Fechar
Receba nossa newsletter

É só se cadastrar! Você recebe em primeira mão os links para todo o conteúdo publicado, além de outras novidades, diretamente em seu e-mail. E é de graça.

Você está em: Cadeia Produtiva > Espaço Aberto

Prêmio à sustentabilidade

Por Xico Graziano
postado em 17/04/2013

7 comentários
Aumentar tamanho do texto Diminuir tamanho do texto Imprimir conteúdo da página

 

Agricultura sustentável - esse tema motivou uma reunião, recentemente realizada em Berlim, na Alemanha, interessada em descobrir os caminhos futuros do campo. Parecer unânime: é preciso unificar a agenda da produção com a da preservação. Nada se concluiu, porém, sobre os custos dessa equação. Quem pagará a conta?

No gelo atípico deste início da primavera europeia, participaram do encontro cerca de 90 pessoas, oriundas de vários países. Durante dois dias especialistas em certificação, pesquisadores universitários, operadores de mercado, ambientalistas, agricultores e diretores de empresas, de diversos ramos da agroindústria e do comércio de alimentos, trocaram suas figurinhas carimbadas. Todos sacramentaram os conceitos básicos da sustentabilidade.

Ressaltar o óbvio, às vezes, é necessário. Por mais que alguns políticos, ou organizações civis, queiram assenhorear-se da problemática ecológica, tomando como seu privilégio decifrá-la, formou-se certo consenso na sociedade mundial em favor da sustentabilidade. Sente-se, com maior ou menor idealismo, que a pegada ecológica sobre os recursos naturais periga romper os limites do planeta. Vislumbram-se, em decorrência, modificações na produção material, no consumo e no comportamento da civilização humana. Ninguém defende a destruição ambiental.

Existe também boa concordância quanto à necessidade de mensurar a sustentabilidade. No início do movimento ambientalista, gritar era fundamental para fazer avançar a consciência sobre os problemas ecológicos. Predominavam os discursos inflamados. Agora, mais que falar, é preciso fazer. E a ação prática somente poderá ter seus resultados aquilatados por meio da metodologia científica. Medir para manejar.

Inúmeros protocolos se definem, mundo afora, estabelecendo critérios, mais ou menos rígidos e abrangentes, para verificar a sustentabilidade. Muitos deles, seus prós e contras, foram discutidos nessa reunião em Berlim. A empresa alemã Basf, promotora do evento, apresentou seu método, chamado AgBalance, pelo qual quantifica, com 69 indicadores distribuídos em 16 categorias, o "balanço energético" de uma empresa rural, incluindo todos os elos da cadeia produtiva. Muito interessante.

O enfoque do measure and management domina a agenda mundial da sustentabilidade. Presente na Alemanha, o representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) enfatizou a importância das "métricas" ao falar sobre o Global Livestock Environmental (GLE), patrocinado pelo órgão da ONU. Susanne Stalder, por sua vez, seguiu na mesma linha com o Response Inducing Sustainability Evaluation (Rise), um protocolo seguido por 1.350 produtores rurais, localizados em 37 países. Caminho sem volta.

Comandado pela Stanford University (Califórnia), com a participação das importantes entidades ambientalistas WWF e TNC, o Natural Capital Project (NatCap) detalhou seu sistema integrado de avaliação de serviços ambientais. Grandes redes de varejo, como a norte-americana Walmart, e as multinacionais de alimentos Nestlé e PepsiCo deixaram clara a força da mudança que chega pelo lado dos consumidores. Rigorosos critérios, como os do Sustentability Consortium, começam a impor-se aos fornecedores de matérias-primas, especialmente alimentos.

Fica claro que os requisitos da produção sustentável exercem, progressivamente, forte pressão sobre os agricultores. E aqui reside a grande questão. A modificação tecnológica nas práticas agrícolas, tornando-as mais amigáveis da natureza, nem sempre operam a favor da rentabilidade dos negócios rurais. Os processos sustentáveis geram, muitas vezes, custos que comprometem a sobrevivência econômica do produtor rural. São os trade-offs.

Esse viés, o da economia, normalmente tem sido minimizado nas discussões sobre o desenvolvimento sustentável. Carrega-se no ecologicamente correto, destaca-se o socialmente justo, mas se esquece do economicamente viável, deformando o famoso tripé da sustentabilidade. Por isso os agricultores começam, eles também, a definir seus protocolos de conduta. Richard Wilkins, presidente da poderosa American Soybean Association (ASA), que representa 275 mil produtores norte-americanos, com 30 milhões de hectares de cultivo, deixou claro em Berlim que eles não aceitam os ditames que lhes querem impor. Articulada com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a ASA está definindo um protocolo próprio, no qual o requisito da produção sustentável mantenha, e não roube, a terra herdada dos antepassados.

No Brasil, ninguém melhor que a Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja) se dedica ao tema. Sua proposta Soja Plus segue a linha da produção sustentável, com respeito às leis trabalhistas e ao Código Florestal. Presente em Berlim, seu representante questionou: estariam os mercados consumidores, na Europa ou alhures, dispostos a pagar um "prêmio" à sustentabilidade? Não, responderam.

Sinuca de bico. Todos defendem o desenvolvimento sustentável, mas cada qual o define, e o mensura, conforme lhe convém. Nesse jogo de interesses, estoura a corrente produtiva no elo mais fraco: os agricultores. Assim não dá. Na busca da sustentabilidade, as empresas, os consumidores ou os governos, em nome da sociedade, precisam auxiliar, e não sufocar os produtores rurais. Há uma agravante: as regras da sustentabilidade precisam levar em conta as dificuldades inerentes aos agricultores familiares dos países em desenvolvimento. Não funcionará na Ásia, nem na África ou no Brasil um protocolo refinado, elaborado pela elite dos países ricos.

Desenvolvimento sustentável exige parcerias, não se enfia na goela do agricultor. Senão, azeda a comida.
 

Saiba mais sobre o autor desse conteúdo

Xico Graziano    São Paulo - São Paulo

Consultoria/extensão rural

Avalie esse conteúdo: (1 estrelas)

Comentários

José Luiz Bellini Leite

Juiz de Fora - Minas Gerais - Pesquisa/ensino
postado em 18/04/2013

Este é um tema muito importante e Graziano abordou de forma magnifica o assunto. Ressaltou, sem os sentimentalismos que tem caracterizado o tema e de forma destacada, o tripé da sustentabilidade (ambiental, social e econômica) sua relevancia e colocou os "pés no chão" ao posicionar o produtor e as tecnologias conservacionistas no centro do processo.

Ou se gera tecnologias sustentáveis, ou alguém paga a conta pelo uso de tecnologias ambientalmente corretas mas não competitivas ou vamos ficar nos discursos.

Elvis Luís Basso

Santo Ângelo - Rio Grande do Sul - Consultoria/extensão rural
postado em 18/04/2013

Parabéns por está matéria, essa discussão vai longe, tem muito "ecologista" querendo pregar moral mas reclamam quando um produto aumenta seu preço em 5%. A conta da sustentabilidade vai ser paga por bem ou por mau, através de uma forma organizada e justa ou através do aumento dos preços dos alimentos, pois sabe-se que a sustentabilidade não só diminui área de cultivo (nosso caso com o código florestal), mas em vários casos diminui o volume de alimentos produzido pelos produtores, mas com o passar do tempo com a lei da oferta e demanda não necessariamente diminua o faturamento da fazenda, ou seja, o aumento do preço dos alimentos é inevitável, porém quem pagaria essa conta de forma mais árdua, seria as classes mais pobres (no caso nações mais pobres), por isso defendo um pagamento pela "tal sustentabilidade" de uma forma organizada.

Cleber Medeiros Barreto

Umirim - Ceará - Prof° de Zootecnia - IFCE Campus Crato - Umirim
postado em 18/04/2013

Muito bem posto o tema. Uma banho de água fria naqueles que se intitulam os senhores da verdade absoluta. Posar de mocinho (defensores do planeta limpo) as custas dos outros é um exercício muito fácil. Nos faz lembrar das diversas denominações religiosas  tão bem sucedidas no Brasil, guiadas nem sempre por convicções altruístas. Parabéns ao Xico Graziano.

Teodoro Teles Martins

Varginha - Minas Gerais - Produção de leite
postado em 19/04/2013

Parabens pelo artigo... muito bem lembrado da importância de se manter o tripé da sustentabilidade: ECOLOGICAMENTE correto, SOCIALMENTE justo e ECONOMICAMENTE viável! Muitas vezes se lembram apenas de uma das pernas, sendo que para ser sustentável temos que ter as três,  pois contrário o sistema fica frágil e "cai"!
Também concordo que essas diretrizes sejam formuladas por todos os afetados por elas, ouseja, toda a sociedade, incluindo principalmente os diretamente afetados, os produtores!

Pedro Pereira Lima Neto

Três Lagoas - Mato Grosso do Sul - Consultoria/extensão rural
postado em 22/04/2013

Meus parabéns Graziano realmente sua reportagem pegou um gargalo bem importante e pouco comentado; quem vai pagar a conta dos produtores ?
Deveriam colocar em discussão uma mudança na política de créditos de carbono, repassando o dinheiro das empresas poluidoras, para os produtores que praticão  técnicas sustentáveis na sua produção. Mas para isto é necessário mensurar, possíveis ganhos, gastos entre outros .         

PAULO LUIS HEINZMANN

SALVADOR DAS MISSÕES - Rio Grande do Sul - Consultoria/extensão rural
postado em 24/04/2013

Meus parabéns Sr. Graziano!! Muito bom artigo!

Acredito que ninguém é a favor de destruir o meio-ambiente, mas temos que ter em mente que se a produção for inviabilizada economicamente (ou perto disso), teremos escassez de alimento, com aumentos significativos de preços.

Outra questão diz respeito ao interesse de jovens, possíveis futuros produtores, mostrarem interesse em seguir na atividade primária. Vendo a angústia de seus pais, baixa remuneração, pouca infraestrutura, e exigências crescentes,  estão fugindo "como o diabo da cruz" da atividade primária, e acredito que teremos que, num futuro bem próximo, "garimpar" possíveis interessados na imensa população urbana, em produzir alimentos, caminho que só será percorrido com excelente remuneração.

Precisamos sempre lembrar também aos consumidores, que além de cobrar produção sustentável e ecologicamente correta, que nos DÊEM EXEMPLOS de como fazer, e sugiro que primeiramente "limpem seu pátio de casa", diminuindo a poluição na sua cidade, a ponto de poderem, por exemplo, pescar nos rios e riachos que cortam sua cidade.

Concordo plenamente com os produtores americanos, que simplesmente NÃO CONCORDAM com exigências impostas "goela abaixo". O mundo precisa de comida, e precisam nos valorizar, e nos ouvir.

Parabéns novamente pela sensatez, Sr. Graziano, e peço que manifeste sempre que possível sua visão muito correta desta questão, pois nós precisamos de quem nos defenda.

Att,

Paulo Luis Heinzmann

josé Carlos Rodrigues da Luz

Serra Talhada - Pernambuco - Consultoria/extensão rural
postado em 25/10/2013

Olá Srs. leitores do Milkpoint  !
O território brasileiro (Brasil) Terra de Sta.Cruz ,como foi identificada pelos portugueses na chamada época do descobrimento , no ano de 1.500 dC. Verdade é que os países europeus continuam descobrindo o nosso Brasil -isto é: descobrindo a terra brasileira de tudo de bom que ela pode oferecer-lhes em alimentos, madeira, minérios, ouro etc. - É pena que nós, os BRASILEIROS descendentes do cruzamento ou missigenação entre: Europeus, Africanos, Indios , Árabes e Judeus , ainda não conseguimos  enxergar o Brasil como uma terra rica e próspera o suficiente para tornar sustentável a manutenção alimentar do resto do mundo . Infelizmente continuamos com a mentalidade de escravos do resto do mundo pois, o resto do mundo se une e decidem o que fazer e, nós , apenas produzimos o que e como eles determinam. No passado compramos a tecnologia , os equipamentos e até mesmo os venenos que eles não desejavam mais usar em suas terras por ter  lhes feito muitos máles ex. cancer e outras doenças mais.  O Mundo todo está alvoroçado e gritando pela SUSTENTABILIDADE do que não podem  alcançar devido aos seus abusos do passado devastador  e querem forçar, no grito, que os Países em desenvolvimento e com auto capacidade de tornarem-se AUTO-SUSTENTÀVEL  pela sua própria capacidade de terras, águas doce e florestas, como é o caso do nosso BRASIL  com suas cinco regiões de climas diferentes ,produtivas e bem definidas em suas regiões: NORTE; NORDESTE; SUL ; SUDESTE e CENTRO-OESTE.   Infelizmente, o AGRONEGÓCIO que é representado por  poucas emresas muti-nacionais e  meia dúzia de produtores de soja que destroem as matas, produzem os alimentos e os exportam para os países famintos por produtos de boa qualidade e pagam caro. Enquanto que o Governo Federal cria o chamo AGRICULTOR FAMILIAR e determina que eles produzam os seus próprios sustento alimentar regionalmente dando-lhes apenas o direito de fazer empréstimos bancários e deixando de auxiliar-lhes com a devida e merecida assistencia técnica na área rural.  Agora  buscam forçar-nos  a  praticar  a tão clamada  "SUSTENTABILIDADE MUNDIAL .  Devemos primeiro nos tornarmos auto-sustentáveis internamente, para só depois  sustentarmos o resto do mundo.  ACORDA BRASIL ! DESCOBRE A TUA CARA ! CUIDA PRIMEIRO DOS TEUS PARA QUE TENHAMOS ESTÍMULO PARA CUIDARMOS DOS NOSSOS VIZINHOS ! " DEUS NOS DEU , VERDADEIRAMENTE, UMA TERRA QUE MANA LEITE E MEL "  ; ACORDA POVO BRASILEIRO, ABRE OS OLHOS E CONTEMPLA ESTA BENÇÃO QUE SOMOS .
Eu, JOSÉ CARLOS - Técnico em Zootecnia  - Serra Talhada e S.Jose do Belmonte - Pernambuco.

Quer receber os próximos comentários desse artigo em seu e-mail?

Receber os próximos comentários em meu e-mail

Envie seu comentário:

3000 caracteres restantes


Enviar comentário
Todos os comentários são moderados pela equipe FarmPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

Copyright © 2000 - 2024 AgriPoint - Serviços de Informação para o Agronegócio. - Todos os direitos reservados

O conteúdo deste site não pode ser copiado, reproduzido ou transmitido sem o consentimento expresso da AgriPoint.

Consulte nossa Política de privacidade