A área cultivada com algodão, amendoim, arroz, feijão, girassol, mamona, milho, soja, sorgo, aveia, centeio, cevada, trigo e triticale totalizou 47,36 milhões de hectares, superior à safra 2006/2007 em 2,5%. O dado agregado sugere uma relativa estabilidade da ocupação territorial da produção de grãos, o que é positivo em relação ao impacto ambiental da atividade. Entretanto, a análise por cultura revela comportamentos distintos.
As culturas que apresentaram redução de área foram o algodão (1.077 mil ha, 1,8% inferior), o arroz (2.881 mil ha, 2,9% inferior) e o feijão (4.000 mil ha, 2,1% inferior). As culturas com acréscimo de área em relação à safra anterior foram o milho (14.708 mil ha, 4,7% superior), a soja (21.334 mil ha, 3,1% superior) e o trigo (1.819 ha, 3,5% superior). Aparentemente os incentivos para o aumento da área foram relativamente maiores nas culturas mais integradas aos mercados internacionais, em comparação com aquelas vinculadas ao mercado interno. O aumento das cotações no exterior favoreceu a expansão do plantio de milho e soja, enquanto a redução na oferta de trigo importado no Brasil motivou o crescimento da área deste produto.
Na distribuição da área plantada por regiões, o Centro-Sul, cultivou 79,0% (37.425,3 mil hectares) da área total apresenta crescimento de 2,5% (902,3 mil hectares), sobre a safra anterior. Desse total, a Região Sul cultivou 46,0% (17.218,2 mil hectares) a Sudeste 12,9% (4.826,9 mil hectares) e a Centro-Oeste com 41,1% (15.380,2 mil hectares). As Regiões Norte e Nordeste cultivaram 21,0% (9.934,4 mil hectares) do total da área plantada no País, sendo superior à safra passada em 2,5% (244,8 mil hectares). Desse total, a Região Nordeste plantou 82,8% (8.224,3 mil hectares) e a Norte 17,2% (1.710,1 mil hectares). A predominância da Região Sul em participação percentual na área de grãos sobre o Centro-Oeste e o Sudeste pode ser explicada pela maior competição dessa atividade com a produção de bovinos e cana-de-açúcar nessas duas últimas regiões. Cabe destacar também a relevância da Região Nordeste, com cerca de duas vezes a área plantada do Sudeste.
A safra nacional de grãos foi de 143,87 milhões de toneladas, superior à colhida na safra anterior em 9,2%. Desse total, 96,9% são produzidas na safra de verão e os 3,1% restantes na safra de inverno. As culturas com maior crescimento de produção em relação à safra anterior foram o milho (7,22 milhões de toneladas de incremento) e a soja (acréscimo de 1,66 milhões de toneladas), representando 82,46% do total da safra, com 118,64 milhões de toneladas.
A área cultivada com algodão foi inferior à safra anterior em 1,8%. Segundo a CONAB, a redução deve-se "à diminuição da área plantada na Região Centro Sul, onde o algodão vem sendo substituído por outras culturas menos exigentes em investimentos, basicamente pelos pequenos produtores, mais notadamente no Paraná e São Paulo". O relatório informa que, com os bons índices pluviométricos no ciclo e a alta tecnologia aplicada, espera-se um crescimento na produção de algodão em pluma de 5,2% e uma produtividade média de algodão em caroço de 3.812 kg/ha, sendo 7,0% maior que a da safra anterior.
Conforme já citado, a cultura do algodão está passando por um processo de consolidação com o aumento da escala dos produtores e de concentração geográfica no estado do Mato Grosso e na Região Nordeste. Essas características favorecem a modernização da atividade, com a expansão da adoção de variedades geneticamente modificadas. Caberá aos agentes envolvidos realizarem a esperada expansão de área plantada de forma responsável em relação aos impactos sobre os biomas naturais e o uso de defensivos químicos.
A produção de arroz foi de 12,11 milhões de toneladas, superior em 7,0% à safra anterior. A Região Sul participa com 70,6%, tendo como principal produtor o Rio Grande do Sul, com uma produção de 7,36 milhões de toneladas. O incremento na produção nacional foi motivado, basicamente, pelo incremento na área plantada no Rio Grande do Sul, que cresceu 11,8%, em função da retomada das áreas que deixaram de ser plantadas na safra anterior, aliado ao aumento de 2,6% na produtividade, causado pelas boas condições pluviométricas ocorridas nos meses que precederam a implantação da cultura. As perspectivas positivas de aumento da demanda no mercado interno justificam a focalização dos esforços dos produtores em aumentar a produtividade, visto que o potencial de expansão de área parece limitado na Região Sul, que apresenta as melhores condições para a atividade.
A produção de feijão 1ª safra foi de 1,24 milhões de toneladas, inferior à safra passada em 20,7%, devido à redução da área plantada em 15,8% e a queda na produtividade de 5,8%. Segundo a CONAB, o desempenho foi motivado por "baixos preços do produto na safra anterior e pelas baixas precipitações pluviométricas, seguidos de estiagens prolongadas e baixas temperaturas ocorridas no início da implantação da cultura, nos principais Estados produtores do País". A produção de feijão 2ª safra foi de 1,44 milhões de toneladas, superior à safra 2006/07 em 44,8%. O referido aumento foi motivado pelo incremento de 9,5% na área plantada, impulsionado pelos bons preços do produto à época da implantação da cultura e pelo aumento de 32,2% na produtividade média em função das boas condições climáticas. Do total produzido, a Região Centro Sul participa com 60,36% e a Norte/Nordeste com 39,64%. A produção de feijão 3ª safra está estimada em 827,5 mil toneladas, superior à safra anterior em 6,7%. O referido incremento deve-se ao aumento de 7,2% na produtividade em função das boas condições climáticas.
Apesar de contar com a expectativa de crescimento da demanda interna, a cultura do feijão tem dificuldade em competir por terras com cadeias produtivas mais organizadas e voltadas ás exportações, como a soja. A escala de produção relativamente menor dos produtores e a falta de integração com a agroindústria prejudicam o aprimoramento dos arranjos contratuais e da gestão do risco, que fica muito concentrado nas decisões do produtor com base no preço obtido na safra anterior. Assim, existe uma oportunidade de mercado para associações de produtores, indústrias de alimentos ou o varejistas para a criação de mecanismos de coordenação mais eficazes para promover uma expansão consistente da produção.
A produção de milho 1ª safra foi de 39,92 milhões de toneladas, superior à safra anterior em 9,1%. Segundo a CONAB, o quadro positivo ocorreu por "condições climáticas favoráveis durante o ciclo da cultura, aliadas à maior utilização de tecnologias, sementes selecionadas, melhor nível de adubação, número e qualidade de aplicações". Do total produzido, a Região Sul participa com 47,90% a Sudeste com 25,65%, a Centro-Oeste com 13,67%, a Nordeste com 9,65%, e a Norte com 3,13%. Com os preços atrativos do produto, nos mercados interno e externo, e também com o consumo interno aquecido e crescentes volumes exportados, a área com milho 1ª safra ficou 1,7% superior à safra anterior, crescimento este limitado pelo avanço da soja, também com bons preços no mercado e a possibilidade de se fazer uma segunda safra com milho após a sua colheita. Com o clima favorável e os tratos culturais mais efetivos e diante das boas perspectivas de rentabilidade, a produtividade média nesta safra foi de 4.134 kg/ha, superando a anterior em 7,3%.
A produção de milho 2ª safra é de 18,67 milhões de toneladas, superior à safra passada em 26,3%. Este aumento é justificado pelo crescimento de 10,8% na área plantada, motivado pelos bons preços da commodity no mercado e de 14,1% na produtividade em função das boas condições climáticas e o maior uso de tecnologia. O relatório informa que a irregularidade das precipitações e as baixas temperaturas em algumas regiões do Paraná não chegaram a comprometer a produção nacional. O Mato Grosso, maior produtor de milho 2ª safra, colheu 7,14 milhões de toneladas, 38,25% da produção nacional e 40,7% a mais que na temporada passada. Este incremento é fruto do aumento de 17,1% na área e de 20,1% na produtividade.
A safra de soja em 2007/08 foi de 60,05 milhões de toneladas, superior à safra passada em 2,8%. O referido incremento deve-se ao aumento da área plantada em 3,1%. Conforme a CONAB, a expansão foi motivada por "bons preços do produto e pela expectativa futura de mercado à época da implantação da cultura, aliados às boas condições climáticas ocorridas durante todo o ciclo da lavoura e pelo alto nível tecnológico usado, principalmente, no combate às pragas e às doenças como a ferrugem asiática, que nesta safra foi de menor intensidade graças ao vazio sanitário realizado em vários estados (proibição do cultivo da soja no período da entressafra, junho a setembro) e ao maior controle preventivo de outras doenças fúngicas".
A exceção fica para a Região Sul que foi castigada pelo La Niña, reduzindo a produtividade média em 9,5% e a produção em 10,1%. Estes efeitos recaíram com mais intensidade sobre os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, estendendo-se até Mato Grosso do Sul. Do total produzido a Região Centro-Oeste participa com 48,54%, destacando-se como a maior produtora nacional; seguida pela Sul, com 34,34%; pela Nordeste, com 8,04%; pela Sudeste, com 6,63% e pela Norte, com 2,45%.
A produção de trigo, safra 2009, será de 5,44 milhões de toneladas, superior à colhida na safra passada em 42,2%. O referido incremento é fruto do aumento de 31,4% na área plantada, motivado, basicamente, pelas altas cotações internacionais, pelos preços aos produtores, superiores ao custo de produção e pela elevação do preço mínimo de garantia do governo, aliados ao incremento de 8,2%, na produtividade média. A seca e as geadas ocorridas no Paraná, maior produtor nacional, no mês de julho e o excesso de chuvas durante a primeira quinzena de agosto, comprometeram a produtividade e a qualidade do produto em áreas localizadas, áreas estas plantadas antes do período recomendado pela pesquisa. Neste Estado, a colheita já ocorreu em 14% da área e se estenderá até o mês de novembro. No Rio Grande do Sul, segundo maior produtor nacional, com uma produção estimada em 1,84 milhões de tonelada, a cultura encontra-se nas fases críticas de floração e enchimento de grãos, nas maiorias das regiões.
O relatório da CONAB mostra uma conjuntura positiva para a produção de grãos no Brasil. Os resultados indicam que os produtores apresentam grande capacidade empreendedora para responder aos estímulos da demanda crescente no Brasil e no Exterior. Entretanto, cabe um alerta para a excessiva concentração da produção em milho e soja, o que aumenta o risco do setor às oscilações do mercado internacional e pode provocar pressões excessivas sobre o meio ambiente, se não forem tomados os devidos cuidados em relação às áreas de preservação e ao uso de insumos químicos. Para os próximos anos, o maior desafio será atender à demanda local e global por alimentos com foco no aumento da produtividade e na sustentabilidade.
Envie seu comentário: