Médico Veterinário, M.Sc. em Animal Science, ex-pesquisador da Embrapa Semiárido e coordenador de ATER do Projeto Pontal Sequeiro-CODEVASF, Petrolina-PE - E-mail: clovisgf@uol.com.br
As políticas públicas e programas de apoio às atividades agropecuárias desenvolvidas até hoje no semiárido nordestino, além de dispersas e superficiais, têm se caracterizado por uma concepção predominantemente assistencialista e por uma excessiva setorização, pelo que, em termos de resultados, não propiciaram nenhuma mudança de real impacto no padrão de vida do produtor e de sua família. Pelo contrário, a baixa eficácia desses programas tem colocado sob ameaça de desaparecimento um enorme potencial de trabalho e produção, representado por mais de um milhão de unidades agrícolas de base familiar.
Nos sertões baiano e pernambucano do São Francisco a história não foi diferente. É evidente o enorme esforço dos novos programas que estão sendo levados a efeito na região em não repetir os mesmos equívocos. Os pontos vulneráveis desses programas, contudo, continuam sendo:
• A não priorização da busca de uma autogestão que permita ao grupo de atores locais assumir gradativamente o protagonismo do processo;
• A visão curta de um horizonte meramente quadrienal para o alcance de seus resultados;
• A massificação imediata, sem os meios necessários, do contingente de beneficiários em detrimento de uma expansão gradativa;
• A limitação das ações de apoio ao segmento “dentro da porteira”, ignorando ou negligenciando os demais segmentos da cadeia produtiva;
• A inexistência de um sistema simultâneo e eficaz de monitoramento e de avaliação de impactos das ações empreendidas (e da sua divulgação posterior).
Enfrentamos agora mais um ano de estiagem devastadora. A caatinga está sendo mutilada a um nível sem precedentes, estimado em cerca de 270 mil hectares anuais. Os programas públicos de ajuda ao produtor no período atual de estiagem não têm funcionado a contento, a começar pelos de crédito, cronicamente afetados pela buropatia.
Este ano o Brasil começa a ultrapassar os Estados Unidos como maior exportador mundial de soja e de milho. Ou seja, mesmo com os problemas cruciais de logística já conhecidos, conseguimos entregar o nosso milho em todos os cantos do mundo, mas não conseguimos entregá-lo em Petrolina. O inacreditável é que a entrega chegou a sofrer um “recesso” no final do ano, como se os bovinos, caprinos e ovinos também não tivessem direito à ceia natalina. Outro contra-senso é o seguro garantia-safra. Limitá-lo às áreas onde os cultivos do milho e do feijão tenham chances reais de sucesso e criar um seguro “garantia-bode” para as áreas mais secas, seria uma medida bem mais coerente com aquilo que realmente é estratégico para a vida do produtor, como o caprino, o ovino, o mel, a galinha e o umbu.
Novas formas de ajuda estão sendo anunciadas, todas bem intencionadas. Não esperem resultados muito eficazes se eles forem previstos para curto prazo. Em geral, medidas realmente eficazes são aquelas que geram resultados a médio e longo prazos, coisa a que não estamos muito afeitos. A base para a objetividade estaria em iniciar a implantação de uma política de apoio a formação de estoques estratégicos anuais de forragem (feno, silagem, amonizados, cactáceas, etc.), o que impõe a integração entre as áreas de sequeiro e os perímetros irrigados, há tanto tempo sugerida. Isso propiciará novas oportunidades para a agricultura irrigada e o surgimento de um novo profissional nos perímetros irrigados, o produtor de forragem, especialmente de feno, bastante comum nas áreas irrigadas dos Estados Unidos, Austrália e Argentina.
A Codevasf já iniciou um trabalho dentro desse conceito, operando áreas coletivas irrigadas, dispersas nas áreas de sequeiro do Projeto Pontal, chamadas de “pulmões verdes”. Mesmo neste começo do ano, já era para estar sendo operado um programa agressivo, em todo o semiárido, de orientação e apoio ao aproveitamento da folhagem das espécies nativas e naturalizadas (faveleira, jurema, algaroba, umburana, juazeiro, etc.) para formar reservas complementares de feno. Há muita folhagem disponível dessas espécies cujos fenos podem apresentar valores protéicos acima de 20%. Mas, como fazê-lo com uma assistência técnica fragilizada e ocupada mais com carros-pipa e seguro-safra?
A estruturação de uma assistência técnica realmente qualificada juntamente a um programa agressivo de organização profissional dos produtores e de desburocratização do crédito são ingredientes imprescindíveis para ajudar o produtor na sua longa e penosa jornada em busca da recuperação da sua condição original.
Veja algumas alternativas:
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Virgílio José Pacheco de Senna
Santo Amaro - Bahia - Consultoria/extensão rural
postado em 13/04/2013
Prezado Colega, seu artigo é a mais pura verdade e realidade dos fatos,conheço bem a regiao de Juazeiro (Juremal/Cipo/Carnaiba do Sertão) ,grande potencial existente, sem apoio dos orgãos publicos,material Genético se perdendo e agora com a seca que assola todo o nosso Semiarido é incalculavel aferir o material Vegetal e Animal que ja se foi pelo ralo,muito triste , se não acabar com este modelo assistencialista as coisa não vao para frente ,viveremos eternos pedintes de carros pipas e de milho da Argentina, mesmo vindo da Argentina do (Papa Chico) não fara milagre. O Brasil precisa tomar rumo. Meu fraterno abraço Nordestino.