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Produção a pasto e complementaridade com bovinos conferem sucesso à ovinocultura neozelandesa

Por Camila Raineri e Augusto Hauber Gameiro
postado em 10/03/2010

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A partir do mês de março traremos ao FarmPoint resenhas e comentários sobre artigos científicos publicados nos principais periódicos do mundo. São artigos relevantes relacionados à ovinocultura e que contribuem com informações de ponta para o desenvolvimento do setor no Brasil.

Este mês comentaremos o artigo "Economics of Sheep Production", publicado na revista Small Ruminant Research no final de 2009. Nele, o autor relata os principais aspectos econômicos da produção de cordeiros na Nova Zelândia, e sua relação com o atual mercado mundial de carne ovina.

Um dos aspectos mais interessantes do trabalho é que ele nos mostra a evolução da ovinocultura naquele país, e as estratégias que fizeram da sua criação de ovinos uma das mais competitivas do mundo, tornando-o o principal exportador de carne ovina do planeta. Cabe também observar que sua atual posição não "caiu do céu", foi conquistada com base na melhoria constante dos índices zootécnicos.

E não é por desfrutar desta posição privilegiada que a busca por melhorias acabou na ovinocultura neozelandesa: os criadores ainda convivem com problemas semelhantes aos dos brasileiros, como baixa rentabilidade e dependência de fatores que fogem ao seu controle, como as mudanças climáticas, por exemplo.

Segundo o autor Morris, a importância do ovino como animal produtor de carne é crescente em todo o mundo e a maior vantagem da espécie é o fato de estar apta a sobreviver e produzir em áreas impróprias para outras formas de exploração agropecuária, inclusive a bovinocultura de corte. Isto seria possível devido ao desenvolvimento de diversas raças capazes de apresentar altos níveis de produtividade sob condições ambientais e de manejo consideradas abaixo das ideais.

Atualmente, a população mundial de ovinos é de um bilhão de cabeças, responsáveis pela produção de 14 milhões de toneladas de carne por ano. A título de comparação, a produção mundial de carne suína é de aproximadamente 100 milhões de toneladas e a de carne bovina de 65 milhões de toneladas por ano. Do total da produção mundial de carne ovina, apenas 7% participam do comércio internacional, sendo 47% do total exportados pela Nova Zelândia e 36% pela Austrália. Os principais destinos desta carne são a União Européia, norte da Ásia, Oriente Médio e América do Norte.

Nos últimos cinco anos tem havido um declínio na população ovina mundial, e especialmente na Austrália e Nova Zelândia, por questões econômicas e climáticas. Assim houve queda na produção dos dois maiores exportadores de carne, o que significa que a curto prazo o preço do produto deve subir no mundo inteiro. Por outro lado, o desaquecimento da economia mundial pode ter o efeito de reprimir a demanda por carne ovina e favorecer a de frango, que continua sendo a fonte de proteína animal mais barata. O consumo médio de carne ovina no planeta é de 2,5 kg por habitante/ano, de um total de carnes consumidas de 41,6 kg por habitante/ano.

O clima neozelandês favorece o crescimento das pastagens. Esta é a chave da produção no país, já que os pastos podem fornecer até 95% da dieta dos animais. Há poucas propriedades de produção exclusiva de ovinos ou de bovinos na Nova Zelândia, mas muitas que trabalham com ambas as espécies. Os produtores não encaram estes animais como competidores entre si, mas acreditam que suas criações são complementares.

As porcentagens anuais de nascimentos (quantidade de cordeiros que tiveram suas caudas cortadas para cada 100 ovelhas) aumentaram sensivelmente nos últimos 15 anos, tendo ido de 98% em 1987 para 125% em 2008. Atualmente, dependendo da região do país, esta taxa varia de 88% a 138%. Sob manejos intensivos, pode chegar a 150%.

A maioria das propriedades trabalha com ovelhas puras da raça Romney-Marsh ou suas cruzas. A utilização de animais com sangue de duas a quatro raças tem aumentado recentemente. Estima-se que 25% dos 26 milhões de fêmeas estão sendo acasaladas com machos de raças especializadas para produção de carne, como Poll Dorset, Suffolk ou Texel, pois os produtos resultantes apresentam maior velocidade de crescimento e atingem o peso de abate mais cedo que os animais puros. O peso médio das carcaças dos 25 milhões de cordeiros abatidos anualmente para exportação aumentou dramaticamente nos últimos 15 anos, de 14 para 17 kg, com mais de 50% dessas carcaças sendo enviadas para a União Européia.

Algumas características das criações neozelandesas constam abaixo:

a) Necessidade de manter baixo custo de produção, para manter a competitividade no mercado internacional. Isso requer rebanhos grandes, baixa necessidade de funcionários e utilização eficiente das pastagens;

b Uso de trevos (trifoliuns) associado a fertilizantes fosfatados, para suprir a necessidade de nitrogênio e elevar a produção das pastagens;

c Subdivisão adequada das áreas de pastagem com cercas, para permitir controle sobre o pastejo, utilização eficiente da foragem e produção elevada por hectare.

d Instalações para facilitar o manejo dos animais e minimizar o uso de funcionários. É indispensável também um grupo de cães de trabalho (normalmente 5 a 6), sem os quais o manejo seria impossível.

e Mão de obra contratada para operações específicas, como tosquia, aplicação de fertilizantes e algumas vezes construção de cercas.

Outra observação importante é que tipicamente a empresa agropecuária neozelandesa é constituída de dois negócios diferentes:

1) o negócio imobiliário, no qual o sucesso é medido pela valorização da terra, e sua compra e venda;
2) o negócio produtivo, no qual o negócio é medido pela eficiência e viabilidade da atividade. Historicamente, na Nova Zelândia o negócio imobiliário é mais lucrativo que o produtivo.

Conclusões

Mesmo que no curto prazo os mercados permaneçam firmes, a questão é o que acontecerá a médio e longo prazo, já que a produção neozelandesa é fortemente dependente das exportações.

A produção ovina na Nova Zelândia ganhou eficiência através dos ganhos em produtividade. No entanto, a confiança do setor interno nos mercados de exportação a torna vulnerável a qualquer futura barreira comercial que os países importadores venham a adotar.

Outros fatores que podem ter um grande impacto sobre a indústria ovina do país são as modificações na utilização das terras, com a conversão para a bovinocultura leiteira, mudanças climáticas e políticas de controle de emissão de gases.

Referências bibliográficas

MORRIS, S.T., Economics of sheep production. Small Ruminant Research 86, p. 59-62. 2009.

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