Até aí, nada de novidade, porque este estado de coisas sempre foi figurinha fácil em quaisquer previsões e comemorações a cada final de exercício.
Mas, se assim tem sido, o produtor brasileiro (seja ele agricultor ou pecuarista), deve estar sendo muito bem remunerado, assistido e valorizado, não é mesmo?
Infelizmente, ao contrário do pensamento leigo geral, a resposta a este questionamento está longe de ser positiva.
Em primeiro plano, estamos envolvidos em uma cultura que não valoriza a denominada “prata da casa”, que cultua o produto estrangeiro como sendo muito melhor que o nacional, mesmo que, em essência, não o seja.
Possuir ou adquirir estes estrangeirismos é sinal de status em nossa pobre sociedade, ainda que o produto nacional similar seja mais barato e mais eficiente.
Em segundo plano, o desinteresse governamental com as coisas do campo é patente, chegando ao extremo de, literalmente, matar a sua “galinha dos ovos de ouro”, com permissões eleitoreiras e ideológicas, como a constante importação de leite em pó, mesmo quando a safra brasileira encontra-se em plenos pulmões, o que faz com que o preço do produto, no mercado interno, caia a níveis menores que o custo de produção e, assim, os produtores paguem para produzir, o que, sob qualquer aspecto econômico é inviável e desastroso.
Em terceiro plano, a falta de uma política específica sobre a agropecuária nacional nos leva a ver o produtor escravo da indústria, que faz com ele o que quer, na certeza de que não haverá reação e que a exploração do homem pelo homem não terá nunca limites em nossos hemisférios social e político.
Em quarto plano, as políticas assistencialistas, voltadas, única e exclusivamente, para o voto, têm dilapidado a mão de obra campesina, de sorte que é muito melhor ficar à toa, esperando o dinheiro (ainda que pouco) dos bolsa escola, vale gás, bolsa família e tantas outras bolsas cair nas contas, todo final do mês, que suar a camisa nos quadrantes de uma fazenda qualquer.
Em quinto plano, o descaso com a educação, com a saúde, com a qualidade de vida das populações rurais, castra toda e qualquer ideologia e evita a permanência do homem no campo, atraído pelo canto de sereia da cidade grande, onde ele pode ter melhor salário, melhor residência, melhor escola, melhor sistema de saúde, melhor vida (o resultado final deste enredo é a favela, o abandono das ruas, a linha abaixo da pobreza).
Em sexto plano, as constantes exigências de melhoria de qualidade da produção nacional, voltadas somente para o produtor e, quase nunca, desferidas contra as plantas industriais, que anunciam medidas quase sempre inviáveis ao pequeno e ao médio rurícola, vêm desestimulando e inviabilizando dezenas de bons agropecuaristas que, todos os dias, fecham suas porteiras.
Em sétimo plano, a falta de uma assistência técnica eficiente, barata e democrática, além da propaganda maciça de bens e sistema de produção não condizentes com a realidade brasileira, levam à contramão genética e produtiva, que faz com que a média individual de produção de uma vaca nacional não passe dos pífios cinco litros por dia.
Em oitavo plano, a falta de infraestrutura viária, portuária e de armazenamento tem tornado o escoamento e a armazenagem da produção um verdadeiro caos, mesmo – e, ainda mais – com as enormes safras que têm sido colhidas no Brasil, levando à perda de mais de trinta por cento de todo o fruto das searas nacionais.
Em nono plano, a presença de um política internacional pífia, que se curva ante nações muito menos expressivas comercialmente que a nossa, engolindo atitudes que, em outras plagas levariam à guerra, à retaliação, ao embargo e que tornam nossa presença no comércio exterior digna de pena.
Em décimo plano, a falta de fiscalização do cumprimento das determinações legais por parte dos que por elas são atingidos, companheira inseparável da certeza de impunidade, que determina o descrédito com as normas constituídas e com a lisura da produção levada às gôndolas dos supermercados, o que diminui sobremaneira o consumo.
Em décimo primeiro plano, uma política cambial predatória que encarece os meios de produção e avilta o preço do produto, promovendo o falecimento de diversos projetos bem intencionados e viáveis e que concentra, nas mãos de poucos, grande parte das safras.
A conclusão a que chegamos, após apontarmos todos estes entraves ao bom andamento da produção agropecuária nacional é, infelizmente, a de que não há porque produzir, no Brasil, se, ao final de todo o ciclo, estaremos pagando para manter nossa atividade, trabalhando sempre endividados, desmotivados, desvalidos, abandonados, órfãos.
Se não houver uma reviravolta no foco governamental sobre a atividade agropecuária pátria, tratando os produtores com o respeito e a consideração que merecemos, teremos que importar até o ar que respiramos, mesmo sendo, o Brasil, o virtual celeiro do mundo.
Helton Hipolito de Moraes
Sarapuí - São Paulo - Consultoria/extensão rural
postado em 06/11/2013
Concordo em número, gênero e grau !!!! Estudei uma vida inteira e até mesmo o extensionismo é tolhido ( e até extinto! ) pelos ditos governantes globalizados !!!!!!!! Mas não vamos esmorecer, vamos continuar batalhando por governos menos piores e pela união da agropecuária Brasileira, pois somente este, é o caminho: união e trabalho !!!!!