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O leite de cabra - Capítulo 4

Por Neyd M M Montingelli
postado em 16/10/2007

7 comentários
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Eu fui muito feliz na minha criação de cabras. A atividade trouxe-me alegrias, prazer, lucros, prejuízos, trabalho, cansaço. Mesmo pensando nos problemas que tive, o saldo foi muito bom. Com o conhecimento que tenho hoje, jamais recomeçaria minha criação da mesma forma. Agora eu iria fazer um planejamento, um estudo de viabilidade econômica, comercial e de aceitação do público.

Hoje em dia, com a divulgação, com a estruturação das Associações de Criadores, com a implantação de tantas empresas de assessoria e de informação, os que iniciarem esta atividade terão ao alcance todas as ferramentas para fazer um planejamento e determinar as necessidades básicas, sem desgaste.

O início da minha criação foi muito especial. Gosto de lembrar dos momentos divertidos, dos sustos, das vendas, dos amigos clientes e dos clientes amigos. A aquisição das primeiras cabras foi pitoresco e especial, e acho divertido compartilhar com todos o que aconteceu.

Em 1992, eu e minha família mudamos para a casa que nasci, que recebi de herança. Tem um terreno grande, com um bosque. Apesar dos meus esforços, o mato tomava conta de todo o terreno. Eu já estava ficando cansada de lutar com o mato. Conversando com minha mãe, "chorei pitangas" e disse que não sabia mais o que fazer, que eu precisava de uma roçadeira bem grande para dar conta de todo aquele mato. Minha mãe disse que ia dar um jeito e que iria mandar a "roçadeira" para mim. Fiquei mais contente.

Alguns dias depois chegou um caminhão em minha casa e o motorista disse que estava trazendo uma encomenda, enviada pela Dona Farid. Fui toda contente receber a "máquina" que acabaria com o meu sofrimento!

Tal não foi minha surpresa quando o homem retirou do caminhão 1 cabra e 2 cabritinhos amarrados com uma corda bem suja. Não adiantou perguntar, o motorista dizia que foi minha mãe que mandou.

Liguei imediatamente para minha mãe, que disse:

- Você não queria uma roçadeira? Esta vai dar conta de todo o mato, você não precisa fazer força e ainda dá um leitinho!

Começou então o meu "caso" com a caprinocultura. Eu não sabia nada de criação de cabras. Nem sabia o que elas comiam!

O motorista do caminhão disse que eu não precisava "de incomodação, as cabras se viram sozinhas". Era só eu amarrar a mãe no meio do mato que ela "buscava o sustento". Achei muito estranho. Como um animal iria sozinho achar o que comer? Eu achei que deveria cortar e picotar o mato para ela comer. Que engano! No mesmo dia a cabra "roçou" um pequeno pedaço do terreno, comendo até o chão aquele mato que tanto me incomodava.

Os cabritinhos então, acompanhavam a mãe e mamavam o dia inteiro. Um vizinho veio ver as cabras e disse para eu dar "uma quarta" de milho por dia, para aumentar o leite. Bom, primeiro eu tive que descobrir o que era uma quarta, 250g, depois achei que jogando o milho no chão, como se faz com as galinhas, ela gostaria muito.

Engano novamente. Descobri que esta e todas as outras que tive, não gostam de milho pisado, jogado no chão. Tanto a ração, milho ou feno tem que ficar no cocho, longe do chão, pois não comem o que foi pisado ou babado pelas outras.

Como eu gostei da companhia da família caprina, achei que deveria conhecer mais a respeito da criação como alimentação, doenças, parto, etc. Achei o telefone da Associação dos caprinocultores do Paraná-CAPRIPAR, e fui participar de uma reunião, na mesma semana.

Como eu trabalhava na Caixa Econômica Federal e estava tão interessada na criação, que saí da reunião como tesoureira da associação, pois entrei bem na época de votação da nova diretoria. Fiquei alguns anos neste cargo e em outros, aprendi muito com os associados que tornaram-se amigos. E, naquela semana aprendi que deveria cuidar para que os cabritinhos, 2 machos, não cobrissem a mãe, pois eles são muito precoces. Achei isso demais para a natureza e não acreditei. Mal sabia que já havia acontecido.

Na sexta feira seguinte chamei um veterinário para examinar a mãe e os filhotes. Ele fez um exame superficial e disse que estava tudo bem. Perguntei o por quê daquelas bolas grandes de um dos lados da barriga dela. Ele disse que era o estômago cheio. Achei então que era normal.

No domingo cedo, amarrei a cabra que já tinha nome muito criativo "Bita", e seus filhos para pastarem. Entrei em casa e minha filha veio gritando, dizendo que cabra estava passando mal. Quando cheguei perto dela tive a surpresa mais agradável da minha atividade: presenciei o nascimento de cabritinhos.

Fiquei boba ali, olhando a bolsa escorregar e lá dentro o cabritinho com o olho aberto dar uma espécie de pulo, estourar a bolsa e ficar deitado no chão, até a mãe virar-se e começar a limpá-lo, lambendo avidamente todo o seu corpinho. Neste momento, toda a família estava em polvorosa: o marido foi buscar (colocar para carregar) a filmadora para registrar o acontecimento e um pedaço de carpete, pois disse que ela não poderia ter os filhos na terra; a filha mais velha veio com um guarda-sol, dizendo que estava muito sol para ela parir os filhos ali, e eu pedi para a outra filha buscar uns panos para eu ajudar a limpar o bebê (um detalhe, ela pegou os panos de prato mais bonitos da cozinha, com bordados e crochê).

Nasceram então mais dois cabritinhos e eu ficamos ali, de joelhos, vendo a maravilha da natureza agindo, só para o meu deleite. Fiquei tão maravilhada que nem falava. As crianças perguntavam, gritavam, riam e a nossa Bita, muito tranqüila, lambia os filhotes.

Quando os bebês já estavam sequinhos, começaram a ficar em pé e a procurar as tetas daquele úbere rosado e cheio. Eu não sabia o que fazer, mas por instinto ajudei-os na primeira mamada. Algum tempo depois, embrulhei os filhotes nos belos panos de prato e os levei para a casa deles, tendo o cuidado de separar os dois irmãos mais velhos.

Aquele foi um dia especial. A partir daí, a minha paixão pelas cabras apareceu.

A Bita, uma cabra mestiça Anglo com pelagem tartaruga, e seus 5 filhos foram o início de uma criação muito especial. Comprei outras cabras, tomei emprestado alguns bodes para a cobertura, adquiri um bode Saanen premiado, depois troquei por um Tog, vendi, troquei, e no final eu estava com 46 cabras e filhotes, 23 em lactação.

Estudei, pesquisei, aprendi na prática, em cursos, troquei experiência com meus amigos caprinocultores e fui muito feliz. Agora as recordações tem um sabor adocicado de saudade. Um dia retomarei esta atividade e volto a criar as minhas amigas.

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Neyd M M Montingelli    Curitiba - Paraná

Pesquisa/ensino

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Comentários

Rodrigo Carlos Wansovicz

Mafra - Santa Catarina - Produção de caprinos de corte
postado em 16/10/2007

Neyd cheguei ao final de seu artigo com lagrimas nos olhos, sua história lembra bastante a minha. Assim como você, nunca fui criador de animais e o mais próximo que tinha chego de um cabrito até então, havia sido na churrasqueira. E também assim como você sou apaixonado por este animal chamado cabra, a quem costumo chamar de minhas meninas.

Realmente a emoção de um parto é algo impar. Acompanhar o crescimento, ver os bebês virarem cabras e terem seus filhos e todo ciclo ter reinício, conhecer cada cabra por seu nome e ao chamá-las ouvi um bééé e um balançar de orelhas, não tem preço. Espero que logo possa voltar a ter sua criação, realmente o trabalho é árduo mais recompensador.
Parabéns pelo artigo, empolgante como sempre. É sempre muito bom ser seu leitor, e como sempre, ansioso pelo próximo.

Rodrigo

Resposta da autora:
Rodrigo,
Agradeço o comentário. Somente quem passou por estes momentos comoventes sabe o quanto são importantes. Cada vez que conto esta historia fico muito emocionada, lembrando com alegria os tempos em que trabalhava e convivia com esses animais divertidos e brilhantes.

A relação com as cabras fica sendo íntima a ponto de descobrirmos que a nossa amiga não está bem só de olhar! Quantas vezes ao olhar uma cabra com o queixo mais baix que os ombros e já ficou preocupado, pois tinha a certeza que algo não estava bem? É a nossa intimidade e o amor por elas. A forma como nos olham, o berro, a vibração ou a falta dela quando fazemos um carinho já nos informa da sua saúde. E o que fazemos? Corremos atrás dos remedinhos ou chamamos o veterinário.

Casar com um caprinocultor é como casar com um médico: com certeza vai ter que dividir o tempo dele com os pacientes e com os livros. Mas, esta vida de caprinocultor é muito boa, senão não teríamos tantos amigos na área!
Abraços.
Neyd Maria Makiolka Montingelli
Curitiba/Pr

José Oton Prata de Castro

Divino das Laranjeiras - Minas Gerais - Produção de ovinos de corte
postado em 18/10/2007

Parabens Dr. Neyd Maria. Sou pequeno e velho produtor rural, vaca de leite e ovinos de corte. Estou pensando me estruturar para criação de cabras leiteiras, cujo leite será destino á produção de queijos e iogurtes. Gostaria, se possível, contar com sua longa experiênca. Grato José Oton Prata de Castro.

Resposta da autora:
Prezado Sr. José Oton.
Agradeço a visita no site. Com o maior prazer, o que eu puder ajudar, estarei à disposição. Como sou fã dos queijos e derivados do leite de cabra, fico muito contente quando vejo pessoas interessadas a trabalhar com estes produtos. O Brasil tem espaço e comércio para todos estes produtos.

Temos muitos colegas da área que ajudarão com satisfação, pois ninguém é concorrente de ninguém neste enorme país. Entre em contato e felicidades na nova atividade.

Neyd Maria Makiolka Montingelli
Curitiba/Pr

igor lucke

Artur Nogueira - São Paulo - Estudante
postado em 19/10/2007

Olá Neyd!
Muito boa sua história! Tem coisas na vida que realmente acontecem por acaso. Essa história de ter uma cabra como roçadeira eu conheço bem. Sempre quiz colocar uma na minha república para tomar conta do "mato" (que na verdade era uma excelente piquete de coast-cross), mas a discução tomava conta do recado quando a pergunat era: "o que vamos fazer com ela depois?"

No final da história enchemos o quintal de galinhas, elas deram conta do mato, e o mais importante, ovos... muitos ovos! Elas quebraram um galhão, pois estudante é tudo duro, e os ovos caiam como uma luva! Essa relação com animais é muito importante, é muito bom para qualquer ser humano. E o que nos resta é crescimento como pessoas e muitas saudades de todos os bichinhos.

Parabéns pelas colunas!
Abraço

Igor Lucke

Resposta da autora:
Igor,
Agradeço o comentário.
Como é bom relembrar histórias que fazem parte de nossa convivência com os animais, não é?
Quando esta convivência é prazerosa e lucrativa então!
Estas histórias devem servir de exemplo para muitos. Se conseguirmos divulgar a sua e a minha história, haverá muitas galinhas e cabras pastando felizes por esse Brasil, e seus donos também felizes com ovos e leite!

Neyd Maria Makiolka Montingelli
Curitiba/Pr

Joel Martins

Ponta Grossa - Paraná - Comércio de veículos
postado em 18/01/2008

"Ainda", não sou caprinocultor, tenho contato com animais, para o meu começo acho q estou um pouco em vantagem em relação ao seu começo, mas tenho mto o que aprender, principalmente sobre o mercado, especificamente de leite e derivados. É minha primeira vez no site, sua experiência é meu primeiro contato, é admirável sua sensibilidade, parabéns e boa sorte para um breve retorno.

Neyd M M Montingelli

Curitiba - Paraná - Pesquisa/ensino
postado em 08/02/2008

Prezado Joel Martins,
Seja bem vindo. Fique sabendo que é uma atividade apaixonante! Quem entra não sai mais. Nem que seja só para conversar com os amigos.
Leia muito, converse com quem já está no mercado, para trocar experiências.
E acima de tudo, faça um planejamento de todas as etapas da SUA atividade para não errar, não perder tempo e saborear cada minuto do trabalho.
Boa sorte.
Neyd M.M.Montingelli
Curitiba/Pr

alexandre pereira

Juiz de Fora - Minas Gerais - Estudante
postado em 25/07/2012

"Ainda", não sou caprinocultor, estou querendo começar, tenho estudado muito sobre o assunto, mas algumas duvidas ainda não encontrei respostas, como o que fazer com os filhotes que nascem machos numa criação de cabras de leite qual é o melhor destino a ser dado o abate ou criar para corte se isso e viavel ou não, se é facil aprender trabalhar com derivados do leite de forma caseira. se puder me ajudar com essas duvidas agradeçe.

Neyd M M Montingelli

Curitiba - Paraná - Pesquisa/ensino
postado em 25/07/2012

Prezado Alexandre Pereira,
Seja bem vindo Alexandre. Como em todas as atividades, o planejamento é de vital importância para o sucesso. Esse seu ainda é muito interessante, pois enquanto você estuda e procura as respostas, não tem problemas. Você deve achar uma destinação para os filhotes machos do rebanho desde já, senão a função da sua criação será outra. Entre em contato com os outros criadores da região, com a Associação de criadores e já se informe quem compra ou troca esses filhotes. Você NÃO pode ficar com eles. Eles mamam, precisam de ração, de cuidados, de vermífugo, de abrigo. E mesmo quando não muito crescidinhos cobrem as irmãs e mães sem que você perceba.
No início da criação, tudo o que você faz com o leite é novidade e a família adora. Você vai melhorar a qualidade da nutrição de todos. Na sua casa e usando utensílios comuns, você consegue fazer queijos e outros derivados muito saborosos. Neste site você encontra as receitas.
Neyd Montingelli
Curitiba/Pr

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