Com a implementação do Plano Real em 1994, o governo adotou o regime de câmbio fixo, onde o governo define a paridade Real/Dólar e garante tal paridade. Tal regime tem como vantagem uma maior previsibilidade para os agentes econômicos. Em contra partida exige grandes volumes de reservas cambiais, que serão necessárias no caso de algum ataque especulativo.
No período que vai de meados de 1994 ao início de 1999 houve uma forte apreciação cambial, que era entendida pelos gestores da época como necessária tanto para a estabilização monetária, como para promover maior competitividade da indústria nacional, que seria atingida através de uma renovação do parque industrial, com a importação de maquinário moderno. Também, neste período, o país sofreu várias tentativas de ataque especulativo o que fez com que os gestores da política monetária criassem um regime de câmbio híbrido, chamado de "banda cambial", onde fora da "banda" o regime de câmbio era fixo e dentro da "banda" era flutuante. Tal tentativa não obteve grande sucesso e no início de 1999 o governo não encontrou outra alternativa e foi obrigado a mudar o regime de câmbio brasileiro.
Desde então, o regime de câmbio que prevalece no Brasil é o de câmbio flutuante ou flexível, onde o que determina a paridade Real/Dólar é a velha lei da oferta e da procura. Neste regime, o governo se isenta de controlar ou de definir uma paridade Real/Dólar, é o próprio mercado que se encarrega de tal tarefa. A principal vantagem neste regime é que o governo não é obrigado a manter a qualquer custo uma dada taxa de câmbio. Por outro lado, os agentes econômicos perdem a previsibilidade que o regime de câmbio fixo proporciona.
O Brasil nos últimos dois anos tem sofrido, mais do que outros países, uma forte apreciação cambial. Isso se deve ao aumento de nossas exportações, a uma das mais altas taxas de juros do mundo e ao bom momento que a economia brasileira se encontra. Todos esses fatores fazem com que entrem mais Dólares no país e com isso se gasta cada vez menos Reais para comprar Dólares, "Lei da oferta e demanda". Tal movimento tem algumas conseqüências em nossa economia, uma consequência direta está relacionada com nossa balança comercial, que diante de uma valorização do Real, tende a reduzir o superávit, já que exportamos menos e importamos mais.
Retomando o tema inicial deste artigo, fica então a pergunta: qual a taxa de câmbio ideal? Sob a ótica dos importadores, quanto mais valorizada melhor, pois terão que desembolsar menos Reais para adquirir os produtos para comercializarem internamente ou para produzir novos produtos. Já sob a ótica do governo também é interessante ter uma moeda levemente valorizada, pois com isso tem-se um maior controle da inflação e fornece à sociedade uma sensação de que a sua moeda tem grande poder de compra e isso, principalmente em ano eleitoral tem grande relevância. Para a população em geral, uma moeda valorizada possibilita um maior acesso ao consumo o que tem grande importância. Restam então os exportadores, e estes não estão nem um pouco satisfeitos com a atual taxa de câmbio, pois estão vendendo cada vez menos. Uma moeda valorizada reduz a competitividade de nossos exportadores e com isso eles perdem espaço no mercado internacional, onde a competição é feroz.
Em um regime de câmbio flutuante, portanto, não é obrigatória a definição de uma taxa de câmbio ideal o que irá definir tal taxa é o mercado, ou pelo menos deveria ser. Mesmo com as seguidas reduções da Taxa Selic o Brasil ainda possui uma das taxas de juros mais altas do mundo o que continua tornando nosso país muito atrativo para os investidores internacionais. Outro fator, por mais estranho que isso possa parecer, é que o Brasil está "pagando" o preço do sucesso, ou seja, após a recente crise econômica internacional o país que mais se destacou pelo pouco efeito da mencionada crise foi o Brasil e com isso se tornou uma excelente opção de direcionamento de capitais. Aliado a isso se tem o tão sonhado "grau de investimento" que o país conseguiu neste ano, o que possibilita um leque bem maior de investidores em território nacional.
Resta aos exportadores a busca por uma maior redução dos seus custos, ganhos de escala, pois só assim conseguirão maior competitividade, já que a expectativa futura em relação à moeda nacional é de mais valorização, por tudo que já mencionamos. No entanto, não cabe só aos exportadores a busca pela redução de seus custos, o governo tem papel fundamental em tal processo, reduzindo o "custo Brasil" que onera e muito a competitividade de nossos exportadores. O governo deveria atuar onde realmente pode influenciar diretamente, infra-estrutura adequada para exportação e tributos, assim os nossos exportadores teriam efetivamente como competir com o restante do mundo. Com a redução de tal custo os exportadores não ficariam reféns de uma taxa de câmbio, a qual o governo mesmo se quisesse não teria como controlar no longo prazo, e poderiam ser efetivamente mais competitivos no mercado internacional e gerar mais empregos e renda em território nacional.
Carlos Eduardo Costa Maria
Anhembi - São Paulo - Instituições governamentais
postado em 02/04/2010
Interessante, este artigo aborda uma questão muito crucial, pois a taxa de câmbio é uma ferramenta de aplicação muito minuciosa comparável ao bisturi na mão de um cirurgião numa operação de alto risco e qualquer deslize, pode fazer, toda a diferença na consolidação de uma economia sustentável. O Brasil como signatário do bloco dos emergentes enfrenta no mercado intenacional(ainda mais sob o jugo da globalização) regras muito bem definidas impostas pelos chamados países do primeiro mundo que implementam medidas nada convencionais para imposição de seus produtos na comercialização internacional, por isso, a necessidade de uma taxa de câmbio que atenda as expectativas de setores tão desiguais e conflitantes é de vital importância para a estabilização da nossa economia.Mais uma vez, parabéns a equipe que permite espaço para artigos de grande nível de reflexão, como este e também ao autor que foi muito feliz na sua exposição.