O mundo anda meio contraditório, misturando o local com o global. Quanto mais se universaliza, mais reforça o vínculo familiar, espaço onde os jovens buscam conforto e segurança, negados pela correria da vida. A cultura se amplia pela fácil comunicação, mídias rápidas escancaram as fronteiras nacionais, mas a população não deixa de se interessar pelo ocorrido no quarteirão. O noticiário bairrista.
Soa paradoxal imaginar um mundo aberto e, ao mesmo tempo, valorizar o limite do chão. Talvez, porém, seja essa a maior das vantagens da globalização. Ela permite às pessoas em geral, e não apenas à elite da sociedade, conhecer realidades distantes sem necessariamente abandonar suas raízes existenciais. No interior, a globalização aprimora o caipirismo.
Está presente, claro, o risco da destruição das culturas locais. Nada melhor, aqui, no Brasil, que as glamourosas novelas para espelhar o perigo da ruptura nas tradições locais, tendendo a provocar uma homogeneização na linguagem, no vestuário, nos costumes, enfim, no modo de vida do País todo. Não parece, todavia, tal processo ser tão avassalador. Comunidades distantes se atraem pela riqueza da tevê, mas não abandonam a singeleza do lugar onde ficam. Apenas douram a conversa de sua roda.
A sociedade brasileira apresenta um defeito cultural de origem. Cultiva, desde os tempos da exploração do pau-brasil, enorme dependência do poder centralizado. Na época colonial, os súditos aguardavam que da Coroa, em Lisboa, chegassem as ordens para aqui se movimentarem. Terrível traço histórico até hoje mantido.
Estudiosos apontam a influência negativa dessa herança mandonista sobre o desenvolvimento nacional, contrastando-a com a história da colonização norte-americana. Enquanto a Colônia brasileira se submetia ao controle de um centralizado sistema de poder, gerando uma oligarquia viciada, os ingleses na América do Norte rompiam seus laços europeus e buscavam vida nova investindo no poder local. Forjaram assim uma nação soberana, distinta do feudalismo mãe. Bem diferente daqui.
Na agricultura se observam, desgraçadamente, os vícios dessa característica cultural subalterna. Em muitos lugares, passados quase dois séculos de Independência, ainda se aguardam as determinações de cima, do "rei" ou do governo, para saber o que plantar, criar, como vender. A atitude passiva, subproduto da colonização dependente, direciona um comportamento tradicional nos homens do campo. Dessa subserviência ao poder brota sua costumeira resignação, uma triste submissão política que limita as possibilidades do progresso humano. Leva, por fim, à fama de "reclamão". Os produtores rurais se mostram sempre insatisfeitos com o mimo que o governo onipresente lhes dedica. Caudilhos e oportunistas deitam e rolam nessa maré.
A emancipação dos milhões de agricultores familiares, espalhados pelo interior afora, supõe romper com esse atraso cultural, transformando pessoas servis em cidadãos proativos, participativos, donos de seu próprio destino. Na organização, em cooperativas ou associações, encontra-se a melhor possibilidade de mudança. Agricultores progressistas conduzem seus negócios com altivez.
O governo de São Paulo acaba de divulgar o ranking ambiental dos municípios paulistas. Trata-se de uma iniciativa inédita. Avaliados a partir de um plano de ação, elaborado em cumprimento das regras do protocolo que assumem cumprir, as municipalidades receberam uma nota, que varia de zero a 100. Acima de 80 significa bom cumprimento da lição de casa, com direito ao certificado de boa conduta ambiental. Município Verde Azul.
Dez são as diretivas ambientais do projeto estratégico que provoca a parceria entre governo estadual e municípios: lixo, esgoto, educação ambiental, arborização urbana, mata ciliar, combate à poluição, habitação ecológica, economia de água, canal de participação civil e estrutura da administração. Resultados concretos ou, pelo menos, propostas de ação mensuráveis e reportáveis devem enfocar os problemas detectados na agenda ambiental. Receita local para o desenvolvimento sustentável.
Governança mundial se exige, certamente, para enfrentar o dilema do aquecimento do planeta. Por isso São Paulo participará com galhardia da reunião de Copenhague, promovida pela ONU, agora em dezembro, ostentando a ousadia de sua política de mudanças climáticas. Rumo à economia verde do futuro.
Ninguém, todavia, mora na ONU. Dizia Franco Montoro, o grande defensor da descentralização política, que as pessoas vivem no município. A cidadania encontra seu melhor espaço de realização na comunidade onde convive. Ali, no clube, na turma da esquina, na igreja, no sindicato, na associação, na escola, na fábrica, na loja, no bar, as pessoas se conhecem, proseiam e exercem sua militância política, palpitando e participando das decisões que regem seu destino. Globalização provoca anonimato. Comunidade cultiva solidariedade.
A tradição elitista da sociedade, da qual não se furtou o ecologismo, assegura razão à cúpula e cria constante dependência. A descentralização, ao contrário, premia novos atores sociais, estimulando a participação popular. Nesse contexto se insere o Município Verde Azul, permitindo democratizar o ambientalismo.
Surge o ecocidadão, síntese do saber ecológico com as atitudes positivas. Consciente do mundo, atuante na comunidade. Vale ouro.
cassio augusto
Franca - São Paulo - Produção de gado de corte
postado em 03/12/2009
Parabéns pelo excelente artigo Sr. Xico.
Traz para nós uma reflexão lógica para os diversos problemas que o Brasil enfrenta em consequência da nossa cultura, bem como sugere uma solução concreta e eficaz para os problemas ambientais em destaque no cenário mundial.