"Caros colegas e meu caríssimo futuro colega ovelheiro Ivan Cláudio de Figueiredo.
O senhor tem razão quanto aos anos de luta que tenho em defesa da pecuária nacional, agindo de forma contrária eu seria como um daqueles veterinários que atribuem a culpa pelo efeito estufa aos animais pecuários. "Coma menos carne e preserve o mundo para a atividade industrial!"
Porém ao contrário do que pode ter transparecido do meu comentário anterior, pelo qual devo pedir desculpas, se assim foi. Eu não guardo nenhum tipo de ressentimento quanto à ovinocultura em si, e muito menos quanto às ovelhas em geral. Infelizmente, não tive a oportunidade de herdar nada, nem um capão cego. E, se pareceu aos nobres leitores, que fui um dos que desistiu da atividade quando a lã deixou de ser um produto comercialmente importante, devo dizer que eu teria apreciado ter nascido produtor rural e lutado contra aquela drástica redução dos rebanhos.
Quando me referi aos "marketeiros" não tive a intenção de imputar culpa aos veículos de mídia - a responsabilidade de filtrar as informações recebidas é do consumidor - acredite no que quiser. Os "marketeiros" só criaram o fato (ou factóide), a imprensa somente noticiou. Infelizmente, dando destaque para "operações comerciais totalmente fora da realidade do produtor comum", destaque que gerou uma expectativa de mercado falsa, que trouxe para a atividade montanhas de dinheiro novo. Dinheiro de origem urbana, que saiu do mercado de capitais com taxas e rendimentos previsíveis (em maior ou menor grau) e caiu na cabanha de terno e gravata pisando em bosta com seu sapato italiano, achando que seus métodos de gestão seriam aplicáveis na nova situação.
É à isto que, em postagem anterior, o Dr. Giorgi Kuyumtzief se refere como: "sobra de dinheiro aliada à falta de conhecimento e à presunção gerando exemplos negativos de 'novos empreendimentos em ovinocultura', os quais, são abandonados e passam a imagem de uma atividade duvidosa e de alto risco" (sábias palavras!).
Por outro lado, FELIZMENTE, todo esse alvoroço sobre o tema, deu destaque à ovinocultura, gerou curiosidade nos potenciais consumidores, sacudiu os antigos produtores e trouxe gente nova, com a séria intenção de ganhar dinheiro, para a atividade. Estes são os iniciantes obstinados a quem o senhor se refere.
Permita-me discordar da sua afirmativa relacionada ao desafio ou paixão, se não for pela remuneração estes iniciantes tanto vão apanhar que vão desistir, assim como muita gente boa desistiu da lã, do leite, do suíno e do frango. É verdade, a pequena propriedade deve ser produtiva mas, muitas vezes, ela é mais viável arrendada para as monoculturas. Quem investe, o faz para recuperar seu capital com algum lucro se não, enterra dinheiro e queima o mapa.
Por isso insisto que devemos ser objetivos em nossas postagens, e acima de tudo honestos, não passemos a impressão de que a ovinocultura é uma maravilha, que tudo é fácil, lindo e lucrativo. Que basta um medicamento diferente, um novo resultado de pesquisa científica, uma determinada raça ovina ou um frigorífico melhor situado geograficamente, para o produtor passar a ganhar dinheiro como aquele outro que ele viu na televisão ou nas páginas da revista. Os antigos sabem que proveito podem tirar das novidades e "não se atiram", os novos, estes sim devem ser informados com imparcialidade quando procuram a ajuda dos mais experientes.
Uso o seu raciocínio e experiencia sobre o leite para exemplificar o que penso sobre a carne de cordeiro. A indústria regula o preço pago ao produtor, assim, não adianta produzir leite de melhor qualidade pois a remuneração é a mesma. Quem investe e produz "Leite Tipo A", saudável, nutritivo, palatável, etc, etc... concorre na prateleira refrigerada do supermercado com aquelas caixas cheias de embalagens de "leite longa vida" esparramadas para todo lado. Qual é o apelo do "Leite A", a garrafa? O apelo comercial da caixinha para a dona de casa é grande: é leite (tá escrito na embalagem), é barato e não estraga (dá para comprar às duzias e poupar idas ao mercado), não tem que ferver e não derrama no fogão (despeja na mamadeira e esquenta no micro-ondas). Pronto, cria-se o guaxinho humano com o paladar apuradíssimo em laticínios processados; ofereça-se a ela "Leite A" e a criança pode dizer: "isso tem gosto de vaca, eu não gosto disso!". O laticínio quer comprar "Leite A"? E a remuneração do produtor desse leite com alto valor agregado (haja vista seus custos de produção)?
Que seria do "amarelo manteiga" se todos gostassem do "branco cal"?
Houve um tempo em que se encontrava no mercado curitibano, um ótimo "Leite A Integral - Esterilizado por Raios UV", desapareceu das prateleiras subitamente! Ao perguntar para o SAC do laticínio onde encontrá-lo a resposta foi que sua produção havia sido descontinuada pois os clientes queixavam-se da coloração amarelada do produto. (Conhece leite minha senhora???)
Assim é com a carne de cordeiro, o consumidor só tem acesso ao que encontra no supermercado, alto apelo comercial: "carne congelada num pacote meio rasgado por um preço elevado ao lado daquela sorridente picanha bovina maturada embalada à vácuo", insiste, compra faz um churrasquinho minguado com aquela morrinha de sebo de ovelha velha. "Isso tem gosto de tapete velho molhado, eu não gosto disso!" O frigorífico quer pagar 5 dólares pelo quilo do cordeiro? Vale a pena produzir cordeiro para abate aos 2, 3, 4 meses por menos de US$5 o kg vivo?
Hábito de consumo é fácil de adquirir na infância, mãe que não gosta de chuchu, não compra, não faz e não oferece para o filho! Também vejo um futuro promissor na produção de carne ovina, o presente já dá sinais de economicidade na atividade. É pena que os produtores, sem cair na ilegalidade, só podem ajudar na popularização da carne do cordeiro produzindo cordeiro. Políticas efetivas para o setor, já começa com a palavra errada - política. Associativismo para alcançar escala de produção e assim poder negociar melhores preços de compra de insumos e venda de produtos, pode ser.
Pode também, ser importante abandonar o discurso "gourmet" da carne de alta qualidade, leve, saudável, refinada e consequentemente cara... sem esquecer que nunca vai ser tão barato produzir cordeiro quanto é produzir frango, que o frango brasileiro só é barato por ter escala de produção e por ser criado com mão de obra familiar, que o produtor independente de frangos está enchendo os aviários de cordeiros tentando melhor remuneração do seu capital.
Acreditar na ovelha como produtora de proteína de alto valor biológico e alternativa viável para a diversificação da produção na pequena e na grande propriedade, com certeza!
Quanto à atividade prazerosa meu caro tocaio, pode parar de pesquisar, a ovelha é a resposta certa para a sua busca. Seja muito bem vindo ao clube! Sucesso"!
Saudações ovelheiras
Ivan Saul D.V.M., M.Sc.Vet. - Granja Po'A Porã, 26/out/2010
eldar rodrigues alves
Curitiba - Paraná - governo
postado em 30/10/2010
Dr Ivan Saul, parabéns pelas colocações. E gostaria de falar que uma coisa que muito me incomoda, é quando de maneira implicita, colocam , principalmente para produtores onde o manejo deve ser mais exato , ainda, devido a periodos de seca etc , a idéia de que ovelha nâo precisa de bastante comida , não so´comer , e sim ser nutrida, tipo, assim LARGA NA CAATINGA , DURANTE A SECA , QUANDO CHOVER ELA VOLTA( claro de maneira figurativa e exagerada de minha parte) em quanto sabemos que , Não é verdade, sabemos que tem animais adaptados que ate sobrevivem, mas sera que serão viaveis comercialmente ? acho que ate servem para uma produçâo de consumo propio . Outra idéia que os marketeiros vendem e nâo me conformo é a de que existe uma unica raça salvadora, sabemos que os maiores produtores de carne do mundo,( raças realmente de carne) Novazelandia e Australia utizam 2, 3 ate 4 raças para chegar ao produto final ( aqui fico muito contente pois sei que a minha escolhida POLL DORSET ) sem demerito a nenhuma outra, esta presente em 80% (diferentes grau de sangue) desses cruzamentos , sendo a segunda raça de cara branca mais criada nos EUA etc etc.... Quando falamos de falsas ilusoes criadas por esses mesmos marketeiros, devemos ter cuidado com as matérias pagas, essa semana recebi o exemplar de uma reista, a qual assino , a revista quaze que na sua totalidade era de matéria de uma unica raça , ( nada contra a raça) até mesmo porque na sua formaçâo 50% do seu composto é Dorset, mas na minha opniâo os artigos eram tendenciosos e até mesmo, em parte, questionaveis , quando acabei de ler ri muito de mim mesmo ..... pois eu havia anunciado na revista e tinha de forma direta ajudado a patrocinar a divulgaçao de dados e fatos que se não são ilusorios são no minimo questionaveis heheheheh
O QUE ME PARECE É QUE QUEREM VENDER A ILUSÃO QUE OVELHA SE CRIA EM QUALQUER ESPAÇO , CLIMA E LUGAR E NÃO É VERDADE , SE CRIA OVELHA NAS REGIOÊS DE EXTREMO FRIO E NEVE ? SIM SE CRIA . SE CRIA OVELHA EM REGIOES DE MUITO CALOR , EXEMPLO ALGUMAS REGIOES DA AUSTRALIA ? SIM , SE CRIA ....POREM COM MUITA LOGISTICA E TECNOLOGIA , É COMUM SE VER ENORMES CARRETAS , CARREGANDO MILHARES DE TONELADAS DE FENOS E ALIMENTAÇÃO , PARA NA HORA DO APERTO, SERA QUE NO BRASIL JA TEMOS ESSA CAPACIDADE? ISSO TAMBEM DEVE SER MOSTRADO E QUESTIONADA AOS PEQUENOS E NOVOS PRINCIPALMENTE NAS REGIÕES ARIDAS
Uma vez na feinco Walter Celani , me perguntou em uma entrevista Resuma ovinocultura? Eu respondi, RAZÃO E EMOÇÃO , e completei EMOÇÃO , EM VER NASCER CRESCER MULTIPLICAR, RAZÃO EM FAZER QUE A TIVIDADE SEJA RENTAVEL E LUCRATIVA