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A crise mundial e a ovinocultura brasileira

Por Espedito Cezário Martins e Vinicius Pereira Guimaraes
postado em 18/02/2009

4 comentários
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Nos últimos meses, o mundo tem discutido a crise que começou com o colapso do setor imobiliário americano e causou um desastre financeiro mundial. Com o agravamento da crise nos Estados Unidos, o segundo semestre de 2008 serviu para corroer parte dos bons resultados conseguidos no primeiro semestre. O ano encerrou-se positivo para a maioria das empresas apesar de nos três últimos meses de 2008 ter havido uma queda muito forte na produção e consumo.

Este é o cenário que prevalece não só no Brasil, mas em todo o mundo. O primeiro mês de 2009 veio evidenciar, para aqueles que ainda não acreditavam, que a crise realmente chegou. Os dados divulgados mostraram que a balança comercial teve o pior desempenho desde março de 2001 apresentando em janeiro 2009 um déficit de US$ 518 milhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Esse valor reflete o momento de crise por que passam também os que compram os produtos brasileiros, principalmente EUA e Europa. Se as pessoas reduzem o consumo, obrigatoriamente deve-se reduzir a produção ou neste caso a importação. Os mercados compradores de produtos brasileiros estão em dificuldade. E neste momento, mais uma vez, os especialistas sugerem cautela. E aos poucos algumas ações empreendidas vão surtindo efeitos ainda pequenos pela dimensão do problema formado. Apesar da forte pressão de queda nos preços das commodities (alimentos, minérios e petróleo, dentre outros), o que se verificou foi que o volume transacionado caiu mais do que os preços dos produtos. Os grandes responsáveis pelo baixo desempenho da balança comercial brasileira estão diretamente relacionados aos produtos industrializados, principalmente ligados ao setor automotivo.

Neste cenário de muita turbulência, insatisfação e dificuldades, o mercado agropecuário sofreu forte impacto, uma vez que grande parte da nossa produção de carnes e commodities vai para o exterior. Mas não foram somente nossas exportações. Produtos importados também sofreram redução, com destaque para a carne de ovinos.

Dados da FAO de 2006 indicavam que o Brasil produzia algo em torno de 76 mil toneladas e possuía uma demanda estimada de 90,9 mil toneladas de carne ovina. Empresários brasileiros vendo a necessidade de suprir esse mercado passaram a importar carne principalmente do Uruguai a preços mais baixos e um produto mais padronizado.

Nos últimos quatro anos o volume importado pelo Brasil aumentou 58,4%; enquanto os valores (US$) transacionados mais que dobraram, mostrando um forte aumento nos preços ou em relação ao tipo de produto importado. Sem maiores detalhes, o que explica esse aumento do consumo de carne de pequenos ruminantes, em especial os ovinos, é a busca por alimentos mais saudáveis, características diferenciadas e aumento da procura pela alta gastronomia.

Entretanto, apesar do esforço que vem sendo feito para aumentar a produção nacional, o produto importado ainda chega mais barato e com cortes padronizados ao mercado, o que é facilmente comprovado quando se vai a grandes redes de restaurantes.

Com a crise mundial e pela desvalorização do real, o preço da carne importada ficou mais alto e isso fez com que o volume de importações brasileiras de carne de ovinos caísse quase 65% em volume.

Gráfico 3 - Valores e quantidade importada de carne de ovinos pelo Brasil em 2008

A queda que se configurou é reflexo direto da crise enfrentada por todos, mas principalmente pelo aumento do preço do dólar, o que deixa o produto importado mais caro.

Neste momento de redução das importações, é que o produtor brasileiro pode encontrar uma oportunidade de vender seu produto a preços mais competitivos, mesmo não estando dentro de todos os padrões desejados de comercialização (principalmente padronização de cortes e qualidade).

Pode-se pensar que o consumo de carne de ovinos também cairá e essa esperança de maior demanda pelo produto nacional poderia se dissipar rapidamente. Entretanto, ao se analisar os números divulgados pelo MDIC percebe-se que os alimentos não tiveram queda nos volumes exportados, sinalizando que o consumo de alimentos pelo menos nos países que compram do Brasil, no mínimo permaneceu o mesmo, com raras exceções.

O que se pode esperar neste momento é que, considerando que a demanda pelos produtos alimentícios se altere pouco com a crise, o consumo de carne de ovinos e também de caprinos não deve se alterar muito. Mas, como o volume dos produtos importados caiu substancialmente, a organização e mobilização dos produtores e associações é fundamental para aproveitar o momento e, então, conquistar esta porção do mercado que era suprida com carne oriunda de outros países.

Entretanto, vale ressaltar que essa possível oportunidade criada, deve ser acompanhada de melhor organização da cadeia produtiva, tanto de ovinos quanto de caprinos para que, quando a crise passar e as economias voltarem ao estado anterior, não se tenha novamente no mercado brasileiro tanta importação de carne de ovinos. Essa observação é válida considerando que o Brasil tem um enorme potencial para suprir o mercado interno e quiçá ser também um dos grandes exportadores de carnes de ovinos do mundo.

Saiba mais sobre os autores desse conteúdo

Vinicius Pereira Guimaraes    Viçosa - Minas Gerais

Pesquisa/ensino

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Comentários

marcelo roncoletta

Jaboticabal - São Paulo - Central de Reprodução - Sêmen e embriões
postado em 19/02/2009

Parabens pelo artigo !

Precisamos alertar nossos produtores quanto as oportunidades que surgem em momentos de crise. Acredito que a ovinocultura brasileira tem um enorme potencial, porem precisamos trabalhar para inserir o Brasil no cenário de exportador de carne ovina, assim como já se estabeleceu na carne bovina.

Sempre comento que, comparativamente, a ovinocultura brasileira atual está em patamares similares a nossa bovinocultura dos anos 70. São 40 anos de histórias, erros e acertos. Podemos e devemos aproveitar desse "know how" para cortar caminhos para ovinocaprinocultura.

Neste contexto é que devemos trabalhar no progresso genético dos nossos rebanhos, dai a importância de programas de avaliação genética, como ferramenta de seleção, e das biotecnologias da reprodução animal, principalmente da inseminação artificial, como ferramenta de democratização de genética superior selecionada.

Um abraço

EDGAR FUQUES

Itapipoca - Ceará - Produção de ovinos
postado em 20/02/2009

Parabens ao articulista. Analises feitas com competência suprem as lacunas de informações.

Entendemos que é hora de ousar e aproveitar um nicho do mercado de agronegócios que será conquistado com muito trabalho e organização.

Estamos iniciando na atividade, buscando todas as informações disponíveis, pois, entendemos ser a hora dos "deslanados" de corte, mostrar seu sabor.

Concordamos com a opinião do Sr.Roncoleta. Precisamos organizar juntos a cadeia produtiva, iniciando com a busca da qualidade do rebanho brasileiro, no nosso caso, dos deslanados.

Roberis Ribeiro da Silva

Salvador - Bahia - Consultoria/extensão rural
postado em 21/02/2009

Olá companheiros,

Fico bastante feliz quando vejo pesquisadores da Embrapa, escrevendo artigos que dizem respeito a análise e conjuntura dos mercados e principalmente das cadeias produtivas da ovino e caprinocultura.

Enfim, penso que o momento é favorável a ampliação da comercialização da carne caprina e ovina produzida por frigorificos brasileiros, contudo é preciso equalizar os preços pagos aos produtores brasileiros, tendo como base no rendimento e qualidade das carcaças.

Os produtores brasileiros precisam saber que nossos frigorificos já remuneram bem, se compararmos com os preços pagos pelos frigorificos uruguaios aos seus produtores. Até porque os preços pagos pelos frigorificos do Uruguai, Austrália, e Nova zelandia, tem como referência de preço o dolar. E o preço pode alterar para mais ou para menos para o produtor, já aqui no Brasil essa relação com o dolar é relativo.

Senão vejamos, os preços pagos ao produtor na Bahia variam entre R$ 5,00 a R$ 6,00/kg de carcaça por mais de três anos contudo nesse período o dolar já esteve em patamares de R$ 1,60 e agora em R$ 2,35.

Significa dizer que produtor Uruguaio sempre recebeu em média US$ 2,10 por quilo de carne e os animais inferior US$ 1,10.

Paulo Cesar Bastos

Feira de Santana - Bahia - Produção de gado de corte
postado em 21/02/2009

Prezados pesquisadores

O artigo chega em boa hora. A pesquisa tem que ter essa aproximação, falar e colaborar com a produção.

A oportunidade para alguns chega nos momentos em que outros estão preocupados com a crise. Ousar é preciso.

A hora da caprinovinocultura brasileira é agora. Torna-se necessário a ocupação do espaço das carnes importadas. Produzir é preciso.

Quem fica parado é poste. As entidades ligadas aos produtores precisam de união para articular uma campanha institucional mostrando as vantagens do produto nacional. Ao contrário do que se dizia, o bom cabrito é que o berra, em alto e bom som. Comunicar é preciso.

Melhorar a qualidade genética, aprimorar a tecnologia e modernizar os abatedouros, agregar valor aos produtos, enfim profissionalizar e viabilizar a atividade. Inovar é preciso.

Nâo podemos continuar com manchetes de reprodutores leiloados por milhões e cabeças vendidas para o consumo por tostões. Viabilizar é preciso.

Unir forças, debater idéias e encaminhar sugestões. Ninguem é dono da verdade, todos devem e precisam falar e escrever sobre o que sentem e sobre cada experiência e observação pessoal que poderá ser compartilhada. Cooperar é preciso

Assim poderemos construir um Brasil, forte, justo e sustentável. Comprometimento é preciso.

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