Nos últimos 20 anos, o gasto com mão-de-obra impactou muito os custos de produção das propriedades. Para exemplificar este aumento nesses custos, vamos usar dados da Embrapa Gado de Leite e Fundação Getúlio Vargas, que dizem que em 1991 eram necessários 191 litros de leite para remunerar o salário mínimo de um funcionário e, já em 2010 eram necessários 680 litros. Para o ano de 2011 considerando-se a evolução do salário mínimo x o valor do litro de leite, serão gastos entre 720 e 750 litros de leite para pagar um funcionário.
Neste sentido, a produtividade e o desempenho do trabalhador tornam-se ferramentas imprescindíveis para a diminuição dos custos de produção através do aumento da competitividade.
Um outro estudo feito por um pesquisador mostra que o aumento da produtividade dos funcionários (entenda-se das pessoas que labutam na propriedade, entre elas, seus próprios donos) tem mais impacto sobre os lucros finais do que a própria qualidade da terra, sua topografia e fertilidade, além da genética utilizada na fazenda. Isso não significa que tais atributos não sejam bons para contribuir com os resultados financeiros da empresa, mas a correlação da mão-de-obra é muito mais forte. Isso significa que os investimentos orientados em capital e terra não estão errados, mas todo cuidado e atenção deve-se voltar a questão de recursos humanos e sua capacitação, aproveitando o máximo potencial das pessoas envolvidas com a atividade, quer seja potencial intelectual ou mão-de-obra em si.
Aí entra com muita força a assistência técnica nas propriedades como uma das ferramentas para expandir os conhecimentos dos funcionários envolvidos, pois de nada adianta quando recebemos a assistência na propriedade o dono correr e receber o técnico e deixar o funcionário de lado, pois é este que deve acompanhar o técnico e receber deste as informações pertinentes ao negócio. Lembrando que a qualidade da mão-de-obra é de fundamental importância para o desempenho tanto técnico quanto financeiro do negócio rural.
Então, pouco retorno teremos se investirmos somente no melhoramento genético, em instalações modernas, equipamentos de última geração e insumos de potencial produtivo se não tivermos pessoas capacitadas para usar tais tecnologias de produção. Todos já ouviram falar que o fazendeiro muitas vezes não deixa seu empregado nem chegar perto de sua camionete que vale R$ 80.000,00 mas lhe dá uma colhedeira de R$ 500.000,00 para operar e não lhe dá nenhuma instrução de uso, ou seja, o trabalhador vai aprendendo conforme a máquina vai dando problemas que oneram o financeiro da empresa.
Atualmente temos os dois lados da moeda, pois achar mão-de-obra tornou-se um condicionante no negócio, mas não somente no meio agropecuário, pois tenho conversado com pessoas ligadas ao ramo de vendas e outras atividades e o que me falam é que não se acha pessoas CAPACITADAS para trabalhar. Isso significa que há desempregados a procura de um lugar ao sol, porém muitas vezes não atendem as mínimas condições de preparo para estarem no emprego. Por outro lado nota-se uma verdadeira evasão desta mão-de-obra (falando agora somente do meio rural), onde se disputa trabalhadores com o meio urbano. Vivemos em uma época de boom na construção civil por exemplo, e atraídos por uma remuneração melhor os trabalhadores acabam deixando o campo rumo as grandes obras no centro urbano. Entende-se então, que os baixos salários são um dos motivos que contribuem para este esvaziamento de trabalhadores do campo.
Colocando-se ao lado do proprietário agora, que vê por sua vez sua margem cada vez mais diminuta, pode alguém perguntar como irei pagar melhores salários se mal sobra para manter a atividade? Esta pergunta, tenho certeza veio à tona de muitos dos leitores que chegaram até aqui, mas vale lembrar que não é somente o salário base que estimula o trabalhador a permanecer no emprego. Há fatores como uma bonificação por produtividade, o oferecimento de moradia de qualidade, a oferta de capacitação, dar condições para que os filhos destas pessoas possam frequentar uma escola com igual qualidade do que se estivessem em uma moderna escola do centro urbano, tudo isso são mecanismos que criam um estímulo ao trabalhador para que este dê o máximo de si e assim ocorra o esperado aumento de produção com a diluição dos custos. Definir metas de produtividade com a participação dos funcionários em tais definições são fortes estimuladores a eles, pois se sentem importantes, passando a não só executores mas também formadores de opinião. Isso lhes dá maior responsabilidade e envolvimento no empreendimento.
Concluindo, alocar recursos para que o trabalhador possa aperfeiçoar-se naquilo que faz não é dispêndio, mas trata-se de um investimento que terá bons frutos a ser colhido na frente e com certeza em um período curto de tempo, ao contrário de muitos outros investimentos que às vezes são a longo prazo. Volto a repetir, se apenas o dono participar de atividades inovadoras, como dias de campo, palestras e outros eventos, essas novas tecnologias irão permanecer somente na cabeça dele.
FERNANDO CELSO DE ANDRADE COELHO FILHO
Guaxupé - Minas Gerais - Revenda de produtos agropecuários
postado em 17/05/2011
Muito boa materia do colega.
realmente o preparo da mão de obra faz a diferença entre ter ou não sucesso no empreendimento.