Os produtores gaúchos já estão sentindo na pele essa variação em função dos preços da lã que são cotados em dólar e a concorrência na oferta de matéria prima para a produção do Uruguai, que hoje é o terceiro maior exportador de carne ovina do mundo.
Este cenário desencadeia uma série de conseqüências maléficas a esse agronegócio no Brasil. Vejamos: atualmente a tonelada de carne ovina varia no mercado internacional de US$ 2.600 a 5.700 a tonelada para cortes de traseiro e alguns sem osso, que equivale dizer que o quilo deste cortes pode variar de R$ 5.59 a 11.82. Também vale ressaltar que os preços acima de US$ 4.000 a tonelada só se alcançam na União Européia.
Daí uma das razões que fazem com que o produtor gaúcho esteja recebendo R$ 1,80 por quilo vivo do animal comercializado com os frigoríficos. Esse preço pago ao produtor gaúcho vem servindo de base na comercialização com os ovinocultores de outros estados como Paraná e São Paulo, que por tabela contaminam todo o elo de produção da cadeia no Brasil.
No Uruguai o preço pago ao produtor por quilo vivo varia de US$ 0,90 (R$ 1,93/kg. de peso vivo) para ovelhas e US$ 1,40 (R$ 3,00/Kg. de peso vivo) para os cordeiros pesados, que não são maioria na comercialização. Por tabela, os preços comercializados no Uruguai influenciam a comercialização gaúcha.
No elo agroindústria ou frigorífico da cadeia são também observados esses impactos, uma vez que os frigoríficos brasileiros são forçados a acompanhar os preços das importações uruguaias e em alguns casos, com suspeita de dumping1 por parte das empresas uruguaias.
Os preços já começam a chegar aqui no Brasil, no atacado e varejo, a razão de R$ 3,00 a 6,50 por quilo da paleta e costela de ovino, e de R$ 5,00 a 10,50 o quilo do pernil com osso. Essa variação depende da distância da empresa compradora dos fornecedores uruguaios, passando pelas grandes empresas paulistas de distribuição de carnes que são os maiores importadores do produto uruguaio no Brasil, mais os possíveis encargos de importação do produto.
Sendo assim os frigoríficos brasileiros estão sendo forçados a remunerar para baixo o preço pago pela matéria prima de baixa qualidade ou então dispensar funcionários. Contudo, é necessário, por parte das autoridades sanitárias municipais, uma melhoria da fiscalização em definitivo dos frigomatos2, que também são uma forma de concorrência desleal para com aqueles que geram emprego, pagam impostos e produzem alimento com segurança alimentar; e/ou pela investigação de dumping por parte das empresas Uruguaias.
A política cambial do Brasil, na conjuntura atual, também seria um gargalo nas possíveis exportações de carne ovina e caprina, além da falta de qualidade, quantidade e regularidade de oferta de matéria prima.
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1 Prática desleal de comércio em que uma empresa vende um bem no mercado
externo a um preço inferior ao que aplica normalmente no mercado de seu próprio país.
2 Expressão usada para designar o abate clandestino ou seja, o abate acontece no mato.
Paulo José Theophilo Gertner
Lauro de Freitas - Bahia - Médico Veterinário
postado em 29/09/2006
Certamente, são estudos e análises como estas do Professor Roberis Ribeiro da Silva, colega do meu Professor Guilherme Vieira de Agronegocio, no curso de Veterinária da Unime, que freqüentemente apresenta dados de seus estudos em nossas aulas analíticas dessa economia de rede da ovinocultura.
Quanto mais dados e análises tivermos, menos estaremos investindo no escuro e a mercê do mercado!
Inté, e parabéns.