Será que na platéia de quase 450 pessoas tinha gente que vendeu a alma de fazendeiro ou de sitiante arrendando as suas terras para a cana e descobrindo depois que não tinham mais o controle da terra, a vida rural e que abrirão mão das "rendas não contabilizadas" que ocorrem quando se está morando na fazenda/sítio e se perdem quando se muda, para viver na cidade?
Será que está se descobrindo que o dinheiro e a vida fácil dos arrendamentos de cana não estão comprando a felicidade e por tanto no grito do silêncio do auditório estava o pedido "pelo amor de Deus, nos dê alternativas para que possamos ficar na fazenda ou sítio e ganhar o nosso pão do dia a dia de uma maneira saudável".
Nestas horas a gente vê o filme de antes e depois onde de repente a infra-estrutura e as benfeitorias na fazenda se tornam obsoletas, lares são destruídos, o pessoal mandado embora. Sim senhor, o arrendamento pode ter um custo social violentíssimo.
O mérito do workshop foi que estas alternativas foram dadas na forma de uma exploração de leite moderna onde o tamanho da propriedade não é documento para o sucesso, como foi bem demonstrado.
Também mostrou que quando as instituições de pesquisa, extensão e ensino se unem com a iniciativa privada e se concentram num assunto, as coisas começam a clarear e apontar o caminho para que possamos crescer com firmeza e segurança.
Fica aí a pergunta. Porque é tão difícil continuar com esta união no nosso dia-dia? Existem muitas pesquisas ainda para serem feitas e hoje precisamos nos preocupar para que tenhamos gente e dinheiro para fazer estas pesquisas. A assistência técnica no campo ainda está longe do que deveria ser e precisa ser muito mais integrada com as universidades.
Tivemos momentos emocionantes como um vídeo sobre um assentamento em Andradina onde a ESALQ junto com a DPA estão mostrando os caminhos para os assentados, que eram, aparentemente, totalmente perdidos e sem saber o que fazer com a terra que receberam. Mas no outro lado isso preocupa porque o pessoal da ESALQ tem que vir para dar assistência, enquanto existem faculdades mais perto como a de Ilha Solteira.
A situação dos assentados lá em Andradina me assustou porque a falta de assistência técnica e de cooperativas eficientes mostra que não estamos resolvendo nada e pagando caro por isto.
Tivemos momentos vitoriosos como a palestra do Andrew Jones sobre a Cana e Leite na fazenda São Pedro e dos outros palestrantes que tiveram em comum a atitude de buscar as melhores soluções para melhorar a vida no campo para todos.
Tive saudades da Nestlé, que ficou invisível na DPA e no meu ver abriu mão de uma imagem e história fortíssimas junto aos produtores de leite no Brasil, mas o esforço e os resultados dos trabalhos fazem jus ao nome, mesmo que este hoje seja DPA.
No fim, quero parabenizar o diretor executivo da AgriPoint, Marcelo Pereira de Carvalho, pela organização deste evento tão memorável.
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