Walter Celani: "Hoje as pessoas entram na atividade com o pé no chão"

Raquel Maria Cury Rodrigues, analista de mercado do FarmPoint, entrevistou na 7ª Feinco (Feira Internacional de Ovinos e Caprinos) Walter Celani Jr., consultor na área de ovinocultura de corte. Na entrevista, Walter fala sobre melhoramento genético x animais de elite, importância da mão de obra especializada e perspectivas da atividade.

Destaques da entrevista

"Existe uma diferença muito grande entre produtor de elite e produtor de genética. Elite é aquele produtor que está preocupado com status, em aparecer nos eventos, no grandes leilões e genética é aquele produtor que trabalha com melhoramento e quer gerar animais cada vez mais capacitados geneticamente para a produção de carne"

"O grande objetivo de qualquer um dos dois, principalmente daquele que produz genética, é na realidade o produtor de carne, aquele que está lá na fazenda e precisa de um animal melhorador: um animal que vai dar precocidade, ganho de peso real na sua prole. Isso ainda está longe da ovinocultura comercial de corte, pois os preços estão muito altos em algumas raças e em outras raças o preço não é tão alto mas falta divulgação"

"Está faltando o produtor de genética esquecer um pouco o glamour dos eventos e pensar no pequeno produtor que está lá em casa"

"Para falarmos do futuro, temos que voltar no passado. Há 2 ou 3 anos houve um "boom" na ovinocultura e muitas pessoas entraram com muito entusiasmo. Muitas pessoas me procuravam e diziam: "Ouvi dizer que está na moda e eu quero trabalhar com isso." Então não trabalhe. Se você está indo porque está na moda, não mexa com isso"

"A ovinocultura teve um chacoalhão e os macaquinhos caíram, ficaram os macacões e é esse pessoal que vai dar sustentação. A ovinocultura passou por um tsunami, muita gente se perdeu na área comercial e na genética e muita gente se iludiu. Hoje não acontece mais, pois as pessoas que estão entrando na atividade estão com o pé no chão"

"O grande fator limitante dos anos passados é que produzia-se mas não tinha a quem vender. Um contrassenso, pois o Brasil importa parte da carne que consome e o que ele produz não tem para quem vender. Mas não tem padrão, cruzamento especifico, não tem raça definida. Isso traz para a gente uma certa preocupação porque o Brasil tem muito o que amadurecer na ovinocultura"

"O que precisamos é de pessoas que queiram ser profissionais na área, a mão de obra é muito importante, hoje não adianta você contratar uma pessoa se ela não gosta de bicho. O ovino precisa de delicadeza, tato, para que você tenha um animal que produza bem"

"As perspectivas para a ovinocultura são as melhores possíveis"

"Para quem está querendo começar a produzir, a primeira coisa é procurar um funcionário que goste de animais e tenha carinho pelo bicho. Mão de obra capacitada. Segunda coisa: comece com poucos animais para você aprender a trabalhar com eles e para ver se é isso mesmo que você quer. Não adianta comprar 200 matrizes e começar a morrer bicho e você falar que esse negócio é ruim, procure uma orientação técnica"

"É melhor você ter uma pessoa que adora bichos e não entende nada de ovinos do que uma pessoa que entende e não trata bem"

"Procure sempre os produtores nas próprias fazendas, se você quer comprar, dá um pulo lá, gasta um pouco mais, mas vai ver como funciona, para que você possa fazer negócio sem preocupação"

Confira o vídeo da entrevista



Equipe FarmPoint