Estamos conhecendo agora os números preliminares do Censo Agropecuário 2006, cuja coleta de dados ocorreu entre abril e outubro do ano passado. O rebanho brasileiro de ovinos e caprinos é de 20,966 milhões de animais, sendo 13,857 de ovinos (66% do total) e 7,109 milhões de caprinos(34% do total). Houve um pífio crescimento de 2% comparado ao censo de 1995/1996 e uma redução de 14% comparada há vinte anos. Todos esses dados, desdobrados a nível de Estado, estão na Tabela 1 - Rebanho e Variação.
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A primeira reação que alguns poderão ter é criticar o IBGE, alegando ineficiência na coleta de dados, propriedades não recenseadas, registros errados, omissão parcial de informações por parte dos pecuaristas, etc. Na verdade todos esses problemas podem, de fato, ter ocorrido. Apenas para exemplificar, o presidente de uma associação estadual me disse que sua propriedade não recebeu nenhuma visita e possui um rebanho com quase 300 animais, o que demonstra que os números jamais refletirão a realidade em toda sua abrangência.
Em termos de estabelecimentos, os que criam ovinos chegam a 435.697 e caprinos 286.553 e o rebanho médio por estabelecimento é de 32 ovinos e 25 caprinos. Importante ressaltar que uma mesma propriedade pode ter várias culturas e lavouras, temporárias ou permanentes, ou seja, uma mesma propriedade pode criar ovinos E caprinos, mas foi contada apenas uma vez.
Na Tabela 2 - Estabelecimentos e Rebanho médio isso pode ser visualizado mais detalhadamente.
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No entanto, sair responsabilizando o IBGE pelas mazelas e problemas da ovino cultura e da caprinocultura, seria o mesmo que culpar a FAO-ONU pela fome no mundo. O IBGE, importante ressaltar, cumpriu sua missão de maneira positiva e exemplar, mesmo com toda sorte de problemas enfrentados num país de dimensões continentais como o nosso.
Além do primeiro grande desapontamento que foi a estagnação do rebanho em menos de 21 milhões de animais, outros destaques, entre alegrias e decepções podem ser observadas num primeiro olhar dos números:
o rebanho ovino do RS caiu 34,5% nos últimos 10 anos, e 60% nos últimos 20 anos;
a Bahia continua no topo do ranking, apresentando um crescimento de 22% no rebanho, comparado ao censo 95/96, com um total de 4,8 milhões de animais;
o estado de São Paulo cresceu 75% no rebanho ovino e 70% no caprino, mesmo com um número absoluto de ovinos abaixo de 600.000 animais;
o DF, com sua pequena extensão territorial, teve um incremento de 308% no rebanho ovino;
Pará e Mato Grosso confirmaram em números o que todos já comentavam: um crescimento, nos últimos 10 anos, de 109% e 102% respectivamente;
o Mato Grosso teve um incremento de 671% nos últimos 20 anos, o maior no período, seguido por Rondônia (367%), DF(280%) e Acre(113%), revelando o crescimento já detectado em parte da região Centro Oeste e Norte do país;
Roraima, estado "novato" no setor, tem o maior rebanho médio de caprinos: 39 animais por estabelecimento, à frente da Bahia (37) e DF(33);
a Bahia concentra mais de 96 mil propriedades trabalhando com ovinos e 57 mil com caprinos;
continua a concentração de caprinos no Nordeste: Bahia, Piauí, Ceará, Pernambuco e Paraíba. Juntos, detem 82% do total do País;
o maior rebanho médio de ovinos é do Rio Grande do Sul, com 79 animais por propriedade, seguido do DF (65 animais) e Mato Grosso do Sul, com 46;
a maior concentração de ovinos continua no RS, com 24% do rebanho nacional, seguido pela Bahia (19,2%) e o Ceará (11,2%);
o Piauí apresenta a proporção mais próxima entre ovinos e caprinos: 47,5% de ovinos e 52,5% de caprinos.
O leite de cabra também foi objeto da coleta de dados. A Produção foi de 21.275 toneladas, 2,85% menos do que as 21.900 toneladas apuradas no censo 95/96. O que assusta é a queda vertiginosa do número de estabelecimentos: de 40.460 em 95/96 a coleta realizada no ano passado registrou 18.008 estabelecimentos, queda de 55% o que comprova, em números, a alta fragilidade apresentada pela caprinocultura leiteira, que salvo honrosas exceções (onde poucos Governos Estaduais mantêm programas de distribuição do produto e seus derivados), encontra-se repleta de problemas de toda ordem.
O Leite de cabra representa 0,1% do leite de vaca, que apresentou uma produção de 21,44 milhões de toneladas, em 1,34 milhão de estabelecimentos. Se colocarmos em bases anuais, a produção foi de 1.181 quilos/produtor ou 98,5 quilos por mês. A pequena dimensão dos números revela a grande dimensão do desafio.
Esperamos que esses dados possam agora ser trabalhados por cada Associação Estadual, desdobrando em microregiões e municípios, de modo a embasar as decisões de produção e apoiando as entidades na demanda de políticas públicas junto aos Governos, Instituições financeiras e entidades de apoio ao setor.
Arnaldo dos Santos Vieira Filho
Araçatuba - São Paulo - Produção de ovinos
postado em 26/01/2008
Caro amigo Ênio,
Parabéns pelo conteúdo da matéria, forma de enxergar e analisar os fatos bem como pelas sugestões de como devem ser conduzidos os trabalhos em nosso País. Abraço, Arnaldo.