Um número destes ou mesmo próximo é assustador para quem quer estabelecer um processo contínuo de produção de carne e, também atender a um mercado consumidor em crescimento. É um número alarmante porque mostra o quanto as estruturas oficiais de fiscalização estão longe de conseguir terminar com este problema, ou mesmo controlá-lo a ponto de diminuir sua incidência. E o mais chocante também é que este é um problema nacional.
Sabemos que é uma luta difícil, de grande trabalho para todos. Até porque, as vezes, o processo começa no momento da comercialização do produto. Muitas vezes o produtor de cordeiro recebe oferta para seu produto, com valor bem superior ao do Frigorífico, com pagamento a vista, não importando se serão 10 ou cinco animais. O abatedouro, com todas as suas responsabilidades e custos, não consegue competir em preço neste mercado. Gerando este problema que é o abate clandestino. Um cenário que precisamos mudar, de qualquer jeito.
Até porque uma das conseqüências deste problema são os riscos à saúde humana. Uma das principais doenças dos animais domésticos encontradas pela inspeção sanitária em matadouros é a Tuberculose, que pode ser transmitida pela ingestão de carnes; esta doença é bacteriana. Existem também as parasitárias como as cisticercoses, que podem transmitir as tênias para o ser humano e também cisticercos que se alojam no músculo e órgãos. Há também outras doenças transmissíveis ao homem, via animais, como as Toxi infecções e a hidatidose. Todas são evitadas quando a fiscalização detecta o problema dentro dos frigoríficos e abatedouros com inspeção sanitária oficial.
Somos uma entidade que buscamos de várias formas, organizar a cadeia produtiva da ovinocultura. E se lutamos por isto, devemos ter claro quais são os principais nós que impedem o crescimento sustentado do setor. Sabemos que o abate clandestino é um destes nós. Ele afeta também a cadeia bovina e deixa graves prejuízos para todos. O complicador desta questão é que é uma atividade silenciosa, onde nem sempre se consegue encontrar os causadores. Mas penso que já é hora de realmente discutirmos com seriedade esta questão, com todas as forças da sociedade. Porque isoladamente não vamos longe. Precisamos ver quais as soluções práticas que temos e realmente passar a agir para resolver isto, de uma ver por todas. E já não dá mais para protelar. A hora é agora!
PAULO ARARIPE
Piracicaba - São Paulo - Consultoria/extensão rural
postado em 25/06/2009
Não defendo o abate clandestino, pois as consequências de ingestão de alimentos sem fiscalização são notórias e muito prejudiciais à saúde humana.
Porém, cair na mesma cadeia em que os bovinocultores de corte estão, baseadas nos matadouros e frigoríficos, seria um erro crucial para a ovinocaprinocultura. A principal vantagem destas duas atividades (caprinocultura e ovinocultura) é que elas, exatamente por permitirem a comercialização de produtos com valores agregados em pequena escala, viabilizam as pequenas propriedades e os pequenos agropecuaristas. Fiscalização sanitária sim, mas com responsabilidade econômico-social.
O que seria mais interessante é o governo criar vergonha e incentivar o estabelcimento de associações de produtores ou cooperativas para poder financiar as plantas industriais que teriam os produtores como donos do negócio. Fazê-los sair do amadorismo e torná-los produtores da matéria-prima de suas próprias marcas. Profissionalizar. Antes de pensar em fiscalização, pensemos em profissionalização. Um coisa virá atrás da outra.