Todos os tipos de leite têm quase a mesma quantidade de componentes, a variação de % de um ou outro item, chegando a valores perto de 0,1. Para quem não conhece, estes valores são pequenos e sem importância. Mas, para uma pessoa que tem, por exemplo, deficiência em cálcio, potássio ou fósforo faz uma enorme diferença a ingestão de alimento com maior concentração e possibilidade de absorção destes minerais.
No capítulo 1 (clique aqui para ler) coloquei dados coletados de consumidores de leite de cabra com idade inferior a 7 anos. Agora vou expor uns dados de clientes adultos e de crianças maiores, que consumiam não só o leite de cabra, como também os queijos, iogurtes e outros derivados:
O cliente da ficha 53 era um rapaz de 30 anos, extremamente magro, que fumava muito. Por indicação da médica que estava fazendo o acompanhamento do seu tratamento para alcoolismo, ele começou a tomar o leite de cabra, como forma de auxiliar na absorção dos nutrientes da alimentação. Ele mesmo explicava o seu problema para qualquer pessoa que encontrava quando vinha comprar o leite.
Fazia questão de enaltecer as qualidades do leite, pois somente depois de iniciar o consumo é que ele não perdeu mais peso, sem os incômodos vômitos devido aos remédios. Alguns meses depois, começou a engordar e já não sentia os enjôos e já estava até pensando em fazer um outro tratamento para deixar de fumar.
A ficha n° 18 era de um senhor com mais de 60 anos, taxista, que trabalhava muito e tinha grandes problemas gastrointestinais. Sofria de azia, má digestão, dor abdominal constante, por alimentar-se incorretamente, comendo muitas gorduras, carnes e salgados fritos de bar. O leite de cabra foi indicado por vizinhas mais velhas. Depois de alguns meses de uso do leite, veio pessoalmente falar comigo e dizer que se não fosse este tratamento "caprino", ele teria se aposentado.
Na ficha n° 22 encontramos um rapaz de 30 anos que sempre teve alergia ao leite de vaca, e nunca podia comer queijos ou tomar um copo de leite. Ele gostava demais de queijos e era impossível comer até mesmo uma lasanha ou pizza. O leite ele deixou de tomar para sempre e quando começou a consumir os queijos de cabra e não sentiu nenhum desconforto digestivo, ficou muito contente. A esposa encomendava os queijos e vinha buscar a cada 15 dias. Eu fazia especialmente para ele, queijos "parecidos" com os que tinham no supermercado e que poderiam ser usados em lasanhas e pizzas: prato (colocava até corante de urucum para deixar mais amarelo), mussarela, reino e frescal.
Um rapaz de 16 anos, da ficha n° 19, foi o meu cliente mais antigo, assíduo e que até hoje toma leite de cabra. A mãe dele comprava 4 litros por semana, porque "o menino tinha que tomar o leite pela manhã e pela noite" dizia ela, "senão que adulto ia se tornar?" Eu gostava muito de ouvir ela falar isso. Agora muitos anos depois, quando nos encontramos, ela diz que graças ao leite, o "menino" dela cresceu, pode estudar e trabalhar sem incômodos dos transtornos digestivos, e até hoje ele consome o leite regularmente, pela manhã e pela noite. Um detalhe, o "menino" tem hoje 1,95m de altura.
Um caso bem interessante é o da ficha 29. Uma família com pai, mãe e 2 filhos com 8 e 10 anos, o cliente vinha comprar o leite todo ano, do mês de maio a julho. Ele dizia que a família tomava o leite nessa época para evitar que no inverno a bronquite que todos tinham ficasse pior, acompanhada de resfriados e gripes. Era um preventivo. Tomavam o leite como remédio, em copinhos de 50ml 3 vezes ao dia, todos.
Tenho historias de muitos outros clientes com problemas pequenos, graves, ou sem problema nenhum, que simplesmente gostavam muito do sabor do leite, dos iogurtes, do doce de leite, dos diversos queijos e até dos remedinhos caseiros, aqueles de nossas avós, que eu dava a receita.
Estes casos são de pessoas que consumiam o leite para um fim específico, como problemas digestivos, respiratórios, dermatológicos, pós-operatório e convalescença. Quando a venda do meu leite passou a ser feita por panificadoras e mercados, eu vi que toda esta historia foi se perdendo. Eu não tinha mais acesso aos clientes e não tive mais conhecimento de quem estava consumindo e para que fim e do sucesso do uso como tratamento, prevenção ou mesmo como alimento. Saiu do meu controle e acredito que perdi dados importantíssimos para a divulgação do leite de cabra e de seus usos.
Sem os dados reais de uso, passei a pesquisar o que já existia de estudo sobre o leite, carne, queijos e outros derivados:
Revendo as pesquisas com o leite de cabra
Muitas pesquisas foram feitas com base nas qualidades do leite de cabra, para comprovar as propriedades e buscar explicações para o uso como remédio:
• Combater a pressão arterial alta: A Embrapa caprinos de Sobral/CE em 2002, através do professor Antonio Silvio do Egito, estava pesquisando a possibilidade da fabricação de um medicamento para combater a hipertensão, utilizando uma proteína do leite de cabra, a caseína. A partir de partes da caseína, haveria a possibilidade de inativar uma enzima que induz os vasos a se contraírem, aumentando, assim, a pressão sanguínea. "Ainda não temos um anti-hipertensivo", ressalta o professor Egito. "O que temos é a possibilidade de esses peptídeos serem utilizados como anti-hipertensivos, mas para isso serão necessários vários anos de estudos." (Instituto Ciência Hoje)
• Estimular a produção de insulina: a insulina é o hormônio responsável pela entrada de açúcar dentro da célula, e para a produção de energia. Com a ingestão do leite de cabra, este processo é potencializado graças a presença de substâncias bio-ativas que estimulam a produção da insulina, além disso, o efeito de rápida digestão, facilita a absorção de seus nutrientes.
• Síndrome da má absorção dos alimentos: os ácidos caprílico, capróico e cáprico são encontrados na gordura do leite de cabra, duas vezes mais que no leite de vaca e são indicados para pessoas com problemas na absorção dos nutrientes dos alimentos e nos distúrbios intestinais.
• Elevados teores de vitamina A: não existe no leite de cabra o pigmento B-caroteno, a cor amarela do leite de cabra, mas a Vitamina A aparece com 1850 UI a 2264 UI de retinol, que ajudam a manter esta vitamina no organismo evitando a ocorrência de doenças degenerativas da visão, reprodução, pele e perda de funções orgânicas.
• Rápida absorção: As partículas de gordura do leite de cabra são de tamanho reduzido em relação ao leite de vaca. Com isso, o leite é rapidamente absorvido, em cerca de 40 minutos, enquanto o leite de vaca demora, em média, de 2 horas, deixando menos resíduos no intestino, evitando assim fermentação, formação de gases, má digestão, constipação, etc. Também possui capacidade tamponante. Para quem precisa de uma rápida reposição e aquisição de nutrientes, o leite de cabra é uma ótima alternativa, o leite de cabra é alcalino, como o leite materno. (A criação da Cabra & da Ovelha no Brasil, p72 e 73)
• Alergia ou intolerância ao leite de vaca: este distúrbio ocorre pela deficiência na absorção da proteína que é feita no intestino. Quando é fornecido o leite de vaca ao bebê muito cedo, o intestino não está preparado para esta absorção e causa inúmeras reações de pele, gastrointestinal, respiratória e cardiovascular. Neste caso, o pediatra constata o distúrbio alimentar logo e recomenda a substituição do leite de vaca por leite de soja, ou por outro leite modificado e só em último caso pelo leite de cabra.
Os principais sinais e sintomas da alergia ao leite de vaca são:
• Pele: urticária, rubor, dermatite atópica.
• Gastrointestinal: prurido ou edema de lábios, náusea, dor abdominal, vômitos e refluxo, diarréia, obstipação intestinal, hemorragia.
• Respiratórios: prurido nasal, espirros, edema laríngeo, tosse rouca ou disfonia, chiado, tosse crônica.
• Cardiovascular: hipotensão, choque, desmaio, vertigens.
Na prática clínica dos pediatras observou-se que aproximadamente 6% das crianças tem sintomas de alergia ao leite vaca. O pediatra destaca que diarréias, otites, bronquites, erupções cutâneas e corrimento nasal ocorrem pela presença em grande quantidade das proteínas Alfa S1 - caseína e Beta lacto-globulina. O leite de cabra apresenta apenas traços da primeira e não contém a segunda, tornando-se uma das principais opções para as crianças com essa sintomatologia.
Problemas digestivos: isto devido a sua composição, diminui a acidez e contribui para a cicatrização das paredes do estômago nos casos de úlcera, gastrite e desconforto. Como o leite de cabra é mais conhecido como remédio, vamos divulgar estas pesquisas e outras que existem, para que ele seja cada vez utilizado. Talvez, depois que estas particularidades do leite forem bem conhecidas, poderemos divulgar o outro lado do leite: como alimento saboroso, matéria prima de iogurtes, queijos, doces, todos finos, delicados, e que qualquer indústria brasileira pode fabricar e colocar no mercado, com aceitação garantida.
Ana Gabriela Pombo Celles Cordeiro
Campina Grande - Paraiba - Estudante
postado em 16/08/2007
Adorei a matéria e acredito na divulgação do leite de cabra por suas qualidades.
Resposta da autora:
Cara Ana,
Agradeço a msg. Com a ajuda de todos da nossa área, vamos conseguir fazer do leite de cabra mais que um remédio, um alimento aceito e consumido por grande parte dos brasileiros.
Neyd Maria Makiolka Montingelli
Curitiba/Pr