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Marina contra Ronaldo

Por Xico Graziano
postado em 29/10/2013

19 comentários
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Marina Silva entrou no PSB por uma porta, saiu o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) por outra. Mais que uma decorrência do jogo político, o episódio expõe uma intriga que contamina o ambientalismo brasileiro: alguém, sendo ruralista, pertence ao mal. Terrível preconceito.

A atitude radical da ex-senadora acriana provocou imediata reação do líder ruralista, que acusou Marina Silva de ser "intolerante". O veto político, disse ele, recai sobre todo o setor produtivo, expondo uma visão, ultrapassada, de "inimigo histórico". A Frente Parlamentar da Agropecuária, forte no Congresso Nacional, acusou a líder da Rede Sustentabilidade de praticar o "sectarismo", lamentando a "demonização de sempre". Forte polêmica.

No fundo, o gesto beligerante de Marina supõe existir uma incompatibilidade entre as ideias dos que protegem o meio ambiente e as dos que defendem a agricultura. Válida no passado, hoje em dia essa polarização anda amenizada. Embora haja divergências de pontos de vista, normais numa equação tão complexa, os fóruns atuais de discussão sobre o assunto, em todo o mundo, caminham buscando convergências. Nesse panorama construtivo, eliminar o contendor, como procedeu Marina, expressa uma intransigência negativa.

Há tempos, quando a tecnologia ainda gatinhava no campo, ninguém acreditaria que a agronomia e a ecologia pudessem um dia se aproximar. A contaminação pelos agrotóxicos, o desmatamento desenfreado, a erosão dos solos, entre tantos problemas, configuravam uma tragédia ambiental que parecia irreversível. Todavia, passadas algumas décadas, o controle integrado das pragas, o plantio direto na palha, a proteção dos recursos hídricos, entre outras virtudes, configuram modelos sustentáveis no agro. Firma-se um novo patamar de produção, no qual a agronomia namora firme a ecologia.

Abençoa-os, concretizando seus íntimos desejos, o desenvolvimento tecnológico. Basta verificar a "economia" de novas áreas causada pela elevação de produtividade da terra. Pesquisadores da Embrapa, analisando o período entre 1950 e 2006, calcularam esse efeito poupa-terra na pecuária brasileira. Sua conclusão é sensacional: sem os ganhos de produtividade ocorridos na bovinocultura, teriam sido necessários 525 milhões de hectares a mais para produzir a mesma quantidade de carne. Área maior que a Amazônia inteira.

Todo esse sucesso, real, ainda não foi suficiente para, no mundo da ideologia, sobrepujar o ranço negativo, trazido do passado, que estigmatiza o setor rural como atrasado, depredador. Chega a ser curioso. Muita gente no meio urbano desconhece totalmente a moderna produção capitalista no campo, vendo problemas onde existem soluções. Daí vinga certa utopia regressiva que enxerga a agricultura como dantes, aquelas galinhas caipiras cocoricando no terreiro, canteiros adubados com esterco do curral, vaquinhas ordenhadas à mão, carpição do mato na enxada. Puro bucolismo.

Muito se falou sobre o drama da fome no Dia Mundial da Alimentação, em 16 de outubro. Haveria muito mais famintos, e as pessoas não teriam elevado sua longevidade, se não fosse a revolução tecnológica na agropecuária mundial. Por volta de 1890, quando imperava a produção camponesa, a população mundial somava apenas 1 bilhão de habitantes. Com a urbanização e a industrialização tudo mudou. Começou a explosão demográfica, aumentado a pressão sobre os recursos naturais do planeta.

Nunca custa repetir o óbvio: a fonte básica dos problemas ecológicos está no crescimento da população humana. É das demandas criadas no processo civilizatório que brotam os dilemas contemporâneos entre produzir e preservar, desafiando o conhecimento científico. Vale para todos os setores da economia. Na agricultura, pode-se comprovar que a inteligência dos laboratórios tem conseguido modificar a velha equação dicotômica, trocando o sinal de "vezes" (produzir x preservar) por "mais" (produzir + preservar). Nasce assim, aos poucos, a agricultura sustentável que certamente ocupará o futuro.

Nesse processo de evolução, difícil não é a teoria, mas sim a prática da sustentabilidade. E, nesse ponto, o carimbo negativo de Marina Silva em Ronaldo Caiado atrapalhou. Seu discurso irritado aumentou a cizânia. Ao invés de procurar consensos, favoreceu a divergência. Virou manchete, agradou à turma fundamentalista, mas pouco construiu. Ao grudar em Caiado a pecha de inimigo, destruiu uma alternativa de diálogo. Fechou uma porta.

Imaginem o contrário. Entrando no PSB, que se articulava no apoio à candidatura majoritária de Caiado em Goiás, Marina poderia com ele, alicerçado pelas circunstâncias eleitorais, construir uma ponte sólida, aproximando o líder ruralista de suas ideias ecológicas. Descobriria que o atual líder do DEM, embora famoso pelo ruralismo, é reconhecido neurocirurgião, dá valor à vida humana. Pessoa séria, acompanhou de perto a evolução recente da agricultura no Brasil, jamais deixando de reconhecer a exigência do novo patamar de responsabilidade socioambiental. Nunca aceitou, porém, a imposição de regras, consideradas lunáticas, que violentassem a história dos agricultores tradicionais do País, condenando-os como se fossem criminosos. Sou testemunha desse processo político.

Já pensaram, com seu jeito dengoso, a lutadora ambientalista conquistando o vozeirão ruralista? Teria sido sensacional. Mas não vingou, a oportunidade foi perdida. A intolerância venceu a benevolência, atrasando por um tempo o casamento da agronomia com a ecologia. Os noivos, porém, apadrinhados pela História, não romperam. O amor, e não o ódio, pertence à sustentabilidade. 

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Xico Graziano    São Paulo - São Paulo

Consultoria/extensão rural

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Comentários

Clésio Brentini Branquinho

Pedregulho - São Paulo - Consultoria/extensão rural
postado em 29/10/2013

Pois é Xico, estamos fud............., esta é a possível candidata a presidência do nosso país, e agora pra que lado a gente corre?

Genecio Feuser

Paranavaí - Paraná - Produção de leite
postado em 29/10/2013

Olá Xico! Sempre acertando nas suas afirmações, parabéns. Não gostei e acho que o Brasil não gostou foi o fim do programa na tv terraviva, onde Você e o Otávio traziam  as notícias do campo, temos saudades e esperamos que a tv repense a sua decisão.
Muito Obrigado.

Genecio Feuser

Em tempo: O programa da tarde não substitui a perda do horário que era das 11:00 às 13:00.

Elijá de Arandas Pimentel

Jurema - Pernambuco - Consultoria/extensão rural
postado em 29/10/2013

Acreditar nesses dircursos inovadores? Mas até quando essa fantasiosa inovação vai vingar no Brasil, se em um momento histórico como esse não se dá chance ao namoro como foi citado no texto.
A agricultura sustentável só será construida com o dialógo e não com antigas rinhas como o virtual candidato prega.

Parabéns pelo texto Chico muito bom mesmo!!!

valci jose ferreira de souza

Presidente Kennedy - Espírito Santo - pecuaria de corte/ leite
postado em 29/10/2013

lamentável a falta de conhecimento da d,marina silva,sobre o agro negocio deste Paíse as pessoas que odefendem como oDep Ronaldo Caiado.

Danilo Melo Franco

Unaí - Minas Gerais - Consultoria/extensão rural
postado em 29/10/2013

Com esta atitude a Sr: marina Silva demonstrou não ser a pessoa ideal para assumir algum cargo relevante na administração deste país.  

Waldo Andrade de Matos

Santa Rita - Maranhão - Consultoria/extensão rural
postado em 29/10/2013

Não dá para levar Marina a sério, isso me faz lembrar quando toda a " elite cultural " do Brasil apoiou um semi-analfabeto para a presidência. Deu no que deu.

Martinho Mello de Oliveira

Paranaíba - Mato Grosso do Sul - Produção de leite
postado em 29/10/2013

Parabéns Xico Grasiano pelo excelente panorama que você discorreu acerca do alinhamento perfeito da ecologia com a produção, o qual todos almejamos. Entretanto, não podemos concordar com  o discurso eleitoreiro de alguns candidatos, que acham que tiram vantagem falando mal de um setor tão importante para esse país.

Marcelo Branquinho Pereira

Três Corações - Minas Gerais - Produção de leite
postado em 29/10/2013

As eleições estão aí!!! Pensem bem em suas escolhas!!!

Enaldo Oliveira Carvalho

Jataí - Goiás - Consultoria/extensão rural
postado em 29/10/2013

Mais uma vez o articulista nos contempla com um brilhante artigo, porém discordo com o título, o qual deveria ser MARINA contra o BRASIL.
Esta senhora é a mensageira da fome e da miséria, isto fica claro com suas declarações preconceituosas sobre a produção rural no Brasil. É ela quem representa o atraso quando critica quem produz o alimento que chega à mesa do cidadão brasileiro. O seu discurso obtuso de efeito populista não pode coagir e não coaduna com quem tem uma história de dedicação e luta em prol do setor produtivo, o qual ela trata com tanta vilania.

willian trevizan

Araguari - Minas Gerais - Produção de café
postado em 30/10/2013

Chega de palhaçada,srs PT..precisamos produzir!!!!!!!!!!!
Ronaldo Caiado deve se candidatar a presidente para acabarmos com esta raça PT que está acabando com o País!!!!
Será uma opção excelente para nós produtores....

Carlos Henrique Passos

Araguari - Minas Gerais - Produção de café
postado em 30/10/2013

Muito bom artigo !

Realmente essa briga política não é boa para a política, para o meio-ambiente e para a agropecuária do Brasil. Isso enfraquece o lado que não é PT. Fortalece o MST.

Marina errou ou ela ainda é PT ????!

LAZARO JOSE DA SILVA

Extrema de Rôndonia - Rondônia - Produtor Rural
postado em 30/10/2013

Sou vizinho da D. Marina, aqui também ela encontra resistência, talvez ela esteja em outra esfera onde todos são vegetarianos, comem apenas raízes, cascas e frutos de árvores, onde proteína é veneno letal, mas, talvez um dia ela verá que o frango não vem do Mc Donald's, o leite da geladeira, o arroz, feijão, o trigo só dá em supermercado...  

Gilson Gonçalves Costa

Goiânia - Goiás - Produção de leite
postado em 01/11/2013

Parabéns Xico,
Tenho acompanhado sua trajetória tentando mostrar um pouco de racionalidade aos xiitas ecológicos. Temos orgulho de você. Faço coro ao primeiro comentário, está fazendo falta o programa do TERRAVIVA, o canal de quem planta e cria, DIA A DIA RURAL, no horário do almoço.
O Deputado Ronaldo Caiado é o defensor número 1 do produtor rural e penso que é nosso dever agradece-lo com uma votação bastante expressiva a qualquer cargo que concorra.
Gilson G Costa

Jose Neuman Miranda Neiva

Araguaína - Tocantins - Pesquisa/ensino
postado em 01/11/2013

Prezado Xico Graziano
Seu artigo é extremamente lúcido. Na próxima semana será leitura obrigatória para meus alunos do curso de graduação em Zootecnia e também daqueles dos cursos de mestrado e doutorado da mesma instituição.
Concordo plenamente com seu texto, porém os discursos extremistas infelizmente geram mais votos do que uma boa prosa: longa e educada....

Edimar Gonçalves Carvalho

Guaçuí - Espírito Santo - Insumos para indústria, distribuição e varejo
postado em 02/11/2013

Qualquer comentário nos atuais tempos de hoje, que batem de frente com o aumento de produção de alimento, está indo de contra ao interesse da classe mais pobre brasileira, de contra ao objetivo do governo, de contra aos produtores rurais, e de contra ao interesse do mundo, é hora de somar forças, e não dividir.

nelsomar pereira fonseca

Mutum - Minas Gerais - Produção de leite
postado em 03/11/2013

Ok! é bom que a srª Marina vai falando este discurso contra a produção agropecuária, demonstrando falta de conhecimento ou simplesmente quer agradar alguns setores, que acham que para produzir temos que destruí, e que o leite é produzido em caixinhas, e também que os remédios e vacinas podem ser testados diretos em seres humanos, para defenderem tanto os animais cobaias.
Temos que ser realistas, o campo esta sem mão de obra, com ou sem qualificação, as pessoas querem morar nas cidades, principalmente nas grandes cidades, onde falam que terão mais oportunidades, principalmente de lazer, pois o custo de vida é até maior, pois gastam com transporte, aluguel, agua luz, e no campo este custo não existe, ou é bem menor, podendo ainda criar galinhas, (frango ovos), porcos (suínos), hortas e frutas. Quando o custos d0s alimentos sobem as pessoas da cidade, declaram espantos, esquecendo que para produzir também tem custos, e podem ser muito elevados, etc... indo para as ruas reivindicar melhores oportunidades, esquecendo que a causa do problema é o êxodo rural e a urbanização sem planejamento.
Nelsomar Pereira Fonseca

Bruno Corrêa Machado Rodrigues

Mutum - Minas Gerais - Consultoria/extensão rural
postado em 03/11/2013

Parabéns Xico! Seu artigo aponta corretamente o cenário atual. Todo esse radicalismo só vem nos prejudicando cada dia mais. É uma pena que Dona Marina e seus seguidores não busquem conhecimento e informação pertinentes como seu artigo.

LAZARO JOSE DA SILVA

Extrema de Rôndonia - Rondônia - Produtor Rural
postado em 12/05/2014

Parabéns Chico!
Você nos deu a grande oportunidade abrindo este espaço, como disse o Gilson Gonçálves de Goiania, onde o mesmo mencionou os xiitas ecológicos, é bem isto mesmo, vemos uma imensa multidão com esta postura, sem o menor embasamento ou informação, não conhecem as dificuldades do homem urbano, sem estrutura, sem emprego e que depende da comida barata que vem do campo. A D. Marina que é muito viajada, deve ter visto na europa, o quanto custa apenas uma banana em algum quiosque, se é que lá ela tenha se interessado por isto, coisa que o nosso homem do campo aqui tem de graça. Este meu povo do roça é feliz, apesar dos discursos xiitas ecológicos.  Meus parabéns do Dep. Ronaldo Caiado e a Sen. Kátia Abreu, estes sim,
defendem a produção com todas as suas forças, tem conhecimento e são sabedores de que se o campo cruzar os braços, a cidade sucumbe. Lamentamos que o próprio governo federal não tenha projetos (sem tanta burocracia) que contemple os médios produtores, estes tem que encontrar fórmulas mágicas para produzir, mas, nossa brava gente é imune a todos os obstáculos. PRÁ FRENTE BRASIL!!!

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