O mercado mundial de carnes passou a se destacar quando identificou o perfil de exigências de seus consumidores. Com a ovinocaprinocultura não poderia ser diferente, visto que a busca por alimentos com qualidade desafia os setores de produção, industrialização e comercialização, a uma profissionalização, de modo que esses segmentos procurem oferecer produtos diferenciados baseados em qualidade e com características orientadas segundo as preferências do mercado.
Atualmente, têm sido enfocadas diversas iniciativas que possam agregar valor a cadeia produtiva da ovinocaprinocultura, dentre as quais é possível citar a certificação de produtos com denominação de origem e indicação geográfica, já em ação na Europa e que se utiliza do nome de uma região ou meio geográfico especifico, baseados nos princípios de conservação de recursos genéticos animais e vegetais, valorização cultural e social. Esses programas são fundamentais, porém seus produtos podem não causar o efeito esperado caso não atendam aos anseios do mercado consumidor.
A padronização dos produtos varia muito entre os países e até entre áreas próximas dentro de um mesmo país ou região, o que torna essa prática muitas vezes confusa (Garcia et al., 2004). Assim, resultados de pesquisas de mercado devem fundamentar o direcionamento da produção e fornecer subsídios como: estimativa, época e periodicidade da demanda, onde e como oferecer o produto, qual a preferência dos consumidores com relação às formas de apresentação do produto, de modo a facilitar seu manuseio quando da chegada ao consumidor final. Dessa forma, torna-se claro a necessidade de pesquisas com relação à aceitação dos produtos, de modo que todas as dificuldades de incorporação e difusão dessas carnes possam ser superadas.
Autores como Calkins & Hodgen (2007) afirmam que condições como manejo pré e pós-abate, ambiente, dieta, e a preferência individual dos consumidores, dentre outros, não menos importantes, são fatores que tornam uma carne desejável ou rejeitada, por influenciar diretamente na expressão de parâmetros sensoriais inerentes a aceitação do produto. Portanto, os produtores de carne ovina necessitam conhecer as características do produto final e as relações dessas com as preferências dos compradores. Isso lhes fornecerá elementos de avaliação para determinar o sistema de produção mais adequado a ser utilizado em cada realidade (Osório et al., 1998), de modo que toda cadeia produtiva necessita continuamente de técnicas de modelagem e aperfeiçoamento, objetivando um trabalho corporativo e coerente com as preferências do mercado.
Inicialmente, é importante a definição do que o mercado consumidor preconiza. Entretanto, não é possível esquecer que a preferência por um produto depende muito do hábito alimentar da população, e isto é muito regionalizado.
Perfil do consumidor
A competitividade dos mercados exige o conhecimento de hábitos e preferências de consumidores. Segundo Osório & Osório (2003), os fatores considerados pelo consumidor na aceitação de cortes são: aptidão para preparação culinária, rendimento na preparação da carne, valor nutritivo do alimento e a forma de apresentação do produto. Além desses, a cor, sabor, odor e suculência, são preponderantes na escolha dos produtos.
A seguir serão mostrados os principais fatores de aceitação e rejeição da carne ovina e caprina pelo mercado consumidor descritos por Martins (2008).
Os resultados mostrados na Figura 1 são referentes aos motivos que levam os consumidores a comprar as carnes caprina e ovina. Foi verificado que a grande maioria dos entrevistados (84%) respondeu que as consome por gostarem de seu sabor, o que expressa a grande potencialidade destas carnes.
Figura 1. Motivos porque os consumidores consomem a carnes ovina e caprina.
Os resultados apresentados na Figura 2, afirmam o potencial de crescimento e aceitação das carnes ovina e caprina, de modo que pouco mais de 30% dos entrevistados responderam que não consomem essas carnes porque não gostam. Em contrapartida, 23% dos entrevistados responderam que não consomem estas carnes por conta da indisponibilidade das mesmas, o que mostra que não existe a oferta destas de forma amplamente difundidas, caracterizando a ociosidade do mercado e a grande possibilidade de exploração. Ainda, 16% afirmaram que não consomem por não terem o hábito revelando-se como potenciais consumidores através de estratégias de marketing para o mercado. O autor observou também que o preço da carne caprina e ovina é um empecilho para o aumento do consumo das mesmas, de modo que 12,3% dos consumidores afirmaram que não as consomem devido ao seu preço elevado.
Figura 2. Motivos porque os consumidores não consomem as carnes caprina e ovina.
Outro aspecto importante relatado foi que 9,2% afirmaram que não têm interesse em consumir estas carnes e 3,5 % não as consomem porque não sabem prepará-las. Portanto, a boa apresentação dos produtos e as opções gastronômicas surgem como estratégias mercadológicas para aumentar os negócios.
A Tabela 1 mostra a avaliação dos consumidores sobre a carne caprina e ovina com relação aos cortes, embalagens, disponibilidade e preço. O autor observou que a maioria dos consumidores avalia as condições dos cortes, das embalagens e da disponibilidade das carnes caprina e ovina como "boas". Quanto ao preço, a maioria dos consumidores considera este fator como "regular".
Tabela 1. Avaliação dos consumidores em relação as carnes caprina e ovina quanto aos cortes, embalagens, disponibilidade e preços.
Com relação ao interesse de consumo das carnes caprina e ovina, 55,2% dos entrevistados responderam que "sim". Entre esses 49% responderam que aumentariam seu consumo caso houvesse uma diminuição de preço, 31% se houvesse um aumento na oferta do produto, 15% se a família aceitasse e, 5% esboçaram motivos diversos. Caracterizando assim que o preço é um dos grandes entraves para o aumento do consumo de carne ovina e caprina. Entretanto, a difusão de tecnologias e crescimento na oferta destas carnes, pode causar redução no preço dos produtos tornando assim o consumo mais expressivo.
Considerações finais
O mercado consumidor ainda não tem uma opinião formada em relação a preferência da carne, impondo aos técnicos a elaboração de estudos sobre aceitabilidade dos produtos para que seja possível chegar a um nível estável de aceitação. Por outro lado, a produção de carne ovina e caprina é uma atividade com grandes perspectivas para o Brasil, considerando o potencial do mercado consumidor e a possibilidade de produção dessa carne com qualidade, todavia existe uma grande necessidade de organização dos setores produtivos, além da implantação de programas de qualidade tecnológica, objetivando o fornecimento ao consumidor final de carnes em quantidade e, sobretudo, com qualidade superior, a preços competitivos de mercado.
Referências bibliográficas
CALKINS, C.R.; HODGEN, J.M. A fresh look at meat flavor. Meat Science, v.77, p.63-80, 2007.
GARCIA, I. F. F. et al. Estudo dos cortes da carcaça de cordeiros Santa Inês puros e cruza Santa Inês com Texel, Ile de France e Bergamácia. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 33, n. 2, p. 453-462, 2004.
MARTINS, E. C. A dinâmica das cadeias produtivas de caprinos e ovinos. In: Zootec, 2008, João Pessoa. Anais... João Pessoa: Zootec, 2008, CD-ROM.
OSÓRIO, J.C.S. & OSÓRIO; M.T.M. Cadeia Produtiva e Comercial da Carne de Ovinos e Caprinos - Qualidade e Importância dos Cortes. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE CAPRINOS E OVINOS DE CORTE, 2, 2003, João Pessoa. Anais... João Pessoa: SINCORTE, 2003, CD-ROM.
OSÓRIO, J.C.S., ASTIZ, C.S., OSÓRIO, M.T.M. et al. 1998. Produção de carne ovina: Alternativa para o Rio Grande do Sul. Pelotas: Editora Universitária/UFPEL. 166p.
Marcos José Farias
Campo Alegre - Santa Catarina - Médico Veterinário
postado em 25/06/2008
Acho interesante este tipo de trabalho sobre o mercado de carne, mas ainda falta muito mais informação sobre tal.
E a questao preço é uma questão a ser analizada, pois como o Uruguai consegue mandar carne para o nosso pais com um preço baixo?
Será a qualidade da carne deles inferior ou superior a nossa?