É evidente que para plantar alimentos e criar animais os produtores rurais no Brasil, como em qualquer parte, tiveram que desmatar. Se não tivessem feito isso, se a vegetação nativa tivesse sido mantida como era quando Cabral aqui chegou, a população brasileira não teria crescido e chegado a 190 milhões de habitantes, que hoje vivem na sua maioria em áreas urbanas, e parecem não ter ideia da realidade da produção dos alimentos que chegam a sua mesa, ou da cana para o etanol, puro ou misturado à gasolina, que é consumido pelos veículos que usam para trabalhar e para passear.
Os produtores rurais sabem que precisam preservar o meio ambiente, os mananciais e rios, as florestas e o solo, para poder produzir e assegurar a sustentabilidade da sua atividade agrícola e pecuária. Mas é óbvio que não podem produzir sem ter terras para a agricultura e pecuária. É preciso um equilíbrio entre as necessidades da produção de alimentos e as necessidades de preservar o meio ambiente, mas parece que a grande maioria urbana não sabe disso.
E essa maioria de brasileiros urbanos, toda vez que sobe o preço dos alimentos, é levada a crer que a culpa é dos produtores que seriam vilões gananciosos, parecendo ignorar que, para produzir os alimentos e a cana para o etanol que a sociedade consome, os produtores dependem de mão de obra, de insumos diversos e das condições do tempo, cujas variações afetam fortemente o custo da produção. Essa maioria urbana também parece ignorar que os produtores rurais, com seu sacrifício, asseguraram a "âncora verde" que foi fundamental para eliminar a inflação desenfreada e conseguirmos chegar à estabilização da nossa moeda, beneficiando a sociedade brasileira, particularmente os mais pobres. E a maioria urbana parece também não saber que o próprio Governo ignora as dificuldades do produtor rural e não os ajuda como acontece em outros países, onde o Governo reconhece o papel fundamental dos produtores rurais para a sociedade e a dificuldade que eles têm para assegurar o alimento para a grande maioria urbana.
Se a maioria dos brasileiros que vive nas cidades soubesse da realidade, talvez ao invés de achar que os produtores rurais são vilões, responsáveis por preços altos dos alimentos, predadores do meio ambiente e devastadores de florestas, talvez achasse até que os produtores rurais são heróis, que trabalham duro para o bem estar da grande maioria que vive nas cidades.
O que a grande maioria da população urbana precisa saber é que é necessário um equilíbrio entre as necessidades da produção de alimentos e as necessidades de preservação do meio ambiente, e que esse equilíbrio não será conseguido com discussões emocionais que só geram desentendimento, mas sim com o entendimento baseado numa discussão técnica e racional.
Um exemplo disso é a questão da reforma do Código Florestal, datado de 1965, e que o próprio ministro do Meio Ambiente, já admitiu que é necessária. Mas a discussão técnica e racional dessa questão se torna impossível se o ministro do Meio Ambiente, ou qualquer ambientalista, partir do preconceito que os produtores rurais são vilões, bandidos, predadores do meio ambiente e devastadores de florestas e adotarem posturas emocionais que fogem do bom senso e dos fatos técnicos e científicos. A grande maioria dos brasileiros, que são urbanos, precisam estar consciente que precisamos equilíbrio entre as necessidades de produzir e as necessidades de proteção do meio ambiente, e que esse equilíbrio é fundamental para o bem estar da sociedade brasileira. A propriedade rural, para cumprir sua função social, tem que equilibrar as necessidades de produção de alimentos, de proteção do meio ambiente e de geração de postos de trabalho. Não é possível ver só um lado da questão, ignorando os outros, e o que é pior, achando que quem olha para os outros aspectos são vilões, bandidos ou vigaristas.
A reforma do Código Florestal envolve fundamentalmente a questão da caracterização das áreas de preservação ambiental, percentuais de área de reserva legal e se no computo da reserva legal deve ou não estar incluída as áreas de proteção ambiental.
O suplemento do meio ambiente da Folha de São Paulo apresenta dados interessantes sobre essa questão, relativos às terras que estariam disponíveis para agricultura no Brasil, considerando os parâmetros do Código Florestal atual e comparando as situações das áreas de preservação permanente serem ou não incluídas no computo da área de reserva legal.
O pior cenário de disponibilidade de terra para a agricultura e pecuária seria manter a situação como disposto no Código Florestal atual, onde as áreas de preservação permanente não podem ser consideradas dentro da reserva legal. Nesse caso, as terras disponíveis para a agricultura e pecuária seriam de 29% segundo a Embrapa e de 36% segundo o Ipam (ONG). Esse seria o melhor cenário para proteção do meio ambiente, com área preservada de 71% segundo a Embrapa e de 64% segundo o Ipam, mas pode ser pouco para assegurar a produção de alimentos que o País precisará nos próximos 30 anos. Existem outros países onde a legislação sobre áreas de preservação permanente e reserva legal limite a algo entre 29% a 26% para as áreas destinadas à agricultura e pecuária? Quais seriam esses países?
O melhor cenário de disponibilidade de terra para a agricultura e pecuária seria o que considera que as áreas de preservação permanente estariam computadas dentro da reserva legal. Nesse caso, segundo avaliação da Embrapa, as terras disponíveis para agricultura e pecuária seriam de 42% segundo a Embrapa e de 43% segundo o Ipam (ONG). Esse seria o pior cenário para a proteção do meio ambiente, mas mesmo assim teríamos 58% segundo a Embrapa e 57% segundo o Ipam de área preservada no País. Existem outros países onde a legislação assegure percentuais de suas áreas pelo menos próximo destes para preservação do meio ambiente? Quais seriam esses países?
A grande maioria da sociedade brasileira, que é urbana, precisa saber que o pleito dos nossos produtores rurais de na reforma do Código Florestal se considerar nas áreas de reserva legal as áreas de preservação ambiental não pode ser recusado por argumentos emocionais e absurdos que procuram achincalhar o produtor rural junto à sociedade, mas efetivamente deve ser analisado técnica e racionalmente para resguardarmos aquilo que sem dúvida é legitimo interesse nacional, que é assegurar o equilíbrio entre as necessidades de produção de alimentos e as necessidades de proteção ambiental.
E com relação a reforma do Código Florestal, a sociedade brasileira precisa também saber que é também legitimo o pleito dos produtores rurais, que se analise técnica e racionalmente as exigências relativas a áreas de preservação permanente e áreas de reserva legal, considerando as dimensões continentais, as diversidades regionais e climáticas do Brasil, o tamanho das propriedades rurais, a quanto tempo as áreas já são usadas para produção agrícola e pecuária, bem como a localização dessas áreas com relação aos grandes centros de consumo.
A sociedade brasileira não pode ser enganada e convencida que os produtores rurais são vilões, bandidos, vigaristas, predadores do meio ambiente por gente que, só por se proclamarem ambientalistas, usam esses argumentos emocionais e absurdos por que não aceitam uma discussão técnica e racional na reforma do Código Florestal, que o próprio ministro do Meio Ambiente já admitiu ser necessária.
O produtor rural não é nem vilão nem herói. É um cidadão brasileiro, que como os demais trabalha para o bem estar e o desenvolvimento de nosso País, e por isso, tal como acontece em outros países, precisa ser respeitado pela sociedade brasileira, a começar pelo ministro do Meio Ambiente.
claudio quadros
Santana do Livramento - Rio Grande do Sul - Produção de gado de corte
postado em 09/06/2009
Caro Sr Marcello de Moura Campos Filho
Achei o seu artigo extremamente bem escrito e concordo plenamente com todos os aspectos nele constantes. A grande questão é esclarecer os 7 entre cada 10 brasileiros, conforme a pesquisa que o senhor citou. Disso precisam ter consciência as entidades que nos representam. Digo mais, precisam partir para a ação, através da utilização dos meios de comunicação, partindo da TV, que está presente em todo o lar dos brasileiros.
Resposta do autor:
Prezado Cláudio Quadros
Agradeço seus comentários.
Você tem razão, precisamos mais ação de nossas entidades junto aos meios de comunicação, sobretudo a TV que está presente na maioria dos lares brasileiros.
Seria muito bom se você e outros produtores gauchos trabalhassem junto a federação de agricultura do estado e outras entidades, no sentido de começarem a fazer as campanhas que precisamos para mostrar para a grande maioria urbana a realidade da produção rural e a importância do produtor rural, seja ele grande, médio ou pequeno para a vida do povo nas cidades.
Abraço
Marcello de Moura Campos Filho