A Casa da Ovelha, no Rio Grande do Sul, é outro exemplo de sucesso. Inserida na rota turística do vinho na Serra Gaúcha, recebe anualmente milhares de visitantes. No plano internacional o queijo de leite de cabra e o vinho já formam um par constante, quase indissociável, nos circuitos turísticos e gastronômicos mais famosos. Segundo especialistas, os queijos ajudam a realçar o sabor dos vinhos. A estratégia para o nosso caso seria a caprinocultura “pegar carona” no circuito do vinho, promovendo a dupla vinho-queijo, compondo uma espécie de “enocapriturismo”.
A região vinícola já desponta também como produtora artesanal de queijos de cabras, de boa aceitação pelo consumidor, dos tipos coalho, frescal, ricota e boursin, principalmente. Embora em pequena escala e sem oferta estável, esses queijos são comercializados diretamente por alguns produtores de Petrolina e Santa Maria da Boa Vista para hotéis, restaurantes e casas especializadas da região. Inserir algumas dessas unidades no roteiro deve, inclusive, fortalecer ainda mais o segmento turístico da vitivinicultura, ao injetar um pouco mais de ruralidade, ou seja, uma maior vinculação com as coisas da terra.
Ao turista será dada a chance de ordenhar uma cabra, de ver e de aprender a fazer um queijo, degustá-lo e comprá-lo. Tudo isso, simultaneamente ao contato com o patrimônio e a beleza natural da propriedade, a um passeio em trilha ecológica da caatinga, a um almoço de um saboroso (e higiênico) cabrito ao forno de lenha e, dependendo da unidade turística, um agradável pernoite em chalé típico. Conhecer o artesanato em peles poderia seria outra opção, considerando a implantação da Oficina de Peles da Associação Aprisco do Vale, de Santa Maria da Boa Vista.
Entre as ações necessárias para implementar um projeto dessa natureza incluem-se: (1) Definição dos produtos da caprinocultura a serem trabalhados nas unidades turísticas. Que tipos de queijos combinam melhor com que tipos de vinhos região? Não esquecendo que também as carnes de cabritos e cordeiros são companhias apreciadas para saborear um bom vinho; (2) Articulações visando parcerias entre os distintos segmentos. Exemplo: as degustações e vendas de vinho seriam “casadas” com as de queijos, tanto nas unidades vitivinícolas quanto nas unidades turísticas de caprinocultura – o mesmo com relação a parcerias com outros pontos de comercialização de vinhos na cidade (bodódromo, hotéis, aeroporto, etc.); (3) Seleção de unidades de exploração caprina a serem inseridas no roteiro, com base em critérios pré-fixados relativos a qualidades sensoriais e sanitárias dos produtos, adequação de instalações, a preservação ambiental, a localização/acessibilidade, etc.; (4) Capacitação técnica e gerencial dos produtores selecionados e demais atores envolvidos no processo e, (5) Apoio técnico e financeiro para adequação e qualificação das unidades selecionadas aos padrões mínimos exigidos pela atividade.
O turismo integrado vitivinícola x caprinícola, além de revalorizar os patrimônios cultural e natural da região, pode contribuir na reorganização social e econômica das populações do entorno dos perímetros, impactadas por uma política de irrigação “caolha”, que não teve a capacidade de visualizar as previsíveis consequências de sua exclusão, a começar pela descaracterização da cultura local. É preciso, portanto, um empenho especial em envolver, direta e indiretamente, as populações locais, evitando um turismo que pouco ou não as beneficie.
O requisito essencial para o sucesso dessa proposta é a existência de um ou mais produtos típicos que tenham qualidades realmente diferenciadas em relação aos encontrados no comércio varejista tradicional. Acreditamos que os produtos lácteos e cárneos da nossa caprinocultura, associados à paisagem e a biodiversidade da caatinga e à cultura, via práticas sociais e de trabalho, costumes e tradições, artesanato e, sobretudo, a hospitalidade em nosso ambiente rural, atenderão com sobras esse requisito. Esta seria realmente uma forma de turismo alternativo e inovador, uma atividade que permite ao turista interagir com a paisagem sertaneja e, ao mesmo tempo, traçar um paralelo com a contrastante visão (mas não necessariamente excludente) da “cultura da irrigação”, representada pelos magníficos vinhedos e modernas vinícolas. Sentir esse choque e perceber como esses dois mundos aparentemente tão díspares podem se dar as mãos será, certamente, uma experiência mais do que compensadora para qualquer turista.
Ailson Joao Filho
Floresta - Pernambuco - Estudante
postado em 09/01/2013
Por que não damos as mãos e nos unimos para estender todo progresso para toda a região, a exemplo dos municípios de carnaubeira da penha e Floresta, ambos no sertão, sendo que os dois contam com números expressivos em numero de caprinos e ovinos.?