Natural da Austrália, Dr. Colin Earl é médico veterinário, geneticista, com especialidade em ovinocultura. Na década de 90 atuou como pesquisador no SARDI (South Australian Research and Development Institute), instituição referência no país, em pesquisa e melhoramento genético de ovinos. Durante esse período participou de um estudo sobre o gene Booroola, característico da raça ovina Merino.
Este gene ficou conhecido por conferir elevado nível de prolificidade (aumento do número de crias por parto) aos animais que o carregam. "Eu sempre acreditei no potencial desse gene como ferramenta para aumentar o índice reprodutivo das ovelhas, o que sempre foi considerado um fator economicamente limitante da ovinocultura. Nesse aspecto, a crescente competição comercial passou a exigir, cada vez mais, a melhoria do desempenho reprodutivo dos rebanhos e a prolificidade das raças assumiu grande importância nos programas de melhoramento e seleção", diz o Dr. Earl.
Com o encerramento das pesquisas Dr. Earl decidiu prosseguir os estudos direcionando-os para o desenvolvimento de sistemas de manejo de animais prolíficos; trabalho que acabou resultando no que ele define como, "o renascimento do gene Booroola". "Os primeiros estudos sobre o Booroola esbarraram na dificuldade que se tinha, na época, de identificar os carneiros homozigotos, ou seja, que possuem duas cópias do gene. Isso só era possível através de testes de progênie que exigiam uma produção de 30 filhas para cada carneiro, que, por sua vez, eram submetidas a diversas endoscopias para se obter as taxas de ovulação que serviriam de guias para se chegar ao genótipo daqueles machos. Além de caro, algumas vezes esse processo resultou em diagnósticos incorretos. Como a pesquisa não tinha fins comerciais, o projeto foi encerrado e o rebanho vendido. Reafirmando, eu sempre acreditei no potencial do gene Booroola, e através de um consórcio com outros parceiros, adquiri as melhores ovelhas do rebanho. Em 1999 uma empresa da Nova Zelândia desenvolveu um marcador genético para o Booroola. Isso significa que qualquer animal passou a ser identificado como homozigoto ou heterozigoto com um simples exame de DNA que custa em torno de $35. Era o que faltava para que o gene pudesse a ser comercializado", complementa Dr. Earl.
Atualmente, e já na condição de sócio das empresas Intergene e Animal Reproduction Company, ele vem atuando na exportação de genética de ovinos para diversos países, entre eles o Brasil. "Nós vendemos genética porque desenvolvemos um sistema de melhoramento genético muito bom. Gastamos muito dinheiro em nossa indústria de ovinos. Na Austrália, cada vez que um cordeiro é abatido, a indústria destina determinado valor para um fundo que, atualmente, é de cerca de 30 milhões de dólares. Este fundo é administrado pelo governo, que destina parte dele para pesquisas relacionadas à produção e outra parte para o desenvolvimento de mercados. É com esse dinheiro que nós desenvolvemos mercados nas
Américas, na China, Europa, em todo o mundo, afinal. Acho que este fundo é a principal diferença entre a ovinocultura da Austrália e a do Brasil", conta.
Na Austrália, o sistema de melhoramento genético em geral vem sendo desenvolvido, de forma planejada, ao longo dos últimos 20 ou 30 anos. Ele é todo monitorado por computador e por isso muito objetivo e facilmente mensurável em todos os aspectos importantes que se queira buscar: melhoramento para produção de carne, produtividade, precocidade para abate, resistência ao calor, etc. "Por isso, nós, criadores, podemos localizar rapidamente as propriedades onde estão os melhores animais para cruzamento, de modo a atender as nossas demandas. A acurácia do nosso sistema permite isso. No Brasil, entretanto, pelo que eu sei, alguns animais são vendidos e comprados por enormes quantias de dinheiro sem que se tenha comprovação de que são os melhores para os fins que o criador precisa. Essa é uma contradição que precisa ser corrigida. O criador brasileiro precisa saber onde estão os melhores animais, para adquiri-los com a certeza de que vai obter o que procura em termos de melhoramento de seus rebanhos", finaliza Dr. Earl.
As informações são de Márcia Dietrich da Brasil Agroconsult, adaptadas pela equipe FarmPoint.
Nelson Carneiro da Cunha Moreira
Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Mídia especializada/imprensa
postado em 06/11/2008
Esta matéria é interessante. No Rio Grande do Sul, a Embrapa Pecuária Sul, localizada em Bagé, vem pesquisando este gen há oito anos, com a colaboração de criadores da raça Texel e Corriedale. Nelas também foi indentificato o mesmo gen. Este trabalho foi demonstrado na Expointer deste ano, em Esteio e foi publicado no ARCO Jornal, edição de outubro. Creio que pode ser um caminho para aumentar a prolificidade dos rebanhos.