O evento é continuidade do projeto de Desenvolvimento da Ovinocultura no Mato Grosso do Sul e a sua realização veio como resposta à real necessidade de qualificação dos agentes envolvidos na ovinocultura.
O simpósio teve como temas principais a comercialização e os custos na produção de ovinos e propôs o desenvolvimento, a organização e a consolidação da ovinocultura no Mato Grosso do Sul como agronegócio, criando uma oportunidade de produção e renda.
O simpósio teve em média 500 inscrições e ao longo do dia, foram ministradas 7 palestras por profissionais renomados na área de ovinocultura, como o o professor Fernando Miranda de Vargas Júnior e a professora Alda Lúcia Gomes Monteiro, além dos seguintes profissionais: o pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos, Fernando Alvarenga Reis; o representante do Frigorífico Marfrig, engenheiro agrônomo Fernando Gottardi; o consultor da OCBMS (Organização das Cooperativas Brasileiras), Saulo Oliveira Meneguite; o representante da ovinocultura regional do Mato Grosso, Paulo de Tarso dos Santos Martins e Elton Bock Corrêa, inspetor da ARCO (Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos) no Mato Grosso do Sul.
No evento, a alta expectativa em relação à criação de ovinos no Centro-Oeste brasileiro foi destacada, além da necessidade de encontrar uma solução para a viabilidade do sistema de produção, prioritariamente econômica.
Fernando Alvarenga Reis, pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos, iniciou o ciclo de palestras falando sobre o mercado mundial de carnes e a inserção da carne ovina neste mercado. "O consumo de carnes crescerá nos países emergentes, os desenvolvidos provavelmente apresentarão modestos crescimentos. A China vem investindo muito na África. Provavelmente o país está fazendo esses investimentos com intuito de cobrar em troca a produção de alimentos. Acredito que dentre outros produtos, a carne ovina será bastante consumida pelos chineses."
Em seguida, o professor da Universidade Federal da Grande Dourados, Fernando Miranda de Vargas Júnior, falou sobre a proposta de um PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) para a cadeia da ovinocultura no Mato Grosso do Sul que baseia-se inicialmente em 15 itens:
- padrão de produção (determinação de um sistema produtivo);
- remuneração diferenciada;
- programas de capacitação continuada;
- centro de referências;
- melhoramento genético;
- criação de um fundo financeiro;
- fiscalização;
- fomento a pesquisa, ciência e tecnologias ao desenvolvimento regional;
- aumento de consumo;
- práticas associativas;
- divulgação das ações da câmara setorial;
- medidas tributárias e isenções fiscais;
- implantação de um centro de comercialização de ovinos (integração e associação de produtores);
- crédito rural;
- agregação de valor aos produtos da ovinocultura.
Fernando disse que o estado tem condições de ter escala de produção, porém ainda falta qualidade. "O perfil da ovinocultura no Mato Grosso do Sul se caracteriza pela presença de animais lanados, pequenas propriedades e pequenos rebanhos, mão de obra familiar, conhecimento técnico ruim e abate não fiscalizado". Além disso, frisou a importância do associativismo entre os produtores como forma de alavancar a ovinocultura no estado.
Elton Bock Corrêa, inspetor da ARCO (Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos) no Mato Grosso do Sul, também citou a falta de qualidade e destacou que os produtores devem ter escala de produção. "Apesar dos consumidores sul-mato-grossenses apreciarem muito a carne ovina, ainda importamos carne de descarte do Uruguai, precisamos inverter isso, podemos abastecer esse mercado."
De acordo com ele, as dificuldades e a visão de futuro da atividade são:
Dificuldade dos produtores: comercialização, valor, grupos desestruturados, desconhecimento do mercado local e regional.
Dificuldade dos frigoríficos: baixa qualidade dos produtos, irregularidade na oferta, concorrência (informalidade e Uruguai), dificuldade para posicionar o produto e agregar valor.
Dificuldade dos consumidores: desconhecimento da carne ovina, dificuldade em encontrar o produto, difícil preparação de pratos e receitas, experiências negativas e o desconhecimento dos consumidores sobre os benefícios da carne ovina.
Visão de futuro: oferta de peles para a indústria, demanda por especialidades, alimentos nutracêuticos, produtos orgânicos e certificação.
O associativismo foi um dos principais temas discutidos no simpósio. O cenário da ovinocultura necessita de organização, eficiência, aumento de escala e representação setorial, fatores que podem ser geridos por associações e cooperativas. Neste sentido, Saulo Oliveira Meneguite, o consultor da OCBMS (Organização das Cooperativas Brasileiras), ministrou uma palestra sobre o papel do cooperado e da cooperativa. "O conceito de cooperativa é a extensão da atividade econômica individual de cada associado no mercado. Os elementos essenciais na definição de uma cooperativa são: sociedade de pessoas e não de capital, autogestão, propriedade comum e dupla natureza (econômica e social). Os pilares da cooperativa são: união, compromisso, responsabilidade, credibilidade, participação e o principal, educação."
Fernando Gottardi, representante do Frigorífico Marfrig e engenheiro agrônomo, destacou em sua palestra as principais finalidades da classificação dos animais, que são: formação de lotes uniformes, direcionamento de cada tipo de carcaça para mercados específicos e características desejadas estabelecidas pelos mercado consumidor. "Hoje no Marfrig o abate de animais a partir de 4 dentes já é considerado descarte. O confinamento de cordeiros do Marfrig facilita o fechamento de lotes para transporte, melhora o padrão e a qualidade das carcaças e abastece a escala frigorífica. O cordeiro brasileiro é muito melhor que o do Uruguai, quando produzido com qualidade", comenta ele.
No evento, foi discutido a ausência de bases para que a atividade se consolide com profissionalismo e competitividade, pois faltam estatísticas , informações zootécnicas e de mercado. Nessa linha, Paulo de Tarso dos Santos Martins, representante da ovinocultura regional do Mato Grosso, falou sobre a importância do cuidado com os dados fornecidos e a necessidade de detectarmos erros e falhas nestas informações. Também falou sobre o mercado ovino no Centro-Oeste, destacando que é uma atividade recente e que a produção de ovinos e caprinos ainda necessita do respaldo do governo.
Alda Lúcia Gomes Monteiro, professora da Universidade Federal do Paraná, enfatizou a importância da análise de custos dentro de um sistema produtivo. "Devemos colher e manter as informações (inventário e índice), conhecer as informações e saber como organizar os dados de forma a possibilitar a análise dessas informações", disse Alda. A professora da Universidade Federal do Paraná, destrinchou para o público os custos de produção dos sistemas de terminação realizados no Laboratório de Produção e Pesquisa (LAPOC) da UFPR.
Aguarde a publicação das entrevistas em vídeo realizadas nesse evento.
Equipe FarmPoint
Kelly Louveira
Bragança Paulista - São Paulo - Distribuição de alimentos (carnes, lácteos, café)
postado em 21/05/2010
Parabéns aos organizadores deste maravilhoso evento. Realmente acredito que a pecuária tenderá a se consolidar cada vez mais no Centro-Oeste devido a elevada produção de grãos e a possibilidade de criações a pasto.