Exponho o argumento da previsibilidade da discussão bem como das suas conclusões para reflexão. É claro que políticos sérios como os Deputados autores do pedido da Audiência Pública - e tantos outros ali presentes - são sempre bem-vindos e vistos na medida em que promovem mecanismos que constituem avanços inquestionáveis sobre as mazelas que afligem o financiamento público da defesa agropecuária.
Porém, foi dentro deste clima de reprise que ocorreu um dos resultados mais notáveis: a convergência de posições entre todos os expositores sobre o real problema que afeta o sistema de defesa agropecuária nacional.
Ao verificar-se a aproximação de idéias e pensamentos dos diversos representantes dos setores da cadeia produtiva envoltos na discussão foi possível extrair com alta clareza a distância entre duas categorias de governo: o técnico e o político.
No campo técnico prevalece a unanimidade de que a defesa agropecuária deve ser vista como questão de interesse e de defesa nacional, onde: i) seus recursos não sejam objeto de recorrentes contingenciamentos aplicados pelo Poder Executivo; ii) que o orçamento seja aplicado de forma coerente e com parcimônia; iii) com periodicidade compatível e com calendário próprio; e iv) acima de tudo, que reflita e seja compatível com a importância que o setor desempenha para a sociedade brasileira e para a sua economia.
Por outro lado, no campo político verificou-se a necessidade de se produzir repostas objetivas e concretas em termos de aperfeiçoamento e mudanças na formação da peça orçamentária, seja na Lei Orçamentária Anual (LOA), na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ou no Plano Plurianual.
Como bem assinalou o Deputado Waldemir Moka, o processo de elaboração, aprovação e gestão do orçamento implica necessariamente interesses conflitantes entre todos os setores da economia nacional, que se resolvem, em última instância, no âmbito das ações políticas dos agentes públicos. Essas diferentes posições geram clima de tensão permanente - e muitas vezes incompreensão de parte a parte.
Ilustrativamente é possível invocar fatos extraordinários do "governo político" que nos remetem à acima sugerida reflexão. O Governo Federal, ao criar a "nova" Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, revela os seus verdadeiros interesses.
O atual Governo aplicou, em 2006, somente R$ 60 milhões no sistema de defesa agropecuária animal, ao passo que no mesmo ano destinou R$ 1 bilhão para a publicidade da União. Se todo o recurso financeiro destinado ao sistema de defesa sanitária animal fosse aplicado somente e, tão somente, na bovinocultura o governo desembolsaria míseros R$ 0,54 por animal.
Em 2007, a Secretaria de Defesa Agropecuária contará com cerca de R$ 120 milhões para executar todos seus programas. Do outro lado da Esplanada dos Ministérios, mais precisamente na Praça dos Três Poderes, a "nova" Secretaria de Comunicação da Presidência da República, teve a liberação orçamentária aprovada hoje na Câmara dos Deputados. Contará com R$ 415 milhões.
Certa vez em um de meus artigos disse que por ser de outra geração me permito ter menos paciência sem que seja mal compreendido. Ainda sigo nesta mesma linha.
A Comissão de Agricultura deu hoje um importante passo na busca de uma solução para o problema da defesa sanitária animal e vegetal do Brasil, pois deu credibilidade e, mais importante, transparência das reais causas do "apagão sanitário", qual seja: a insensibilidade da equipe econômica do "governo político".
Uma vez mais ficou evidente o profissionalismo, a competência e o comprometimento da equipe da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, agora chefiada pelo Médico Veterinário, Inácio Kroetz, que tentará com grande desenvoltura conciliar os interesses técnicos e os políticos de forma a encerrar esta cansativa e atrasada discussão.
Bruno de Jesus Andrade
São Paulo - São Paulo - Produção de gado de corte
postado em 17/05/2007
Muito bom. Inúmeras vezes percebemos o descompasso da política com as reais necessidades da economia. Nesse jogo político os prejudicados são aqueles que produzem e pagam impostos religiosamente. E para que fazemos isso ?
Eis a resposta: Para que eles possam ter um aumento de mais de 20% sobre seus salários e nós 20% a menos em nossos rendimentos. Como se não bastasse, eis que surge prontamente, R$ 415 milhões para a Secretaria de comunicação. Antes de ler esse artigo, lia o da Zandbergen e chego a conclusão que já nos queimamos.
Sucesso e até mais.