O meio ambiente é assunto recente na História da humanidade. Um impactante relatório, intitulado Os Limites do Crescimento, publicado em 1972 pelos especialistas do Clube de Roma alertava para o colapso nos recursos naturais. Foi um marco teórico. No mesmo ano, a ONU promoveu a Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente Humano. Representantes de 113 países recomendaram, pela primeira vez, a utilização de políticas públicas em defesa do meio ambiente. Governos entraram na briga.
Antes disso, cientistas e entidades civis já se movimentavam pela causa ecológica. A primeira ONG, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), surgiu em 1947, na Suíça. No Canadá, apareceu em 1971 o Greenpeace. O agrônomo José Lutzenberger, na mesma época, formou a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan). Logo depois, José Goldemberg e Fábio Feldmann despontaram com sua luta idealista.
Dois livros cumpriram papel fundamental na tomada da consciência ecológica. Primeiro, o impressionante Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, publicado em 1962. Sua contundente crítica contra a contaminação por agrotóxicos dos pinguins da Antártida varreu o mundo. A vida do planeta estava ameaçada. Segundo, o marcante ensaio População, Recursos e Ambiente, escrito por Paul e Anne Ehrlich e publicado em 1970. O foco crítico dos cientistas norte-americanos recaía sobre as nefastas consequências da explosão demográfica. Assim se inicia o livro: "... essa massa humana ameaça destruir a maior parte da vida no planeta. A própria humanidade está agora muito próxima da destruição total". Apavorante.
Obviamente, os donos do poder reagiram a essas posições, amenizando-as. Influenciado pelo catolicismo, até hoje o ambientalismo menospreza a demografia. Mas a questão ambiental entrou, para não mais sair, na agenda do desenvolvimento mundial. E os resultados da luta começaram a aparecer. Uma década após as denúncias de Rachel Carson, os perigosos inseticidas organoclorados, extremamente contaminantes, como o DDT e o BHC, começaram a ser mundialmente banidos. Grande vitória.
O então chamado Terceiro Mundo demorou a participar da agenda ambiental. Justamente o Brasil capitaneou a posição conservadora dos países periféricos. O governo militar da época defendia claramente o "direito de poluir", incentivando as empresas "sujas". Importava o progresso material.
A opinião pública, todavia, exigia a tomada de decisões. Em 1974 o eminente Paulo Nogueira-Neto assumiu, no âmbito federal, a Secretaria Especial de Meio Ambiente. Em São Paulo, Franco Montoro criou, em 1983, o Conselho Estadual do Meio Ambiente, germe da atual secretaria de Estado. O ambientalismo oficializava-se. Até desaguar na Conferência da ONU realizada no Rio de Janeiro em 1992. Avançavam os compromissos.
Percebe-se que o mundo descobriu há pelo menos quatro décadas o problema ecológico. E, aos trancos e barrancos, resolveu enfrentá-lo. Os céticos, ou pessimistas, valorizam o fracasso e continuam vendo o fim do mundo. Os crédulos, ou otimistas, destacam o sucesso e enxergam o futuro promissor. Quem tem razão?
De certa forma, ambos. Veja-se o caso das florestas. Em São Paulo se anuncia a proteção do cerrado remanescente e a recuperação da vegetação ciliar de mata atlântica. Uma página virada no desmatamento. Mas em outros locais, principalmente no bioma da Amazônia, as portas da derrubada florestal continuam abertas. Arde a motosserra.
O Rodoanel de São Paulo expressa a moderna fase da agenda ambiental. Concebido para aliviar o trânsito da capital, reduzindo a poluição atmosférica, seu soerguimento causa fortes impactos na região dos mananciais. Por isso, no licenciamento ambiental, exigências e condicionantes foram rigidamente definidas, visando a mitigar ou compensar tais prejuízos sobre a biodiversidade e os recursos hídricos. Resultado: o zelo ambiental tornou o Trecho Sul do Rodoanel um exemplo para a engenharia brasileira.
Há quem não acredite nessas informações positivas. Esse é o ponto a destacar. Ronda a questão ambiental um problema de comunicação. Sempre sobressai a notícia ruim, o lado negativo. Faz parte da origem. O ambientalismo iniciou-se como denúncia das mazelas do crescimento. Era preciso aparecer, chamar a atenção, subir em árvores para que não as derrubassem.
Esse denuncismo até hoje permeia o movimento ambientalista. Primo do discursismo e parente do sensacionalismo, ambos se alimentam das desgraças para sobreviver. Uma nova fase, porém, se cristaliza entre as organizações e lideranças do terceiro setor: o ambientalismo de resultados. Significa menos conversa, mais gestão. Difícil para quem se acostumou a gritar, mas absolutamente necessário para concretizar os sonhos da mudança civilizatória. Ação efetiva.
Existe ainda muita lição de casa a fazer, no lixo, no esgoto, no desperdício, na energia limpa. A luta dos ambientalistas, entretanto, certamente é vitoriosa e qualquer ganho na agenda ambiental deve sempre ser comemorado, todos os dias. Embora com sofreguidão, constroem-se as bases do novo desenvolvimento. Brota o mundo sustentável.
Falta uma tarefa, a maior de todas, para impulsionar o processo: investir fortemente na educação ambiental das crianças. Mudança de valores, com novas atitudes, somente se consegue dando prioridade à sala de aula, com professores conscientes e valorizados.
Demora uma geração, mas fica irreversível...
Fernando Enrique Madalena
Belo Horizonte - Minas Gerais - Pesquisa/ensino
postado em 03/06/2009
Parabéns pela liderança! Quem gosta dos filhos e netos tem que igualar a defesa do meio ambiente aos esforços pelo progresso econômico e social.