Inicialmente, os participantes foram questionados sobre os problemas atuais da ovinocultura.
Robson Leite iniciou o debate comentando que a produção ovina ainda é incipiente no Brasil, que estamos criando o nosso modelo e que o principal desafio é o associativismo. Ele também citou que muitos criticam as importações, porém, são fundamentais para a sustentação do consumo. "Hoje o mercado está absorvendo as diversas categorias, até as ovelhas de descarte já possuem um mercado específico. O produtor deve encarar a atividade com profissionalismo e deve enxergar que a ovelha é um grande negócio".
Na mesma linha, Gustavo Martini citou que o maior problema hoje é a capacitação de mão-de-obra e o investimento em tecnologias. "Em países com a ovinocultura desenvolvida, o número de cabeças caiu, porém, a produtividade permaneceu estável, pois eles investem no melhoramento genético". Ele completou dizendo que o ovinocultor nunca esteve num momento de glória e auge como hoje. "O produtor tem liquidez de toda a sua produção, a indústria vem incentivando e o mercado demandando".
Antônio Augusto falou que o produtor deve trabalhar da porteira para dentro e focar a qualidade como principal objetivo do seu negócio. "O mercado não está permitindo mais oscilação na qualidade". Ele disse que a atividade é muito rentável desde que seja feita de maneira empresarial. "Devemos usar a diversidade do nosso país para produzirmos carne o ano todo. Devemos buscar uma ovinocultura intensiva, com padronização e uniformidade".
O que estão fazendo para motivar os produtores de ovinos?
Gustavo falou que o Marfrig está buscando ficar lado a lado do produtor, com foco em acompanhar o cotidiano da propriedade e que inclusive, o Marfrig tem uma parceria com o Banrisul. "Estamos capacitando técnicos em diversas regiões para ajudar os produtores, procurando melhorar a eficiência e diminuir os custos do produtor". Ele também citou que os produtores devem focar na produção do seu negócio e na especificidade do seu sistema para ter eficiência.
Antônio comentou sobre o programa Cordeiro Prime da VPJ. "Temos um certificado internacional e colocamos à disposição do produtor um pacote de tecnologias. Temos também confinamentos espalhados pelo Brasil e nosso objetivo é abater cordeiros com cruzas Dorper na desmama".
Robson comentou que a ovinocultura é formada por pequenos produtores e que o grande parceiro da Agrosavana é o Sebrae. "Nós incentivamos o confinamento coletivo", completou. Ele também lembrou que não podemos deixar de fazer parcerias com países vizinhos para sustentar a atividade.
Por que a ovinocultura é um bom negócio?
Antônio falou que a ovinocultura é um bom negócio devido à alta liquidez e aos preços atualmente praticados. "A arroba do cordeiro está valendo o dobro da arroba do boi". Gustavo citou que vê o Brasil com um potencial inigualável. "A ovinocultura pode ser introduzida em propriedades de bovinos sem reduzir a produção e agregar mais valor ainda. A população também está crescendo e a carne ovina é uma ótima fonte de proteína". Robson destacou que o Brasil pode ser o berço da ovinocultura e que hoje, o produto entra no cardápio daqueles que buscam uma alimentação saudável. Ele também disse que a atividade é integradora. "A ovinocultura agrega valor, o consórcio é tão magnífico que ovinos combinam com fruticultura, sistema silvipastoril e bovinocultura".
Como chegaremos numa carcaça padrão com a variedade de raças ovinas existentes hoje?
Gustavo disse que a variedade de raças é um bom fator. "O Marfrig está fomentando a produção de cordeiros de qualidade, não importa a raça. Buscamos qualidade". Antônio falou que a VPJ busca um produto específico. "O cliente é quem determina o que quer. Nós optamos pela raça Dorper, pois achamos que é melhor raça. Também trabalhamos com carne certificada". Robson finalizou dizendo que a Agrosavana foca na raça Santa Inês. "Primeiro focamos na alta gastronomia e a carne que mais se aproxima deste nicho é da raça Santa Inês, porém, hoje não descriminamos nenhuma raça. O caminho para o sucesso, é a cruza de uma raça com boa habilidade materna com uma raça específica para a produção de carne. Hoje as pessoas buscam produção de carne, os animais não podem servir para enfeitar a propriedade".
Raquel Maria Cury Rodrigues, Equipe FarmPoint
Nei Antonio Kukla
União da Vitória - Paraná - Consultoria/extensão rural
postado em 25/03/2011
Muito boa a entrevista feita com profissionais do ramo e que entendem do negócio ovino. Como sempre falamos e vemos aqui no fórum, o que se deve levar muito em consideração é a profissionalização do criador. Gostaria de fazer uma pergunta aos entrevistados: Por quê eles trabalham com o confinamento se vivemos num país tropical com abundância de pastagens? Recentemente vi um estudo científico de que o cordeiro arraçoado com ração apresenta custos elevados e diminui muito a margem. Isto procede? A carne ovina geralmente é consumida por um público com maior poder aquisitivo mas, devemos no meu ponto de vista voltar olhares para o público da classe C que foi o que mais cresceu em consumo de alimentos (maior diversidade de consumo, com incremento no consumo de carnes e iogurte, por exemplo) e de eletrodomésticos. Este público representa grande parcela da população e, no curto prazo é o que mais vai dar poder de fogo na questão consumo. Vejo-os como a bola da vez para serem clientes atendidos.