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Ecologia e ideologia

Por Xico Graziano
postado em 12/11/2013

3 comentários
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Importante tendência ideológica anda se esforçando para dominar o ambientalismo brasileiro. Sua mais recente tacada se materializou com o lançamento, pelo governo federal, do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo). Verdadeiro anticapitalismo no campo.

Recheado de boas intenções, tal plano configura uma espécie de socioesquerdismo esverdeado. Não é fácil defini-lo. Sua articulação política envolve os chamados "povos oprimidos", em que se misturam índios, quilombolas, quebradoras de coco, comunidades ribeirinhas, pescadores artesanais, grupos em geral alinhados com o ideário do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na contramão da História, eles propugnam uma "via camponesa" em contraposição ao agronegócio empresarial.

Naquela conferência mundial sobre sustentabilidade promovida em 2012 pela ONU no Brasil (Rio+20) já se podia perceber a força desse movimento, que, mais amplamente, pretende falar pelos "excluídos" da sociedade contemporânea. Lideranças de várias organizações não governamentais (ONGs) lutaram para derrubar o enunciado oficial sobre a "economia verde", argumentando que pouco lhes interessava esverdear o capitalismo. Defendiam uma sociedade pós-capitalista.

Embora sem jamais explicar ao certo como funcionaria esse mundo alternativo, obtiveram sucesso ao emperrar as negociações da diplomacia internacional. Dezenas de causas, as mais inesperadas, progressivamente postas nas mesas de discussão, embaralharam os debates sobre a agenda do desenvolvimento sustentável. Resultado: tudo se confundiu e nada se decidiu na Conferência Rio+20.

Nessa época, circulava um documento da Articulação Nacional de Agroecologia propondo criar no Brasil uma política distinta para o desenvolvimento rural brasileiro. O texto expressava posição contrária aos empresários do campo e, até mesmo, criticava as políticas de apoio à agricultura familiar, acusando-as de induzirem à vinculação dos pequenos produtores aos setores do agronegócio. Algo como se fosse proibido progredir na roça.

Zander Navarro já apontou, em artigo publicado no Estado (Fadas, duendes e agricultura, 30/10), a fraqueza teórica e prática desse suposto "modelo agroecológico" de produção campesina. Seus formuladores vivem da retórica, não comprovam viabilidade prática. Existem, sim, casos interessantes de agricultura alternativa. Mas seguem restritos, funcionam isolados, com baixa produtividade, incapazes de gerar excedentes alimentares para abastecer a massa da população.

Há meio século, início do movimento ambientalista, alguns marxistas franceses tencionaram fazer da luta ecológica uma frente de batalha contra o capitalismo. A pregação não vingou plenamente. Uma das razões estava no fato de que os então países comunistas, União Soviética à frente, igualmente depredavam os recursos naturais do planeta. Nesse contexto se formaram inusitados partidos políticos na Europa: nem esquerda nem direita, mas verdes.

Bem antes disso, na agricultura mundial haviam surgido algumas tendências se contrapondo às tecnologias intensivas, principalmente contestando a quimificação. Primeiro nasceu a linha dos alimentos orgânicos, a partir das observações de sir Albert Howard, no começo do século 20, acerca dos métodos indianos de produção rural. Seu princípio básico, um dogma, estabelece que a sanidade das plantas depende do húmus existente no solo.

Outras vertentes se seguiram, cada qual liderada por renomados estudiosos. A biodinâmica iniciou-se na década de 1920, baseada nos princípios filosóficos do humanista alemão Rudolf Steiner, fundador da antroposofia. A agricultura biológica, por sua vez, surgiu entre a França e a Suíça, a partir dos trabalhos de Francis Dhaboussou, voltados para o controle natural de pragas e doenças. Mais recente, a permacultura, encabeçada na Austrália por Bill Mollison, baseia-se nas técnicas indígenas, que intercalam cultivos temporários com plantios florestais.

De todas essas correntes, a que mais se avolumou foi a orgânica, destacando-se principalmente na Europa. Há uma explicação técnica. Acontece que nos países temperados o frio intenso limita a população dos patógenos que atacam as lavouras, facilitando a produção. Nas calorentas e úmidas regiões tropicais, porém, sem neve a hibernar a terra, a enorme proliferação das pragas e doenças torna tudo mais complexo na produção rural. Mesmo assim, no Brasil e na Argentina existem bons produtores orgânicos.

Obrigatoriamente certificada, para comprovar que segue um rigoroso protocolo, a produção orgânica nada guarda de ideologia. Seu intuito é comercial, atendendo aos nichos de mercado constituídos por consumidores mais exigentes e mais ricos, capazes de pagar seu elevado preço. Essa característica advém dos modestos níveis de produtividade com que opera, resultado das tecnologias brandas que utiliza. Por essa razão, fora das quimeras, ninguém imagina que o cultivo orgânico seja capaz de alimentar a humanidade. Não no horizonte atual.

Nisso derrapa o Planapo da presidente Dilma Rousseff. Seus propósitos, positivos no estímulo de formas mais amigáveis de produção no campo, se diluem em seu recheio ideológico, condenando-o ao fracasso. Agora, perigosa mesmo é uma mamata escondida em suas ações. Nele existe uma fabulosa quantia, de R$ 100 milhões, destinada até 2015 ao "fortalecimento de redes de agroecologia, de agroextrativismo e de produção orgânica". Sabe-se lá o que significam essas "redes". Cheira a dinheiro público a ser liberado via convênios para entidades, algumas meio fantasmas, criadas para viverem à custa do erário.

Velha esperteza disfarçada na causa ecológica.

*Xico Graziano é agrônomo, foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. 

Saiba mais sobre o autor desse conteúdo

Xico Graziano    São Paulo - São Paulo

Consultoria/extensão rural

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Comentários

sergio saretto

Sobradinho - Distrito Federal - Produção de caprinos de corte
postado em 12/11/2013

Esse negocio de dar terra pra quem não tem nada é uma grande bobagem, terra sem investimento não rende nada, seja organico ou convencional. Já vi muitos exemplos de assentamento rural onde pegam um monte de gente que não tem nada e bota numa terra que sem trabalho e conhecimento tecnico nada produz, o que acontece é que este cidadão explora todos os recursos naturais que ele puder e abandona ou vende a terra. Ecologia só faz sentido para quem tem dinheiro. O miseravinho não ta nem ai com qualquer coisa de ecologia quando a barriga ronca. Este pessoal precisa de estudo, formação tecnica e não de terra. Quem tem que ser incentivado a produzir , mesmo que pequeno, organico ou não é quem tem condições de fazer isso seja ele do campo ou da cidade.Vejam o exemplo de portugal e o movimento do "novos Rurais' Pessoas com capacidade tecnica que volta ao campo. Não adianta dar terra para analfabetos e pobres. Este precisam é de emprego e não de terra. Só com uma enchada já não se produz pra viver hoje em dia.

Hélio Orlando Menegueli

Santa Maria de Jetibá - Espírito Santo - Consultoria/extensão rural
postado em 20/11/2013

Bom dia nobre Colega Graziano.

Sou agrônomo e pós graduado em agroecologia, não estou aqui, fazendo defesa a qualquer sistema dito por vc de "alternativo", que discordo de sua posição. Gostaria que vc fizesse algumas pesquisas sobre o volume de recursos gastos na saúde pública, em nosso falido SUS, em regiões produtoras de monocultura, provenientes da má gestão da quimificação da agropecuária como vc diz.
Gostaria que vc analisasse a cadeia produtiva agropecuária, que comprova, que o nosso problema, não é na produção, mas sim, a falta de inovação no pós colheita e nos intermináveis  elos da cadeia produtiva.
Gostaria que buscasse informação a respeito da isenção de tributos nos produtos fitossanitários, com certeza chega a muito mais que míseros R$ 100 milhões de reais.
Gostaria que fizesse uma incursão aos produtores familiares, que produzem quase tudo, que vc consome no seu  dia a dia.
Portanto, antes de criticar uma iniciativa, deveria buscar meios para monitorar  e fiscalizar sua implementação.
E estudar melhor o PLANAPO, pois, este sim da um norte para somar com os diversos movimentos e públicos citados por vc, inclusive, para aqueles marginalizados nas políticas públicas atuais, como os pequenos empreendedores, que não são  classificados como agricultores familiares.

Att.
Dir. Executivo Hélio Orlando Menegueli

augusto comunien

Belo Horizonte - Minas Gerais - engenhari
postado em 21/11/2013

Deus do ceú, quanta conversa mole.... não leva a nada! O xico em parte tem razão no que diz... Somente sei que estou arrochado....
Sr Sarreto.... esta com os pés no chão, matou a cobra e mostrou o pau.... heheh

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