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Quem é contra privatização?

Por Carlos Arthur Ortenblad
postado em 10/04/2007

17 comentários
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Nada menos que 70% da população brasileira, segundo uma pesquisa realizada em outubro de 2006. Sem o menor constrangimento, ou vergonha, informo estar do lado dos outros 30%.

Certamente, foi pelo fato de expressiva maioria da população brasileira ser contra privatizar empresas públicas, que o candidato Geraldo Alckmin perpetrou uma das cenas mais patetas e patéticas da última campanha presidencial. Acuado e acusado de "privatista" pelo presidente e candidato Lula, Alckmin saiu às ruas, fantasiado de "estatal": boné do Banco do Brasil, jaqueta com logomarcas da Petrobras, Caixa Econômica Federal e Correios. Parecia uma árvore de Natal tupiniquim.

Qual São Pedro negando Jesus Cristo, Geraldo Alckmin - um homem decente - renegou a melhor herança do seu partido, e do governo FHC. Melhor, não necessariamente perfeita.

O pior é que ninguém discutiu o processo de privatização, ou seu antípoda, o estado-empresário, com objetividade e isenção, privando assim a população brasileira de um debate de extrema importância para o futuro do país. "Privatização" virou palavrão, sem que sequer se tivesse debatido o tema. Debatê-lo é o que eu pretendo fazer aqui. Lamento informar, caro leitor, que este artigo é extenso. Tentei "quebrá-lo" em dois, mas não consegui.

Vários motivos podem explicar a aversão do brasileiro à desestatização. Provavelmente, nossa herança cultural e religiosa lusitana tenha peso predominante, já que lucro é visto como "pecado", e todo cidadão ou empresa bem sucedidos haverão de ser "ladrões". Não é de estranhar, portanto, que Portugal seja um dos "lanterninhas" da União Européia, sendo ultrapassado em índices econômicos e sociais por países até recentemente (e compulsoriamente) comunistas, mas hoje com visão empresarial moderna. O que, no nosso caso, me lembra a famosa frase de Tom Jobim: "O brasileiro perdoa tudo, menos o sucesso (dos outros)".

É possível também que esteja arraigado na alma brasileira o conceito patrimonialista, através do qual o cidadão se vê lesado quando uma empresa pública torna-se privada. Também não deve ser excluída a noção assistencialista, pela qual sempre se espera uma sinecura ou um emprego em empresa estatal ("Emprego", não necessariamente "Trabalho").

Os motivos que levam à ojeriza de se privatizar algumas empresas públicas podem ser explicados também por idiossincrasias pessoais, ou por Freud. Dificilmente serão justificados pela lógica e pelos números.

Mesmo aqueles que não são avessos à desestatização (ou privatização), têm, por vezes, discordância em relação a dois aspectos: o destino do dinheiro arrecadado com as vendas, e o preço pelo qual as estatais foram vendidas. Na minha opinião, estão corretos em relação ao primeiro item, e equivocados quanto ao segundo.

Realmente, o destino dado aos recursos oriundos da venda de estatais pouco contribuiu para a melhoria macroeconômica do Brasil. Se tivessem sido usados para amortizar a dívida pública federal, hoje em torno de 50% do PIB, não apenas esta seria bem menor, como também os juros, cujo patamar é determinado pela constante e crescente demanda do estado por recursos. Ao invés disto, serviram, em grande parte, para tampar buracos em administrações estaduais e municipais, que tiveram suas dívidas com a União renegociadas em condições vantajosas. Para, logo após, tornarem-se novamente insolventes, através de má administração e de malversação de recursos. Mas isto não é culpa da privatização, e sim de uma decisão política infeliz e equivocada.

Quanto ao "preço" pelo qual algumas estatais foram vendidas, julgado muito baixo, leva-se em conta o valor destas empresas hoje - após investimento de bilhões de dólares pelos novos donos - e não o valor da época, quando muitas delas eram deficitárias.

Com o respaldo de números, vamos tentar desmistificar alguns preconceitos contra privatização:

  • Empresas privadas inexoravelmente demitem funcionários: no caso das empresas privatizadas, o contingente de funcionários, em média, aumentou. A Companhia Vale do Rio Doce, que em 1997 (estatal) tinha 11.000 funcionários, fechou o ano de 2006 (privatizada) com 44.000 empregos diretos, mais 93.000 indiretos. O setor de telecomunicações que empregava 200.000 pessoas quando estatal, hoje dá emprego a mais de 300.000.


  • As privatizações foram "jogo de carta marcada": não é impossível, mas altamente improvável, já que todas as empresas desestatizadas foram vendidas em leilões públicos, com prévio e amplo acesso a informações, inclusive com "data rooms", conduzidos ou assessorados pelo BNDES, e fiscalizados pela CVM.


  • Empresas privadas preocupam-se em obter lucro, não com o bem estar da sociedade: verdade, e assim deve ser. É através do lucro que se dá emprego, bons salários, recolhe-se impostos, e realizam-se investimentos - servindo assim ao bem estar da sociedade. O setor siderúrgico, quando estatal, gerou em 1992, um prejuízo consolidado de US$ 260 milhões ao Tesouro Nacional, prejuízo este pago por todos, inclusive eu e você. Já em 2005 (privatizado), redundou em lucro de US$ 4 bilhões. E exatamente porque almejam lucro, é que empresas privadas servem melhor a sociedade, produzindo bens e serviços melhores a preços mais baixos. Não se trata de benemerência, e sim de competição.


  • Empresas públicas são mais direcionadas ao "social": seja lá o que esta sandice signifique, é bom que se deixe claro que os objetivos de uma empresa pública e privada são diferentes. Empresas públicas normalmente são mais ineficientes - pois não há pressão dos acionistas - e produzem menos e pior que empresas privadas, basicamente pelo mesmo motivo. Alguém se lembra como era a telefonia neste país há alguns anos atrás? Telefone era coisa tão cara, que se lançava como ativo, na declaração anual do Imposto de Renda!


  • Além de só ser alcançável pelas classes A e B, pagava-se a futura linha ao longo de 5 anos, prazo por vezes não suficiente para que o telefone fosse instalado. O preço da linha telefônica de meu primeiro celular (que mal funcionava) custou-me quase US$ 5.000,00. Hoje o Brasil já tem mais de 100 milhões de celulares, democratizando a telefonia, que serve igualmente as classes A e B, como também as C, D e E (responsáveis por 60% do total).

    Apenas 32% das residências no Brasil eram servidas por telefonia fixa ou celular em 1998, contra 72% em 2005. Um espetacular salto de 124% em 7 anos. Em relação à Internet, chega a ser piada. A Telebrás dispunha de 120.000 conexões para o Brasil todo, via internet discada. Hoje, em mãos de empresas privadas, são dezenas de milhões, boa parte "banda larga", e, em breve "wi-fi" (sem fio).

  • Empresas públicas são mais cuidadosas com o Meio Ambiente: bobagem. Lembram-se dos constantes vazamentos de petróleo, e dos desastrosos danos ambientais causados pela Petrobras? Lembram-se que a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) era conhecida como o "Monstro do (rio) Paraíba"? Apenas no setor siderúrgico, após privatizado, foram investidos US$ 16 bilhões (sim, bilhões. E sim, dólares) em proteção ambiental.


  • Empresas públicas servem à Nação, e as privadas apenas aos acionistas: é óbvio que empresas privadas sirvam a seus acionistas, inclusive àqueles que sabiamente usaram seu FGTS para adquirir ações de companhias como a CVRD. Mas não é óbvio que empresas públicas sirvam à Nação. Muito ao contrário, a Nação é que as servia cobrindo déficits. Mesmo empresas competentes, como a Petrobras, sofrem pelo fato de terem seu controle acionário nas mãos do governo. Por vários motivos, mas, principalmente, por ser usada para fins políticos internos e externos (Evo Morales na Bolívia, Hugo Chávez na Venezuela, e, em breve, Rafael Correa no Equador) o valor de mercado da Petrobras diminuiu US$ 11 bilhões (sim, bilhões. E sim, dólares) de 2005 para 2006. Isso enquanto outras empresas de petróleo mundiais - privadas - obtinham valorizações patrimoniais recordes.


  • Serviços essenciais em mãos de empresas privadas podem facilmente ser "cartelizadas": sim, é verdade. Assim como é verdade que o monopólio estatal é mau, nem tanto por ser estatal, mas sim por ser monopólio. Para evitar os efeitos nocivos de "cartelização" é que foram criadas, na década de 90, agências reguladoras como Anatel, Aneel, ANP, ANS, Anac - atualmente abandonadas pelo governo federal, que sequer nomeia diretores, impedindo-as de operar estatutariamente. E quando o faz, coloca na direção pessoas tecnicamente não qualificadas.


  • Já se esqueceram dos diversos "apagões aéreos" que praticamente fecharam a aviação civil no Brasil, e a atuação pífia, ridícula e ineficaz da Anac (e da Infraero), durante esses episódios? Enquanto isso, na Inglaterra, quase todo serviço aeroportuário é privado. Não há greve de controladores de vôo, nem os aeroportos são fechados por causa de chuva ou neblina. Ao menos, não com a constância como o são no Brasil. E o clima na Inglaterra é bem mais inclemente que o brasileiro.

  • O estado tem condição de investir mais que o setor privado: até deveria ser verdade, considerando que os governos se apropriam de quase 40% da renda nacional. Mas isso é outra mistificação. Apenas como exemplo, a Vale do Rio Doce investiu US$ 5 bilhões em 2006 (sim, bilhões. E sim, dólares) - mais de 10 vezes o que investiu em 1997, quando era estatal. Além disso, recentemente adquiriu, por US$ 18 bilhões (sim, bilhões. E sim, dólares), a mineradora canadense Inco, tornando-se uma das 5 maiores mineradoras do mundo. A CSN recentemente tentou, e quase conseguiu comprar o grupo siderúrgico europeu Corus, em operação também de bilhões de dólares. O mesmo nível de investimentos ocorre em outros setores, total ou parcialmente privatizados.


  • Privatização então é a cura para todos os males? Não, não é. E principalmente, quando mal feita, ou de maneira incompleta, como foi o caso da energia elétrica. Não apenas a regulamentação foi (e é) falha, como também privatizou-se o que é mais rentável (distribuição de energia), mantendo-se estatizado o que é mais caro e, consequentemente, de retorno mais lento: a geração de energia elétrica.


  • O mais incrível para mim nesta ausência de debate sobre privatização, não é tanto o que deixou de ser privatizado. E sim o que foi - ou está sendo - privatizado, e não deveria ser, já que são serviços essenciais à população: saúde, educação, saneamento, e segurança. O verdadeiro papel do estado é cuidar de serviços essenciais ao bem estar da população, especialmente a de baixa renda. Mas não é isso o que acontece quando o governo resolve usar recursos escassos produzir, com prejuízo, aço (Cosipa, CSN), ferro (CVRD), ou aviões (Embraer, Helibrás).

    Como prescreve a sabedoria popular, cada macaco no seu galho. No fundo, assim como na superfície, a questão é tão simples quanto isso.

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    Carlos Arthur Ortenblad    Rio de Janeiro - Rio de Janeiro

    Consultoria/extensão rural

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    Comentários

    Marcelo Tavares Pinheiro

    Campos dos Goytacazes - Rio de Janeiro - Instituições governamentais
    postado em 10/04/2007

    Ótimo artigo. Sucinto, direto, oportuno e preciso. Parabéns.

    É nítida a mudança da condição financeira destas empresas após privatizadas. Lembro muito da CSN que de deficitária passou a superavitária em pouco tempo.

    Ressalto aqui minha condição de servidor público, pois entendo que, antes disto sou um cidadão, muitas vezes até inconformado com o que vejo (e vivencio).

    Acredito que o índice de 70% deriva muito da atitude do povo que espera um governante paternalista e "salvador". As pessoas se esquecem que ninguém melhor para resolver seus problemas que o próprio dono do problema.

    Valorizo, no entanto, minha situação de servidor público, tenho orgulho da minha postura profissional. Contudo, há momentos que as necessárias ações mostram-se além de nossas possibilidades, o que chega a ser frustrante. Mas em todos os campos podem haver momentos assim, principalmente no campo (meio rural, que amo!), dadas as incertezas provocadas por questões naturais.

    Um grande abraço e parabéns uma vez mais.

    Em tempo: gosto muito da raça Tabapuã.

    Resposta do autor:

    Prezado sr. Marcelo Tavares Pinheiro,

    Inicialmente, quero agradecer a sua gentil avaliação de meu artigo. Em segundo lugar, dizer que o funcionalismo público, antes muito valorizado no Brasil, é a grande vítima do estado-empresário, que disvirtuou seus objetivos.

    A sucessiva degradação conceitual, salarial e motivacional do funcionalismo público no Brasil é uma tragédia, que acentuou-se no governo Collor. Boa parte da família de minha mãe, de origem mineira, era, como o senhor, composta de "servidores" públicos. A palavra "servidor" era mencionada com orgulho, e não com submissão.

    É emblemático o fato que - durante o Império - o cerimonial colocava professores acima de ministros. Não mais. Pena.

    Atenciosamente,
    Carlos Arthur Ortenblad

    Hugo Fontoura Soares Carvalho

    Viçosa - Minas Gerais - Engenheiro Agrônomo
    postado em 10/04/2007

    Infelizmente o Brasil está tomado pelos 70%, a prova disto está no próprio comando do Brasil. Isto porque o ex-candidato a presidência do PSDB teve até mesmo, com certeza contra a sua vontade, de quase afirmar claramente que era a favor desta real burrice que só é cometida em países tomados por bandos esquerdistas, e populações carentes em educação, não é mesmo América Latina? Com certeza em se tratando de buscar votos agiu corretamente o canditado do PSDB, senão acabaria era perdendo por diferença ainda maior de votos, votos dessas pessoas, que não as culpo, mas carentes em educação.

    E que assim continue o Brasil, mas cuidado hein, porque com esta política não podemos esperar jamais ser mais que um simples e apagado Portugal ou até mesmo, se entrarmos de carona com o resto da América Latina, como vem ocorrendo, futuramente uma Cuba. Sei lá qual é menos pior, o atual presidente Lula (que faz parte dos 70%) deve saber nos responder.

    Enquanto isso, que continuemos com a hipocrisia lusitana nos reinando.

    Parabéns Carlos Arthur pela esplêndida explanação, pena que quem a lê, sejam apenas uma pequena porcentagem dos 30%.

    Resposta do autor:

    Prezado Hugo,

    Obrigado pelo gentil estímulo. É triste, mas tenho de concordar com sua excelente expressão "jamais ser mais que um simples e apagado Portugal".

    Eu estava há pouco respondendo a um leitor do MilkPoint, e trocávamos opiniões sobre a desvalorização de servidores púbicos no Brasil, acentuada quando o estado resolveu tornar-se empresário.

    Embora eu não seja monarquista, há que se verificar uma certa decadência após a República. É emblemático o fato que - durante o Império - o cerimonial colocava professores acima de ministros.

    Abraço,
    Carlos Arthur Ortenblad

    Marcos Tadeu Cosmo

    Sales - São Paulo - Produção de leite
    postado em 10/04/2007

    Prezados Carlos,

    Obrigado pela clareza e didática das suas palavras ao discorrer sobre tema tão árido e mal aclarado. Creio ser uma pena que poucos (comparado à nossa população) conseguiriam ser chamados por tal assunto, a refletir sobre por que certas coisas no país vão andando (ainda que de lado) sem que tenham recebido qualquer impulso verdadeiro para isso.

    A nossa herança dos colonizadores que ainda nos mantêm reféns de cartórios, firmas reconhecidas, despachantes, certamente colabora e muito para que o estado de coisas permaneça como está.

    Um abraço,

    Marcos

    Resposta do autor:

    Prezado Marcos,

    Obrigado a você pela gentileza. Quando você falou em cartórios e burocracia em geral, tocou-me um nervo exposto.

    Estou exatamente há cinco anos tentando dar baixa em uma pequena firma inativa. Outro dia, reclamando da morosidade com o contador e com o despachante (sim, o inevitável "despachante"), este me disse, algo ofendido: "Estamos até indo rápido. Aqui no Rio de Janeiro, o tempo médio para dar baixa em uma empresa é de onze anos!". É preciso dizer mais?

    Abraço,
    Carlos Arthur Ortenblad

    João Batista Ferreira Gomes Neto

    Fortaleza - Ceará - Produção de leite
    postado em 10/04/2007

    Excelente artigo. Claro e didático.

    Um ponto a ser lembrado é que as empresas públicas são "loteadas" entre os partidos políticos, muito de seus diretores são indicados apenas por indicação política e, na maioria das vezes, esses não têm conhecimento técnico adequado para a função, tornando essas empresas mais ineficientes e caras para o contribuinte.

    João Batista F. Gomes Neto

    Resposta do autor:

    Prezado sr. João Batista Figueiredo Gomes Neto.
    Obrigado por suas palavras gentis. Concordo que este "loteamento", ou "aparelhamento", como os políticos preferem, é uma praga.

    Não me sai da memória a frase do atual ministro do Trabalho (sic) Carlos Lupi, ao saber que este seria o seu ministério, e não o da Previdência Social, como de início a ele prometido pelo presidente Lula: "Ótimo. No Ministério do Trabalho é mais fácil nomear, que na Previdência, onde o perfil é mais técnico".

    Bem pode-se imaginar o nível das tais nomeações.

    Atenciosamente,
    Carlos Arthur Ortenblad

    PS: Não tem nada a ver com o tema. Mas ao ver que o senhor é de Fortaleza, não me contenho em dizer que uma das melhores férias que meus filhos e eu passamos foi em Fortaleza - cidade e povo adoráveis - e arredores.

    Wilson Mota da Silva

    Curitiba - Paraná - Estudante
    postado em 10/04/2007

    Criou-se no imaginário popular brasileiro a idéia que a empresa pública atende demandas sociais (o que acontece na propaganda). Veja a situação dos pequenos e médios agricultores brasileiros, existe a Embrapa (instituição federal) e alguns estados têm empresas equivalentes, mantidas com o recurso público, imposto que todos somos obrigados a pagar (o empregador o trabalhador, o produtor rural, o consumidor...). Boa parte destes recursos vão para a Embrapa, que além da pesquisa deveria prestar assistência aos pequenos e médios agricultores que não possuem condições de pagar por uma consultoria privada.

    Deveria tal empresa pública contratar agronômos, vetarinários, zootecnistas entre outros profissionais para atender aos agricultores, mas isto não ocorre. O recurso público chega até esta empresa, mas eu desconheço agricultor que tenha recebido assistência, tanto a minha família quanto a de minha esposa têm muitos agricultores e, nenhum deles recebeu atenção de empresa pública nenhuma.

    Quando se desmistificar tal pseudo-compromisso social de estatais para com a população, o termo privatizar perderá seu caracter satânico.

    Resposta do autor:

    Prezado sr. Wilson,

    Muito bom seu comentário. É extremamente feliz (apesar da circunstância infeliz) a sua frase: "Quando se desmistificar tal pseudo-compromisso social de estatais para com a população, o termo privatizar perderá seu caracter satânico". Parabéns.

    Atenciosamente,
    Carlos Arthur Ortenblad

    Fabiano Santos Junqueira

    Pará de Minas - Minas Gerais - Pesquisa/ensino
    postado em 11/04/2007

    Caro Dr. Carlos Arthur,

    Em primeiro lugar, gostaria de parabenizá-lo pelo brilhante artigo.

    Também me incluo entre os 30% dos que são favoráveis à privatização. O exemplo da telefonia, citado pelo Sr., é o mais marcante das vantagens da privatização.

    Acho que o melhor deste artigo é trazer a tona um tema que é verdadeiro "tabu" entre nós, com a maioria das pessoas tendo vergonha de defender as privatizações. Acho que se o PSDB tivesse adotado uma postura mais agressiva em defesa do que fez, ao contrário de se sentir envergonhado, talvez o resultado das últimas eleições fosse outro.

    Fabiano Junqueira

    Resposta do autor:

    Prezado Dr. Fabiano,

    Obrigado pelo incentivo. O mais dramático para mim, não é se as pessoas são contra ou a favor das privatizações, e, consequentemente, não defnirem qual é o papel do estado no Brasil.

    Ontem mesmo respondi a uma carta de outro leitor do MilkPoint que é contrário às minhas idéias. A diversidade - graças a Deus - faz parte da vida e a enriquece.

    O que me desanima muito é um assunto tão vital, sequer ter sido abordado na última campanha presidencial.

    Atenciosamente,
    Carlos Arthur Ortenblad

    Louis Pascal de Geer

    Barretos - São Paulo - Consultoria/extensão rural
    postado em 11/04/2007

    Olá Carlos,

    É muito oportuno este artigo seu sobre a privatização, e confesso a você que hoje penso diferente sobre este assunto do que uns anos atrás quando assinava um cheque em branco para que tudo possível deveria ser privatizado.

    Mas hoje eu estou um cliente descontente das empresas de telecomunicações, das empresas fornecedores de energia elétrica e das concessionárias de rodovias. As agencias reguladores são no meu ver uma farsa porque não cumprem a missão que foi dada a elas.

    Defendo a posição da União ser acionista com um "golden share" das empresas essenciais para a sociedade, que desta maneira podem ser privatizadas, e que a gestão destas empresas seja totalmente profissionalizada. O que aconteceu nas rodovias com os pedágios é para mim escandaloso porque houve e esta havendo ainda abusos nas tarifas.

    Se tem que privatizar pelo menos paga o que pesa e resgate o bem da sociedade que não pode sofrer abusos causados pela inércia da função fiscalizadora do governo.

    Um abraço,
    Louis

    Resposta do autor:

    Prezado Louis,

    Concordo que as agências reguladoras têm sido - na maior parte das vezes - um absoluto fracasso.

    Assim como concordo que o pedágio nas estradas brasileiras privatizadas é caríssimo, mesmo para padrões de renda europeus e norte-americanos. Mas o ponto nevrálgico, a meu ver, é que uma execução deficiente não invalida uma boa idéia.

    Como ambos concordamos que o governo não tem capacidade, ou interesse, em sequer fiscalizar - imagine-se se fosse ele o próprio empresário.

    Abraço,
    Carlos Arthur

    Fernando Antonio de Azevedo Reis

    Itajubá - Minas Gerais - Produção de leite
    postado em 12/04/2007

    Sr. Carlos Arthur,

    Gostei de seu artigo, mas até hoje não tenho claro se a privatização do setor elétrico e de telecomunicações foi bom para o povo, na telefonia o acesso ao telefone fixo foi mais fácil, mas o custo das ligações ainda está muito alto.

    No setor elétrico, eu vivenciei de perto, pois fui funcionário da Eletropaulo por 14 anos, saí no primeiro PDV, acredito ter acertado na minha decisão, pois hoje com muita satisfação, sou produtor de leite aqui no sul de minas. A interferência política era muito grande nas estatais do setor elétrico, mas inicialmente privatizaram a distribuição! Será que foi bom para o estado que reduziu seu tamanho trazendo mais benefícios para a população, não vejo isso.

    O Geraldo Alckmin não foi um dos coordenadores da privatização no estado de São Paulo? O Fernando Henrique e o PSDB não foram os maiores vendedores no final do seculo XX?

    O senhor teria o valor total das privatizações no ambito federal e estadual? Tivemos no mundo volume de privatizações semelhante ao ocorrido no Brasil? O sociólogo se tornou um dos maiores vendedores do planeta?

    Gostaria realmente de saber, pois nunca vi nada publicado a respeito.

    A questão é, obtivemos melhorias para o povão, de um modo geral, com as privatizações? A resposta não pode estar nas urnas?

    Estatal ou Empresa Privada, me parece polêmicas como confinado ou a pasto, gado puro ou cruzado, raça holandesa ou jersey ou girolanda ou pardo...
    Qual é a verdade?

    Atenciosamente

    Fernando A Azevedo Reis

    Resposta do autor:

    Prezado sr. Fernando A. de A. Reis,

    De início, respondo sua pergunta: não, FHC não foi o maior vendedor do planeta. Esta honra cabe a Gorbatchov e Yeltsin - com as privatizações ocorridas na ex-URSS a partir de 1990.

    Passando para o Brasil: a meu ver, a privatização da telefonia foi excelente para o povo, principalmente para as classes C, D e E - que simplesmente não tinham condições de adquirir telefones. E o prazo para eventual instalação de telefones fixos era de anos. E os celulares, muito caros.

    A privatização do setor elétrico, para mim, foi mal executada - e disse isso no meu artigo. Privatizou-se o mais rentável (distribuição), mas manteve-se estatal o mais caro, e de mais lento retorno (geração de energia elétrica).

    De forma geral as tarifas são muito altas (pedágios, telefones, luz elétrica, etc.), pois para tornar a venda mais atraente, havia nos contratos cláusula de reajuste de tarifas pelo IGP-M, e não pelo custo de produção dos bens e serviços, durante anos mais baixos que aquele índice. Por mais que se tente controlar isso daqui para frente, sempre se partirá de um piso (ou base) muito alto.

    Também disse em meu artigo que o dinheiro oriundo da venda de estatais foi mal usado. Ao invés de diminuir a dívida pública federal, e, assim, forçar para baixo os juros básicos (SELIC) - o dinheiro arrecadado foi, por motivos políticos, utilizado para tampar buracos em administrações estaduais e municipais, que, por não seguirem (com a conivência do legislativo e do judiciário) a Lei de Responsabilidade Fiscal, encontram-se, em boa parte, novamente falidos.

    O estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, gasta 20% mais do que arrecada. E não é que arrecade pouco, é que os gastos em despesas correntes são excessivos (e não incluem investimentos).

    Isto tudo dito, o senhor poderá se perguntar por que o autor então é tão favorável à privatização. Como respondi a outro leitor: o ponto nevrálgico, a meu ver, é que uma execução deficiente não invalida uma boa idéia.

    Atenciosamente,
    Carlos Arthur Ortenblad

    Pérsio Perondi

    Porto Ferreira - São Paulo - Produção de gado de corte
    postado em 14/04/2007

    Boa tarde Sr. Carlos,

    As suas palavras foram expressas na quantidade certa, nem mais, nem menos. Seu artigo foi adequado, entretanto, poderia ter sido publicado e bem divulgado antes das eleições, com dois objetivos: O primeiro para o "povão" ler, refletir e concluir, o segundo para a equipe de marketing político do ex-canditado Geraldo Alckmin, a manter e defender com argumentos verdadeiros, a privatização inteligente.

    O problema da herança cultural lusitana é fato, principalmente por termos sidos explorados e não colonizados. Já no caso dos EUA, por se tratar de colonização, a mentalidade lucrativa é muito bem vinda. Naquele país, pessoas bem sucedidas (honestamente, é óbvio) são reconhecidas, respeitadas e tidas como exemplo. Já aqui no Brasil, suas palavras estão bem expressas, bem sucedido = ladrão e explorador.

    Um forte abraço e parabéns pelo ato de coragem Sr. Carlos, pois 70% da população tupiniquim, está contra.

    Pérsio Perondi

    Resposta do autor:

    Prezado sr. Perondi,

    Não me importa ter 70% contra, se, dentro dos outros 30%, há pessoas do seu quilate.

    Abraço,
    Carlos Arthur Ortenblad

    Diego Ghedini Gheller

    Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Instituições governamentais
    postado em 16/04/2007

    É claro que só podem ser feitos elogios a seu artigo, caro Ortenblad, afinal nos traz uma visão diferente daquela que normalmente nos é transmitida. Só gostaria de deixar alguns exemplos de empresas ou instituições públicas que dão certo, como é o caso da nossa EMBRAPA, reconhecida mundialmente, da fiscalização feita pelo MAPA aos produtos de origem animal, que, apesar dos recentes problemas com aftosa, conseguiu fazer do Brasil um dos maiores exportadores de carne.

    Quero lembrar também das nossas Universidades Federais, que, diga-se de passagem, são as que detém o ensino de melhor qualidade do país. Não se pode colocar todas as empresas ou instituições públicas num mesmo saco.

    Além disso, não se pode esquecer que a maioria das empresas privatizadas, hoje pertencem a patrimônios estrangeiros, inclusive os serviços básicos como telefonia e transmissão de energia, ou seja, o Brasil já não tem mais poder total sobre estes setores, o que nos coloca numa situação delicada, em caso de haver um caos mundial ou até mesmo uma disputa com o país detentor do serviço aqui no Brasil.

    De certa forma nos coloca nas mãos de outros países. É como se tivéssemos multinacionais operando nossos serviços básicos, muito perigoso na minha opinião.

    Diego Gheller

    Resposta do autor:

    Prezado sr. Gheller,

    Eu não mencionei a EMBRAPA em meu artigo, pois este não tratava de empresas de pesquisa, como a própria Embrapa, Fapesp, Finep e outras - que podem fazer convênios com empresas privadas mas, para não incorrerem no erro do imediatismo, devem permanecer públicas (e apolíticas).

    As modernas agricultura e pecuária que temos hoje no Brasil muito devem à EMBRAPA, cujo excelente corpo de pesquisadores revolucionou a agricultura de precisão no Brasil. Muitas críticas são feitas em relação ao resultado de pesquisas não chegar ao médio e pequeno agricultor, ou pecuarista, mas aí é um problema de extensão rural e não de pesquisa.
    Concordando com o senhor neste ponto, discordo no outro.

    As grandes empresas que antes eram chamadas de multinacionais e mantinham poder decisório em seus países de origem, hoje são transnacionais e apátridas. O que as rege é lucro e performance, e não origem. A maior cervejaria do mundo, a Inbev, é brasileira (Ambev) ou belga (Interbrew)? Ninguém sabe, nem se importa. O que importa aos acionistas - de todas as nacionalidades - da Inbev, resultante da fusão de ambas, é a performance da empresa.

    Assim como este, há dezenas de outros exemplos. É um dos efeitos da globalização, que gerou coisas boas, e outras nem tanto.

    Atenciosamente,
    Carlos Arthur Ortenblad

    João Francisco S. Vaz

    Pelotas - Rio Grande do Sul - Indústria de insumos para a produção
    postado em 16/04/2007

    Sr Carlos,

    Seu artigo me fez lembrar do Sr Antônio Ermírio de Moraes candidato ao Governo Paulista na década de 90. Mais do que simplesmente vencer a eleição, sua mensagem era uma alternativa aos políticos carreiristas, demagógicos e irresponsáveis com o dinheiro público, do tipo Maluf, Quércia, sem falar dos esquerdinhas dogmáticos.

    Na oportunidade sua votação foi pequena, e de lá prá cá, o comandante da Votorantin nunca mais se candidatou à nada. Isto prova que, de maneira geral, o brasileiro não avalia com sensatez e conhecimento seu voto. Ficamos vulneráveis e literalmente nas mãos de gente que, via de regra quer se servir do Brasil, e não servir ao Brasil.

    Déficit público crescente, rombo na Previdência, CPMF que se perpetua indefinidamnte, impostos iguais aos da Suécia e serviços públicos de Bangladesh. Discutir privatizações sob o aspecto técnico e com fatos, não interessa aos que estão no poder e muito menos àqueles que os sustentam, sejam apenas seus eleitores ou não.

    Cumprimentos pelo artigo

    Resposta do autor

    Prezado sr. João Francisco S. Vaz,

    Agradeço suas amáveis palavras, e compartilho de seu sentimento em relação ao sr. Antonio Ermírio de Moraes, a quem não conheço pessoalmente, o que não diminui a grande admiração que tenho por ele.

    Quanto ao estado das coisas neste nosso Brasil: tenho um grande amigo, médico de sucesso com agenda lotada, e que poderia estar rico se quisesse. Ao invés disso, dois dias por semana, ao invés de clinicar, dá aulas de pós graduação na UFRJ.

    Estou acabando de chegar da faculdade, onde ele convidou vários amigos para verem o estado deplorável em que se encontram laboratório e instalações. A intenção dele era sensibilizar as pessoas em fazer doações para que pudessem colocar as coisas para funcionar, já que, pelos canais oficiais, não tinha verba, ou se tinha verba não havia o tal do empenho, sei lá. Fiz a doação solicitada, mas voltei deprimido.

    Abraço,
    Carlos Arthur Ortenblad

    Paulo Fernando Andrade Correa da Silva

    São José dos Campos - São Paulo - Produção de leite
    postado em 16/04/2007

    Prezado Sr. Ortenblad,

    Parabéns pelo artigo. Até hoje não me conformo com a omissão do PSDB na última campanha presidencial. O partido, e seu candidato, não tiveram a coragem de defender as privatizações mais que acertadas que haviam implementado na gestão do presidente Fernado Henrique Cardoso.

    Na minha opinião faltou ao seu artigo enfatizar o enorme sucesso da Embraer após a privatização. Hoje a terceira mais importante fábrica de aviões do mundo, a Embraer antes quase falida quando estatal, admite milhares de brasileiros com empregos de primeiríssima qualidade, só comparáveis aos existentes nos países desenvolvidos.

    Paulo Fernando Andrade Corrêa da Silva

    Resposta do autor:

    Prezado sr. Paulo Fernando Andrade Correa da Silva,

    O senhor tem toda razão. Omissão imperdoável, esta minha. E logo eu que admiro tanto o Maurício Novis Botelho, que está deixando a presidência da Embraer.
    Mas o sucesso da Embraer é tão retumbante, que não sentirá falta da minha involuntária omissão.

    Obrigado,
    Carlos Arthur Ortenblad

    Renato Fonseca

    Belo Horizonte - Minas Gerais - Produção de leite
    postado em 16/04/2007

    Sr Carlos,

    O Sr. utiliza a técnica intelectualmente desonesta de comparar o que há de pior no sistema estatal com o que há de melhor no sistema privado. Temos que evitar essa dicotomia falsa Estatal x Privado, se quisermos discutir com a devida isenção assuntos de tamanha importância.

    O Sr. acredita que o Brasil teria o desenvolvimento industrial que hoje apresenta não fosse a coragem de alguns estadistas para formar empresas estatais do porte da Eletrobrás, daTelebrás e da Petrobrás?

    Quando o Sr. compara a tecnologia disponível na época da privatização do sistema Telebrás com aquela que temos hoje, comete um equívoco tremendo. Seria o mesmo que estatizar a Microsoft no tempo do DOS 1.0 e, quando do lançamento do Sistema Windows, dizer que tal avanço se devia à mudança de controle acionário.

    As famosas virtudes da administração voltadas para os acionistas não se coadunam com os retumbantes escândalos da Enron, Worldcom, etc. para ficar nos EUA, que são muito mais sérios do que nós outros.

    Poderia enumerar muitos outros argumentos contra o tom panfletário do seu artigo. Por oportuno, gostaria de lembrar-lhe que algumas das maravilhas tecnológicas do mundo moderno foram desenvolvidas no seio do Estamento Militar Americano (nada pode ser mais estatal do que isso), como a Internet, o sistema GPS, tecnologias de novos materiais, etc.

    Embora possa parecer o contrário, sou tão avesso à burocracia, ao aparelhamento do estado e à ineficiência como o Sr. demonstrou ser. Apenas acho que as críticas devem ser feitas de forma correta, para não embaralharem a compreensão. Aliás, uma pergunta para o Sr. responder: se os setores como Educação, Saúde, Saneamento e Segurança são os mais importantes para a população, por que não entregá-los à eficiência inconteste da Empresa Privada?

    Resposta do autor:

    Prezado Senhor,

    Só respondo sua carta porque, em respeito aos leitores e ao MilkPoint, me propus a responder todas as cartas que a mim são destinadas. Porém, faço-o sem qualquer prazer, pois creio que pessoas civilizadas podem discordar sem ofender, como o senhor me fez, desnecessariamente.

    Não tenho a menor pretensão de ser dono da verdade. Ainda agora, respondi carta de leitor do BeefPoint que chamava atenção a uma omissão minha. Ele está certo, e eu errado. Não mencionei a Embraer, que, após privatizada, tornou-se a 3ª maior fabricante de aviões comerciais do mundo. Mas vamos à sua carta:

    (1) A World Wide Web (ou internet) não foi desenvolvida, nem descoberta pelo "estamento militar americano", e sim por pelo professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology) J.C.R. Licklider. Seu trabalho foi seguido e implementado pelos professores (todos civis) Ivan Sutherland, Bob Taylor e Lawrence G. Roberts. Concomitantemente, cientistas ingleses - todos civis - desenvolviam trabalho similar.

    (2) Reproduzo e respondo sua indagação: "Aliás, uma pergunta para o Sr. responder: Se os setores como Educação, Saúde, Saneamento e Segurança são os mais importantes para a população, por que não entregá-los à eficiência inconteste da Empresa Privada?" Porque, mundialmente, são serviços pouco lucrativos, ou até deficitários. É, pois, dever do estado prover serviços de boa qualidade à população. Para isso se paga impostos, e não para se criar "cabides de emprego" em empresas não essenciais à população, principalmente à mais carente.

    Carlos Arthur Ortenblad

    João Gustavo de Paula

    Montes Claros - Minas Gerais - Produção de gado de corte
    postado em 16/04/2007

    Mais uma vez fomos brindados com um excelente artigo do Carlos Ortenblad. É fato que a pecuária brasileira perdeu com sua aposentadoria precoce (embora entenda que feita no momento certo e da forma mais inteligente possível). Dificilmente veremos outro rebanho bovino de elite abandonar os artificialismos das pistas de julgamento (como campeão inquestionável) e se dedicar à seleção à pasto, que é a realidade da pecuária nacional; ou ainda um estudo abrangente e criterioso como o TAB67, e também o compartilhamento gracioso com os leitores do BeefPoint de um knowhow invejável em custeio agropecuário. Para compensar, contudo, o país ganhou um articulista brilhante que agora dispõe de tempo para uma produção cada vez mais incisiva e constante. Alguém que não se omite de expressar suas opiniões isentas e não tem preguiça de pesquisar os dados que suportam sua lógica impecável. Esse aspecto até me fez lembrar da epígrafe de um livro americano de estatística que dizia "Em Deus nós acreditamos. Todos os demais devem trazer dados!". Por favor continue assim. Sua contribuição faz diferença.

    Achei o artigo objetivo e pródigo em dados incontestáveis. Ele toca em um tópico que julgo de crucial importância para o destino do Brasil. A ausência do poder público de toda atividade econômica que fuja de seus objetivos sociais, como bancos, energia, telecomunicações etc, se justifica pelas ineficiências administrativas inerentes do serviço público.

    Para simplificar o raciocínio, se admitirmos que não exista corrupção, clientelismo nem corporativismo no serviço público (sei que é difícil, mas apenas acompanhem meu raciocínio), as simples exigências de contratação por licitação e estabilidade no emprego sobrecarregam as empresas públicas de uma ineficiência que as torna menos competitivas que empresas privadas. Por serem menos eficientes em uma economia de mercado, a nação acaba pagando pela sua existência.

    Mesmo se vivessemos num país onde sobrasse dinheiro e competência na administração pública, mesmo assim não faria sentido a existência de empresas estatais. Petrobrás, Banco do Brasil, CEF, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia e até os Correios são fardos pesados demais para o raquítico Brasil carregar. O argumento que a existência dessas empresas é necessária para a implantação das políticas públicas nas áreas de agropecuária, habitação, energia, etc, não resiste a 30 minutos de uma discussão séria. O BNDES administra bilhões de reais em recursos incentivados por políticas públicas sem precisar de uma única agência de varejo. Isso para ficar apenas em um exemplo. Viva a alternância de poder.

    PS: Gostaria de ler um artigo do Carlos Ortenblad sobre a transposição do rio São Francisco. Talvez ele consiga decifrar a lógica do governo federal segundo a qual um miserável cearense vale dez vezes mais que um miserável mineiro ou baiano. Porque essa é a relação de investimento/beneficiado da transposição vis-a-vis projetos de irrigação dentro da própria bacia do São Francisco. E acredito que existam mais miseráveis baianos e mineiros que cearenses.

    Resposta do autor:

    Prezado João Gustavo,
    Sua gentileza para comigo vai muito além de meus eventuais méritos. Agradeço sua fidalguia.

    Ah, a famosa transposição do rio São Francisco. Ainda agora estava respondendo uma carta de leitor do MilkPoint a respeito.

    Neste assunto, vou seguir a opinião de quem entende muito (mas muito mesmo) mais do que eu, o pesquisador Carlos Nobre. Ele, em recente entrevista, declarou que o Brasil (e a América do Sul inteira), são um vazio em matéria de pesquisas climáticas, e em levantamento de dados. Como sabemos que o "efeito estufa" trará, entre outros efeitos, um forte impacto sobre fornecimento e qualidade de água, julgo temerário tecer comentário sobre um assunto do qual não dispomos de dados essenciais.

    Abraço,
    Carlos Arthur Ortenblad

    Ezequiel caldeira

    São Paulo - São Paulo - Consultoria/extensão rural
    postado em 17/04/2007

    Hoje estava praticando exercicios em um clube. Lá pude ver bem uma "privatização" e um "serviço estatal". Faz quase um mês que a turma estatal, funcionários do clube, está montando uma meia duzia de andaimes para corrigir infiltrações em uma marquize.

    Terá um show nesse estádio por esses dias. A turma "privatizada" chegou por hoje. Acho que à tarde estará completo o palco... cinco vezes mais andaimes a montar e trabalho a realizar.

    A empresa pública, por exemplo o sr. IBAMA, contratou funcionário público aos montes...Todos os EIA RIMAS são executados por empresas privadas, simplesmente porque os contratados não saber fazer nada, a não ser enrolar.

    Resposta do autor:

    Prezado sr. Ezequiel,

    Veja que coincidência. Eu hoje tive de ir ao Rio Centro, onde serão realizadas várias atividades do Pan 2007.
    Como o Pan começa em julho, presumivelmente as obras são urgentes.

    A cena era tão ridícula que parei o carro para contar os operários. Às 8:30 da manhã, havia 17 operários, mais 1 que, pela pose, era o chefe. Dos 17 operários, 3 trabalhavam, 8 olhavam e 6 dormiam.

    Abraço,
    Carlos Arthur Ortenblad

    Semy Alves Ferraz

    Campo Grande - Mato Grosso do Sul - Produção de leite
    postado em 17/04/2007

    No Brasil a discussão mais importante é sobre controle social, que não tem. Tanto a privatização como a gestão estatal, se não tivermos controle social os consumidores são quem "pagam o pato".

    Temos bons exemplos de empresas estatais que prestam um bom serviço a custo baixo, mas temos estatais que é um antro de corruptos. Por outro lado, temos serviços que foram privatizados que estão massacrando os consumidores, como por exemplo a energia. Na minha modesta opinião, o mais importante é o empoderamento da sociedade para fazer o controle social e gestão, tanto pública como privada.

    Resposta do autor:

    Prezado sr. Semy,

    Do ponto de vista do cidadão, e consumidor, é claro que o senhor tem razão. Muitos serviços prestados por empresas privatizadas carecem da qualidade necessária e/ou são muito caros. Mas o que não deu certo, não foi a idéia de se privatizar empresas públicas. E sim a ausência de fiscalização eficaz, através das agências reguladoras como Anac, ANS, ANP, Anatel, Aneel - e por aí vai, onde o governo federal colocou gente desmotivada e desqualificada para as funções (por governo federal, leia-se o de FHC e o do Lula. Esse então...).

    Atenciosamente,
    Carlos Arthur Ortenblad

    Antonio Cesar Ferreira

    Cajobi - São Paulo - Produção de leite
    postado em 17/04/2007

    Concordo em genero numero e grau. Empresa publica, 90% é só para dar dinheiro para político. E aquelas que não dão dinheiro para politicos, são ineficientes e lentos. Olha bem mesmo Univesidades publica, para cada 10 professores 3 estão trabalhando e muitos outros, chegam as 9 para trabalhar, toma café, toma café, vai embora as 11 e volta as 2:30h, toma café, toma café, e vai embora as 16h. Conheço muito bem tudo isso. Também, como todo coisa publica, eles tem empregos garantidos vitalicios ( só não passam de pai para filho ainda), com bons salarios e ainda com bolsas de pesquisadores.

    Resposta do autor:

    Prezado sr. Antonio Cesar Ferreira,

    É verdade. Não me lembro mais dos números exatos, mas as universidades públicas no Brasil (principalmente as federais) têm a maior relação de funcionário por aluno, como também de professor por aluno - do mundo.

    Enquanto se esbanja dinheiro em universidades públicas que atendem a classe média e rica (ou as cotas de "minorias"), o ensino público básico, direcionado à população carente é totalmente... carente.

    Atenciosamente,
    Carlos Arthur Ortenblad

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