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Água (III)

Por Carlos Arthur Ortenblad
postado em 20/03/2007

15 comentários
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A matéria-prima de todo nosso sistema é a água. Praticamente, todos os demais recursos naturais podem ser substituídos, menos a água. Ela é sinônimo de sobrevivência, ou do desaparecimento da vida neste pequeno planeta chamado Terra, tributário de uma estrela de 5ª grandeza, conhecida como Sol. Água é vida, ou morte.

Ao escolher este apaixonante tema, fui juntando uma quantidade de material que, por uma questão de espaço, e de diversidade, dividi em três artigos. Os anteriores publicados em 06 e 27 de fevereiro, trataram "água" genericamente como recurso natural e matéria prima no mundo, e especificamente dos recursos hídricos brasileiros. A matéria atual, abordará temas relativos à agricultura.

Embora a superfície da Terra seja constituída em 70% por água, destes, apenas cerca de 2,75% é de água doce, que pode ser consumida pelo ser humano, em qualquer de suas atividades: industriais, agrícolas e pessoais. Água é um recurso natural renovável, mas não infinito.

A escassez de água, hoje restrita a uma parcela de regiões da Terra, tende a se alastrar. Segundo o International Water Management Institute, já em 2025 o Brasil poderá ter falta de água para atividades econômicas, se o acentuado quadro de degradação atual não for revertido.

Recente levantamento do IBGE com 5.560 prefeituras brasileiras, resultou em que 80% delas têm algum tipo de problema ambiental. O maior deles é o assoreamento dos rios, que atinge municípios onde vivem 77% da população brasileira. Lamentavelmente, a agricultura é uma das grandes causadoras da degradação dos mananciais, por má utilização de fertilizantes e defensivos agrícolas, e práticas deficientes de manejo de solo. Assim como são as queimadas, e não a poluição industrial ou urbana, a maior causa para a poluição atmosférica (efeito estufa). Isso prejudica a própria atividade agropecuária, já que em 35% dos municípios pesquisados verificou-se perdas expressivas de produção, devidas à escassez de água, à erosão, e ao esgotamento do solo.

Há 506 anos atrás, a carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei D. Manuel relatava: "Querendo-a aproveitar (a terra), dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem". Não mais. Água é um recurso natural renovável, mas não infinito.


Fonte: Unesco (2003)

Dependendo do ângulo que se analise, agricultura consome de 70% a 90% da água utilizada para uso "humano". De fato, os números são estarrecedores: gasta-se 2.500 litros de água para alimentar bem uma pessoa, diariamente. Ou, aproximadamente, um pouco mais de 1 litro para cada caloria. Como a população mundial cresce, e cada vez alimenta-se melhor, o uso de água em atividades agrícolas deverá dobrar até 2050. É compreensível que se estimule o uso de irrigação, já que terra não "estica", devendo-se perseguir, portanto, aumento de produtividade para saciar as necessidades humanas. Porém...

Espero não criar desafetos com o que vou dizer a seguir. Será uma decisão acertada, realizar altos investimentos em projetos grandiosos, como, por exemplo, a transposição das águas do Rio São Francisco? Ou mesmo em sofisticados sistemas de irrigação por aspersão? Na Arábia Saudita planta-se trigo usando-se água do mar dessalinizada para irrigação. O custo do trigo saudita? Cem (100!!!) vezes mais que seu valor.

Recente estudo do Consultative Group on International Agricultural Research afirma que quase nunca vale a pena realizar vultosas inversões em irrigação, e sugere que pequenos investimentos, quase sempre, podem render melhores resultados. Naturalmente, não se deve generalizar este conceito "minimalista", que não se aplica à moderna e eficiente agricultura de precisão, desde que produzindo bens de alto valor agregado. [1]

Infelizmente, governos e empresas ao redor do mundo têm se concentrado em opções mais caras e com pior relação de custo/benefício. O estudo argumenta que modestos investimentos em áreas agrícolas inteiramente dependentes de chuva, podem render excelentes resultados, principalmente em países pobres. Mais da metade da produção agrícola mundial vem de plantações dependentes de chuvas (e não de irrigação artificial). Mas, como a exclusiva dependência de precipitações é arriscada, pequenos canais que conduzam o excesso de chuva para reservatórios selados, podem suprir a inconstância das chuvas, e aumentar a renda de pequenos agricultores de países pobres.

Na Tanzânia (África Oriental), onde estive em julho de 2006, visitei um programa simples de captação de água de chuva que tem rendido excelentes resultados. Em região próxima a Arusha, pequenos agricultores têm podido plantar vegetais e arroz, ao invés de milho e sorgo, o que lhes confere renda 2 a 3 vezes maior do que tinham antes.

O estudo do CGIAR, acima mencionado, afirma que, se medidas simples como essa forem tomadas em larga escala, a área sob uso agrícola no mundo precisaria aumentar apenas 10% [2] para satisfazer as necessidades humanas, até 2050. Obviamente, não estou dizendo que projetos de irrigação, mesmo os com altos custos de infra-estrutura, são dispensáveis. E sim, e apenas, que há outras alternativas, mais baratas e muito eficientes. Como tudo na vida, é uma questão de bom senso e de equilíbrio.

Catástrofes com irrigação não são novidade. Aferições arqueológicas provam que o Saara já foi uma área verdejante, até que o término da água do subsolo transformou a região em um deserto. A política stalinista de que "água que entra no mar é água desperdiçada" (1929) fez com que o Mar de Aral se visse reduzido a 25% de sua área original, o que levou pobreza à população, altamente dependente da pesca. É amplamente aceito hoje em dia que, com a milenar exceção do Egito, nenhuma civilização baseada em irrigação sobreviveu, seja porque a água acabou, seja pelo assoreamento de rios, seja pela salinização resultante de excesso de irrigação.

Uma das medidas mais eficazes (e baratas) para preservarem-se os recursos hídricos, é a proteção das nascentes, que a lei 7.754/89 chama de "paralelogramo de cobertura florestal". Isto é feito através da proteção (ou reflorestamento) do entorno da nascente, e seu isolamento a acesso de animais de grande porte. Na década de 90, na fazenda Água Milagrosa (Tabapuã, SP) se verificava, a cada seca severa, uma alarmante redução do volume de água das represas.

Passamos a proteger as nascentes, atividade de baixíssimo custo e altíssima recompensa. Nos anos seguintes, percebemos que, embora o volume de água se reduzisse durante a estiagem, o efeito era muito menor do que antes. E bem menor ainda quando comparado com represas similares, de nossos vizinhos.

Para aqueles que julgarem que estou sendo excessivamente severo quanto ao uso de água em atividades agrícolas no Brasil, aqui vai uma homenagem ao setor: Em 2006, o superávit da balança comercial do agro negócio brasileiro foi recorde. Exportações de cerca de US$ 47 bilhões, para importações de US$ 6 bilhões, com saldo positivo de US$ 41 bilhões. Não existe atividade econômica no país que apresente resultado tão exuberante, malgrado juros altos, dólar depreciado, valor de insumos em alta, e valor de algumas "commodities" em baixa. Imaginem se o quadro fosse outro!

Em tempo: escrevo este artigo no final de 2006, de forma que as condições atuais de juros, valor de dólar, de insumos e de "commodities" podem estar diferentes, e para melhor. Espero que sim. Mas, ainda assim, nada mudará, pois as condições em que a safra 2006 foi plantada e colhida, foram as descritas acima.

Voltando ao nosso tema. Nos bancos escolares aprendemos que a água é insípida, inodora e incolor. Assim descrita, parece coisa insossa. Não é. Água é vida, ou morte.

Fontes e bibliografia:

1. "Água no século XXI - Enfrentando a Escassez" - José Galizia Tundisi

2. Banco Mundial 2004-2005

3. "Cadillac Desert" - Marc Reisner

4. Consultative Group on International Agricultural Research (2006)

5. "Grito das Águas" - Leonardo Morelli.

6. International Water Management Institute Report (2002/2004)

7. Levantamento do IBGE sobre condições ambientais de 5.560 Municípios brasileiros - 2005

8. Pacific Institute - Oakland, Califórnia - Peter Gleick

9. "Poluição - A Morte dos Nossos Rios" - Samuel Murgel Branco

10. "Pillar of Sand" - S. Postel

11. Professor Carlos Gabaglia Penna (Engenharia Ambiental - PUC/RJ)

12. The Economist (03/1998; 07/2003; 08/2006; 09/2006)

13. Unesco / OMS (ONU) 2003-2004-2005

14. "Water Wars" - Marq de Villiers

________________________________________________________________________

[1] Em relação à transposição do Rio São Francisco, além da miríade de argumentos contrários, pergunto-me: daqui há décadas, pela má utilização da água e pelo aquecimento global, haverá água suficiente para ser "transposta"?

[2] De 1.470.000.000 hectares para 1.600.000.00 hectares.

Saiba mais sobre o autor desse conteúdo

Carlos Arthur Ortenblad    Rio de Janeiro - Rio de Janeiro

Consultoria/extensão rural

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Comentários

Enaldo Oliveira Carvalho

Jataí - Goiás - Consultoria/extensão rural
postado em 20/03/2007

Sugiro ao Sr. Carlos A. Ortenblad que continue escrevendo artigos sobre o precioso líquido. Água IV, Água V...

Mesmo diante de tantos problemas, podemos dizer que ainda bem que estamos vivendo na era da Internet, o que nos permite acesso rápido a diversas fontes de informação. Dessa forma, os diversos temas e os problemas que nos afligem podem ser expostos a um grupo maior de pessoas, bem como analisar as questões sob pontos de vista diferentes.

No entanto, não podemos nos envaidecer com os recursos tecnológicos fornecidos pela sociedade moderna e por outro lado esquecer dos fatores básicos que regem as condições essenciais para a existência de vida na Terra, dentre esses, a água, como refere o artigo.

O alerta quanto ao uso racional da água deve ser estendido a todos os setores da sociedade. E medidas necessárias para sua preservação devem ser tomadas, independentes de interesses políticos e/ou econômicos. Pois a vital importância da água extrapola todas as circunstâncias que não as regidas pela natureza. Do contrário, quanto maior for o usuário maior será o prejuízo, independente da taxa de juros, do câmbio e da balança comercial.

Jaerdil Oliveira Dutra

Mantena - Minas Gerais - Produção de café
postado em 21/03/2007

A transposição do Velho Chico é um absurdo, que comprova a incapacidade do governante de "enxergar atrás do morro".

O isolamento do entorno das nascentes funciona realmente. Além disso, o plantio de árvores e de banana prata completa o cinturão de proteção, aumentando o volume de água das nascentes, fato que pude comprovar em minha propriedade, em áreas que isolei há 8 anos!

Paulo Cesar Bastos

Feira de Santana - Bahia - Produção de gado de corte
postado em 22/03/2007

Prezado Carlos Arthur Ortenblad,

Água para o sertanejo é sempre milagrosa.

Posto isso, seguem algumas considerações a respeito do seu novo - e como sempre bem escrito e fundamentado - artigo Água (III) que, desta vez, aborda com oportunidade a necessidade do uso das técnicas simples, mas eficazes, para captação, armazenamento e preservação da água.

É por demais necessária a compreensão que as grandes soluções não são somente obtidas através dos grandes projetos. Existem práticas simples comprovadas pela história e pelo tempo que podem, também, minimizar os efeitos e permitir uma convivência - evitá-la é impossível - com a seca no Nordeste brasileiro.

Nas zonas áridas da Austrália as capas de rolamento impermeáveis das rodovias são bastante utilizadas como implúvios - superfícies para captação de água da chuva - e daí direcionadas para reservatórios ao longo dessas vias. Tal procedimento em um país moderno e desenvolvido é semelhante ao que já se utilizava no deserto do Negev, milhares de anos antes de Cristo.

Assim, como engenheiro, vislumbro a utilização das estradas nordestinas como fator importante para a captação e acumulação das águas pluviais. Algumas práticas já consagradas, como a dos aterros-barragens, deveriam ser mais corriqueiras e não apenas eventualmente adotadas. Além disso, a utilização nos bueiros dos chamados "cachimbos" - caixas coletoras com entrada d´água em nível acima dos tubos de escoamento dos córregos - permitiria a formação de inúmeras reservas hídricas.

Finalmente, complementando tudo isso, o Nordeste brasileiro precisa de um plano de perenização fluvial com a construção de barragens em série, de portes diversos, a depender das condições de cada bacia hidrográfica.

Cordiais saudações

Marcos Dornelas

Recife - Pernambuco - Consultoria/extensão rural
postado em 23/03/2007

Grandes projeto de irrigação já foram implantados em nosso País e não creio ter visto tanta comoção como estamos vendo com relação a transposição do Rio São Francisco. Impacto ambiental sempre ocorrerá em qualquer projeto que se queira intervir de alguma forma na Natureza.

Com relação ao rio São Francisco o que podemos observar é que se utilizará de 1 a 2% do volume de água que se perderia indo ao mar. Ademais o que se perde hoje por evapotranspiração é muito maior e danoso do que a simples transposição. Esta evapotranspiração que ocorre hoje é fruto de tantas intervenções desmetidas ocorridas ao longo dos anos. Até mesmo a população ribeirinha comete excessos que acabam prejudicando o rio.

É preciso entender que muitos contrários, estão hoje contrários porque seu Estado não será beneficiado, principalmente a Bahia.

Ter consciência do que precisa ser feito é que é o fato. Imaginemos que se já existisse a transposição todos os estragos ocorridos no mês de janeiro e fevereiro nos Estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe poderiam ter sido menores, pois, boa parte do excesso de água teria sido utilizada na perenização de outros rios e riachos, açudes e barragem do Nordeste Brasileiro.


Marcos Dornelas
Pernambuco - Zootecnista

Cristiana Ferreira Jardim de Miranda

Belo Horizonte - Minas Gerais - Pesquisa/ensino
postado em 25/03/2007

É de se espantar um projeto de transposição para tão longe quando municípios ribeirinhos no estado de Sergipe estão com sérios problemas de abastecimento. E isto às margens da represa de Xingó, como pude observar de perto em janeiro de 2007. Não seria adequado, primeiramente, abastecer quem está mais próximo?

Dr. Carlos continua bastante oportuno com seus artigos.

elder jose bonetti

são bernardo do campo - São Paulo - Produção de gado de corte
postado em 26/03/2007

Em nossa propriedade, em Formoso do Araguaia (TO), também associamos proteção de nascentes e curvas de nível em nossas pastagens, resultado: água perene o ano inteiro, onde antes secava.

O assoreamento dos rios, controla-se facilmente com curvas de nível e matas ciliares, há um custo benefício alto, e consciência tranquila de quem o faz.

Em relação à transposição do rio São Francisco, minha opinião é que é mais uma obra faraônica e homicida, mais uma com interesse para desvio de verbas do povo brasileiro.


Eng° Agr. Elder J Bonetti

Jeovah Junior Cordeiro Maciel

Fortaleza - Ceará - Servidor Público Federal
postado em 26/03/2007

Fome de greve e fome verdadeira.

Confesso-me um homem com religiosidade! E, por assim sê-lo dou-me o direito de, aqui e ali, excursionar por esse complexo mundo. Acompanho com grande entusiasmo os projetos de transposição das águas do Rio São Francisco. E, nesta minha "inútil" viagem, sou testemunha de atitudes egoístas, de atitudes políticas, e até mesmo de atitudes anticristãs.

Ao passar a vista nos matutinos da minha cidade, deparo-me com a notícia de que o Bispo Luiz Flávio Cappio está fazendo greve de fome, em forma de protesto, por aquilo que ele, com toda sua "sapiência", adquirida nos corredores do "sacerdócio", acha ser impróprio. Deus meu, saberá este senhor, claro que sim, que Jesus deu seu sangue, sua vida, pela humanidade? Que Jesus fez pregar a partilha, "Dai de beber a quem tem sede e comida a quem tem fome" (Mt 25/35)?

Esse Bispo se dá ao luxo de fazer greve de fome por uma "causa", milhões de nordestinos, não precisam fazer essa tão famigerada greve, pois já estão obrigados a ela. O religioso em questão, encontra-se aquém da penúria da sede, nós, nordestinos dos lados de cá, estamos no seu próprio âmago.

Não tenho procuração para defender a Presidência da República. Não desconheço ser este assunto um grande banquete eleiçoeiro, porém, injustiça seria cometida se não se considerasse ter sido o atual mandatário maior da nação, vítima, também, das agruras da seca. Está incrustado no espírito daqueles que se acham donos das águas do Rio São Francisco o mais abominável dos pecados capitais, qual seja, o egoísmo.

E, os opositores de plantão, sabedores que a consecução dessa obra trará um crescimento grandioso na popularidade do Presidente Luís Inácio Lula da Silva temem pelo seu fortalecimento para a reeleição, tendo em vista a força do Nordeste do lado de cá. O Bispo, com essa sua atitude, parece definir situações geográficas para a região de lá, embora a carência do nordestino não se resuma ao precioso líquido, mas o direito à terra e ao governo de homens de espírito verdadeiramente público e não privado.

Que venham os contrários experimentar as águas impuras, retiradas de fendas fétidas de terras castigadas pela inclemência do sol, e que muitas vezes distam quilômetros.

Não se trata de revolta, mas o bispo em tela, deveria vir conviver com a nossa escassez d´água, com a nossa fome, aí sim, ele não precisaria fazer greve e não morreria de fome por conta da generosidade dos nordestinos "dos lados de cá".

No meio de tudo isso, alegram-me as opiniões sensatas e equilibradas de Dom Aldo Pagotto, e do Eng. Cássio Borges, os primeiros a se revelarem favoráveis à tão esperada transposição.

E enquanto os homens divergem, o Velho Chico aguarda para concretizar os anseios de milhões de nordestinos brasileiros.

Jeovah Maciel

Matéria escrita em dezembro de 2005

Eduardo N Martins

Lambari - Minas Gerais - Indústria de café
postado em 27/03/2007

Como tudo na vida, é uma questão de bom senso e de equilíbrio. Mesmo ciente de todas as opiniões expostas, mesmo esperando que uma discussão sobre um tema dessa relevância não encontre consenso numa sociedade com tantos dilemas, preciso fazer um apelo aos doutores, engenheiros e entendidos da área: Encontrem uma forma didática, funcional, educativa, jurídica e até passional para que o cidadão comum realmente compreenda a importância do que esta em jogo, a nossa sobrevivência.

Por vezes gastamos muita energia em discussões sem fim, mas não conseguimos mudar o agente causador de tudo isso: o homem.

José Ricardo Vilkas

Angatuba - São Paulo - Produção de leite
postado em 01/04/2007

É de ótima leitura o texto escrito. Nota-se muita sabedoria do caso, e como ocorreu na citada propriedade em Tabapuã, aqui em nossa propriedade foi igual. Se me contassem antes até não acreditaria, mas vi com "estes olhos que a terra há de comer" (ditado popular).

Explico! Há alguns anos vedamos todas as áreas de app e reflorestamos as áreas com pouca massa vegetal. Acima das áreas de preservação permanente fizemos terracamento e implantamos pastagem rotacionada mantendo uma cobertura vegetal permanente de uns 40 cm. E depois disso brotou, verdadeiramente, brotaram vertentes em lugares que eu nunca tinha visto. E o volume de água dos ribeirões dobrou durante o ano todo.

Enfim se água é vida e morte, tenho certeza que contribuições como esta devem se espalhar para que sempre se renove a esperança de que a água traga mais vida!

Resposta do autor:

Prezado sr. Vilkas,

Parabéns pela iniciativa. Como quase todos os problemas na nossa vida, as soluções são simples.
O que os torna complicados, é ausência de vontade e de perseverança. O que, pelo visto, não são atributos que lhe faltam.

Atenciosamente,
Carlos Arthur Ortenblad

Israel

Romaria - Minas Gerais - Produção de café
postado em 04/04/2007

Nós não devemos em nos preocupar somente com a classe produtiva, que, hoje, já faz a devolução das embalagens de agrotóxicos, o que veio também resolver um de nossos problemas. Protegemos também nossas nascentes, assim como fazemos plantio direto, para evitar erosão.

O que me preocupa realmente são as pessoas que não têm consciência, poluem, fazem queimadas em nossas reservas. Nós fazemos nossa parte, mas assistimos vândalos queimar nossas reservas legais e não podemos fazer nada. Assim como as cidades têm ambulância para proteger a população, deveria ser criada uma lei para que cada cidade tivesse pelo menos um caminhão pipa para nos socorrer na hora desses incêndios.

rodolpho velloso rebello

Montes Claros - Minas Gerais - Produção de gado de corte
postado em 08/04/2007

Caro Dr. Vilklas,

Como podemos ver nos pronunciamentos dos produtores e interessados nas questões das águas acima descritos, entendemos que, a cada dia, está havendo uma maior conscientização da população mundial nesta questão. Mas ainda há muito o que fazer para proteger as fontes produtoras de água. Há que se educar e formar consciência na utilização das águas. Os produtores rurais, assim como os cultivos irrigados, estão sendo colocados, de forma generalizada e irresponsável, como os grandes vilões de todas estas questões.

A sociedade urbana tende a transferir a sua responsabilidade para outros de maneira simplista haja visto a carga absurda de dejetos lançadas dia-a-dia, hora-a-hora, minuto-a-minuto nos mananciais hídricos. Os estados através de um planejamento caolho promovem a construção de avenidas sanitárias em detrimento do tratamento destes efluentes. O motivo é simples - avenidas, ligações de esgotos rendem infinitamente mais votos que a contrução de ETe´s. Mas se olharmos estes problemas de outro ângulo podemos identificar os produtores rurais e irrigantes como os maiores parceiros da sociedade na manutenção e na produção de água.

Do lado do produtor rural podemos enxergá-lo, no futuro próximo como um dos maiores "produtores de água" através de técnicas já conhecidas como por exemplo a construção de microbarragens, barraginhas e barragens subterrâneas. Com isso haverá um aumento substancial de água no sub-solo trazendo a recuperação das nascentes e elevando o nível dos aquiferos de maneira geral.

Para que isso aconteça necessitamos apenas da ação conjunta da sociedade, produtores e do estado. Do lado dos irrigantes, que injustamente, na maioria dos casos, são tachados como grandes consumidores de água, podemos, mais uma vez analisar a sua atividade por um outro ângulo, pois em muitos casos o mesmo capta água em condições inadequadas para consumo humano e os seus cultivos tratam de filtrá-la e devolvê-la ao ambiente nas mais diversas formas (vapor d´agua, alimentos, frutos etc). Os cultivos irrigados nada mais são que bombas biológicas que retiram e devolvem a água retendo uma quantidade mínima para a sua manutenção.

Através de técnicas racionais de manejo de irrigação a sociedade colherá benefícios de grande alcance que vão desde a aquisição de alimentos em quantidade, qualidade e custos adequados além de outros tantos benefícios. Isso tudo apenas com a utilização do conhecimento já dominado por muitos irrigantes e altamente difundido nas universidades. Ou seja, é preciso apenas universalizar o conhecimento, temos a certeza que todos querem estar do lado do "ambientalmente correto".

Com relação a transposição do Rio São Francisco trata-se de mais um devaneio dos políticos. Quando se fala da retirada de uma quantidade mínima de água deste rio para beneficiar populações distantes nos esquecemos dos miseráveis que residem às margens destes mesmos rios que há séculos sofrem de abandono. Como eu disse anteriormente, há muito ainda o que fazer.

rodolpho velloso rebello

Montes Claros - Minas Gerais - Produção de gado de corte
postado em 09/04/2007

Caro Sr. Carlos Arthur Ortenblad,

Na verdade o meu comentário acerca de seu artigo não estava direcionado para o Sr. Vilklas e sim ao senhor como autor do mesmo.

Desde já peço desculpas.

Jeovah Junior Cordeiro Maciel

Fortaleza - Ceará - Servidor Público Federal
postado em 11/04/2007

Professor Carlos Arthur Ortenblad:

Preliminarmente, agradeço-lhe pela distinção da sua resposta ao meu artigo intitulado "FOME DE GREVE E FOME VERDADEIRA".

Com relação a uma pretensa explicação do governo federal, creio que continuará V. Sa. cético para sempre, não só sobre o tema versado, como também, para inúmeros acontecimentos registrados no nosso amado país.

Acerco-me de escritos de leitores do seu artigo do FarmPoint de 20 de março último, em que discorre, de forma brilhante, sobre a preocupante situação das águas.

Permita-me iniciar esta tréplica, em ótimo sentido, usando a opinião do meu amigo Jaerdil Oliveira Dutra - grande amizade conseguida através do FarmPoint -, lá da divisa das Minas Gerais com o Espírito Santo, datada de 20 de março último, em que deixa transparecer ser contrário ao projeto de transposição das águas do Rio São Francisco.

Procurei saber a razão daquela objeção. E senti que o Jaerdil, com muita pertinência, teme que esse projeto de tão grande envergadura venha a se transformar, o que sói acontecer, em mais um "elefante branco". Procede a preocupação do meu amigo, pois de "elefantes brancos" está povoada a selva desta nossa deseducada terra.

Não me permito, porém, admitir que o governo possa deixar de procurar soluções necessárias para um problema de tão grande monta, por causa de possíveis favorecimentos de aproveitadores. Devemos, sim, unidos, governo e povo, caçar, com punhos de aço, os elementos nocivos ao erário brasileiro. Mas como fazê-lo, se nem escolher nossos representantes políticos sabemos?

O engenheiro Paulo Cesar Bastos, em 22 de março, vislumbra o equacionamento do problema na Austrália. Cabe a pergunta: como fazer uso de margens de estradas brasileiras se elas não se prestam, sequer, para o que foram idealizadas?
Construção de barragens em série, no meu Nordeste brasileiro, com o pequeno e irregular índice pluviométrico existente...

Coberto está de razão o engenheiro em foco quando diz: "ÁGUA PARA O SERTANEJO É SEMPRE MILAGROSA!". Deus tem seus enviados, para, através deles, obrar seus milagres. Existem, porém, aqueles que desviam o sentido do bem. Veja o caso de alguns dos nossos representantes! Onde está a vontade deles de desenvolver o "negócio público"?

O zootecnista Marcos Dornellas, em 23 de março, por habitar na região do semi-árido e por conhecer a renhida luta do sertanejo contra a escassez de águas, traz opinião sensata sobre o assunto. Eis alguns trechos:

"Com relação ao São Francisco o que podemos observar é que utilizará de 1 a 2% do volume de água que se perderia indo para o mar."

"É preciso entender que muitos contrários, estão hoje contrários porque seu Estado não será beneficiado, principalmente a Bahia."

"Ter consciência do que precisa é que é o fato. Imaginemos que se já existisse a transposição todos os estragos ocorridos no mês de janeiro e fevereiro nos Estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe poderiam ter sido menores, pois, boa parte do excesso de água teria sido utilizada na perenização de outros rios e riachos, açudes e barragem do Nordeste brasileiro.".

Na edição do Jornal Nacional, de hoje, 10 de abril, esse assunto foi ventilado, inclusive, mostrando o prejuízo causado pela enchente do velho Chico em muitos municípios. É, os poderes de Deus estão fazendo o rio São Francisco ficar irrequieto, ele, o rio, parece sentir o dilema de milhões de nordestinos do lado de cá .

Realmente, fala-se diuturnamente que o universo sentirá a falta do precioso líquido, inclusive, fazendo-se projeções. Vale lembrar que em determinadas regiões do planeta, já nos dias de hoje, há seres vivos, racionais ou não, morrendo de sede. Aqui pego uma carona na opinião da Sra. Cristiana Ferreira Jardim de Miranda de 25 de março, que enfatizou:

"É de se espantar um projeto de transposição para tão longe quando municípios ribeirinhos no estado de Sergipe estão com sérios problemas de abastecimento. E isto às margens da represa de Xingó, como pude observar de perto em janeiro de 2007. Não seria adequado, primeiramente abastecer quem está mais próximo?"

Por qual razão não se trabalhar no sentido de saciar a sede dos carentes da atualidade?

Há uma grandiosa complexidade em tudo isso. E deixo bem claro que esta minha opinião tem sido forjada na academia da vida, na dura convivência com seres humanos, iguais a nós, mas que, por uma questão, sei lá qual, geograficamente nasceram em lugares diversos. O mote foi dado, os técnicos é que deverão estudar e executar a obra que abrandará a sede do Nordeste dos lados de cá.Longe de querer polemizar, mesmo porque não sou técnico no assunto, gostaria apenas que os caminhos fossem encontrados, para isto devemos esquecer o egoísmo, o bairrismo, as questões do regionalismo e pensar num só único Brasil

Jeovah Junior Cordeiro Maciel

José Carlos de Oliveira

São José dos Campos - São Paulo - Produção de leite
postado em 15/04/2007

Excelente artigo. Mas a realidade não nos permite visualização de estancamento das causas que reduzem a quantidade de água disponível. Para agravamento da situação, o Presidente Lula, que acredita ser nosso álcool de transcendental importância para o planeta, dizendo em discurso no mês passado (março/07), que os usineiros são heróis.

A cana-de-açúcar será, dentro de breves anos, a maior causa de desertificação deste Estado de São Paulo, onde terras da melhor qualidade possível estão sendo cobertas por enormes canaviais. De fato, no Vale do Rio Grande, noroeste do Estado, na divisa com o Triângulo Mineiro, terras popularmente conhecidas como massapé estão sendo devastadas impiedosamente para o plantio da cana.

O crime não fica só no desmatamento e supressão de veios d´água, mas, vai muito além: utiliza-se agrotóxicos fortes e poluentes; a queimada faz levantar enormes nuvens de fumaça e a constante dizimação de animais: tamanduás, tatus, lobos, raposas, cobras, pássaros, etc.

Sem falar no homem, que também é vítima direta dos "heróis" do álcool. Até quando suportaremos o progresso das forças do mal?

Resposta do autor:

Prezado Dr. José Carlos de Oliveira,

Obrigado pela avaliação positiva de meu artigo. Creio que ninguém se opõe à alternativas a combustíveis fósseis, como o alcool (ou etanol, como ficou mais chique chamá-lo). Porém, tal deve ser feito com respeito ao meio ambiente, aos trabalhadores e à comunidade em si. Pois, se degradarmos a Natureza, mantivermos o sistema de safristas, e continuarmos a concentrar renda - três corolários típicos da indústria sucro-alcooleira, estaremos dando um tiro no pé.

Durante anos, fui fornecedor de cana-de-açúcar, e não me arrependo disto, pois é uma atividade lucrativa e honesta. Porém, desconfio que era visto no meio como um chato, pois a cada reunião, eu defendia quatro itens:

(1) A inevitável mecanização da cultura não precisava - e nem devia - ser degradante ao Meio Ambiente. Não apenas no que o senhor bem lembra, mas também em relação à compactação do solo.

(2) Se a progressiva eliminação da queima de cana-de-açúcar era também inevitável, devia-se pensar nos trabalhadores que estavam sendo e seriam demtidos, por causa da colheita mecanizada. Ou se treinava estas pessoas para outras funções, ou acabariam por favelizar as cidades, mesmo as pequenas, com as consequências que se observa hoje no meu Rio de Janeiro.

(3) Como qualquer grande empresa, estabelecida ao redor de comunidades pequenas e médias, a indústria sucro-alcooleira concentra renda, desaloja pequenos empresários, e, de forma geral, empobrece a região.

(4) Havia que se rever o sistema tributário, pois este privilegia os municípios onde se encontram as sedes das usinas, em detrimento aos demais, que apenas produzem a cana. Seria efeito similar ao item (3) acima, apenas em magnitude macro.

Creio que todos estes itens podem ser resolvidos a contento. Basta haver bom senso das partes envolvidas no processo.

Atenciosamente,
Carlos Arthur Ortenblad

Nilson Henrique de Oliveira

Lins - São Paulo - Frigoríficos
postado em 24/04/2007

Caro Carlos Arthur:

Muito obrigado pelo seu artigo, por ser tão atencioso e responder aos comentários. Comentei o artigo Água II e fui prontamente respondido.

Quanto ao Água III, é um artigo muito atual, principalmente em tempos onde se fala tanto da transposição das águas do rio São Francisco, pois nos apresenta casos mal-sucedidos, como do Mar de Aral. Seria interessante que defensores do projeto do rio São Francisco, como o novo ministro de integração regional, Geddel Vieira Lima, pesquisassem casos parecidos pelo mundo, antes de tomarem decisões a respeito.

Um abraço

Nilson Oliveira

Resposta do autor:

Prezado Nilson,

De nada, o prazer é meu. O que acho interessante em internet é exatamente isso: a velocidade que permite interatividade entre as partes.

Quanto ao Velho Chico, sinceramente, mantenho-me cético, até que estudos sobre os efeitos do aquecimento global (que terá efeito direto sobre disponibilidade de água), tiverem sido feitos.

Como diz o climatologista Carlos Nobre, o Brasil e (América do Sul toda), são um vazio em matéria de pesquisa e projeções.

Abraço,

Carlos Arthur

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