Não tenho a pretensão de contestar este conceito econômico tão arraigado no saber das pessoas e que foi construído com certeza, à base de muitos estudos e por pessoas com renomado conhecimento de causa. Mas quero sim, propor um debate sobre como e se devemos enquadrar a ovinocultura neste conceito, sabendo que é uma atividade muitas vezes
com forte ligação em pequenas propriedades familiares, mas com grande potencial de dar um sustento digno para quem vive nesta situação. E quando digo isto, penso principalmente no Nordeste, região que tem grande concentração de rebanho ovino e também, de pequenas propriedades.
A atividade da ovinocultura tem entre seus "praticantes" criadores com variados tamanhos de terra e de rebanhos. Dentre estes existem aqueles com dedicação principalmente para a seleção genética, e outros para rebanhos comerciais. Existem aqueles que têm 10 ou 15 cabeças, para sua manutenção ou os que possuem 16 mil, 20 mil cabeças para uma produção comercial de cordeiros. E em termos de Brasil, encontramos as mais variadas condições de clima, terra (solo) distâncias de grandes centros consumidores, etc. É por isto que me pergunto como aplicar este conceito dentro do agronegócio ovino de forma a que não expulsemos os que não se enquadram neste preceito e que eles não virem favelados em alguma cidade deste País.
A ovinocultura tem sim uma função social, conforme tive a oportunidade de dizer ao Presidente da República, quando da sua visita à Expointer deste ano. Além de gerar emprego e renda, contribui para a manutenção de muitas famílias no campo, evitando o êxodo rural. Creio que para se enquadrar no processo de produção em escala um dos caminhos pode ser a união de produtores de menor porte em associações de criadores regionais, ou Alianças Mercadológicas, programas de governos que ajudem aos produtores a se organizarem para comprarem animais, produzirem e entregarem em escala. E nunca podem esquecer de que na montagem destes processos tenham o apoio de alguém com experiência em extensão rural, pois ele, com certeza, vai ajudar e muito no sentido de passar importantes conhecimentos sobre a atividade, principalmente em termos de melhorias sanitárias, nutricionais, de manejo e instalações.
Não conheço pessoalmente projetos que acontecem no nordeste, mas sei que eles estão partindo desta premissa de reunir grupos e trabalharem em conjunto. E sei que os resultados têm sido muito positivos. E foi com este espírito que recentemente participei de uma reunião na Federação dos Trabalhadores da Agricultura, no Rio Grande do Sul, Fetag.
A ideia é desenvolver um projeto de ovinocultura para pecuaristas com estrutura totalmente familiar. Em nosso encontro, pontuei que qualquer projeto necessita ter a visão de que a ovinocultura é um negócio como qualquer outro dentro da propriedade. Que gera renda se for bem trabalhada. Que permite a produção de lã, carne, leite e pele. Mas que para dar este resultado positivo é preciso ver as habilidades de cada propriedade para que dê certo. Colocar ovinos produtores de leite, em propriedades que já tenham esta atividade no bovino. E de corte com quem conhece as funções da criação de gado de corte.
Qualquer projeto tem tudo para dar certo se respeitada as características de seus participantes, da região em que está implantado, da cultura, e se tiver voltado para atender ao mercado consumidor. A ovinocultura pode ser desenvolvida em qualquer tamanho de propriedade, desde que se adapte às condições e às exigências desta espécie. Por isto creio que ela pode se enquadrar no conceito de produção em escala, as vezes uma só propriedade, as vezes unindo várias para atingir este objetivo.
O importante é produzir bem, com qualidade e respeito ao meio ambiente. Isto tem valor e isto a ovinocultura pode dar!
Nei Antonio Kukla
União da Vitória - Paraná - Consultoria/extensão rural
postado em 26/10/2010
Concordo plenamente com o senhor presidente da ARCO. Creio que a ovinocultura em pequenas propriedades é viabilizada sim a partir da construção de Alianças Mercadológicas ou outro modelo que congregue vários criadores, mas que estes estejam com vontade de ser profissionais no que fazem independente do seu tamanho. Já vi experiências desta natureza dando muito certo em Santa Catarina, onde pequenos criadores com 10-15 matrizes produzem em forma integrada e um criador maior com condições de abate compra os cordeiros, pagando inclusive bonificação e dando assistência técnica num pequeno raio de atuação (viabilidade do negócio).
Aliás, a assistência técnica e extensão rural é peça fundamental para tutorar estes criadores, principalmente os pequenos desprovidos muitas vezes de um aparato educativo em suas atividades. Nestes termos, aprofundei este assunto e convido aos nobres leitores a acessar o Espaço Aberto deste site e ver o artigo ATER: a sua importância aos produtores. (http://www.farmpoint.com.br/default.asp?actA=7&areaID=1&secaoID=7)