O rebanho brasileiro diminuiu significativamente na primeira metade da década de 90, acompanhando uma tendência mundial, devido à grave crise que abateu o mercado da lã e, na Europa, em decorrência também do surgimento da Encefalopatia Espongiforme Bovina - EEB (mal da vaca louca). Houve uma forte retração na demanda mundial de lã, o que forçou os países produtores a reduzir seus rebanhos e modificar o perfil da produção, direcionando o sistema mais para a produção de carne, tornando-o mais flexível diante do mercado.
Como pode ser observado no Gráfico 1, o efetivo ovino brasileiro partiu de um patamar de um pouco mais de 20 milhões de cabeças em 1990 para aproximadamente 14,7 milhões em 1996, mantendo-se relativamente estável desde então. A partir daquele ano, o rebanho cresceu apenas 2,25% até 2004, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, apesar de reduzir o rebanho em quase 25%, o Brasil ainda possui o maior efetivo ovino das Américas, seguido de perto pelo Peru e pela Argentina.
Gráfico 1. Evolução do efetivo ovino brasileiro, em milhões de cabeças.
Os 15,05 milhões de ovinos existentes no rebanho brasileiro estão distribuídos conforme o Quadro 1. A distribuição do efetivo ovino mudou bastante desde 1990. Considerando o ano de 2004, houve um recuo de quase 60% na participação da região Sul e crescimento das outras regiões, com destaque para as regiões Centro-Oeste, Norte e Sudeste. Apesar de 57,85% do rebanho nacional se encontrar no Nordeste, dentre as regiões que apresentaram variação positiva, esta foi a que menos cresceu em pontos percentuais. A queda no efetivo ovino nacional deveu-se à redução do rebanho na região Sul, que ainda decresce, porém, em ritmo menos acelerado. No entanto, um aumento do rebanho é esperado devido às altas taxas de crescimento existentes nas outras regiões do país, como pode ser observado abaixo.
Quadro 1. Distribuição do efeito ovino brasileiro.
A produção brasileira de carne ovina (Gráfico 2) finalmente reagiu em 2004, após 8 anos em situação estagnada posteriores à crise da lã, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e do Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SIF/MAPA). Houve um aumento de 11,6% na produção em relação ao ano de 2003, e para o ano de 2005, baseado no ritmo de crescimento dos abates, estima-se que a produção brasileira de carne ovina alcance 88,1 mil toneladas, com o Estado do Rio Grande do Sul permanecendo como o maior produtor do país.
Gráfico 2. Produção de carne ovina, em mil toneladas.
Ao mesmo tempo, o volume importado de produtos cárneos ovinos (Gráfico 3, incluindo ovinos "em pé" em toneladas de carcaça), diminuiu consideravelmente a partir de 2001, atingindo 4,69 mil toneladas em 2005, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). O Quadro 2 mostra a participação percentual das importações no volume consumido de carne ovina. Observa-se que as importações contribuíram em 3,8% com o consumo interno em 2004, e para 2005, seria uma porcentagem um pouco maior, estimada em 5%. Porém, durante o primeiro semestre do presente ano, já foi importado um volume quase 32% maior em relação ao mesmo período de 2005 (Gráfico 4), demonstrando não só um possível crescimento da participação das importações no mercado interno, mas sendo também, um indicativo de alta no consumo de carne ovina.
Gráfico 3. Volume importado de produtos cárneos ovinos, em mil toneladas.
Quadro 2. Participação percentual do volume importado no volume consumido.
Gráfico 4. Volume importado de produtos cárneos ovinos, em toneladas.
Mesmo com o aumento da produção nacional, existe um déficit (Gráfico 5) de carne ovina no mercado que, segundo as estimativas, tende a persistir, pois a demanda ainda é superior a oferta, dando espaço para as importações. A oferta de carne ovina brasileira existente no mercado está abaixo da capacidade de consumo, no entanto, estima-se que cerca de 80% da carne consumida é de origem clandestina, o que compromete a análise adequada e confiável dos dados.
Gráfico 5. Produção e consumo de carne ovina no mercado brasileiro, em mil toneladas.
Acredita-se que, tanto a produção quanto o consumo, tenham se elevado em 2005, mas ao se analisar o Gráfico 6, é possível observar que o consumo per capita de carne ovina encontra-se estagnado desde 1996 em uma média de 0,46 kg.
Gráfico 6. Consumo brasileiro de carne ovina (kg/hab/ano).
Mesmo com a falta de tradição do brasileiro em consumir e preparar a carne ovina, com exceção do sulista e do nordestino; mesmo com o consumo per capita entre os mais baixos do mundo; e mesmo com a ausência de promoção frente ao consumidor, a produção brasileira é insuficiente para atender o mercado interno. Entretanto, a produção e o consumo apresentam tendência de alta, uma vez que o volume de abates em 2005 cresceu 16% em relação ao ano anterior (Gráfico 7).
Gráfico 7. Volume de abates de ovinos, em mil.
O volume de abates em 2006 chega até o presente momento a 57% do volume total de 2005, superando em 39,6% o mesmo período do ano passado, e como aproximadamente 40% do volume de abates anual se concentra no último trimestre do ano, espera-se que a quantidade de ovinos abatidos em frigoríficos inspecionados em 2006 seja consideravelmente superior ao ano anterior.
A princípio, a análise das informações apresentadas demonstra 3 pontos principais:
- 1.O rebanho brasileiro reduziu em número, mas o perfil da produção mudou, estando focado predominantemente para a produção de carne;
2.O efetivo nacional tende a crescer e as regiões Centro-Oeste, Norte, Sudeste e Nordeste terão um papel crucial nesse crescimento;
3.Mesmo com o aumento da produção de carne ovina, a quantidade demandada é superior à ofertada, favorecendo as importações, que tendem a se elevar em 2006.
Assim como a carne bovina, a carne ovina está inserida no mercado de commodities, e assim, enfrenta e convive com os mesmos fatores inerentes a um mercado deste tipo. Para suprir as deficiências do setor é necessário atuar sobre vários elementos pontuais, envolvendo toda a cadeia produtiva, desde a indústria de insumos até o consumidor.
No entanto, do lado do produtor e do sistema de produção, algumas estratégias poderiam ser mencionadas com o objetivo de garantir expansão, crescimento, competitividade, rentabilidade e sobrevivência, tais como:
- 1.A profissionalização, concebendo a propriedade rural como uma empresa;
2.O uso de conceitos, técnicas e ferramentas de gestão;
3.O ganho em eficiência nos processos produtivos;
4.A gestão de custos;
5.A adoção de sistemas que forneçam produtos diferenciados, como, o cordeiro superprecoce e o cordeiro orgânico;
6.O aumento quantitativo e qualitativo do rebanho e da produção, por meio da incorporação de tecnologia, de forma a melhorar os índices zootécnicos e elevar a escala de produção;
7.A verticalização, com a criação de marcas comerciais;
8.A mobilização de produtores, por meio de associações e cooperativas, para compra de insumos, abate da produção e/ou venda da produção;
9.E finalmente, a promoção e marketing da carne ovina frente ao consumidor e ao mercado como um todo.
A cadeia da carne bovina pode nos ensinar lições valiosas. Aprendamos com ela!!
Rodrigo Gregório da Silva
Araguaína - Tocantins - Pesquisa/ensino
postado em 19/07/2006
Gostaria de parabenizar o colega pela ótima apresentação dos resultados apresentados nesse artigo. Foram de grande valia no enriquecimento dos nossos conhecimentos sobre perfil e tendência do mercado de carne ovina. Parabens!
Rodrigo Gregório da Silva
Engº Agrônomo
Mestre em Zootecnia