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Êxodo rural: de volta para o futuro

postado em 09/01/2007

4 comentários
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José Walter da Silva1 e Marcelo Alexandre Correia da Silva2

Brasil, país essencialmente agrícola, no passado, emergente na indústria, na tecnologia e no comércio, passa, na atualidade, por uma interessante transformação, na qual o Agronegócio se impõe como uma solução para a renda nacional, assim como para a resposta ao mundo, enquanto produtor e exportador de alimentos.

Mas não é qualquer alimento. É alimento de alta qualidade, pois a natureza é nossa grande parceira. Precisamos apenas acelerar a conscientização e provarmos que é possível produzir com insumos naturais, isentos de agrotóxicos.

Iniciado o êxodo rural, por volta da década de 50, tínhamos na cidade a maravilha do viver. Era onde se prenunciava a cultura, o lazer, o trabalho fácil, os produtos de qualidade, educação e saúde, transporte, segurança, moradia, a ausência de intempéries e o conforto em si. Parecia que o sofrimento da roça havia se minimizado, mas o que ocorria, de fato, era o êxodo rural, processo nefasto, responsável por grande parte dos problemas hoje existentes nas cidades, inchadas, refletindo o contrário das qualidades acima.

Parte dessa evasão do campo tem a ver também com o advento da tecnologia agrícola, que se responsabilizou, inclusive, pelo grande incremento da produção rural, até com políticas equivocadas, nas quais as terras foram se concentrando em latifúndios, muitos dos quais mal aproveitados ou explorados sem o mínimo de atenção na ecologia e no meio ambiente. Ainda bem que, por volta da década de 80, este processo perverso de ataque à natureza começou a ser revertido.

Contudo, inclusive na região do Sul de Minas Gerais, de onde se estão externando estas idéias, ainda se provocam desmatamento, seja para agricultura, seja para mineração. Ainda se contaminam os lençóis freáticos com venenos perigosos, ainda se lavram a terra de maneira destrutiva, provocando prejuízos à natureza, mas acredito que também serão esses processos interrompidos em tempo.

A conscientização pela proteção da natureza é crescente e a sociedade, ONGs, assim como representantes dos poderes públicos, vêm assumindo posições de defesa da mesma. Até porque a natureza é justa, mas também cruel na sua correção e quem a prejudicar, seguramente, terá que indenizá-la, às vezes até com a própria vida, ou pior, com vidas de outros.

O Brasil é visto como o celeiro do mundo, marca de muitas décadas atrás, atribuída pelos visionários e futurólogos do passado, que hoje se materializa através de fatos e dados, haja vista a pujança de nossa agropecuária, que vem se pronunciando nos últimos anos, senão vejamos:
  • O Brasil é um dos o países onde mais se fala, mais se estuda e mais se realizam projetos na agropecuária orgânica. Daqui para a próxima década, dificilmente conseguiremos colocar no mercado um produto que não seja especial, através de um processo de qualidade, que não seja orgânico, ou que não seja, no mínimo, rastreado;

  • Possui as terras, o clima e as demais condições necessárias para a alta produção agropecuária e possui não só quantidade desses fatores, as qualidades necessárias para a alta produtividade;

  • Já é o maior exportador de carne bovina do mundo, embora ainda não sejam seus produtos enquadrados no rol dos de melhor qualidade e sofram perseguições de ordem sanitária e também política. Para se ter mais segurança e estabilidade, o processo depende de nós, para as adaptações e cuidados necessários; do governo, no cumprimento de seu papel regulador e fomentador, atuando no mercado internacional;

  • É o segundo maior exportador de carne de frango do mundo, e devido a doenças em outros países, poderá se tornar o primeiro. É importante que se trabalhe fortemente para se evitar problemas sanitários aqui também;

  • É o maior exportador de produtos cítricos do mundo e tem potencial para liderar a exportação de frutas, pois consegue produzir mais, função do clima e melhores produtos, em menos tempo;

  • Parece estar se colocando na liderança da produção e exportação de soja no mundo. Neste flanco, há que se resolver os problemas de genética e de política que envolvem a questão;

  • É dos maiores produtores de algodão e milho e se continuar trabalhando sério, alcançará a liderança nesses produtos e em muitos outros;

  • O Brasil poderá ser o maior produtor e exportador de peixes de água doce do mundo. Ainda é um ramo da pecuária que carece de desenvolvimento, de programas específicos e de mais apoio governamental, para alavancar situação que poderá se assemelhar à bovinocultura O peixe, criado com tecnologia, será tão importante quanto o boi, pois é mais lucrativo, é mais adequado ao consumo humano, é muito mais produtivo e o mundo espera o peixe brasileiro. A capacidade de produção de peixe no Brasil é ilimitada, sem igual no mundo e ainda descobriremos isto;

  • É o maior produtor de café do mundo e não fosse o descuido dos produtores e, principalmente do governo, que não tem política adequada para o setor, seria o país de maior lucratividade no café. Nosso café é de melhor qualidade, é exportado sem qualquer beneficiamento, não tem força junto aos atravessadores e não pratica "marketing" adequado. Há países vendendo nosso café como produto fino, o tendo adquirido a preços de cafés inferiores;

  • O país está na vanguarda mundial, no estudo e aplicação da biotecnologia da reprodução animal. É atuante na bovinocultura, na caprinocultura, na ovinocultura, na suinocultura e em outras atividades;

  • Temos a EMBRAPA, principal empresa de pesquisas do país, outrora aniquilada e quase extinta por um governo inconseqüente e irresponsável, desprovido de caráter nacionalista e despreocupado com a defesa da soberania nacional. É uma empresa que inspira confiança, competência tecnológica de ponta e vai, a exemplo da PETROBRAS, reduzir, consideravelmente os gastos com importações, aumentar as exportações e, principalmente, reduzir a dependência externa, a exemplo do setor petróleo, onde somos auto-suficientes e competimos, mundialmente, em alta tecnologia;

  • Falando em entidades governamentais, o Banco do Brasil, através do Pronaf, vem corrigindo, consideravelmente, alguns problemas de financiamento agrícola, colocando recursos onde ele é aplicado na produção, no desenvolvimento da agricultura familiar, na fixação do pequeno produtor no campo, e evitando a ampliação dos latifúndios e, ainda reduzindo os mega investimentos, muitos desnecessários e custosos ao país;

  • Vêm se pronunciando importantes centros de pesquisas e universidades voltadas para as ciências agropecuárias;

  • Eventos rurais, de importante repercussão, são hoje comuns no país e alavancam o crescimento das atividades agropecuárias, capitaneados por entidades rurais classistas competentes;

  • A agropecuária pode ter a mídia como aliada. A mídia pode ser as artérias onde se divulgam e democratizam a tecnologia, as experiências e os conhecimentos adquiridos e dominados no país;

  • O Brasil é um dos paises com maior potencial em turismo do mundo, atividade que tem em seus afluentes de turismo rural e o Ecoturismo, os principais pilares de seu crescimento, o que mais uma vez remete nossas atenções para o campo. O turismo rural, se bem trabalhado e organizado de forma coletiva, pode ser a peça fundamental na equação que vai equilibrar a atividade agropecuária. Tem mercado certeiro. É de fácil aplicação, mas merece estudo e tecnologia. O turismo rural requer pequeno investimento e produz, dentre os seus benefícios, um "subproduto" importante que é valorização do homem do campo e integração com o setor urbano, que se beneficia com oportunidades de lazer e convivência com a natureza rural;

  • A Caprinocultura e a Ovincultura vêm transformando o nordeste brasileiro, seu berço natural, principalmente nos estados e municípios que têm governantes mais competentes, enxergando que é através do desenvolvimento das pequenas propriedades é que se fixa o homem e a mulher no campo. As demais regiões do país estão se pronunciando na mesma direção, com programas sociais e projetos interessantes, mostrando que estas atividade são mais lucrativas que outros ramos semelhantes da pecuária. Seus produtos são superiores e os mercados são compradores e ainda desabastecidos;

  • Outro aspecto que vem melhorando é a competência das entidades classistas do meio rural, que lida melhor com o cooperativismo e o associativismo, em geral, assim como a participação do terceiro setor também no meio rural. Os sindicatos de produtores rurais são mais atuantes e objetivos na defesa da causa da agropecuária. Tudo isto vem fazendo com que o pequeno produtor, principalmente, possa vender melhor, obter recursos com mais facilidade, comprar melhor;

  • Por atitudes competentes do governo, já temos até "superávit" na exportação de leite e derivados. Anteriormente, o país era importador, a custa do aniquilamento da produção nacional. Ainda há acentuado desequilíbrio na cadeia produtiva e comercial do leite. É inaceitável ver o leite saindo do produtor rural a R$0,50 e chegando a até R$2,00 nas gôndolas dos super mercados, percorrendo um caminho de custos elevados, reduzindo o consumo, prejudicando o consumidor e não incrementando a produção;

  • Falando em competência do poder público, a produção do óleo combustível obtido no meio vegetal e animal, palco da agropecuária, poderá trazer resultados fundamentais para o desenvolvimento brasileiro. Assemelha-se a grandes descobertas no mundo e o Brasil é pioneiro também neste feito;
    Abaixo será comentada a necessidade de se exercitar a gestão empresarial no agronegócio, por menor que ele seja, e entidades como a EMATER, o SENAR e o SEBRAE, trabalham bem a capacitação administrativa e tecnológica e aculturamento da gestão empresarial, no meio rural. O produtor rural, pequeno, ou grande, que quer continuar dependendo de técnicas obsoletas, do clima e não administrar adequadamente, sucumbirá, com certeza!

  • Esta verdadeira revolução, que vem movendo a agropecuária é alentadora e, dificilmente, não arremessará o Brasil para posição de vanguarda mundial pelos fatores acima, assim como em função do movimento que estamos observamos onde os filhos de produtores rurais diminuem a inclinação para estudos de ciências exatas e humanas, de consumo nas cidades, priorizando o ramo de ciências agropecuárias, com foco no negócio rural. Eles deixarão de inchar as cidades e levarão para o campo, sua tecnologia aplicada que, seguramente, incrementará, ainda mais, o desenvolvimento da agropecuária. Desenvolvendo-se o campo, ele atrairá, de volta, aqueles que outrora o abandonaram, em busca de melhores condições de vida, muitos sem sucesso. A melhor condição de vida, seguramente, estará mais próxima da natureza.
Crescendo o setor rural, pessoas serão necessárias pois, por mais que se mecanizem os trabalhos, não há condição de desenvolver uma atividade sem pessoas preparadas para as assumir e levar em frente seu progresso. As máquinas não trabalham sozinhas, não pensam, nem sentem, por mais que se queira enxergar apenas as condições econômicas de um empreendimento rural. A economia crescente no setor rural vai aumentar a renda, as riquezas, a qualidade e aceitação dos produtos e os impostos e tudo isto será aplicado, inclusive nas áreas urbanas.

Outro aspecto visível que traz desenvolvimento é a aproximação do empresário urbano ao empresário rural. Por que falo em empresários? É porque não há mais espaço, seja no campo, ou na cidade, para se gerenciar um empreendimento sem o caráter empresarial. É necessário que cada negócio, pequeno ou grande, seja administrado com todas as metodologias e tecnologias estudadas, como planejamento, "marketing", controles, finanças, recursos humanos etc, como ensina bem o SEBRAE. Se, de um lado, o empresário urbano é especialista em gestão em negócios, de outro, o produtor rural detém conhecimento prático e tecnologia de produção.

É só interagir na troca de atributos, o que fará o produtor rural enxergar e administrar da porteira para fora da propriedade e ao empresário urbano, aplicar seus conhecimentos empresariais no sistema produtivo mais prazeroso que existe, que é o trabalho na terra. Tudo isto, de forma sustentável, agradará à natureza e melhorará a qualidade de vida, propiciando o retorno ao meio rural de seu filho pródigo que, passou a sofrer na cidade, quando buscava, em vão, o conforto que não experimentou no campo. Ser caipira já não é mais ter complexo de inferioridade!

_______________________
1Produtor rural no Rancho das Cabras, em Poços de Caldas, MG (projeto de Caprinocultura de leite, da raça Saanen), Presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cabras Saanen. www.ranchodascabras.com.br

2Professor de Turismo Rural e de Ecoturismo na Faculdade Presbiteriana Gammon, Turismólogo, especialista em ecoturismo - UFLA e mestrando em Gestão Social Ambiente e Desenvolvimento - UFLA.

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Comentários

Jaerdil Oliveira Dutra

Mantena - Minas Gerais - Produção de café
postado em 12/01/2007

Excepcional, lúcido e com visão periférica e de futuro!
Parabéns.

Louis Pascal de Geer

Barretos - São Paulo - Consultoria/extensão rural
postado em 12/01/2007

Olá José Walter e Marcelo Alexandre,

Que bom ler um artigo como este, ressaltando as qualidades e o potencial que o Brasil tem no campo de agronegócios.

Também podemos ser um lider em preservar o Meio Ambiente e começar a punir pesadamente os poluidores e assaltantes da Natureza.

Parabens pelo brilhante texto.

Um abraço,
Louis

Nei Antonio Kukla

União da Vitória - Paraná - Consultoria/extensão rural
postado em 12/01/2007

Para tudo isso, ou seja fixar principalmente o homem no campo com renda, é preciso mais esforço dos entes competentes e trabalhar em cima de educação, educação, extensão rural.

Precisa difundir as tecnologias que hoje estão disponíveis mas que somente agricultores de grande escala usam, pois tem conhecimento e procuram, enquanto que o pequeno produtor carece de informações e a tecnologia muitas vezes para ele não é palpável.

Infelizmente, acho que os órgãos públicos de extensão rural, com algumas excessões, estão com suas estruturas físicas e de pessoal empobrecidas, emperrando a difusão de técnicas para o agricultor, principalmente o pequeno e médio.

Deveria se fazer um trabalho em cima dos jovens rurais, em todos os sentidos, melhoria de renda, aspectos sociais etc pois é assustador ver que na maioria das propriedaes não há sucessão familiar.

Nei Antonio Kukla
Técnico em Agropecuária
Administrador - Espec. Agronegócios

Jocely da Silva Portella

Bagé - Rio Grande do Sul - Pesquisa/ensino
postado em 29/01/2007

Simplesmente EXCELENTE e espero que nossos "timoneiros´ tornem este texto uma bandeira para destravar e alavancar de fato o desenvolvimento de nosso Brasil, chega de bla-bla-bla!. Atitudes, ação já! Não se pode esquecer Abraham Lincol ou tudo o mais não terá futuro.
Cumprimentos de Jocely Portella

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