Devido à crescente demanda por carne ovina no Brasil e seu aquecido mercado, este é um bom momento para a cadeia ovina ser analisada e repensada. O objetivo é buscar novas estratégias competitivas que consolidem a atividade no agronegócio brasileiro. Sendo assim, o FarmPoint lançou no último dia 08 uma enquete perguntando aos leitores: qual é o elo da cadeia ovina no Brasil que hoje demanda maior atenção?
Comentários de destaque:
Relação produtor x indústria
De acordo com André Sorio, engenheiro agrônomo, mestre em agronegócios e consultor de projetos de criação intensiva de ovinos e bovinos não temos nenhum tipo de problema de demanda de carne ovina no Brasil, fato embasado por inúmeros estudos em todas as regiões e principais cidades. "O nosso maior problema é a produção pecuária. Como nossos rebanhos são em média muito pequenos, os produtores ficam desestimulados a investirem em tecnologias e a se especializarem e isso resulta numa produção de carne abaixo do potencial do rebanho brasileiro. Além disso, os criadores reclamam que não tem para quem vender, mas as indústrias estão ociosas. Enquanto isso, os consumidores têm dificuldades de encontrar a carne ovina no mercado, esse é o paradoxo da ovinocultura brasileira".
Na mesma linha, Juan Ferelli, de Sobral/CE, comentou que o elo que demanda maior atenção é o existente entre produtores rurais e agroindústrias, bem como as questões do ambiente organizacional e institucional que envolvem as transações neste estágio da cadeia produtiva. "Não acredito na falta de frigoríficos, pois basta uma análise da capacidade instalada e ociosa nas diversas regiões (inclusive Nordeste) para constatar que o que falta é a organização da base de fornecedores. A concorrência com os canais de comercialização informais estão incluídas no aprimoramento do ambiente institucional citado. Vale ressaltar que, além do destacado, existem diversos problemas a serem resolvidos com relação aos demais elos desta cadeia produtiva".
Abate informal
De acordo com Alexandre Rui Neto, estudante de Campo Grande/MS, o grande problema na cadeia produtiva da carne ovina é o abate clandestino. "Esse fato desestimula a instalação de frigoríficos, sem falar no impacto negativo sobre a demanda do consumidor dada a inconfiabilidade da origem do produto.
Daniel de Araújo Souza, médico veterinário, mestrando em Zootecnia e consultor, de Fortaleza/CE, fez uma breve análise da conjuntura da cadeia produtiva da carne ovina brasileira em 2010. "A análise revela uma retração no consumo formal em torno de 17,8% em relação à 2009, em função de uma queda tanto na produção doméstica (2010 = 4,95 mil ton)quanto nas importações (2010 = 6,36 mil ton), e com base nos dados disponíveis até então, essa tendência se mantêm para 2011, uma vez que no período de janeiro a maio, houve uma redução de 2% na produção e de 1,8% no volume importado em relação ao mesmo período de 2010, o que indica, até o momento, que 2011 será mais um ano de baixa para o consumo de carne ovina no Brasil. Considerando tais fatos, temos um "amornamento" do setor de consumo devido ao decréscimo na oferta, o que é problemático, já que o consumidor é o alicerce financeiro de todo o sistema agroindustrial. Além disso, a disponibilidade deficiente de matéria-prima de qualidade (cordeiros), tanto no mercado interno quanto no Mercosul (Uruguai, Argentina e Chile), afeta negativamente o varejo e a indústria, reduzindo o faturamento em função da menor comercialização e aumentando os custos devido à queda na escala. Dessa forma, do ponto de vista do sistema agroindustrial, todas as atenções se direcionam para o setor produtivo que, neste momento, precisa trabalhar muito para elevar a produção formal com qualidade e em condições de sustentar a demanda existente nas capitais e grandes centros, o que, pelos números atuais, é um desafio de no mínimo 14 mil toneladas para os próximos 10 anos".
União de produtores
Jaime de Oliveira Filho, consultor de Itapetininga/SP, comentou que o que o brasileiro precisa aprender é trabalhar em grupo, pois esta atividade exige a presença de associações, núcleos de criadores, etc. "Na Nova Zelândia todas as propriedades têm as mesmas tecnologias, enquanto no Brasil, de forma geral, cada um quer sair na frente do outro. Precisamos trocar ideias com este site, onde as pessoas tem a chance de compartilhar temas, ideias, experiências e outras coisas. O brasileiro é tido como uma raça muito criativa, o que realmente é, mas precisam pensar mais em grupo".
Padronização e identificação animal
O doutorando da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnica (FMVZ) da Unesp de Botucatu, Hélio de Almeida Ricardo, destacou que em primeiro lugar, acredita que os elos da cadeia estão soltos e que uma das razões para isso é a falta de comprometimento dos governos com a implantação de políticas públicas que proporcionem a união dos setores. "Os produtores precisam de assistência, a indústria precisa de regulamentação de preços (preço mínimo) e um sistema oficial de classificação de carcaças e o consumidor precisa "conhecer" melhor a carne ovina. Os americanos contam com um sistema padronizado de identificação animal e existe uma estação experimental onde várias raças de ovinos com aptidão para produção de carne são testadas e provadas. Além disso, o sistema americano de classificação de carcaças também é utilizado para orientar os produtores. Na Nova Zelândia, 48% do rebanho é constituído por apenas uma raça, proporcionando maior padronização dos animais. A União Europeia conta com um sistema de classificação de carcaças que abrange várias classes de peso, diferenciando carcaças leves e pesadas. Na Austrália as pesquisas com relação às características qualitativas da carne ovina são feitas diretamente com os consumidores, chegando ao ponto de orientar o preparo da carne de acordo com a idade do animal, cordeiro, borrego ou adulto".
Organização do mercado
O médico veterinário e diretor técnico da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos Naturalmente Coloridos (ABCONC), Eduardo Amato Bernhard comentou que "se olharmos para cadeias mais organizadas como a suinocultura e a avicultura, e no caso de ruminantes, o leite, podemos concluir que o mercado é que faz tudo funcionar. Ou seja, organizando o mercado, os demais elos da cadeia começam a se arregimentar para atender a demanda. Porém, na ovinocultura não creio que seja tão simples, pois nestas outras espécies o modelo de produção é bem definido. Não existem tantas raças, nem cruzamentos indiscriminados. Estamos ainda distantes de chegar a um padrão definitivo e ainda pouco preocupados com a produtividade, que é o que faz o negócio girar. A Nova Zelândia reduziu seu rebanho na última década em milhares de cabeças, mas ao contrário do que se poderia imaginar, a cada ano, a produção de cordeiros só aumenta. Além disso, existem dezenas de raças diferentes, e compostos, criados naquele país, porém, independente da raça que você cria, o padrão do seu produto tem que ser o mesmo. E o consumidor final não sabe a diferença entre uma ou outra raça ou cruzamento. Na Argentina, entrando na onda do orgânico, o bom e velho cordeiro patagônico ganhou mercado e subiu de preço. Uma estratégia de marketing, pois os ovinos criados naquela região do país não viraram "orgânicos" de uma hora para a outra, sempre o foram, por questões de localização e clima. O nordeste brasileiro, com seu clima seco e chuvas irregulares, onde a ovinocaprinocultura tem sido durante anos a salvação do sertanejo, também pode identificar e produzir um cordeiro diferenciado, orgânico, simplesmente selecionando melhor seus rebanhos e se preocupando com o aspecto nutricional durante os períodos secos e com um bom manejo sanitário preventivo no período das chuvas. A região sul do Rio Grande do Sul, tradicional polo de ovinocultura do país, pode produzir, a exemplo do Uruguai, um cordeiro verde, 100% a pasto, sem a necessidade de grandes investimentos, somente com seleção e cruzamentos adequados, eficiente controle sanitário e manejo correto das suas pastagens. Estamos no Brasil e precisamos descobrir o nosso jeito de criar, adaptado aos nossos diferentes climas, nossas pastagens, nossas culturas, isso não há dúvida, mas precisamos também, como em outros países, saber o que queremos produzir e para quem. Precisamos aprender a produzir com eficiência e com produtividade, viabilizar projetos sustentáveis de produção de cordeiros, identificar nichos de mercados para produtos específicos, mas principalmente precisamos saber onde queremos chegar e definir quais são os caminhos e qualificar e valorizar o nosso produto.
Equipe FarmPoint
Thiago Golega Abdo
Campo Grande - Mato Grosso do Sul - Consultoria/extensão rural
postado em 29/06/2011
Acredito que a ovinocultura deve aprender com os modelos de comercialização da avicultura e suinocultura. Não devemos e não conseguiremos trabalhar na ovinocultura como é feito na bovinocultura, cada um por si e Deus por todos. Necessitamos de uma cadeia produtiva mais organizada, assim como nossos colegas ressaltaram acima. Os frigoríficos devem definir que tipo de carne eles querem e quanto vão pagar para isso, só assim começaremos a caminhar. No meu ver os frigoríficos deveriam dar todo o suporte técnico para que os produtores possam produzir, desde a as matrizes até o abate, só assim essas empresas conseguiriam obter produtos com constância e qualidade, e a cadeia se solidificaria muito mais., assim como aconteceu na avicultura e suinocultura.