Liam Aylward, membro do Parlamento Europeu, do Comitê da Agricultura e Desenvolvimento Rural, disse que o setor ovino é essencial para o bem-estar econômico e ambiental da Europa rural e do mundo. Em algumas regiões, a produção ovina é frequentemente a única opção agrícola e, dessa forma, tem uma contribuição crucial à economia nessas áreas rurais. A produção ovina também é um empreendimento benéfico ao meio-ambiente que tem um papel importante na manutenção das paisagens rurais.
Segundo ele, não há dúvidas de que a sustentabilidade de longo prazo da produção de carne ovina em escala profissional está mais ameaçada atualmente do que nunca. Na UE, a produção ovina caiu em 12,5% desde 2000. Houve um êxodo massivo de produtores do setor devido às baixas margens de lucros e ao trabalho intensivo envolvido. Os consumidores estão comento menos carne de cordeiro, à medida que consideram o produto uma carne cara que é de difícil preparo, particularmente entre os jovens. Estima-se que se não for tomada uma atitude, haverá um decréscimo na produção de carne ovina de aproximadamente 10% até o ano de 2015.
Aylward disse que em seu último período como membro do Parlamento Europeu, foi apontado como Relator do Parlamento Europeu em um relatório sobre o futuro do setor ovino. Como delineador desse relatório, ele trabalhou junto com produtores de ovinos, representantes da indústria processadora de carne ovina e grupos de consumidores dos principais países produtores de ovinos na UE. Ele citou as recomendações desse relatório:
- Um novo Esquema de Manutenção Ambiental Ovina e suporte a raças tradicionais montanhosas com o objetivo de preservar os ovinos em áreas sensíveis;
- Regulamentação da UE para rotulagem de produtos de carne ovina;
- Acesso significante ao Orçamento de Promoção de Alimentos da Comissão Europeia no valor de aproximadamente €45 milhões pelos produtos de carne de cordeiro, para promover os benefícios da carne de cordeiro de alta qualidade dentro da UE e nos países de fora do bloco;
- Necessidade da Comissão Europeia de melhorar a transparência do mercado. Deve haver um novo equilíbrio das relações na cadeia de fornecimento de alimentos. Os produtores precisam obter uma participação justa dos preços dos alimentos no varejo;
- Garantir que as importações do mercado europeu ajudem e não prejudiquem o abastecimento doméstico. As importações representam 20% do consumo de carne de cordeiro da UE e, dessa forma, têm seu lugar e um papel importante no equilíbrio do mercado.
Esse relatório do Parlamento Europeu, segundo Aylward, colocou o setor ovino de volta na agenda de Bruxelas e fez isso em um momento oportuno, durante a revisão da PAC que foi concluída em novembro passado. Um elemento particular da revisão da PAC é que os suportes sejam direcionados a certas regiões ou empresas "economicamente vulneráveis", o que deverá ser usado para apoiar a produção ovina na Europa. Sobre isso, ele disse que o ministro da Agricultura da França, Michel Barnier, já introduziu medidas revisadas para ajudar o setor ovino de lá. Ele disse também que na Irlanda, o ministro da Agricultura, Brendan Smith, já determinou que os fundos não utilizados serão distribuídos ao setor ovino no país. Mais ações desse tipo são necessárias para parar com o declínio no setor.
Aylward disse que os países devem trabalhar juntos para promover os benefícios para a saúde e para a dieta da carne de cordeiro, desenvolver receitas que sejam fáceis de preparar e usar estratégias inovadoras de marketing para estimular as pessoas a comprar carne de cordeiro. Ele elogiou o programa conjunto do English Beef & Lamb Executive (Eblex), Irish Food Board (Bord Bia) e Interbev visando desenvolver uma campanha genérica de promoção da carne de cordeiro no mercado da França para estimular os consumidores franceses mais jovens a comprar o produto. O Meat and Wool New Zealand também fez uma campanha similar para promover os benefícios da carne de cordeiro na América do Norte.
A inovação no desenvolvimento de produtos tem o potencial para ser a chave para tornar a carne ovina mais atraente para as gerações mais jovens de consumidores. Tem-se obtido sucesso em atrair consumidores mais jovens através da oferta de uma gama versátil de cortes, uma gama mais ampla de tamanhos de porções, embalagens e produto com qualidade consistente.
No momento, a quantidade de retorno financeiro das lãs e dos couros é insignificante. O valor poderá aumentar através do desenvolvimento de novos usos, como materiais isolantes térmicos altamente eficientes e ecológicos.
Atualmente, existem restrições às exportações da UE de produtos de carne ovina para países como África do Sul, Argélia, Arábia Saudita e México. A Comissão Europeia precisa fornecer assistência na abertura de mercados de exportação de fora do bloco europeu para os produtos de carne ovina em países onde restrições desnecessárias são aplicadas atualmente. Campanhas de marketing e mercados em desenvolvimento como a China e a Índia devem ser coordenados a nível internacional.
Mike Petersen , presidente do Meat & Wool New Zealand (MWNZ), começou seu discurso falando dos problemas comuns enfrentados pelo setor ovino em todos os países produtores. Ele disse que, embora o Fórum tivesse um foco internacional, era necessário comentar sobre a importância da região onde essa reunião estava sendo feita, a Europa, que é um mercado muito importante, à medida que os preços na Europa influenciam os preços no resto do mundo. Embora as importações de todas as origens representem somente 20% de todo o consumo na UE de carne de carneiro e cordeiro, a Europa ainda é determinante de preço no mercado mundial.
Assim, Petersen disse que, como os produtores e processadores europeus, os demais produtores do setor ovino dependem da contínua forte demanda na Europa. Para isso, é essencial que a carne de cordeiro esteja disponível durante todo o ano, visível no varejo e estabelecimentos de foodservice, com alta qualidade. "Consequentemente, nós da Nova Zelândia não temos dúvidas de que a contínua saúde de nosso mercado de exportação na Europa depende absolutamente da produção econômica e sustentável de ovinos na Europa. Sem isso, a demanda cairia; os consumidores em breve deixariam de considerar a carne de cordeiro como uma alternativa real de refeição". Ele disse que isso prejudicaria o setor ovino de todos os países produtores, incluindo Nova Zelândia, Austrália, países da América Latina e África do Sul, bem como muitos membros da UE.
Sobre as tendências de produção ovina nos principais países produtores, Petersen disse que na UE (antes da ampliação na Europa Central), Austrália e Nova Zelândia, tem havido um declínio significante nos rebanhos ovinos na última década. Nos principais países produtores da América Latina e na África do Sul, a produção tem se mantido relativamente estável essa década, mas em níveis marcadamente menores do que há dez anos, no começo da década de noventa. Em alguns países com grandes rebanhos, os números aumentaram, incluindo China, Índia e Sudão. Nesses países, bem como em alguns membros da Confederação dos Estados Independentes (antiga União Soviética) pode haver algumas exportações, mas por uma variedade de razões, incluindo questões de saúde animal e crescimento da classe média em alguns desses países, parece improvável que eles se tornem importantes players nos mercados dos países desenvolvidos, notavelmente Europa, América do Norte, Japão e Coreia, em um futuro previsto.
Do ponto de vista exportador, a UE continua de longe sendo o mercado de maior valor, embora os EUA comprem volumes significantes de cortes de alto valor, apesar de a maioria dos norte-americanos não ser consumidora de carne de cordeiro. O Oriente Médio também continua tendo um gosto histórico por carne ovina. A China e a Índia, ambas passando por um forte crescimento econômico, também oferecem oportunidades para maiores vendas. A China já é um mercado significante, apesar de importar mais cortes de menor valor para pratos tradicionais. No entanto, tanto a China como a Índia deverão cada vez mais atrair cortes de maior valor à medida que aumenta seu poder de compra. Existem outros mercados, mas em um futuro previsto, a Europa continuará apresentando o maior número de consumidores abastados que apreciam a qualidade da carne de cordeiro.
Na maioria dos países produtores de carne ovina, está havendo queda nos rebanhos. Petersen disse que no caso da Nova Zelândia, o rebanho ovino caiu de 70 milhões em 1982 para pouco mais de 33 milhões de cabeças atualmente (medidas no meio do inverno). Períodos de seca recentes contribuíram para isso. No entanto, outro fator que tem uma significância maior em longo prazo está influenciando nisso, que é o fato de muitas fazendas produtoras de ovinos terem se convertido em produtoras de leite ou em florestas. O fator fundamental para isso é a lucratividade inadequada da produção ovina. Isso ocorre apesar dos enormes ganhos em produtividade que a Nova Zelândia obteve com o aperfeiçoamento de raças e melhoras na agricultura. As taxas de parição de cordeiros aumentaram de cerca de 90% em 1990 para 125% e os pesos médios dos cordeiros ao abate passaram de menos de 14 quilos para 17 quilos, com os animais ainda sendo criados a pasto. Esse aumento na produtividade significa que, até o rebanho ovino neozelandês cair para menos de 40 milhões, o país manteve ou aumentou os volumes de carne de cordeiro exportada aos mercados mundiais.
Reconhece-se em todos os setores da cadeia de valor que a carne de cordeiro não é barata e não é fácil de se produzir e processar. Se a criação de ovinos não fosse bem sucedida em algumas regiões que não são adaptadas à produção agrícola ou de bovinos, o declínio no número de ovinos provavelmente seria ainda maior. A carne de cordeiro é uma das mais caras e os varejistas e consumidores não podem esperar que a competição seja em termos iguais com relação à carne suína, de aves ou outras proteínas alternativas. Isso deveria, segundo Petersen, ser visto como uma oportunidade ao invés de um problema para a indústria ovina e o desafio é que a carne receba um preço justo que reflita a qualidade e o status da carne ovina como fonte de alimento. Não há dúvidas de que o preço premium da carne de cordeiro no mercado consumidor permite isso e há a necessidade de programas que garantam que uma participação maior retorne aos produtores.
Investimentos em pesquisa e desenvolvimento são críticos para apoiar os ganhos de produtividade e inovação, bem como fornecer ferramentas para resolver questões emergentes que são necessárias para melhorar a competitividade da indústria ovina. No entanto, isso acarreta custos significantes e frequentemente tempo de execução que dificulta o suporte por parte da indústria.
Os custos com impostos em todos os principais países produtores de ovinos têm crescido e são uma ameaça real à viabilidade da indústria. Petersen citou a UE como exemplo, que tem que lidar com as expectativas dos consumidores em termos de bem-estar animal e a introdução iminente da identificação eletrônica obrigatória de ovinos. Os produtores de outros países enfrentam cargas similares. Os produtores da Nova Zelândia não precisam cumprir com as mesmas leis que os europeus, mas têm suas próprias obrigações referentes ao bem-estar animal e são obrigados a cumprir com protocolos equivalentes com as redes varejistas para garantir a satisfação dos consumidores. Além disso, há a necessidade de cumprir com todos os requerimentos de saúde animal e segurança alimentar dos países importadores.
A mudança climática e a resposta dos governos a essa questão é um desafio para todos. A Nova Zelândia assinou o Protocolo de Kyoto e está vendo uma série de medidas domésticas que está sendo implementada por países individuais em busca de cumprir com seus compromissos nesse acordo.
Petersen terminou seu discurso com uma pergunta: "Como os desafios que a nossa indústria enfrenta hoje diferem daqueles da geração passada?". Para isso, ele sugeriu quatro caminhos: suprir as expectativas dos consumidores de hoje, cada vez mais exigentes; competir com a abundância de novos produtos e garantir o lugar da carne ovina como um genuíno alimento conveniente (que não exige muito tempo de preparo e é de rápido consumo); trabalhar para construir a demanda e a preferência dos consumidores por carne de cordeiro; trabalhar dentro da estrutura de distribuição varejista atual.
Os consumidores de hoje são mais conscientes com relação a fatores de saúde, nutrição, social e ambiental do que antes. Eles de forma geral estão mais bem informados do que no passado e menos inclinados a aceitar garantias, por exemplo, sobre qualidade e padrões de produção, sem evidências ou informações que possam avaliar por eles mesmos. Às vezes, essas expectativas são codificadas em regulamentações oficiais, às vezes em requerimentos dos varejistas.
Existe uma segunda importante área de expectativa dos consumidores - a conveniência. Existe uma percepção, especialmente entre a geração mais jovem de consumidores, que a carne de cordeiro é muito difícil de preparar. Para acabar com essa impressão, precisamos buscar o desenvolvimento de produtos e cuidadosamente forçar no desenvolvimento do mercado. Os consumidores de hoje possuem muitas opções de refeições. A posição da carne de cordeiro está fadada a se desgastar a menos que a indústria possa oferecer cortes novos e mais convenientes e chamar a atenção dos consumidores para ela com as mesmas técnicas sofisticadas de marketing usadas pelos fornecedores de outras proteínas.
O uso de indicações de origem e de marcas faz parte desse processo. Durante décadas, a carne de cordeiro neozelandesa tem sido promovida no Reino Unido e, mais recentemente, na Alemanha. Petersen disse que a Nova Zelândia pretende continuar com essa promoção, mas não tem interesse em fazer isso de forma que reflita negativamente na carne de cordeiro do país. "O foco de nossa promoção é que nossa atividade complemente a produção europeia e garanta a continuidade do marketing e da mensagem. Embora todos nós possamos promover de forma legítima nossas próprias origens, a mensagem fundamental em todo o nosso marketing deve ser uma única genérica: a carne de cordeiro é um produto de qualidade que fornece a mais fina experiência em uma refeição".
O quarto desafio de trabalhar dentro da estrutura de distribuição varejista e obter retornos justos para nosso produto de qualidade é complexo. Frequentemente a emoção domina esse debate, quando o assunto se torna mais amplo do que só focar na porcentagem de retorno do preço no varejo que volta aos produtores. A oportunidade real é trabalhar com os varejistas para garantir a continuidade da oferta de um produto de qualidade que recompense os produtores de forma justa. Petersen disse que, caso isso não ocorra, haverá um declínio no número de ovinos em todo o mundo.
Ele concluiu que a indústria só pode encontrar sustentabilidade e lucratividade se mantiver sempre em mente que não se pode fazer o consumidor comprar o que se produz, mas sim, é necessário produzir o produto que o consumidor iria querer comprar e um que eles estejam preparados para retornar um preço lucrativo.
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