Cézar Amin Pasqualin é Médico Veterinário e atualmente trabalha como "Executor do Programa Paranaense de Estruturação das Cadeias Produtivas dos Ovinos e Caprinos" pelo Instituto Emater.
Pasqualin concedeu essa entrevista ao FarmPoint onde fala sobre a evolução da ovinocaprinocultura no estado do Paraná: os entraves superados, o estudo, a profissionalização, a união e a luta dos produtores. Confira:
FarmPoint: O que falta para a atividade se consolidar no Paraná?
Cézar Amin Pasqualin: Aqui no Paraná a atividade da ovinocaprinocultura foi estimulada sua organização nas diferentes regiões administrativas do Estado.
Inicialmente os criadores pensavam que o principal mercado consumidor das carnes estava na praça de São Paulo, Rio de Janeiro, enfim, grandes centros populacionais. Foi mostrado que antes de pensarmos nos grandes mercados, tínhamos que fazer nossa lição de casa, passando pela organização dos produtores, da produção e estudando o comportamento do abastecimento e consumo das carnes no mercado local / regional.
Outra questão de avaliação foi a análise da procedência e qualidade das carnes que entravam no mercado local. Entre as diferentes constatações, observou-se que as carnes disponíveis no mercado tinham como origem outros estados, importadas do Uruguai e parte abastecida por produtos clandestinos com abates fora do sistema oficial. Isto nos permitiu sensibilizar os diferentes setores incluindo os consumidores que deveríamos prestigiar a produção local consumindo carnes de animais precoces de origem local e de indiscutível qualidade superior.
Hoje existem várias formas de organização dos produtores, desde a formação de grupos informais com propósitos definidos, passando por associações, cooperativas e hoje já se pratica cooperação entre elas, rumando para a formação de uma central de cooperativas.
As carnes produzidas nestes locais, somente conseguem abastecer os mercados local e regional, sendo o volume de produção das carnes equilibrado com a demanda. Uma constatação é que estas cooperativas começaram em torno de 700 a 1000 fêmeas ovinas e hoje (aproximadamente 04 anos depois) estão em torno de 7000 fêmeas no plantel por cooperativa, mostrando que a evolução na oferta de carnes esta devidamente calibrada com a demanda destes produtos.
Podemos afirmar que dentro deste novo conceito de produção de carnes nobres, o consumo se amplia, sendo que o consumidor descobre todo o sabor destas carnes altamente qualificadas.
Temos que respeitar os diferentes estágios de organização dos produtores, dando tempo para o processo de amadurecimento dos grupos, para que quando definirem a entrada no mercado seja isto posto de maneira profissionalizada, com constância no fornecimento das carnes.
Dentre os diferentes estágios de organização das organizações, destacamos as cooperativas Castrolanda - localizada na cidade de Castro e a Cooperativa Coopercapana, localizada em Londrina, que já se encontram em condições de venderem seus produtos fora do Estado, mas tem limitações em função te estarem operando com frigoríficos com autorização de SIP- Serviço de Inspeção Estadual, sendo proibida a comercialização fora do Estado. Este é sem dúvida um grande entrave.
Outra necessidade constatada é um forte programa de incentivo ao consumo das carnes, pois existe muito desconhecimento por parte dos consumidores. Outra ação necessária é capacitar os chefes de cozinha no uso adequado destas carnes, diferenciando por exemplo carne de cordeiro de carne de carneiro, estimulando-os a desenvolverem mais pratos a base das carnes de cordeiro e cabrito, demandando estas matérias primas desta organizações locais. Promover mais festivais e festas regionais, tendo como mote o cordeiro e o cabrito, esta é sem dúvida a melhor forma de divulgar as verdadeiras carnes, ampliando o hábito do consumo mais constante das carnes. Destinar linhas de crédito especial e subsidiado investindo na melhoria das condições de abate animal dos frigoríficos e abatedouros.
FarmPoint: Quais foram os principais avanços?
Cézar Amin Pasqualin: Sem dúvida o processo global do planejamento estratégico estabelecido para o setor; passando pela capacitação dos diferentes atores da cadeia produtiva, principalmente os produtores, técnicos e chefes de cozinha (em torno de 3.800 pessoas capacitadas em 06 anos de funcionamento do Programa no Estado).
Outro fator relevante foi a organização dos produtores em cooperativas, habilitando-os a comercializar as carnes nos diferentes mercados.
Destaque também para o volume de carnes comercializada com "marca própria", passando da comercialização de "carnes sem nome", " para carnes "com nome", isto é uma mudança significativa para os consumidores, pois passam a reconhecer e requisitar as carnes por marca.
Ampliação no consumo das carnes de produção local / regional.
FarmPoint: Quais as principais ações para o setor?
Cézar Amin Pasqualin:
- Manter e incentivar o processo de planejamento regional, estimulando a organização do setor;
- Ampliar as festas regionais e festivais das carnes, ofertando as verdadeiras carnes de cordeiro e cabrito;
Ação eficaz contra o abate clandestino dos animais;
Dar continuidade ao processo de capacitação dos agentes do setor;
Efetivar pesquisas estratégicas;
Manter o dinamismo de atuação da Camara Setorial da Ovinocaprinocultura;
Intercambio com os Estados produtores, estabelecendo ações conjuntas para o crescimento do setor;
Ampliação das parcerias;
Efetivar o projeto de ampliação do consumo das carnes, projetando por exemplo a inserção nos cardápios dos restaurantes industriais (consumo mais cotidiano);
Readequação do Programa Estadual de Estruturação das Cadeias Produtivas dos Ovinos e Caprinos do Estado do Paraná.
Mariana Paganoti - Equipe FarmPoint
Neyd M M Montingelli
Curitiba - Paraná - Pesquisa/ensino
postado em 13/01/2009
Parabéns à equipe FarmPoint pela entrevista.
O Paraná tem potencial e grandes profissionais para estimular o setor da ovinocaprinocultura e sempre pode contar com a Emater.
Neyd M.M.Montingelli
Curitiba