Situado na divisa com o Chile, o Parque Nacional Nahuel Huapi ocupa uma vasta superfície de 717 mil hectares, o dobro da área paulista protegida na Serra do Mar. Iniciado em 1904, mais tarde ele cresceu e se tornou uma unidade de conservação ambiental, a terceira no continente americano. O Brasil criou seu primeiro parque florestal em 1937.
Típica biodiversidade se esconde nos lagos, montanhas e vales daquela região linda e delicada, emoldurada pela Cordilheira dos Andes. No inverno a paisagem se pinta de branco, fazendo adormecer o verde. Os turistas brasileiros adoram, claro, essa época do ano, entre julho e setembro. Aprendizes da patinação gelada, milhares de famílias batem o queixo e torcem seus joelhos curtindo o indescritível fenômeno da pluma alva que cai do céu, sonho comum de criança nascida no calor dos trópicos. Irresistível um bom caipira não se emocionar com o encanto da neve.
Mas, quando esquenta o tempo, a vegetação rejuvenesce, florescendo as estepes e a zona andina. Nos bosques predominam ciprestes sombreados pelas copas dos gigantescos coihues, madeira da boa, onde os cervos se escondem da civilização. Com o derretimento do gelo se avolumam os arroyos, canalizando a descida da água líquida para os lagos, atingindo, finalmente, os dois oceanos, Atlântico a leste, Pacífico na vertente oeste. Ciclo da água.
O verão andino, com temperatura média de 15 graus Celsius, valoriza os esportes ligados à natureza. Cavalgadas, trekking, pesca da truta, caça esportiva, canoagem, entre tantos, chamam turistas mais jovens para a região da Patagônia. Nessa temporada sobressai a importância da Administración de Parques Nacionales, organismo público responsável pela conservação do patrimônio natural da Argentina.
Bariloche sedia a Intendência do Nahuel Huapi, o maior dentre todos os 36 parques nacionais argentinos, concentrando 44% dos serviços turísticos oferecidos naquele sistema ambiental. A própria cidade e seu principal centro de esqui, o Cerro Catedral, localizam-se dentro da área conservada, embora pertençam à municipalidade. Tudo ali, porém, funciona integrado. Parque e comércio se combinam na renda, o turismo vive da ecologia, o emprego brota da natureza.
Em 2008, 310 mil visitantes adentraram as cercanias protegidas do parque. Milhões de dólares ingressam e multiplicam a renda na economia do local, onde vivem, aproximadamente, 170 mil pessoas. E que chocolate fabricam!
O passeio pelo imenso lago, cuja profundidade atinge incríveis 460 metros, destaca-se para os turistas mais abonados. Conhecer o Bosque de Arrayanes permite vislumbrar, sobre uma trilha suspensa, uma fantástica floresta de imensas árvores com troncos amarelados, única no mundo. Uma alameda de sequoias magníficas, importadas dos norte-americanos, surpreende a vista na Ilha de Vitória. Passeios tradicionais.
A novidade do turismo patagônio se encontra no incremento do turismo de aventura. E o segredo do sucesso dessas atividades reside na combinação entre a iniciativa privada e o uso público do parque nacional. Atualmente existem 291 permissionários de serviços, um batalhão de pequenos e inteligentes operadores desta nova atração das férias em todo o mundo: o ecoturismo, o valor de desfrutar a natureza.
A grande mudança, na Argentina, ocorreu em 2000, quando a Administración de Parques Nacionales passou para a gestão turística da nação. Até então, o órgão ambiental trabalhava subordinado à agenda da fiscalização e da preservação florestal. Depois, abriram-se os recentes campos do uso sustentável e do ecoturismo, envolvendo até mesmo as populações mapuches, substituindo o conflito indígena pela parceria de negócios. Criava-se um novo paradigma na agenda ambiental.
O Brasil também caminha, embora mais lentamente, nessa direção. Em Foz do Iguaçu há algum tempo se demonstra o acerto do modelo que une turismo e ambientalismo. Aos poucos o Ibama - e agora o Instituto Chico Mendes - se livra dos pruridos do passado e impulsiona o uso público das suas unidades de conservação.
Em São Paulo, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Fundação Florestal, entidade gestora dos parques e reservas, executa um pioneiro programa de ecoturismo nas unidades de conservação.
Nada de descobrir a pólvora. Milhares de pessoas já entram nas impressionantes cavernas do Alto Ribeira, curtem a beleza da Ilha Anchieta, atravessam a Ilhabela pela Estrada de Castelhanos, conhecem o Morro do Diabo. No Jaraguá e na Cantareira, multidões curtem a natureza em meio à selva de pedra. Faltava uma decisão política, agora tomada pelo governo estadual, para turbinar essa visitação.
Proteger áreas naturais visa a preservar a biodiversidade, garantindo santuários ecológicos. Há tempos se afirma que o homem precisa guardar espaços naturais intocados em nome do primitivismo perdido na civilização. Tudo bem. O que não pode é continuar o privilégio do usufruto dessas pérolas naturais apenas pela elite, por pesquisadores e ambientalistas, impedindo compartilhar, de forma ordenada, tal riqueza com a população. Pior ainda, excluir dessa bênção, em nome da preservação ambiental, os povos tradicionais, sejam indígenas, caiçaras ou quilombolas.
Instalar serviços turísticos nos parques florestais ajuda, não atrapalha, a conservação da natureza. Bariloche oferece um exemplo. Turismo de aventura, emoção selvagem sem gripe suína.
Marcelo Engel Frattari
Goiânia - Goiás - Consultoria/extensão rural
postado em 21/07/2009
Xico Graziano, concordo plenamente com você. A melhor maneira de se prezervar um parque, naciona ou estadual, é atrela-lo ao turismo ecológico. porém fasso uma ressalva. Se a administração destes parques ficar a cargo de orgãos publicos como Ibama e Ministério do Meio Ambiente, que são bastante corruptos e politiqueiros, temo que a "vaca vá para o brejo".
Resposta do autor:
Prezado Marcelo Engel Fratari,
Concordo. A vaca precisa estar sadia!
Grato.
Abs,
Xico Graziano