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Em épocas de inflação ninguém liga para os brioches franceses, mas todos nós ficamos de olhos bem abertos para o pão com manteiga e para o cafezinho com leite. Com certeza, o preço da cesta básica do brasileiro é um índice importante para medir os avanços do dragão da inflação. Por sua vez, a mídia reflete estas preocupações, e o instinto jornalístico não falha: vamos à fonte. E vamos bater à porta dos produtores rurais.
Os exemplos recentes são diversos e passam dos famigerados tomates até o feijão nosso de cada dia, pincelando com aromas de café e de pãozinho. O apelo noticioso varia conforme a disposição da mesa dos brasileiros. Se for ao jornal da manhã, o café com leite e o pãozinho vestem suas máscaras de bandidos de faroeste. E vamos às cenas de vaquinhas felizes. Nada mais oportuno, pois o pai de família acabou de chegar da padaria da esquina e percebeu que mais moedinhas foram usadas para pagar a conta. Se for ao meio dia, os tomates de ouro dão seu ar da graça enquanto a dona de casa prepara o almoço. E a reportagem mostra o produtor contratando seguranças para seus galpões.
Não é crueldade com nosso sofrido agricultor, é notícia. E se é notícia, precisamos refletir sobre ela, pois mais uma vez é a imagem do agro brasileiro quem está pagando a conta. A sociedade não está interessada se no ano passado os tomaticultores tiveram prejuízos enormes devido a uma supersafra, ou se as chuvas fora de época causaram perdas em polos produtores. Porém, se o governo anuncia que irá aumentar o preço mínimo do café para balizar o mercado em franca decadência, a conta começa a não fechar. Se o preço do cafezinho subiu no balcão, porque aumentar?
E os economistas do governo fazem jogo duro com os técnicos do Ministério da Agricultura. Os gráficos da queda do preço do café no mercado internacional e doméstico são claros, porém, os gráficos da cesta básica (da qual o café faz parte) são mais alarmantes e vão impactar no índice inflacionário ao final de mês. E as notícias no jornal da manhã não serão agradáveis.
Neste jogo de quem apaga o incêndio mais rápido pouco se fala das questões estruturais. E mesmo quando se discute o tema, falamos apenas em estradas, ferrovias e portos. Ou então, sobre como os caminhões de soja atrapalham o trânsito nas estradas brasileiras. Sim, o agro brasileiro precisa de logística para escoar suas supersafras, mas precisamos falar de algo tão fundamental quanto.
Um problema crônico hoje é a estrutura de produção dentro das lavouras brasileiras. As ilhas de excelência de soja, milho, algodão, etc., são exceções à regra. Devemos exaltar os profissionais (agricultores e técnicos) que constroem oásis de desenvolvimento em terras inóspitas. Mas não podemos fechar os olhos para uma gigantesca massa de pequenos e médios agricultores e pecuaristas que não possuem acesso à tecnologia e à assistência técnica de qualidade. E não podemos deixar de falar de uma gigantesca ferramenta de apoio que hoje está sucateada: o crédito rural. Os agrônomos e zootecnistas foram excluídos do sistema de crédito dos bancos oficiais. Agora é o gerente quem decide quem pode ou não receber dinheiro para custeio ou investimento, de acordo com seu “perfil” e lógico, movimentação bancária e de “produtos” do banco. As entidades de classe estão mudas.
Estas constatações não são novidade para quem conhece o agro brasileiro. Muitos de nós conhecemos de perto assentamentos de pequenos produtores que não funcionam por não terem condições básicas de conhecimento e tecnologia. Ou de médios produtores que retiram dinheiro de outros negócios para bancar prejuízos no leite e no café. Porém, quando existe suporte e crédito responsável, o “milagre” das ilhas de excelência acontece. Sabemos que não é milagre. É trabalho duro, e com propósito claro.
A política de apagar incêndios não funciona para controlar a inflação. Produtores capitalizados, com suporte técnico adequado não ficam à mercê de bolhas de preços altos. São produtivos de forma constante, investem de forma adequada e não deixam faltar à mesa dos brasileiros produtos da cesta básica. Cafeicultores capitalizados, e com produtividade alta, possuem gestão de riscos e de qualidade. E quando investimos em tecnologia, assistência e crédito responsável, retiramos do mercado os ineficientes que não conseguem retorno da atividade e com baixa produtividade inundam o mercado de tempos em tempos, jogando os preços para baixo e prejudicando os eficientes. Precisamos falar disso.
Isto não é notícia. É dever de casa para refletir. Quando vierem com extintores de incêndio, vamos solicitar apoio para contratar bombeiros e engenheiros para evitar que o fogo apareça. E claro, vamos trabalhar para que o preço da cesta básica vire o mocinho das histórias dos jornais da manhã, tendo a certeza de que nossos produtores conseguem fechar suas contas no fim do mês. O combate à inflação é dever de todos.
Foto abaixo: do Jornal "O Tempo" de hoje, 04/06/2013.
"Após tomate, batata e mamão são os novos vilões da inflação"
Fonte: http://www.otempo.com.br/capa/economia/ap%C3%B3s-tomate-batata-e-mam%C3%A3o-s%C3%A3o-os-novos-vil%C3%B5es-da-infla%C3%A7%C3%A3o-1.657316
Hermenegildo de Assis Villaça
Juiz de Fora - Minas Gerais - Pesquisa/ensino
postado em 06/06/2013
Talvez, o maior gargalo no agronegócio, dentro e fora da porteira está na falta de G E S T Ã O, eficiente.
Para tal existem os MBA da vida,alguns já específicos para o assuntos rurais.