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Você está em: Cadeia Produtiva > Espaço Aberto

Os impactos da seca

Por Marcos Fava Neves
postado em 14/08/2012

2 comentários
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Este texto tem o objetivo de discutir os prováveis impactos primários e secundários nas integradas cadeias produtivas de alimentos, bioenergia, fibras e outras advindos do fato das secas que atingem a produção norte-americana, principalmente, mas também as produções de Índia, Rússia, Ucrânia e Cazaquistão. Os EUA, principal produtor mundial de grãos enfrentam a maior seca dos últimos 50 anos, que já afetou 37% das propriedades e 43% da área agrícola.

Continuando a seca, os efeitos podem ser desastrosos em algumas cadeias produtivas, trazendo reflexos para mais de uma safra e inclusive mudanças de planejamento de plantio, de políticas públicas e estratégias privadas nas organizações. São 20 impactos aqui lembrados.

1 - Num primeiro momento houve grande aumento dos preços da soja e milho, e a partir destes aumentos, as cotações de outros grãos também subiram.

2 - Dependendo do volume de estoques que serão utilizados, seus níveis podem cair a volumes preocupantes, o que pode fazer esta situação de preços perdurar por mais de uma safra.

3 - Os efeitos nos países pobres importadores de comida podem ser devastadores, uma vez que preços de alimentos são diretamente ligados a estabilidade política e os orçamentos para programas assistenciais e os próprios orçamentos das famílias passam a ser insuficientes.

4 - Impacto também nos países de grandes populações de classe média, como China, cada vez maiores importadores de alimentos, que alocarão mais recursos para importações.

5 - Com maiores preços dos grãos, os impactos nos custos da alimentação animal são grandes, reduzindo as margens das empresas de carnes e lácteos, uma vez que a transferência de preços aos supermercados muitas vezes não é imediata.

6 - O mesmo efeito ocorre com as empresas produtoras de biocombustíveis a partir de grãos, pois com preços de insumos mais altos, as margens são menores.

7 - Se os biocombustíveis aumentarem de preços, há reflexos em seu consumo, migrando para o consumo de petróleo, aumentando as pressões também para que este aumente de preços.

8 - Petróleo aumentando de preços aumentam os custos de produção e de transporte de alimentos, trazendo outro impacto negativo das secas.

9 - O aumento de preços de alimentos nos supermercados vai forçar as empresas de alimentos a cortarem custos, podendo refletir em seus orçamentos para propaganda, embalagem e até inovação, postergando projetos.

10 - Da mesma forma, como o alimento é o último item a ser cortado do orçamento de uma família, devem migrar recursos a serem utilizados em outros mercados, como entretenimento, eletrodomésticos e outros, para o consumo de alimentos.

11 - Produtores não afetados pela seca terão margens significativamente maiores, o que pode trazer valorização de terras e até dar mais velocidade ao processo de concentração existente na agricultura.

12 - Há o risco de se reduzir os mandatos de mistura de biocombustíveis na gasolina em diversos países, mais notadamente nos EUA, onde a pressão de grupos contrários ao etanol é forte para liberar milho para alimentação, o que traria grave impacto as indústrias de etanol, mas seria também uma ameaça ao Brasil, provavelmente a maior.

13 - O uso de mais petróleo e menos biocombustíveis também vai agravar as emissões de carbono, trazendo mais poluição.

14 - Aumento de preços de alimentos traz mudança de hábito de local de consumo, aumentando a venda em supermercados e diminuindo os gastos na alimentação fora do lar (restaurantes).

15 - O hemisfério sul vai ser estimulado a plantar mais soja e milho, interferindo nas áreas de algodão, trigo, cana, girassol, entre outras, o que pode refletir preços maiores em virtude de menores áreas plantadas e consequentemente, menor produção.

16 - Por outro lado, bons preços trarão maiores investimentos em insumos e tecnologia, o que aumentará a produtividade nestas propriedades, contribuindo para repor estoques mundiais mais rapidamente que em condições normais.

17 - Seguradoras, principalmente nos EUA, terão grande impacto, bem como o orçamento dos Governos. Impacto também em pequenos municípios dependentes da agricultura, que com a seca, perdem importante renda.

18 - A menor produção de cana na Índia pode fazer este país voltar ao mercado comprador de açúcar, ou exportar menos, contribuindo para uma retomada dos preços do açúcar no mercado mundial, beneficiando o Brasil.

19 - Maiores preços de alimentos incentivarão o fortalecimento de programas para reduzir o alto desperdício nas cadeias agroalimentares. Haverá também mais pressão nas empresas de insumos para produção de plantas mais tolerantes às secas.

20 - Os efeitos econômicos nas balanças comerciais, taxas de câmbio e crescimento em diversos países tendem a ser grandes, o que motivará políticas regulatórias de cotas, taxas e outras a disposição de Governos, causando mais distúrbios nas cadeias produtivas integradas.

Aqui estão listados alguns dos possíveis impactos nas intrincadas cadeias produtivas mundiais de alimentos. Alguns pesquisadores têm alertado que estas secas tendem a ser mais frequentes, principalmente nos EUA, o que deve estimular o plantio no hemisfério sul, beneficiando o Brasil. Isto tudo vem junto com o grande crescimento do consumo mundial de alimentos, portanto está armado um quadro preocupante. Definitivamente o assunto da crise alimentar volta às mesas das famílias e das discussões privadas e públicas.

O texto original foi escrito para o Brasil Econômico, sendo esta uma versão compacta.

Saiba mais sobre o autor desse conteúdo

Marcos Fava Neves    Ribeirão Preto - São Paulo

Pesquisa/ensino

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Comentários

Estêvão Domingos de Oliveira

Caçu - Goiás - Médico Veterinário - Consultoria/Extensão
postado em 14/08/2012

Esqueceu de listar a inflação crescente...

Luiz Fernando Vilela de Andrade

Joaquim Távora - Paraná - OUTRA
postado em 23/08/2012

Penso que agora mais que urgente esta na hora de uma politica agricola de curto, médio e longo prazo.


Ex: A curto prazo, aumentar a área plantada de grãos já que estes são mais lucrativos e de ciclo bem rápido.


A médio prazo, estimular a reforma, adubação, e melhoramento de áreas de pastagens através de financiamento publico para em um prazo de 5 a 10 anos dobrarmos a quantidade de bovinos nas áreas de pastagens, com isso liberaremos mais área para a agricultura, exemplo hoje temos 1 cabeça por hectare, 200 milhões de hectares de pastagens, se manejarmos melhor com metade da área teremos a mesma quantidade de bovinos, se manejarmos melhor ainda, com um terço da área teremos a mesma quantidade de bovinos, isto significa que teremos de 100 a 140 milhões de hectares a mais para a agricultura, sem derrubarmos um metro quadrado a mais de mata


A longo prazo, estimular a plantação de florestas nestas áreas onde a pecuária esta degradada e não tem topografia adequada para a agricultura, com isto também teremos menor pressão sobre as nossas matas e em um prazo de 20 a 50  anos teremos o tão sonhado equilibrio ambiental.


Qual o investimento para isso, penso que bem menos que o dinheiro investido no financiamento de compra de frigorificos pelo BNDS, no Uruguai, EUA, e Australia, com o principal, gerar riquezas aqui mesmo, e gerar empregos aqui.


fica a idéia, e pessoas capacitadas para fazer a roda girar, pois ela ja foi inventada

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