de ovelha, bem como a respeito dos efeitos em sua industrialização, ao utilizar-se suplementos dietéticos. Em vista do exposto, realizou-se este trabalho com o objetivo de estudar os efeitos da adição de gordura protegida na dieta de ovinos leiteiros.
5 - Influência do fotoperíodo na produção de leite e níveis hormonais de ovelhas da raça Bergamácia
O ganho de peso e a lactação sofrem influência do número de horas de luz e escuridão ao qual o animal é submetido; mas as causas destes efeitos ainda não são totalmente conhecidas. Portanto, este trabalho teve por objetivo avaliar o efeito do fotoperíodo sobre a produção e a composição do leite de ovelhas da raça Bergamácia e estudar as alterações na secreção dos hormônios relacionados com a lactação, em função de dois fotoperíodos: longo (18h de luz : 6h de escuridão) e curto (12h de luz : 12h de escuridão).
6 - Estudo da interação entre ordenhador e ovelhas da raça Bergamácia relacionada ao comportamento em sala de ordenha, produção e composição do leite, e níveis de cortisol.
A observação comportamental das ovelhas durante a ordenha é importante para determinar o nível de bem estar e o condicionamento. A separação da ovelha do cordeiro pode gerar desconforto para ambos e consequências negativas durante a ordenha, pois o estímulo maior para a liberação do leite, que é o filhote, pode não estar presente, como ocorre em alguns sistemas de produção de leite. Estudos com ruminantes têm demonstrado que altos níveis de cortisol estão associados com estresse durante a ordenha. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência de três sistemas de produção (desmama com 2, 30 e 45 dias de idade) sobre o bem estar dentro da sala de ordenha, e comparar as reações comportamentais à ordenha mecânica em ovelhas da raça Bergamácia .
Figuras 3 e 4 - Sala de ordenha e ovelhas da raça Bergamácia sendo ordenhadas do setor de ovinocultura da Unesp de Botucatu.
FarmPoint - Você acredita que a procura por esta raça está aumentando?
A raça Bergamácia, infelizmente, tem uma pequena população no Brasil. Em vista disto, ela não é tão conhecida, sobretudo em relação à sua potencialidade produtiva. Entretanto, os poucos criadores que passam a conhecê-la e a criá-la, encantam-se, principalmente por sua magnífica habilidade materna. A viabilidade de seus cordeiros é excelente, ou seja, a taxa de sobrevivência é alta; certamente em vista da elevada produção de leite e dos cuidados que dedicam às crias. É uma raça muito mansa, fato que facilita o manejo. Alias, a mansidão é uma característica fundamental de animais com elevada habilidade de produção de leite.
Figura 5 - Cordeiros mamando - setor de ovinocultura Unesp/Botucatu.
Portanto, se houvesse uma maior disponibilidade de animais desta raça, tenho certeza que sua procura seria sempre crescente.
Referências bibliográficas
ARCO - Associação Brasileira de Criadores de Ovinos. www.arcovinos.com.br
KREMER, R., ROSÉS, L.; RISTA, L.; BARBATO, G.; PERDIGÓN, F.; HERRERA, V. Machine milk yield and composition of non-dairy Corriedale sheep in Uruguay. Small Ruminant Research. v. 19, p. 9-14, 1996.
MACEDO, F.A.F., MARTINS, E.N., SIQUEIRA, E.R. et AL. 1996. Desenvolvimento de cordeiros puros e cruzados terminados em pastagem eem confinamento. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 33, 1996, v.1, Fortaleza. Anais...p.254- 255.
SIQUEIRA, E.R. , MAESTÁ, S. Bases para produção e perspectivas de mercado de leite ovino. In: Simpósio Mineiro de Ovinocultura, II, Anais, Lavras, v.1, p.59- 78, 2002.
Quirino de Freitas
Fernandópolis - São Paulo - Produção de ovinos
postado em 01/07/2010
Oi Simone, parabéns. Gostaria de saber sobre a adaptabilidade desses animais. Abs