Uma pista apareceu, noutro dia, na divulgação, pelo IBGE, dos números sobre o crescimento do PIB nacional relativos ao terceiro trimestre do ano. Enquanto a indústria e o comércio recuaram, a agropecuária cresceu 3,2%, segurando o rojão da economia. No acumulado do ano, tudo indica um salto de 6% no PIB rural, envolvendo tanto o ramo animal (pecuária) quanto o ramo vegetal (agrícola).
E, no interior principalmente, quando a roça vai bem, ela movimenta toda a cidade: o comércio vende mais, o emprego se aquece, as pessoas ficam mais felizes. Esse é o efeito multiplicador da safra de grãos, quase 160 milhões de toneladas. Novo recorde.
Na balança comercial, as exportações do agronegócio também surpreendem. As vendas ao estrangeiro se situam num patamar 25% acima do ano passado. Mais importante, tais vendas externas geram, descontando o valor das importações, crescentes superávits, dólares para pagar as contas das importações industriais e as do comércio. Merece cutucar: sem o capiau do interior, viveria pior o bacana da metrópole.
Até os gringos estão perplexos com a força dos agricultores tupiniquins. Embora os norte-americanos continuem sendo os maiores exportadores mundiais de alimentos, o valor do superávit agrícola brasileiro ultrapassou em 65% a vantagem deles. Quer dizer, o Brasil está mais autossuficiente que o gigante do Norte em alimentos e matérias-primas agrícolas, abastecendo seu mercado interno sem precisar das importações. À exceção do trigo.
Nos demais cereais, destacando-se soja e milho, responsáveis por cerca de 80% da colheita total, este ano os produtores rurais fizeram barba e cabelo: grande produção com preços elevados. Coisa rara.
Vale a pena destacar a cafeicultura. As exportações de café devem fechar o ano em US$ 8,4 bilhões, aumento de 48% nas receitas, em comparação com 2010. Fato curioso: com o mesmo volume embarcado. Ocorre que o consumo mundial de café, incluindo o Brasil, continua crescendo, puxando os preços. Na Finlândia, é incrível, o consumo per capita chegou a 11,9 kg/ano, bem acima do brasileiro, que está em 4,8 kg/ano. Sabia disso?
Na floricultura e na fruticultura, os produtores ficaram satisfeitos com 2011. Qualquer supermercado hoje em dia vende flores e plantas ornamentais, mesmo com preços salgados ao consumidor. Frutas finas, que antes vinham de fora, agora, facilitadas pelo melhoramento genético que as adaptou aos trópicos, amadurecem nas lavouras irrigadas do Nordeste ou nos pomares das montanhas ao Sul. Bonitas e doces.
Por onde se analisa se percebe o êxito das atividades agropecuárias neste ano que finda. Na piscicultura, basta olhar a oferta de filé de tilápia, ou de sua prima mais chique, a vermelha Saint Peter, no comércio de pescados. Ou, na carcinocultura, verificar as bandejas de camarão criado em cativeiro vendidas a preços módicos, permitindo gente simples apreciar o deliciosos crustáceo que antes somente os ricos manjavam, surrupiados do mar.
Como a unanimidade é sempre improvável, os canavieiros andaram de marcha à ré em 2011. Nunca se viu um tiro no pé sofrível como o verificado na agenda do etanol. Se não fosse a falta de açúcar no mercado mundial, que adoçou os preços, a crise teria sido maior, afetando principalmente os fornecedores autônomos de cana, espremidos entremeio às gigantescas empresas que se instalaram no setor sucroalcooleiro.
Essa animação extraordinária na agricultura em 2011 se deve a várias causas. Na verdade, ela culmina um ciclo trienal de sucesso na produção e, mais importante, na renda do produtor rural, causado principalmente pelo aquecimento dos preços internacionais das commodities. O choque de demanda, puxado pela urbanização da China, coincidiu com problemas climáticos na oferta mundial de grãos e carnes, elevando os patamares de preços. Nem a valorização do real ante o dólar, e tampouco as tremendas deficiências na logística (estradas esburacadas, ferrovias onerosas, portos vagarosos), impediu boa margem de rentabilidade na agropecuária nacional.
Caíram os estoques globais de alimentos. Segundo André Pessoa, excelente economista agrícola, os níveis atuais dos principais grãos - soja, milho e trigo - representam somente 20% da necessidade de consumo no ano seguinte, aperto registrado apenas na década de 1970, antes da chamada Revolução Verde. Por isso continuará certa tendência altista de preços.
Mas os tempos de crise na economia mundial andam tirando o sono não só dos agricultores, mas de qualquer empresário ou trabalhador, no campo e na cidade. Enormes são as incertezas para 2012. Nada indica, por exemplo, que os chineses manterão os crescentes volumes adquiridos de soja. Na Europa, obviamente, os mercados exigentes estarão bem mais fechados. Os créditos internacionais recuaram. Por aí vai.
O ano novo está chegando. A agricultura brasileira, com certeza, continuará nele seguindo sua trajetória vitoriosa, coroada em 2011 com um pico de sucesso. A demanda mundial por alimentos continuará a exigir terras e homens aptos, tecnologia e qualidade, coragem e labuta, requisitos de produção que a zona rural oferece no Brasil.
Um dia, pois a esperança nunca morre, a sociedade inteira descobrirá esta vantagem, a modernidade da roça. E passará a tratar o agricultor nacional com o respeito que, afora amargarem pelo passado, merecem os construtores do futuro.
Feliz ano-novo!
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