A Associação Americana de Alimentação a Pasto (The American Grassfed Association) define os produtos de ruminantes alimentados a pasto, incluindo bovinos, bisão, caprinos e ovinos, como produtos oriundos de animais que se alimentaram de nada além do leite materno e gramíneas frescas ou fenos de gramíneas do nascimento ao abate. Não é permitido o fornecimento de grãos. Para não-ruminantes, tais como suínos e aves, gramíneas devem ser a maior parte da dieta, de acordo com a Associação.
A criação de um selo para "alimentado a pasto" tem se tornado uma controvérsia. Isto porque as pessoas têm diferentes interpretações sobre o que seria "alimentado a pasto". Os padrões originalmente propostos pelo USDA para uma marca "alimentado a pasto" estipulavam que, no mínimo, 80 % da principal fonte de energia dos ruminantes fosse oriunda de gramíneas, pastos nativos ou outra forrageira. Alguns "radicais" se opõem a esta definição pois permitiria a alimentação dos animais por um curto período em confinamento ou uma suplementação de grãos a pasto.
Não sabemos qual deveria ser a exata definição, mas somos favoráveis a algum fornecimento de grãos aos animais sob pastejo, caso seja esta a preferência dos produtores. A alimentação com grãos tende a melhorar o ganho de peso e a tolerância a parasitos nos pequenos ruminantes. Fornecer uma pequena quantia diária de grãos aos cordeiros e cabritos dá ao produtor a chance de melhor monitorar a saúde e a condição geral de seus animais. E ainda, a suplementação a pasto com um pouco de grãos é diferente de confinar os animais e alimentá-los com grãos a vontade.
Os que advogam a favor dos produtos gerados da "alimentação a pasto" são rápidos em apontar seus numerosos benefícios saudáveis. De acordo com vários estudos de pesquisa, a carne e o leite de animais alimentados a pasto contém mais ácido linoleico conjugado (CLA - sigla em inglês), vitamina E, ácidos graxos ômega 3, beta-carotenos e vitamina A dos que os animais nutridos com grãos.
CLA e ácidos graxos ômega 3 são as "gorduras boas" com propriedades anticancerígenas, antidiabetes e antigorduras maléficas. O melhor perfil nutricional da carne e do leite "verdes" pode habilitar alguns produtores a receberem um preço diferenciado para seus produtos caso direcionem a mercados consumidores específicos, restaurantes e lojas/redes de alimentos especializados.
Sem dúvida é importante assinalar que a criação dos animais a pasto não é a única maneira de afetar a composição de ácidos graxos da carne e do leite. Pode-se elevar o teor de gorduras poliinsaturadas e CLA nos produtos dos ruminantes mediante a manipulação de fontes de gordura na dieta dos animais. A suplementação de cordeiros, cabritos e bezerros com óleos de peixe ou vegetais (girassol, milho, soja, canola, amendoim ou linhaça) resultará em efeito semelhante ao de submeter os animais ao regime de pasto.
Existe, ainda, uma diferença considerável entre o conteúdo de CLA da carne e do leite de animais consumindo a mesma dieta. Um estudo da Nova Zelândia mostrou que cordeiros amamentados por ovelhas com alto conteúdo de CLA no leite tiveram esta substância 37 % superior em suas carnes do que aqueles amamentados por ovelhas com menores teores lácteos de CLA. Os cordeiros de partos simples tiveram 35 % mais CLA na carne em comparação com cordeiros gêmeos.
Um estudo conduzido com gado de corte no estado americano de Missouri mostrou que quando suplementados com uma ração mista de grãos a pasto (até 1 % do peso vivo), não diminuíram os níveis de CLA nos bois terminados. Diferenças entre, e dentre, raças podem permitir uma seleção genética para elevar o conteúdo de CLA nos produtos de origem animal.
O CLA é produzido naturalmente pela microflora que vive no rúmen dos ruminantes como bovinos, ovinos e caprinos. É formada pela digestão do ácido linoleico da dieta. Seu conteúdo é variável em gramíneas de acordo com a espécie e maturidade, sendo mais elevado em gramíneas que se encontram em crescimento, no estado vegetativo.
O CLA é prontamente absorvido pelo animal ao nível de rúmen e se deposita no leite, na carne e gorduras. A sua concentração nos produtos de origem animal varia de acordo com a dieta e práticas de manejo. Mesmo sem uma manipulação da dieta, o cordeiro é a fonte natural mais rica em CLA. Os derivados do leite são geralmente as melhores fontes de CLA. O leite de ovelha contém mais CLA do que o de vaca.
Então, porque alimentar os animais com grãos?
O fornecimento somente de ração ou a suplementação de grãos aos animais a pasto produz um cordeiro com sabor mais suave, desejável. Os cordeiros ou novilhos alimentados com grãos, geralmente tem sido preferidos em Testes de Painéis de Sabor feitos nos Estados Unidos, embora o cordeiro a pasto seja preferível no Reino Unido. O cordeiro "verde" tende a apresentar sabor mais "encorpado" (que lembra à caça) e está mais sujeito a oxidação, a qual afeta a cor e o tempo de prateleira. O sabor também pode ser afetado pelo tipo de pasto ou grão fornecido. Já a maciez é uma característica amplamente influenciada pela idade e a genética.
Os cordeiros e os cabritos criados a pasto, ao contrário dos confinados e alimentados com grãos, oferecem inúmeras vantagens produtivas. A dieta a base de forragem é mais saudável do que a de concentrado; assim, torna-se menos provável que os cordeiros e os cabritos venham a sofrer de distúrbios digestivos. Os cordeiros e cabritos "verdes" são, em geral, desmamados mais tardiamente que os correspondentes na dieta de grãos, portanto, reduz-se o risco de mastite nas suas mães. O ganho de peso em pastagem é geralmente mais econômico do que aqueles alcançados em confinamento, embora com o alto custo da terra em muitas regiões isto venha se tornando discutível. O gado a pasto não acumula tanta gordura quanto os confinados.
Produzir, porém, cordeiro ou cabrito 100% a pasto não descarta totalmente os desafios. Existem mais variáveis externas para serem manejadas na criação a pasto do que em um confinamento. Um excelente pasto e um adequado manejo são necessários para que se alcance um crescimento adequado para manter os cordeiros e os cabritos saudáveis. Os animais criados a pasto irão crescer mais lentamente do que aqueles alimentados com ração em confinamento devido, principalmente, ao alto teor de umidade das forragens verdes. No entanto, isto não é necessariamente algo ruim.
Os cordeiros tenderão a ser acabados com maior peso comercial quando alimentados com dietas menos energéticas por um período mais longo do que quando arraçoados com dietas completas, ricas em energia, para obtenção de ganho máximo. Isto é especialmente importante para caprinos e ovinos deslanados, os quais engordam diferentemente de cordeiros de raças lanadas e bovinos.
Se os cordeiros deslanados e os cabritos forem alimentados para atender ao ganho máximo (i.e. com ração a vontade), irão acumular quantidades significativas de gordura interna ao redor do coração e rins. Uma taxa de ganho mais lenta é, portanto, mais aconselhável.
Os parasitos internos são um problema muito maior para os animais criados a pasto do que para os mantidos em confinamento. Isto é particularmente verdadeiro quando se mantém os pequenos ruminantes sob pastejo, os quais irão requerer uma freqüente vermifugação ou um manejo mais rigoroso para monitorar os níveis de parasitos. Enquanto os animais criados a pasto são menos sujeitos a males como a enterotoxemia, cálculo urinário e outras doenças metabólicas, o pastejo apresenta seus próprios riscos a saúde, como pelo consumo de plantas venenosas, por exemplo, sem mencionar a possibilidade de ataque de predadores.
Assim, como em qualquer sistema de manejo e produção, também existem desafios em se criar cordeiros e cabritos totalmente a pasto. O produtor deve escolher um sistema apropriado de alimentação e manejo para seus animais com base nos seus recursos disponíveis, demanda de mercado e preferências individuais. Altos níveis de bem estar animal podem ser alcançados tanto na criação de cordeiros e cabritos a pasto quanto confinados. Existe boa demanda de mercado para produções a pasto, confinadas ou animais criados em regimes mistos.
Artigo traduzido do texto de Susan Schoenian, de 26/01/2005 - "Grass-Fed Lamb and Goat"
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